Recorte do jornal “Ultramar” (1), órgão oficial da I Exposição Colonial (Dir. Henrique Galvão), de 1934
O Cruzador “Adamastor” construído nos Estaleiros Navais de Livorno, lançado à água em 12 de Julho de 1896, comprado pelas receitas provenientes de uma subscrição pública organizada como resposta portuguesa ao ultimato britânico de 1890, entrou pela primeira vez a barra do Tejo em 7 de Agosto de 1897.
O “Diario Illustrado” de 7 de Agosto de 1897 dando a notícia da chegada do “Adamastor”, na sua primeira página (2)
O seu primeiro comandante foi o Conselheiro, capitão de mar-e-guerra Ferreira do Amaral. (3)
Com um comprimento (entre perpendiculares) de 73.81 metros 81 cm (comprimento de fora a fora) e velocidade máxima de 18 nós (uma propulsão de 4000 cv – 2 máquinas a vapor com 4 caldeiras alimentadas a carvão), o “Adamastor” tinha uma capacidade (inicial) composta de 215 elementos (16 oficiais, 36 sargentos e 163 praças (4). Em matéria de armamento (há várias versões) (5):
2 peças Krupp de 150mm/ 30 Calibres – Mod.1895 (Calibre: 150mm/Alcance: 14Km)
4 peças Krupp 105mm/4.0GR Mod. 1895 (Calibre: 105mm/Alcance: 9Km)
4 peças Hotchkiss 65/46
2 peças Hotchkiss 37/42
2 metralhadoras Nordenfelt 6,5 mm e 3 tubos lança-torpedos
Em relação à estadia do “Adamastor” em Macau e Extremo Oriente:
1.ª comissão ao Ultramar em Outubro de 1899 repartida pela Divisão Naval do Índico e pela Estação Naval de Macau. Regressa em Junho de 1901.
2.ª comissão, em Novembro de 1903 parte para o Extremo Oriente. Chega a Macau em Março de 1904. Desde Agosto desse ano até Março de 1905 permanece em Xangai a fim de proteger os interesses da colónia portuguesa residente, missão que se repetiria mais tarde. Em Agosto chega a Lisboa.
3.ª comissão, larga em Junho de 1907. Parte de Luanda em Maio de 1908 com destino a Timor, onde esteve de 6 de Julho a 24 de Agosto de 1908. Regressa a Lisboa em Julho de 1909.
No ano de 1910 foi montado no navio um aparelho T.S.F. e toma parte na implantação da República, marcando o seu início com 3 tiros como sinal. (6)
Em Outubro de 1912 inicia a sua 4.º comissão. Além de Macau escala Xangai e outros portos da China e chega a Lisboa em Outubro de 1913.
Foi durante esta comissão que o cruzador sofreu um acidente, no dia 11 de Maio de 1913, ao sair do porto de Hong Kong, tendo sido assistido pela canhoneira “Pátria” e o contra-torpedeiro inglês “Otter”. (7) Na sequência do acidente, o “Adamastor” deu entrada na doca de Whampoa, em Kowloon, para ser submetido a reparações. Daí seguiu para o Brasil (Rio de Janeiro e Santos) para participar no lançamento nas festividades da primeira pedra para a construção de um monumento em memória do marechal Deodoro da Fonseca, primeiro Presidente da Primeira República Brasileira, terminando esta missão em Dezembro.
Em meados de 1913, o então capitão de fragata, João de Canto e Castro (1862 -1934) (futuro Presidente da República, que sucede a Sidónio Pais) recebe a missão de se deslocar a Macau para aí assumir o comando do cruzador português Adamastor. (8)
De Agosto de 1919 a 18 de Julho de 1925 sofre grandes restauros, em Lisboa.
Em 1926 a 1928, nova comissão de serviço em Macau. Destacado para outras missões, em Julho de 1926 chega a Xangai a fim de defender as concessões internacionais e render ao mesmo tempo o cruzador “República”, (9) tendo desembarcado uma força de 30 praças sob o comando de um 2.º tenente. Larga de Xangai em Março de 1928 e entra no Tejo em Abril.
