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Anúncio em inglês de 1920, inserida numa publicação “turística” editada em Hong Kong.

O “Hotel Macao”/ “Macao Hotel” situado no Centro da Praia Grande  com entrada na Rua da Praia Grande n.º 65, tinha uma fachada de três pisos, que dava para a praça da Praia Grande, e proporcionava uma ampla vista panorâmica da zona ribeirinha e da marginal orlada de pinheiros, e uma porta lateral sque dava para  futura Avenida de Almeida Ribeiro. O luxuoso hotel era o preferido dos turistas e comerciantes  abastados e dos convidados oficiais.

Anteriormente chamado Hotel “Hing Kee” (o proprietário do hotel era o sr. Leong Hing Kee / Pedro Hing Kee, grande negociante/comerciante em Hong Kong e em Macau) (1) foi depois remodelado, passando a ser conhecido em 1903, como “Macao Hotel” e depois na década de 20 (séc. XX) “New Macao Hotel” com entrada principal na Avenida Almeida Ribeiro. Após a morte do proprietário, o hotel de novo entrou em obras, permanecendo a entrada pela Avenida Almeida Ribeiro, e reinaugurado com o nome de “Hotel Riviera” de 1928 até 1969, quando foi demolido. Em 1974 erigido no mesmo local o edifício Comercial Nam Tung e depois reconstruído, em 1998 para sede do Banco da China, em Macau.

(1) Pedro Leong Hing Kee (alias Pang Ahim) (segundo algumas fontes, além do chinês, falava francês, inglês e português?) era entre 1870 e 1880, dono de dois hotéis de luxo em Hong Kong “Hong Kong Hotel” e Victoria Hotel” e depois em 1890 fixou-se em Macau,. envolvendo-se  em vários negócios, como por exemplo, negociante de gelo neste anúncio de 1922

Pedro Hing Kee era proprietário do hotel “Hing Kee” (também chamado “Hotel Victória“) , inaugurado em 1880, e em Maio de 1903, vendeu-o por 20 mil patacas a William Farmer. (2) Há uma outra informação que refere ter o Hotel “Hing Kee”, pertencido de 1891 a 1903 a um chinês, rico comerciante do Havai (3)

(2) William M. Farmer, australiano do ramo da hotelaria, veio para Hong Kong em 1890 para trabalhar no “Victoria Hotel” e depois “New Victoria Hotel” que ele comprou, em 1898. Em 1892 associado ao negociante parse, Sr. Madar, adquiriu o “King Edward Hotel”. Nessa década, terá vindo a Macau e achou que era proveitoso investir na hotelaria em Macau e havia só dois hotéis que o satisfazia: hotel Boa Vista e o hotel Hing Kee. Quis arrendar o Hotel-sanatório Boa Vista, mas este foi cedido à Santa Casa da Misericórdia, em 1901, por 80 mil patacas. Comprou o Hotel Hing Kee, em 1903 rebatizando-o como “Macao Hotel”.

 (3) “Quando Chun Afong (1825-1906), um rico comerciante do Hawaii, visitou Macau na companhia do filho no verão de 1891, tentou entrar no Hotel Victoria, mas foi impedido pelo porteiro que lhe explicou que “cães e chineses não eram admitidos”. Chun ficou irritadíssimo e pediu para falar com o gerente do hotel, a quem ofereceu 5.000 dólares americanos pela compra do Hotel. Uma vez adquirido, o hotel mudou de nome e passou a chamar-se “Sei Hoi Fong Un” (o jardim de Fong dos quatro mares).” (“As Ruas Antigas de Macau”, I.A.C.M., 2016,p. 29)

Anteriores referências a este hotel em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-new-maca

Anúncio na imprensa escrita de Macau, muito idêntico ao de 1922 do mesmo hotel (1)
Salienta-se neste anúncio, o preço da estadia ser em “mexicanas” (2)

“Preços médicos (sic)  $5,00 e $8,oo mexicanas por dia”

Nesse ano, 1924, o gerente do “New Macao Hotel”, na Rua da Praia Grande n.º 65, era Cuan Iec Chau
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/13/anuncio-de-1922-new-macao-hotel/
(2) “A pataca era uma moeda de prata, com o valor de 320 réis que foi emitida pelo governo português até o século XIX. O nome “pataca” deriva-se da moeda de prata de oito reais mexicanos. Antigamente era popular na Ásia, conhecidos em português como “pataca mexicana”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pataca
Anteriores referências deste Hotel em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-new-macao/

