Artigo publicado na 1.ª página do «Diário de Notícias» do Rio de Janeiro no dia 18 de Dezembro de 1941. (1)
(1) http://memoria.bn.br/pdf/093718/per093718_1941_05875.pdf
Extraído de «BGC», XXI-244, 1945.
O Comandante do “Afonso de Albuquerque”, Samuel Conceição Vieira assumiu as funções de encarregado do Governo – função que apenas existia na ausência prolongada de um governador – a 5 de Agosto de 1946, no rescaldo da segunda guerra mundial, por um período de treze meses, em substituição de Gabriel Maurício Teixeira. (1)
Foi nessa qualidade que recebeu a 20 e 21 de Agosto de 1947 a visita de Sun Fo, (2) vice-presidente da República da China, filho de Suan Yat-Sen o fundador da República Chinesa em 1911. Uma visita destacada na primeira página do Diário de Notícias (Portugal) que titula “Macau visitada pelo vice-presidente da República da China A continuação ds amistosas relações entre portugueses e chineses foi enaltecida num discurso que ali proferiu“. (3)
Extraído do «BCG» XXIII, 1947.
O Vice-Presidente da República Chinesa Dr. Sun F, ao chegar a Macau, junto da guarda de honra feita por soldados portugueses. À esquerda, o encarregado do Governo, Comandante Samuel Vieira.
(1) 05-10-1940— No B. O. N.º 40 é nomeado o novo Governador, capitão de fragata, Gabriel Maurício Teixeira, por falecimento do Governador Artur Tamagnini Barbosa, tendo tomado posse a 29 de Outubro.
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05-08-1946 – O Comandante do “Afonso de Albuquerque” Samuel Conceição Vieira assumiu as funções de encarregado do Governo
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1-09-1947 – O Comandante Albano Rodrigues de Oliveira chega a Macau e é empossado Governador de Macau no dia 1 de Setembro de 1947, substituindo o comandante Gabriel Maurício Teixeira que tinha exercido o cargo desde 1940.
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O jovem Sun Fo junto ao pai Sun Yat-sem
(2) Sun Fo ou Sun Ke (孫科) (1891-1973), nascido em Xianshan (hoje Zhongshan – Guangdong) e falecido em Taipei, filho de Sun Yat-sen (1866-1925) e Lu Muzhen (1885-1915. Licenciado em “Master of Science”, pela Universidade de Columbia (USA) em 1917.
Vice-presidente em 1947-1948 do Governo Nacionalista, foi o 2.º Presidente da República Chinesa de 16 de Novembro de 1948 a 12 de Março de 1949. Exilado após a Guerra Civil Chinesa em 1949, fixou-se em Hong Kong até 1951. Depois esteve na Europa (1951-1952) e nos Estados Unidos até 1965, data que voltou a Formosa/Taiwan, após reconciliação com Chiang Kai-shek.
https://en.wikipedia.org/wiki/Sun_Fo
(3) Ver anterior referência a esta visita em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/10/13/noticia-de-13-de-outubro-de-1947-macau-sera-respeitada/
Conferência do Comandante Gabriel Teixeira ( governador de Macau de 5-10-1940 a 23-06-1947) com os representantes da Imprensa em Lisboa, realizada no dia 3 de Setembro de 1946, na antiga sala do Conselho do Império, do Ministério das Colónias. Primeira deslocação do Governador a Lisboa após os anos conturbados da Guerra do Pacífico.
Extraído de «BGC» XXII –, n.º 254/255, 1946.
Extraído de BGC XXII AGOSTO DE 1946, n.º 254/255, pp. 169-170
Notícia publicada num diário, em Lisboa, neste dia 13 de Outubro de 1947, intitulada “Macau será respeitada” referia que o Generalíssimo Cheang Kai Chek (1) deu ordem para cessarem quaisquer movimentos de opinião tendentes à devolução daquela colónia à China. (2) Esta notícia foi publicada nos mais importantes jornais da China e na Imprensa inglesa de Cantão e de Hong Kong. (3)
Nesse documento, Cheang Kai Chek dizia textualmente: “Qualquer agitação nesse sentido seria ridícula. Essa propaganda nunca foi tomada a sério pelo Governo central, que não encontra qualquer justificação para encetar negociações com Portugal respeitantes à devolução de Macau à China.”
O jornal noticiava também que “informações de Macau revelam que a campanha de certos jornais e de certos sectores políticos chineses, no sentido da devolução de Macau, foi iniciada por um jornal chinês de Cantão, do qual é director Kuo Ying Shu, membro do Conselho da cidade de Cantão, mas que nunca encontrou ecos nos meios responsáveis do Governo central da China. A acrescentar a estas informações, há a mensagem de boa amizade que Li Tai Chao, director dos serviços do Kuomintang (partido de Chang Kai Chek em Hong Kong e Macau), dirigiu recentemente ao então encarregado do Governo de Macau, sr. Capitão de fragata Samuel da Conceição Vieira, documento no qual se lêem entre outras, estas palavras:
«Fazemos votos por que as excelentes relações de amizade que existem entre os Governos da China e de Portugal se estreitem cada vez mais e que a china e Portugal se auxiliem mutuamente para o estabelecimento duma paz permanente no Mundo.»
