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MOSAICO I-6 FEV 1951 SALVE MACAU (II) - Ao José CatelaIn memoriam de José Neves Catela

Subi um dia à Guia, alta colina
Que deu à China o seu farol primeiro:
E abarquei dum olhar o corpo inteiro
Desta Macau formosa e peregrina.

Mas no silêncio em que a alma se ilumina
E o cérebro divaga, rotineiro,
Considerei que em espaço tão maneiro
Palpita uma metrópol´pequenina.

Macau é, sim, um mundo em miniatura
Frágil caleidoscópio pueril
Pletórico de imagens multicores…

…Mas nunca nele vi qualquer figura,
Qualquer combinação menos subtil
Dos múltiplos cambiantes dessa cores …

Hernâni Anjos

NOTA: Os sonetos de Hernãni Anjos  foram publicados no n.º 6 da Revista «Mosaico», publicada em Fevereiro de 1951. (1)   José Neves Catela (autor da foto acima – o farol e a colina da Guia vista da Estrada de S. Francisco) faleceu no dia 1 de Fevereiro e por isso, o Director da Revista, Dr. António Nolasco da Silva, dedicou este número à memória do colaborador da revista.
“O dia 1 do corrente mês ficou tristemente assinalado na história ainda tão curta do Círculo Cultural de Macau e do seu órgão de expansão, o “MOSAICO”. Foi com efeito, na manhã desse dia, que o nosso prezado consócio, José Neves Catela, se despediu de todos nós, deixando-nos mergulhados na dolorosa saudade da sua simpática e atraente personalidade.
José Catela que, aos 49 anos de idade, tinha o dinamismo, a vivacidade e o espírito de iniciativa dum rapaz de vinte anos, foi um dos mais incansáveis propagandistas do círculo Cultural e desta Revista, em cujas páginas , sobretudo naqueles em que têm publicitado alguns dos mais  curiosos aspectos fotográficos de Macau, ficou imortalizada a sua veia artística que à Fotografia dedicou uma grande parte de tão curta vida.
Além de colaborador do MOSAICO, José Catela dispendeu também a sua preciosa actividade como Administrador da nossa Revista. No Círculo Cultural dirigiu, com superior critério e brilhante entusiasmo, a Secção Fotográfica, e na Direcção daquele organismo exerceu, proficientemente, as funções de Tesoureiro-Geral …”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/31/poesia-salve-macau-seis-sonetos-de-hernani-anjos-i/
Informações anteriores de José Neves Catela em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-neves-catela/

MOSAICO I-6 FEV 1951 SALVE MACAU (I)Intitulado “Salvè, Macau !”, seis sonetos de Hernâni Anjos publicados na revista «Mosaico», n.º 6, de 1951. (1). Cada soneto é dedicado a uma ou duas personalidades do seu tempo, alguns deles companheiros do Círculo Cultural de Macau.
Um dos sonetos  é dedicado ao Dr. Pedro José Lobo, então Presidente da Direcção do Círculo Cultural de Macau (2)

MOSAICO I-6 FEV 1951 SALVE MACAU (I) AO Pedro J. LoboAo Dr. Pedro J. Lobo

Gota de água do mar da nossa crença,
Que Deus cristalizou ao Sul da China,
Tu és, Macau,  o tema que domina
Hoje a atenção do português que pensa.
 
Guarda-avançada dessa frente imensa
Onde o homem que é livre se confina,
Eu te bendigo a ti que nem na ruína
Dum mundo ateu te rendes à descrença!
 
Ou tu não foras o padrão mais belo
E o mais remoto, neste Extremo-Oriente,
Da Fé que os teus maiores cá deixaram!
 
A mesma Fé que foi o santo selo
Que há séculos selou, eternamente,
O abraço de dois mundos que se acharam!
Hernâni Anjos

Hernâni Noel Tamm Pereira da Silva Anjos – tenente de Infantaria Em 1950 Comandante (interino) da Companhia Indígena de Caçadores e Defensor Oficioso do Tribunal Militar Territorial.
” Expedicionário em Macau em 1947, tornou-se popular sobretudo pelas gazetilhas de sabor local que passou a publicar no “Clarim” .Manejava o verso com bastante facilidade e em muitas ocasiões atingiu genuína virtude.” (3)
Hernâni Anjos, foi um dos sócios fundadores do “Círculo Cultural de Macau” e pertencia à Direcção dos “Corpos Gerentes para o ano de 1950” (posse em Setembro de 1950) como secretário-geral.
(1) MOSAICO, órgão do Círculo Cultural de Macau, Vol. I, n.º 6, Fevereiro de 1951.
MOSAICO I-6 FEV 1951 CAPAAnteriores referências a esta revista:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/mosaico-circulo-cultural-de-macau/
(2) Anteriores referências ao Dr. Pedro José Lobo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/pedro-jose-lobo/
(3) REIS, João C. – Trovas Macaenses. Mar/Oceano, Macau, 1992, 485 p. + 9 p. Índice