ANÚNCIO de 1922 - HOTEL NEW MACAO

Anúncio (em português e inglês) do Hotel «New Macao”, em 1922, após “recente renovado e modernizado, com quartos duplos amplos e confortáveis; cozinha excelente e habilmente dirigida; mesas separadas; banhos quentes, frios e de chuva; luz eléctrica profusa; botequins público e privado; e casa de bilhar” e “acomodações de primeira classe para famílais e turistas”
Preços módicos – entre 5 e 8 mexicanas (1)  por dia

1909 Hotel New MacaoFoto de c. 1909, os edifícios dos Correios de Macau (à esquerda) e  do »New Macao Hotel» (à direita), cujas fachadas davam para a Avenida da Praia Grande, em frente ao mar.

Anteriores referências a este Hotel “New Macao Hotel» (inaugurado em 1903) que foi anteriormente “Hotel Hing Kee” (inaugurado em 1880) e depois seria o “Hotel Riviera” em 1928:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-new-macao/
(1) Em 1854, foi determinado que a pataca mexicana passasse a ter curso legal em Macau sendo recebida a par do peso duro ou pataca espanhol, mas em 1929 (Decreto-Lei 17 154) determinou-se  que era ilegal a circulação de qualquer moeda estrangeira  (o Banco Nacional Ultramarino foi inaugurado em Macau em 1902). Sabemos no entanto, que, embora ilegal, continuava a circular outras moedas.
Em 1938 circulava a pataca portuguesa, a nota inglesa de Hong Kong, as notas e a prata chinesa (mais valiosa e melhor aceite)
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4, 1997

No dia 24 de Fevereiro de 1969 , “ficou encerrado o famoso Hotel Riviera, o coração da cidade. Viria a ser demolido em Fevereiro de 1971. (1) Era um dos hotéis mais antigos e nele se hospedaram figuras ilustres da Administração de Macau, além de forasteiros.” (2)
O Hotel Riviera abriu em 17 de Janeiro de 1928, no lugar do anterior “New Macao Hotel» (anterior «Hing Kee») situado na Avenida Almeida Ribeiro, cruzamento da Praia Grande, em frente ao Banco Nacional Ultramarino. A fachada principal com a entrada para o antigo «New Macao Hotel” era na Rua da Praia Grande. Mas as obras de remodelação em 1921, a fachada principal (com a entrada principal) passou a ser na Avenida Almeida Ribeiro, permanecendo aí depois aquando da adaptação para o novo Hotel.
Lembro-me bem dessa entrada pois tinha (não sei se seria ainda  o  único em Macau, naquela altura, década de 60) uma porta giratória e um porteiro que para além de outras funções, estava lá para impedir os miúdos de brincarem “com a porta”.

