“O Governador Coelho do Amaral (1863-1866), ilustre engenheiro militar (Tenente Coronel graduado em Coronel e depois Coronel do Corpo de Engenheiros e General) deu condições de salubridade, fez a demolição de parte da muralha, abriu estradas e pavimentou ruas, construiu o primeiro farol a costa da China, plantou árvores da Praia Grande e jardins, mandou construir o quartel para o batalhão de 1.ª linha no lugar do antigo convento e igreja de S. Francisco, desenvolveu e ampliou a cidade. Novos contingentes militares chegaram para renderem ou reforçarem o Batalhão (em 1863, em 1866,em 1868 e em 1874) e, em 1864, foi organizada a Companhia de Enfermeiros. Em 1869 são reorganizadas as forças do Ultramar.” (CAÇÃO, Armando A. A. – Unidades Militares de Macau, 1999, p. 21
Do diário de Harriet Low, para este dia de 2 de Abril de 1830:

«Depois do jantar, olhando pela janela, vi um dos barcos da Companhia (East Ìndia Company) com o sol brilhando sobre as suas bem enfunadas velas. Como desejei possuir o talento para a pintura de sr. Chinnery, (1) a fim de poder esboçar para ti a linda vista que tinha diante de mim, a grande e elegante igreja, branca de leite, com uma esplêndida escadaria de pedra e cercada de árvores e arbustos (Igreja do Convento de S. Francisco). (2)
Pouco além, a fortaleza (de S. Francisco), (3) e a baía alongando-se. Ainda mais além, podem-se ver os barquinhos, resvalando-se sobre a superfície das águas do rio. À distância, podem-se discernir duas elevadas ilhas e um lindo barco, desmandando a sua tal alvejada pátria. Um porco mais longe está um pequeno barco europeu, navegando a toda a vela e, à vista, uma quantidade de barcos chineses. Pode agora imaginar quão agradável á a vista que gozamos do nosso terraço? (4)
E agora estou aqui sentada no meu quarto a lutar contra os mosquitos. A cada meio segundo, ponho a pena na boca, enquanto me esforço por cometer assassinatos. Os cúlis estão a “dormir bem audivelmente” debaixo do meu quarto. Não conheço ninguém que ressone tão fortemente como eles. A tia Low tem mandado lá abaixo alguém, muitas vezes, às tardes a virá-los” (5) (6)
(1) George Chinnery, pintor inglês, nascido a 05.01-1774 e falecido em 30-05-1852. Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/george-chinnery/
(2) A igreja com a sua elegante escadaria de pedra e o convento foram demolidos em 1864. Na mesma data foi completamente destruída a fortaleza e levantada outra, de que sé resta o muro exterior. No lugar do convento surgiu o quartel que foi concluído em 1866. Quatro colunas salomónicas e o altar do Crucifixo foram parar à Igreja do Seminário de S. José, onde ainda hoje se podem admirar. (6)
(3) “… dali (da Fortaleza da Guia) volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco, e antes de chegar a ele tem hua porta que cahe para o mar , a qual se fecha todas as noites. Está a Fortaleza de S. Francisco pegada ao convento, que te hu postigo na cerca dos Frades, e da parte de dentro a porta da Fortaleza tem hua peça de 40 libras de bronze invocada N. Snra. De Loreto, outra peça de 20 libras de bronze invocada N. Snra. do Rozario , segue-se outra peça de 18 libras de bronze, e vindo correndo o pano de muro para a p.te da Cidade, e praya grande que acaba no princípio da Povoação da Cid.e, aonde tem hua porta que sahe para o rocio (7) de S. Francisco” ( Padre José Montanha – Apparatos para a Historia de Macau”) (6) (8)
(4) Terraço da casa do tio da Harriett, sr. William Henry Low, que foi o chefe da firma Russel & Co. (desde 1 de Janeiro de 1830 até Outono de 1833, quando partiu de Macau, por causa da doença respiratória), ficava no Pátio da Sé, n.º 2, ao alto da Calçada de S. João.
(5) TEIXEIRA, Padre Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, p. 10
(6) TEIXEIRA, Padre Manuel – Macau do Séc. XIX visto por uma jovem americana, 1981, p.6
(7) Rocio , aliás rossio é uma praça ou terreno espaçoso e refere-se ao Campo, hoje Jardim de S. Francisco..