MOSAICO I-1, 1950 CAPAA revista mensal “Mosaico” era o porta-voz (órgão) do “Circulo Cultural de Macau” (C. C. M.), instituição criada em 5 de Agosto de 1950, pela Portaria  n.º 4808 do Governo da Província. A publicação era mensal, trilingue (português, chinês e inglês).
O primeiro número da revista tinha como director da secção portuguesa e editor, o Dr. José Marcos Batalha (licenciado em Medicina) mas em virtude de ter sido nomeado médico do Quadro dos Serviços de Saúde da Colónia de Macau, o Dr. Batalha foi abrangido pela determinação da Lei da Imprensa para as Colónias que então proibia, expressamente, os funcionários públicos de dirigirem qualquer periódico. Por este motivo, embora continuasse, como sócio do C.C.M. e colaborador da revista, foi substituído nas funções de Director da secção portuguesa, editor e também de Chefe da Secção de Imprensa, pelo Dr. António Nolasco da Silva (licenciado em Direito).
O director da secção inglesa era Maria R. Casimiro, e da secção chinesa, Luís Gonzaga Gomes. Por se tratar da sua apresentação, o primeiro número da revista tem 130 páginas mas o número seria reduzido a cerca dois terços nos números seguintes.
A redacção estava na Av. da República n. 4 e a revista era composta e impressa na Tipografia Soi Sang , no Pátio da Cabaia  n.º 15.
O 1.º número foi publicado em Setembro de 1950 e o último n.º 83-85, abrangendo Julho, Agosto e Setembro de 1957.

MOSAICO I-1, 1950 CONTRACAPACONTRA-CAPA

A tomada de posse dos primeiros  Corpos Gerentes do Círculo Cultural de Macau, para o ano de 1950, foi no dia 1 de Setembro de 1950, no Gabinete do palácio do Governo, à Praia Grande.

MOSAICO I-1, 1950 Tomada de posseO  Governador Presidente-Honorário do C. C. M., no uso da palavra na tomada de posse.

MOSAICO I-1, 1950 Corpos Gerentes de 1950

MOSAICO I-1, 1950 Corpos Gerentes de 1950 (II)Hernâni Anjos num artigo neste primeiro número “O que é o Círculo Cultural de Macau” (pp. 21-31)
“… Instituído em Macau, por Macau e para Macau, principalmente, o C.C.M. é um organismo que se destina, como é natural, aos macaenses, e, a par deles, a todos os portugueses, oriundos de qualquer parte do Império que, em Macau, com carácter definitivo ou temporário, fixem a sua residência. Há nesse organismo, também, idêntico lugar para indivíduos estrangeiros, ingleses e chineses, de preferência, o que não implica a não-admissão de cidadãos de qualquer nacionalidade, tudo única e exclusivamente no sentido de servir os fins para que o C. C. M. foi criado…

MOSAICO I-1, 1950 Condições de Assinatura

Policromia cabaia de alta gola,
O colo oculto, o braço desnudado,
De longa saia aberta em cada lado
Até onde o pudor o olhar desola…

…Tu a vestes, Sin Lai, e o meu doirado
Sonho de belo logo se consola
Porque sinto que então se desenrola
Ante minha alma um kakemono alado.

Toda a rara elegância natural
Todo o sábio mistério oriental
De Ti se evolam, meu sublime jade!
……………………………………………………….
…Não é sonho! É verdade, esta mulher!
Só o que o meu amor dela mais quer
Ela não quer que o seja de verdade ….

Hernâni Anjos (1922 -1973)
in MOSAICO, Vol II, n.º 10, 1951

Outros livros do  autor relacionados com Macau:
Mosaico rítmico. Macau, Imprensa Nacional, 1948, 121 +|1| p, 19 cm
O “leão” do Passaleão: 1849 –25 de Agosto de 1949: poema   comemorativo do I.° centenário da tomada da fortaleza de passaleão (fragmento   da “Ode a Macau”), Macau, Imprensa Nacional, 1949, 25 p
Tetralogia pátria. Edições Círculo Cultural de Macau, 1950, 16 p, 20 cm