Hotel Riviera 1936HOTEL RIVIERA 1936

Esta foto de 1936 ainda se vê as arcadas inferiores da Rua da Praia Grande abertas, consideradas via pública; em 1948 foram fechadas, embora com polémica, o Leal Senado questionou sobre a legalidade desse espaço como domínio público.
Quem entrava no Hotel Riviera pela portas principal não deixava de se surpreender. Dali partia um pequeno corredor que dava directamente para a sala de espera, elegantemente iluminada e mobilada ao melhor estilo italiano. De um lado do corredor ficava a sala de jantar onde eram servidas as três refeições diárias e das quais o jantar era  mais cara : duas patacas por pessoa. A sala de espera dava ainda para o lounge, aberto até à meia-noite, onde se tomava chá e comiam pastéis de dez avos. E, no fundo do corredor, o indispensável bar que, quase desde o início, manteve a reputação de ser um dos mais bem fornecidos de Macau.
Imagine-se o pasmo dos visitantes a quem era dada a oportunidade de admirar a escadaria, que conduzia ao piso superior, coberta, à semelhança dos corredores , de grossos tapetes «tão bons como os dos melhores hotéis»
Os quartos em número de vinte e dois, permitiam apenas a ocupação de quarenta e quatro pessoas. Uma ocupação  que, no entalho, poderia conhecer outros números caso os hóspedes concordasse, com os editoriais, sempre práticos e expeditos de “A Pátria” : « quando os visitantes não se importarem de dormir três ou quatro no memso quarto, o número (de hóspedes) poderá subir a oitenta»
A maior parte dos quartos dispunha de casa de banho individual, com água quente e fria e todos os pisos tinham telefone, numa clara demonstração de que os directores do hotel que se substituíra ao «New Macao Hotel», não se haviam poupado à despesas. Aliás, a remodelação custou-lhes cento e vinte mil patacas e importou-se tudo o que havia de bom e do melhor – a concepção arquitectónica à Palmer & Turner (de Hong Kong), a decoração, talheres e pratas à Lane Crawford (também de Hong Kong) e a roupa branca e louças à casa Albert Pick, de Chicago. A mobília era, naturalmente, italiana”. (3)
O investidor foi o milionário Lou Lim Ioc (ou Ieoc)  que faleceu antes da sua inauguração, a 15 de Julho de 1927 com 50 anos de idade.
Algumas notícias relacionadas com este Hotel, ao longo dos anos:(4)
12-09-1936 – Publicada no B. O. n.º 37 a constituição da Sociedade «Irmãos Unidos, Lda», dos irmãos Leitão, vocacionada sobretudo para a indústria hoteleira  que envolvia os hotéis «Riviera» e «Majestic», os teatros «Capitol» e «Apollo», a «Vacaria» e «Leitaria Macaense».(5)
“03-11-1942 – O jantar dançante realizado no sábado último no Hotel Riviera, inaugurando a sua orquestra sob a regência do distinto músico sr. Artur Carneiro, foi um grande sucesso. Mais de 150 pessoas assistiram ao jantar e muitos não conseguiram entrada devido à falta de lugares. Informa-nos a gerência do mesmo hotel que todas as tardes haverá chá dançante das 5 às 7.30 horas e jantares dançantes das 9 às 23.30 horas exceptuando sábados, que é das 9 à 1 a.m., com menu especial, sendo o preço do jantar nesse dia de $5.00 e nos outros dia de $2.75. Aos domingos a  mesma orquestra tocará música ligeira durante o almoço, das 12.30 horas às 14.30. Para o jantar de sábado podem ser marcados lugares desde hoje . (A Voz de Macau de 3 de Novembro de 1942).(5)
O Hotel possuía um restaurante bastante amplo no seu rés-do-chão, que a gerente Olga Pacheco da Silva queria transformar em salão de dança, daqueles existentes nos grande hotéis de países do primeiro mundo”. Só que também queria manter a ambiência familiar, pois era o único do género no território. Para tal, a Olga teria que contratar uma boa orquestra de Hong Kong., porque não havia nenhuma disponível em Macau. Foi então apontada a orquestra de Art Carneiro (“Art” de Artur, pianista e maestro), com músicos filipinos, e que na altura tocava no Península Hotel de Kowloon – ainda hoje o mais emblemático e luxuoso de Hong Kong…(…) A escolha desse maestro deveu-se precisamente ao facto de, além de ser um bom profissional, descender de portugueses de Xangai.(7)
Segundo Rigoberto do Rosário Jr, (7) a artista Abbe Lane, esposa de Xavier Cugat, referido em anterior postagem, (8) foi uma atracção estrangeira que fez furor no Riviera em finais de 50” ( não foi em finais de 50, mas no ano de 1953).
(1) “FEVEREIRO de 1971 – Demolição do Hotel Riviera, situado  no cruzamento da Av. Almeida Ribeiro com a  Rua da Praia Grande, em frente do edifício do BNU. Dará lugar a um edifício de 8 andares, também já demolido. E assim se vai descaracterizando o centro histórico de Macau”.(2)
Demolido para construir o prédio, sede do Banco “Nam Tung” que em 1987 foi autorizado a mudar de nome para “Banco da China – Filial Macau” (Bank of China Macau Branch).
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 5, 1998.
(3) , Luís Andrade de – A História na Bagagem. Instituto Cultural de Macau, 1989, 152 p., ISBN 972-35-0075-2.
(4) Para além das anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-riviera/
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(6) Retirado de  ORTET, Luís – 1942 in ” MacaU, II série, n.º 8, Dez. 92, pp. XXIII”.
(7) ROSÁRIO JR, Rigoberto – Memórias de Um Músico Macaense. MacaU, II série n.º 74, Junho de 98, pp.39-54.
(8) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/29/noticia-de-29-de-novembro-de-1953-xavier-cugat-em-macau/