Em Setembro de 1929 rumo novamente para o Extremo-Oriente, escala Macau e parte no dia 8 de Fevereiro de 1932, com destino a Xangai e dali parte em viagem diplomática para Japão. Volta a Xangai para protecção da comunidade portuguesa em virtude do início da guerra sino-nipónica.
Em 15 de Outubro de 1931, parte para Lisboa, em serviço, levando o Governador de Macau, capitão de Fragata Joaquim Anselmo da Matta e Oliveira (9)
Em 18 de Junho de 1932 está fundeado em Macau, reclassificado como aviso de 2,.ª classe, em péssimo estado geral nomeadamente do seu aparelho propulsor e da sua guarnição reduzida, pelo que é decidido que seja abatido em Lisboa. Larga de Macau em Março de 1933 chega a Lisboa em Julho (depois de uma atribulada viagem em que é obrigado a diversas paragens por sucessivas avarias).
Após 36 anos de serviço, foi o “Adamastor” abatido ao “Efectivo dos Navios da Armada” em 16 de Novembro de 1933.
Esta notícia do jornal de 15 de Abril de 1934, encerra a “vida” do “Adamastor” – foi arrematado o casco, vendido à Firma F. A. Ramos & Cª., pelo preço de 60.850$00 (10)
(1) Ultramar n.º 6, 15 de Abril de 1934 , p. 8 .
(2) http://purl.pt/14328/1/j-1244-g_1897-08-07/j-1244-g_1897-08-07_item2/j-1244-g_1897-08-07_PDF/j-1244-g_1897-08-07_PDF_24-C-R0150/j-1244-g_1897-08-07_0000_1-4_t24-C-R0150.pdf
(3) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral (1844 —1923), mais conhecido por Francisco Ferreira do Amaral ou apenas por Ferreira do Amaral, foi um militar (almirante) português, administrador colonial (Governador de S. Tomé e Príncipe, Governador-Geral de Angola, Governador da Índia Portuguesa) e político da última fase da monarquia constitucional portuguesa (Presidente do Conselho de Ministros) Era o único filho de Maria Helena de Albuquerque (1.ª baronesa de Oliveira Lima) e do governador de Macau João Maria Ferreira do Amaral.
Mais informações em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Ferreira_do_Amaral
(4) Em Macau tinha uma tripulação de 206 (14 oficiais, 23 sargentos e 169 praças.)
BARROS, Leonel – Memórias Náuticas, 2003, p. 67
(5) http://www.portugalgrandeguerra.defesa.pt/Documents/Cruzador%20Adamastor.pdf
(6) “Para além de Machado dos Santos ( comissário naval), a Marinha teve um papel destacado na revolução, através do “Adamastor” e do “S. Gabriel”, e dos oficiais, sargentos e marinheiros que participaram em acções no Quartel de Alcântara, na abordagem ao D. Carlos….” (VENTURA, António – A Marinha de Guerra Portuguesa e a Maçonaria, 2013, pp. 25.
(7) 11-05-1913 – O cruzador «Adamastor» foi de encontro a uma rocha perto de Hong Kong ( SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4)
Ver referência a este episódio em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cruzador-adamastor/
(8) “Em meados de 1913, recebe a missão de se deslocar a Macau para aí assumir o comando do cruzador português Adamastor. Esta será uma viagem inesquecível. Além de conhecer outras paragens (passa pela Alemanha, Rússia e China), contacta duas figuras políticas com que se cruzará mais tarde e em circunstâncias bem diversas: Sidónio Pais, que encontra em Berlim quando ruma a Macau, e Bernardino Machado, que recebe, na qualidade de embaixador de Portugal no Rio de Janeiro, a bordo do cruzador na sua passagem pelo Brasil.”
http://www.museu.presidencia.pt/presidentes_bio.php?id=27
(9) 6-03-1927 – Ida do cruzador «República» para Xangai.
15-10-1931- Parte para Lisboa, em serviço, o Governador de Macau, capitão de Fragata Joaquim Anselmo da Matta e Oliveira no Cruzador “Adamastor” que sai da Ponte Nova do Porto Exterior (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4)
(10) https://pt.wikipedia.org/wiki/NRP_Adamastor.