Outros enxertos do diário de Harriet Low, neste blogue, em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/harriet-low/
Entrou em Macau no dia 23 de Agosto de 1708, desgovernada e desmastreada por um tufão que a assaltara, a fragata Nossa Senhora das Neves que vinha de Goa, comandada pelo capitão-de-mar-e-guerra Jerónimo de Mello (Pereira), trazendo como passageiros, feitor por sua Magesta Miguel Pinto, Tenente D. Henrique de Noronha e o Capitão de Infantaria António de Albuquerque Coelho, (1) que mais tarde seria Governador de Macau. (2) (3)
“A fragata entrou no porto desarvorada, sem mastros nem leme, e a ré sem beque, (e, por isso, saracoteando-se) sendo precizo ir (outras) em embarcações rebocá-la para dentro, por cauza do grande temporal que apanhou na altura de 19 graos (golfo de Tonquim, junto à ilha de Hainão). Ficou em Macau, de invernada para se consertar” (4)
“A fragata N.ª Sra.ª das Neves, de Sua Majestade (ou do estado da Índia, a que Macau e Timor estavam sujeitos), chegou pela primeira vez à cidade do Nome de Deus, na primeira metade de Agosto de 1703 sob o comando do capitão-de-mar–e-guerra Luís Teixeira Pinto e trazendo o governador e capitão-geral desta cidade José da Gama Machado (tomou posse a 15-08-1703). Recolheu a fragata a Goa, antes do Inverno, levando o governador cessante (Pedro Vaz de Sequeira). No dia 23 de Agosto de 1708, o mesmo barco de guerra chega de Goa… (…). A sua oficialidade, entretanto, causou grande inquietação na Cidade do Nome de Deus. Foi o caso do célebre romance amoroso entre António Albuquerque Coelho (1) e a órfã Maria de Moura. A infantaria da fragata, com o seu comandante, aquartelou na Casa de Campo de S. Francisco (que, por volta de 1780, era de Francisco Josué, natural de Vila do Mato, Beira, e seu pai; em 1801, de um filho do mesmo nome). Albuquerque demorou-se em Macau, com os seus soldados e a fragata, até ao 1.º de Agosto de 1714, dia do enterro, na Igreja de S. Francisco, de sua esposa, falecida do segundo parto. Em 13-11-1715, a Sr.ª das Neves já não existe por talvez nunca se ter recomposto do temporal que a colheu, em 1708, e da invernada seguinte em Macau.” (3)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-albuquerque-coelho/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/08/23/noticia-de-23-de-agosto-de-1708-fragata-nossa-senhora-das-neves/
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1952
(3) PIRES, Benjamim Videira – A Vida Marítima de Macau no Século XVIII, 1993, p. 26
(4) BRAGA, Jack M. – A Voz do Passado, 1987,p.25
“A Praia Grande” s/ d 1825-1852
George Chinnery (em Macau de 1825-1852)
A baía da Praia Grande com o Fortim de S. Pedro à direita e ao longe, a colina da Penha com a ermida.
“A Praia Grande vista do norte c. 1830
Litografia dum quadro de George Chinnery (em Macau de 1825-1852)
A baía da Praia Grande vista do norte, com o Fortim de S. Pedro à direita e ao longe, a colina da Penha com a ermida.
“A Praia Grande vista do sul” c. 1830
Litografia dum quadro de George Chinnery (em Macau de 1825-1852)
A baía da Praia Grande vista a sul, com o Forte do Monte (ao longe a esquerda), a Igreja e a fortaleza de S. Francisco (à direita)
NOTA: George Chinnery (1774-1852) – nasceu em 1774 em Tipperay, Londres, e faleceu em Macau em 1852. Célebre como pintor de retratos, viveu cerca de 50 anos na Ásia -Índia e Macau (1825-1852). Trabalhou em redor da região do rio da Pérola entre Macau e Cantão (Guangzhou). Até morrer manteve um atelier com muitos aprendizes. Foi mestre do grande retratista chinês Lam Qua. (1) A maior parte dos seus trabalhos eram encomendas destinadas a satisfazer ricos comerciantes. .Foi em Macau que executou um grande número de esboços, desenhos e aguarelas relativos à paisagem e vida quotidiana naquele território.
Anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/george-chinnery/
Quadros/desenhos com este tema “Praia Grande” do pintor George Chinnery já postados anteriormente:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/25/noticia-25-de-novembro-de-1974-1-o-dia-de-circulacao-bi-centenario-do-nascimento-de-george-chinnery-1774-1974/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/25/noticia-25-de-novembro-de-1974-1-o-dia-de-circulacao-bi-centenario-do-nascimento-de-george-chinnery-1774-1974/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/03/noticia-de-2-de-janeiro-de-1851-translada-cao-dos-restos-mortais-do-conselhei-ro-amaral/
(1) Sobre Lam Qua-林官; (1801-c. 1860) (Guan Qiaochang ou Kwan Kiu Cheong 關 喬 昌),ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lam-qua-%E6%9E%97%E5%AE%98-guan-qiaochang-1801-c-1860/
Descrição de Macau, de 1822, em inglês, com o título “Entrance to Canton from tha Sea” publicado no periódico “The Indo-Chinese Gleaner” (1) no Capítulo “I.Indo-Chinese Literature I.Annals of Canton“
(1) “The Indo-Chinese Gleaner”, n.º XX, April, 1822, pp.280-283.
https://digital.staatsbibliothek-berlin.de/werkansicht?PPN=PPN771550391&PHYSID=PHYS_0053&DMDID=DMDLOG_0001
Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)
Em 1864 forma demolidos o convento e a igreja de S. Francisco. Esta demolição fora autorizada por portaria do Ministro da Marinha e Ultramar de 30 de Março de 1861, para se construir ali um quartel para o Batalhão de 1.ª linha. O desenho do quartel e do forte de S. Francisco, no lugar do antigo edifício são da autoria do Governador José Rodrigues Coelho do Amaral que também dirigiu as obras. (2)
A 1 de Janeiro de 1976, foi ali instalado o Comando das Forças de Segurança.
加思欄兵營 – mandarin pīnyīn: jiā sī lán bīng yíng; cantonense jyutping: gaa1 si1 laan4 bing1 jing4
澳門十九世纪九十年代 – mandarin pīnyīn: ào mén shí jiǔ shì jì jiǔ shí nián dài; cantonense jyutping: ou3 mun4 sap6 gau2 sai3 gei2 gau2 sap6 nin4 doi6
(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/04/15/postais-coleccao-%E6%BE%B3%E9%96%80%E8%80%81%E7%85%A7%E7%89%87-fotografias-antigas-de-macau-old-photographs-of-macao-i/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. III, 1995.
“Neste dia pario a Mulher de António de Albuquerque (Maria de Moura) hum filho, e no dia 23 mandou faser comedia á sua porta. Em 26 se correrão Alcansias a Cavallo com outros divertimentos. A 27 se baptisou a creança na Freguesia de St.º António, sendo seus padrinhos Manoel Favacho e Catharina Soares a cujo acto assistio o Governador António Sequeira de Noronha com duas Companhias de Soldados mandando salvar o Monte com sette tiros na entrada à igreja e onze na saída, rematando todo este pomposo, com outro Lugubre, com a morte da parida, que no dia 31 do dito mez passou para a eternidade sendo o seu cadáver enterrado em S. Francisco com grande acompanhamento mas diferente daquele com que o filho foi Baptizado porque aquelle acabou com praser, e este com tristeza e lagrimas como quasi sempre soccede nos praseres desta vida” (1)
Igreja de S. Francisco
George Chinnery
1825
Lápis sobre papel
Com grande pompa de acompanhamento, ofícios e dobre de sinos em todas as Igrejas, ficou sepultada na Igreja de S. Francisco, na mesma cova onde já estavam a filha (Inês, enterrada a 6 de Março de 1712, que vivera só 7 dias). Entretanto chegavam a termo as muitas desavenças e queixas contra António de Albuquerque Coelho, tanto para o Vice-Rei, como para El-Rei, e com o parecer do Conselheiro António Ruiz da Costa, concordaram não só os do Conselho Ultramarino, como El-Rei, no sentido de mandarem inquirir, em especial, das suas responsabilidades, por abuso de autoridade, com tal ordem se cruzou a comunicação do Vice-Rei D. Vasco de Meneses ao dar parte que o fizera recolher a Goa – «para não prejudicar a inquirição das sua culpas» (2)
António de Albuquerque Coelho viria a ser nomeado em Goa. Governador de Macau, em 05 de Agosto de 1717. Chegou a Macau a 29 de Maio de 1718. Ocuparia o lugar até à chegada de António da Silva Telo de Meneses, irmão do Conde de Aveiras) a 9 de Setembro de 1719 que havia sido provido naquela capitania de Macau em data anterior à da nomeação em Goa de Albuquerque Coelho.