Portugal no Extremo Oriente VIIcontinuação de (1) (2) (3) (4)

“Era já o anno de 1846, foi nomeado governador João Maria Ferreira do Amaral, pae do actual presidente do conselho. (5)
Era um bravo que servira a causa liberal, que no Rio de Janeiro fizera o assombro dos officiaes fransezes e inglezes entrando com o seu barco Urania contra o vento na bahia, após um baile dado a bordo e em que ficára cançada a guarnição. Ao mesmo tempo que a sua bravura, era já legendaria, as suas aventuras amorosas e as suas excentricidades emprestavam-lhe um brilho galante. Eram tão celebres as proezas guerreras do almirante como as suas conquistas amorosas. Como Nelson, ficára sem um braço na guerra, mas isso não o impedia de apertar ao peito com o maior ardor as mais lindas mulheres que lhe amavam a fórma galharda, o ar atrevido,  a gloriosa tradição que o fazia querido. batera-se contra os negreiros e por sua vez capturava corações, proclamava-se defensor dos escravos e ia ecravisando aquelas beldades que a sua ancia amorosa cobiçava. Ninguém melhor do que elle podia ir governar Macau e impôr ali tida a força do poderia portuguez.

Portugal no Extremo Oriente XV“Correio e Hotel Macau” (6)

              O valente official foi assassinado pelos chins (7), que o atacaram quando ia a passeio , e logo, após a sua morte correram às armas, entrincheiraram-se em Passaleão, que Vicente Nicolau de Mesquita devia tomar apenas com 12 soldados, um obuz e algum povo, sob o tiroteio inimigo. Também este heroe morreu mais tarde victima da loucura (8) que o fez gerar a mais terrivel teagedia domestica, mas viu Macau prosperar, encher-se de edificios pomposos, recolher n´um largo periodo os colonos chinas e japonezes que ficavam ali em vez de irem para a Australia, tornar-se finalmente n´essa cidade onde se descança e se folga, onde o dominio portuguez se accentuou tanto que hoje difficilmente se poderia apagar.

Portugal no Extremo Oriente XVIPalácio das Repartições”

A ultima questão que surgiu entre Portugal e a China acerca de Macau, a proposito do apresamento do Tsatu-Maru, não é mais do que a repetição dos sonhos largos que os botões de crystal do Grande Conselho de Pekin costumam ter falando em nome de Confucio e dos tratados, chupando no tubo do cachimbo e bebendo o aromatico chá, pensando nos olhos obliquos das gaiatas dos harems com o mesmo fervor que o Theodoro do Mandarim (9) punha ao arrastar a generala dos seus amôres para a sombra negra dos sycomoros. Sonhos …apenas sonhos…”

Portugal no Extremo Oriente XVII“Theatro de D. Pedro V e Club de Macau” (10)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/20/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iv/
(5) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral (1844-1923) (filho de João Maria Ferreira do Amaral) foi Presidente do Conselho de Ministro (cargo equivalente ao de primeiro ministro actual) dum governo suprapartidário denominado «Governo de Acalmação», nomeado por D. Manuel II na sequência do regicídio, de 4 de Fevereiro a 26 de Dezembro de 1908.
(6) Sobre esta foto, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/03/01/%ef%bb%bfnoticia-de-1-de-marco-de-1884-correios-de-macau/
(7) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/22/22-de-agosto-de-1849-assassinato-do-governador-ferreira-do-amaral/
(8) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/03/19/noticia-de-19-de-marco-de-1880-tragedia-em-macau-vicente-nicolau-de-mesquita-i/
(9) Refere-se ao romance de Eça de Queirós, “O Mandarim”. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/31/outras-leituras-o-mandarim/
(10) Sobre o Teatro D. Pedro V,  ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/teatro-d-pedro-v/

Hoje os Correios de Macau celebram o 129 º aniversário, com actividades comemorativas

Correios de Macau- Comemoração

O serviço do correio já existia, em Macau,  antes dessa data mas foi em 1 de Março de 1884 que o chamado «Correio Marítimo» (na dependência do Leal Senado e dos Correios de Hong Kong) foi transformado em Direcção/Repartição do Correio, com a nomeação (confirmação) do Director, Ricardo de Sousa e três carteiros. Foram postos em circulação nessa data (1-03-1884), os primeiros selos (que se encontravam no território desde 1878):  9 selos com taxas de 5 a 300 réis, feitos na Casa da Moeda de Lisboa e que passaram a ser obliterados pelo carimbo- adesivo. (1)
Em 27 de Fevereiro desse ano (1884) eram estabelecidas as regras para início do funcionamento do Serviço de Correio entre Macau, Taipa e Coloane. A correspondência passaria a ser transportada diariamente excepto em dias santificados, na lancha da carreira, numa caixa com duas chaves, uma na mão do Director dos Correios de Macau, outra na do Administrador da Taipa. O serviço dos Correios na Taipa ficava no edifício inicialmente destinado a Hospital, que servia de Quartel na Taipa.

Correios de Macau- 1909O edifício dos Correios de  Macau, no princípio do século XX (c. 1909). No lado direito o “New Macao Hotel”

O correio que esteve instalado numa antiga casa da guarda, adaptada , mais ou menos no lugar onde é hoje o Hotel Metrópole, foi em 1915 demolida e mudou para o rés-do-chão do Leal Senado. Em 1926  mudou para a antiga residência do P.e Almeidinha, à Praia Grande , junto do Palácio do Governo. Esteve aí até 1931, passando nessa data para edifício próprio, o actual.

Correios de Macau- década de 70POSTAL da década de 70 (século XX) “Photo by Chi-Woon Kong – distributed by Leung Wai Yin (Macao) Tel. 571281″

(1) O Governador de Macau nessa data era Tomás de Sousa Rosa.
NOTA : uma notícia curiosa e interessante de 22-02-1878 – “É publicada no n.º 17 do Boletim do Governo o ofício n.º 14 de 22 de Fevereiro de 1878 mandando que o serviço de distribuição do correio de Macau continue a ser desempenhado pelos seus funcionários gratuitamente”

Lago do Senado (P. Teixeira)Largo do Senado (princípios da década de 70, século XX)

Foto tirada da janela do Salão Nobre do Leal Senado, onde se destacam os edifícios dos Correios e da Santa Casa da Misericórdia, e a Fonte Luminosa (que ocupa o anterior jardim e local da estátua do Coronel Vicente Nicolau de Mesquita apeado nos acontecimentos de “1,2,3” (1966) (foto retirado de TEIXEIRA, P. Manuel – O Leal Senado)

As informações deste “post” foram recolhidas da “Cronologia” da Dra. Beatriz Basto da Silva:
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p. (ISBN 972-8091-10-9)
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p. (ISBN 972-8091-11-7)

Interessante artigo de Manuel da Silva Mendes (1), no jornal “O Macaense” de 7/11/1920 (2)

Faz grande falta, em Macau, um hotel que se possa dizer bom. Há uns seis ou oito anos ainda havia o Hotel da Boa-Vista e o Macau-Hotel, que serviam menos mal. Nenhum deles, porém, estava bem à altura já do conforto desejável e, por isso, não tantos forasteiros aqui vinham, como, se melhores fossem, viriam visitar-nos.
Pelintras são poucos os que viajam e destes, o maior número, metem-se em qualquer canto, nos lugares de terceira ou quarta ordem, que todos os bons hotéis em regra têm, e fazem ou cuidam que fazem, mesmo assim, grande figura
– Em que hotel você ficou?
– No Palace Hotel.
(Já se entende: nas traseiras de um quarto ou quinto andar, com vistas sobre a cozinha e o depósito de carvão; mas o sujeito, cuidando que em outro sentido a resposta lhe tomaram, fica com vontade de lá voltar para uma vez mais envaidecer)…(…)…
Não está  bem. Não será para muito, mas não é terra, Macau, para tão pouco. A guerra explicou e justificou muita coisa: mas, agora que tantos ricos há, que tanta gente viaja, estamos desaproveitando ri queza, dinheiro e perdendo sempre, os bons, está o único hotel que há em Macau, dias seguidos, assobiando por fregueses.
É o caso: trepa quem tem unhas (unhas, aqui, é cabeça) e nós não as temos. Os chineses, no «manejo» dos quais, está o único hotel que aqui existe, o «New Macao Hotel», (3) terão vontade mas, está provado, não têm jeito para isto. Um «tiang» com bicos de rouxinóis, ninhos de andorinha, barbatanas de peixe, rebentos de bambú, «vinho» de rosas e…pipachais, arranjam bem: fora disto não dão. E isto não é o que o rico quer, a não ser uma vez, para dizer que viu… e que provou…
Foi nomeada, haverá dois anos ou mais, uma grande comissão (de que felizmente não fizemos parte) de turismo chamada, que no seu complexo programa tinha, se bem nos recordamos, um capítulo, encimado com a palavra Hotéis. Ora, não seria por culpa da comissão, mas o caso deu-se de ficarmos, daí em diante, cada vez em matéria de hotéis, «mais pior». São sempre assim as grandes comissões: se fazem pouco as pequenas, não fazem as grandes nada.
Um bom hotel, é pois, uma das necessidades de que Macau precisa não sofrer…..!