Escadas que conduzem ao antigo Convento de Santo Agostinho
George Chinnery
1829
Lápis sobre papel
A igreja de S. Francisco quando foi demolido, a urna com a lápide foram transferidas para a Igreja de Santo Agostinho onde ainda hoje se encontra encaixada na parede da capela-maior
A lápide constava o seguinte:
“Nesta urna estão os ossos de D. Maria
De Moura e Vasconcelos e sua filha
Ignez e os do braço direito de seu
marido António de Albuquerque Coelho
que aqui a fez depositar vindo de Governador
e Capitão Geral das Ilhas de Solor e
Timor no ano de 1725»
(1) BRAGA, Jack M. – A Voz do Passado, 1987.
(2) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950.
Ver anteriores referências a António de Albuquerque Coelho:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-albuquerque-coelho/
No dia 06 de Março de 1712, saiu de Macau o navio desta praça «Jesus Maria José» (1) que foi apresado por um corsário francês que o vendeu em Manila. (2)
Jack Braga em “A Voz do Passado” também aponta este episódio:
“06-03-1712 – “Neste dia sahio deste Porto o Navio S.M.S. do P.e Manoel de Queirós o qual hia para Batavia, sendo seu Capitão Francisco Leite Pereira e de Batavia passou a Surratte, e na vinda a vista de Pullo-Aor foi tomado por hum Corsário Francez que o levou a Manilla onde vendeo a Aleixo Pessoa. “ (3)
O Padre Videira Pires (4) pormenoriza melhor:
“Aos 6 de Março de 1712 largou, de novo, deste porto o navio J.M.J. do Pe. Manuel de Queirós Pereira, «o qual hia para Batavia, sendo seu Capitão Francisco Leite Pereira e de Batavia passou a Surrate, e na vinda à vista de Pullo-Aor (Ilha de Aor ou Condor) foi tomado por hum Corsário Francez que o levou a Manilla onde vendeo a Aleixo Pessoa.» O barco, porém, voltou à posse dos dois donos e, em 1719, chegaram a Manila embarcados clandestinamente, de Batávia, 64 comerciantes chineses, à razão de 20 patacas por cada. Descoberta a fraude, Doutel foi preso e multado”
Jack Braga (3) para esse mesmo dia, assinalou outro acontecimento: o enterro da filha recém-nascida de António de Albuquerque Coelho, capitão de infantaria, oficial de guarnição na fragata Nossa Senhora das Neves, que chegara a Macau em 1706 e de Maria de Moura, formosa rapariga, órfã (mas rica) ainda criança, cujo namoro e casamento atribulados, em parte já foram narrados em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-albuquerque-coelho/
“Nesta manhãa se enterrou em S.m Ft.º (São Francisco) huma filha de António de Albuquerque recennascida de sette dias, com grande acompanhamento e fausto tanto dos moradores como de Tropa que lhe derão três descargas de Mosqueteria ao meter o Cadaver na Sepultura e Salva na Fortaleza do Monte de nove tiros.” (2)
António de Albuquerque Coelho viria depois a ser Governador de Macau de 30 de Maio de 1718 a 8 de Setembro de 1719.
(1) A fragata, barco ou navio «Jesus, Maria, José» ou muitas vezes descrito «J.M.J» e os copistas da «Colecção de Vários Factos Acontecidos nesta Mui Nobre Cidade de Macao …» adulteraram o título para «S. M. S. » foi comprado em 21-12-1709, por Francisco Xavier Doutel e compartilhado desde 1711 pelo seu cunhado arcediago e tesoureiro-mor, Pe. Manuel Queirós Pereira
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(3) BRAGA, Jack – A Voz do Passado, 1987.
(4) PIRES, Benjamim Videira – A Vida Marítima de Macau no Século XVIII, 1993.