(1) Manuel da Silva Mendes nasceu no distrito do Porto, em S. Miguel das Aves, a 30 de Novembro de 1876. Formado em Direito, veio para Macau em 1901 como professor do Liceu. Em Macau ensinou Português e Latim durante vinte e cinco anos, ocupando por vezes o lugar de Reitor. Ao mesmo tempo exercia a advocacia, tendo acumulado ainda outros cargos, como o de Presidente do Leal Senado e Administrador do concelho. Viveu em Macau quase trinta anos. Gravemente doente em Portugal por volta de 1927, conseguiu regressar a Macau e aí falecendo em 30 de Dezembro de 1931 (BATALHA, Graciete, Macau, 1979 in (2)
(2) MENDES, Manuel da Silva – Macau Impressões e Recordações. Edição Quinzena de Macau, 1979, 132 p.
(3) Acerca deste Hotel, e os nomes adoptados para as várias gerências, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/17/noticia-de-17-de-janeiro-de-1928-hotel-riviera/
ACTUALIZAÇÃO POSTERIOR EM 23/03/2013:
João Botas (que está a preparar um livro sobre Manuel da Silva Mendes) chamou-me a atenção para o facto desta personalidade ter nascido em 1867.
A professora Garciete Batalha, no livro que citei, refere o seguinte: Faleceu subitamente com 55 anos apenas, em 30 de Dezembro de 1931″.
Outros investigadores (Padre Teixeira, Jorge Forjaz, António Aresta) referem também como data de nascimento: 1876. A Wikipédia (que nem sempre é uma fonte credível) aponta duas datas: 23 de Outubro de 1867 e 23 de Julho de 1867.
Aguardo portanto a obra do João Botas, que poderá esclarecer melhor esta data de nascimento.
INFORMAÇÃO POSTERIOR EM 26/01/2017 da Sra. Maria dos Anjos da Silva Mendes, a quem muito agradeço pela informação exacta do ano ano de nascimento de Manuel da Silva Mendes..
“Boa tarde como diz o João Botas o meu bisavô nasceu em 1867 e não em 1876 conforme vem escrito em muitas obras, aqui vai um link que comprova com a certidão de nascimento…
http://entre-ambos-os-aves.blogspot.pt/2010_08_01_archive.html
Foi este meu parente de Vila das Aves que resolveu este problema para sempre.
A wikipédia está certa porque fui eu que criei a página e esta também no facebook:
https://www.facebook.com/Manuel-da-Silva-Mendes-338627809514901/

Quero agradecer todos os artigos sobre o meu bisavô que muito me alegra.
Bem haja, meus cumprimentos.

Maria dos Anjos da Silva Mendes”

 

Abriu o Hotel Riviera, sucessor do New Macao Hotel, herdeiro por sua vez, do Hing Kee (na Avenida Almeida Ribeiro, cruzamento da Praia Grande, em frente ao Banco Nacional Ultramarino) (1)

Hotel Riviera AGU 1963Hotel Riviera publicado em 1963, Turismo de Macau

O «Hotel Hing Kee» foi  inaugurado em 1880. Posteriormente rebaptizado «Hotel Macao» e «New Macao Hotel» em 1903 e depois Hotel Riviera.
Em Maio de 1903, o Hotel «Hing-Kee» foi vendido por 20 mill patacas ao Sr.Farmes.  O Sr. Farmer não conseguira o arrendamento do Hotel-sanatório Boa Vista, que  foi cedido à Santa Casa da Misericórdia, em 1901, por 80 mil patacas (2). O proprietário do «Hotel Hing-Kee» era o sr. Leong Hing Kee, grande comerciante em Macau (3)
Uma referência ao «Hotel Hing-Kee» encontra-se no romance de Emílio de San Bruno (4)
Quando chegara a Hong Kong, tinham-lhe indicado o “Macao Hing Kee´Hotel”, que no Tourist´s Book vinha anunciado:
– «A perfectly new Building – 30 bedrooms – A confortable family Hotel – Five minutes from the steamer Wharves – Every thing of the Best – Charges very moderates»
Não era um Hotel de luxo, mas havia em todos os seus serviços o conforto sólido, sadio, disciplinado e limpo do Hotel inglês. E era china o proprietário! Mas tão bem educado na profissão hoteleira que a sua casa faria inveja a mais de um hotel de Lisboa, mantido por lusos e galegos….”

Um Anúncio no jornal Notícias de Macau, 8 de Junho de 1948, publicitava:

Hotel Riviera 1945“O elegante edifício do Hotel Riviera”         “À hora do chá, nas lindas varandas do Hotel Riviera”

  “Sob direcção europeia, este novo Hotel acaba de ser inaugurado. A cozinha, assim como o serviço dos quartos, é dos melhores no género. O Hotel destina-se especialmente aos turistas e visitantes estrangeiros. Ao Exmos Hóspedes que desejem ter a certeza de conseguir quarto, aconselha a gerência a reserva com a devida antecedência e por telegrama”

Outra referência, mas do «Hotel Riviera», vem no romance de Jaime do Inso (5)
O hotel «Riviera», onde se instalara, completamente renovado sôbre os restos do antigo «New Macao Hotel» onde a água entrava pelos telhados, de corredores írios e abandonados como um velho convento, oferecia-lhe um bem estar a quem nem em Lisboa estava habituado.
Os tapetes do vestíbulo surpreenderam-no logo de entrada: macios, fôfos como molas onde se pousassem os pés, eram convidativos e discretos, que o prenderam imediatamente, naquela espécie de voluptuosidade que ofereciam ao piso e, sem mais discussão, instalou-se num quarto do primeiro andar, de amplas janelas sôbre o Rada.
Quarto luxuoso e caro, com os mesmos tapetes preciosos e que tinha um certo aspecto  de «boudoir», sentia-se ali tão bem, que foi com supresa cheia de desgôsto que, no fim do mês, ao dividir as paacas pelas múltiplas bôcas que no Oriente as devoram, viu que tinha de modificar o seu viver… (…)
Na «Riviera», pela tarde, juntava-se a bôa sociedade de Macau, às vezes à mistura com alguns excursionistas vindo  de Hong Kong, e chineses ricos de passagem, ou emigrantes fugidos às perturbações de Cantão.”
Naquele dia havia uma certa animação, o «manager » do hotel e outros chineses interessados na emprêsa, não ocultavam quanto satisfeitos, sentados nas amplas poltronas do «hall», enquanto no salão contíguo os criados iam, num vai-vem constante, servindo os fregueses.
No lado oposto, estavam-se ultimando os preparativos para um jantar dançante, à americana, para aquela noite,  e as decorações e as lâmpadas viam-se numa profusão tal que quási encobriam o tecto.”

´Hotel Riviera 1964Hotel Riviera – publicado em 1964, AGU

NOTA: Foi somente em 1918, que a Avenida de Almeida Ribeiro foi aberta completamente. O último troço completou-se com a demolição da casa do rico comerciante Lin Lian, possibilitando estabelecer o cruzamento da Av. de Almeida Ribeiro com a Rua da Praia Grande. (1)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p. (ISBN 972-8091-11-7)
(2) Recordar que o governo de Macau expropriou o edifício (Hotel Boa Vista) por causa de uma tentativa de compra por parte dos franceses para o transformar em sanatório para os seu cidadãos na Indochina mas os ingleses opuseram-se  ao negócio com receio de um reforço francês na região.(1)
(3) Há uma informação em (1) do Sr. Leong Hing Kee:”14-X- 1924 – Pedido e Leong Hing Kee, Gerente da Sociedade por quotas «Armazém Frigoríficos de Macau, Sociedade Ltd.» do exclusivo de congelação de géneros alimentícios.”
(4) BRUNO, Emílio de San – O Caso da Rua Volong. Tipografia do Comércio, 1928,  414 p.
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5) INSO, Jaime do – O caminho do Oriente“. Edição do autor, 1932, 374 p. + |4|
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