NOTA: O comandante Albano Rodrigues de Oliveira que chegou a Macau a 23 de Agosto de 1947 é empossado Governador de Macau no dia 1 de Setembro de 1947 substituindo o comandante Gabriel Maurício Teixeira, que tinha exercido o cargo desde 1940. Entre a partida do Comandante Gabriel Teixeira e a posse do novo governador, o encarregado do Governo foi o Capitão de fragata, Samuel da Conceição Vieira. Um dos primeiros actos oficiais do novo governador foi a visita a Guangzhou (Cantão) onde foi recebido pelas autoridades civis e militares nacionalistas «com grande provas de cortesia, o que não deixou de impressionar os meios cantonenses, incluindo a própria imprensa» (4)
(1) Cheang Kai Chek (蔣介石; em inglês Chiang Kai-shek) (1887-1975).
Recorda-se que desde 1945, após a Guerra do Pacífico, reiniciou a guerra civil na China, depois do presidente da República Chinesa, generalíssimo Chiang Kai Chek ter rompido a aliança entre o seu partido, o Kuomitang e o partido Comunista.
蔣介石 – mandarin pīnyīn: jiǎng jiè shí; cantonense jyutping: zoeng2 gaai3 sek6
(2) Aliás já desde 1945 após a II Grande Guerra apareceram os primeiros sinais sobre a chamada “questão de Macau”:
“24-08-1945 – Acabada de fresco a Guerra do Pacífico, o embaixador português em Washington informou que, segundo um telegrama da United Press, o jornal «Ta Kung Pao», de Chung King pedia, em artigo de fundo, para Portugal, devolver Macau, à China com base na Carta do Atlântico“.(4)
“31-08-1945 – O Conselheiro da Embaixada da China em Bruxelas refere-se à “questão de Macau” declarando que era necessário restabelecer a soberania portuguesa nesse território, segundo o Princípio da Soberania, que se instalara após a 2.ª Guerra Mundial. A notícia chegou, via Londres, a Lisboa“. (4)
(3) Em 19-de Outubro de 1947, o jornal «China Mail», de Hong Kong, publicava em 1.ª página um artigo sob o título de «China makes move to regain Macao».(4)
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
Na madrugada do dia 19 de Agosto de 1943, soldados japoneses (e chineses colaboracionistas) carecendo de navios e de ferro, (1) atacaram e apoderaram-se do ferry «S.S. Sai On» (2 ) de bandeira inglesa que antes da guerra efectuava diariamente a carreira Macau-Hong Kong e que estava atracado no Porto Interior, em Macau, servindo de recolhimento de refugiados (cerca de 70) na maioria mulheres e crianças filipinos. Mataram no ataque um policia (3) – João António José – e levaram o barco para Hong Kong. (4) (5)
Foi logo dado o alerta nessa madrugada na Companhia de Artilharia, (6) no Quartel da Guia e quando alvoreceu, já os soldados estavam todos prontos e preparados com os canhões na bataria de artilharia virada para o lado do mar. Ainda se avistava o “S.S. Sai-On” a ser puxado por um rebocador ao longo do Porto Exterior, bem perto à costa , por causa da maré.
Ouviam-se os gritos das mulheres e crianças que estavam ao bordo do Sai On.
Os militares recebem ordens para parar o navio e o quarteleiro da bataria da Guia (e nomeado observador da área do Porto Exterior durante a guerra), soldado 4371 Pereira ( terminara a sua comissão em 23 de Março de 1939, mas “não havia barcos para me levar e o pré era de 13 avos por dia” pelo que recebia 3.90 patacas por mês “) prepara e aponta o canhão. Então recebe ordens do tenente Graça para acertar no cabo de ligação do rebocador para o barco. (7)
Exclama o soldado:
– Mas, meu tenente, a esta distância é como acertar a agulha num palheiro.
– Então o que é quer que se faça, responde o tenente.
– Meu tenente, é apontar para o rebocador e metê-lo já a pique.
– Mas isto não tenho ordens para o fazê-lo, responde o tenente desalentado.
Perante a estupefacção dos que estavam e uma certa revolta dos soldados, nada se vez, a não ser verem o rebocador a puxar o barco para as águas internacionais, persistindo nos ouvidos dos presentes o gritos das mulheres e o choro das crianças , até desaparecerem no horizonte.
(1) Terá sido mais a necessidade de ferro (desmantelamento do navio) ou de barcos de transporte, a razão deste assalto, contrariando o que está muito divulgado na imprensa estrangeira: o barco transportava contrabando para o Nacionalistas Chineses “Perhaps it was carrying contraband war supplies for Nationalist Chinese Forces.“(5)
(2) O «SS Sai On» (também conhecido como «Xi An») estava em Macau desde 7 de Dezembro de 1941 (dia do ataque ao porto de Pearl Habor) e deveria partir para Hong Kong nesse dia às oito horas. Recebeu ordens do cônsul Britânico em Macau, John Reeves para não partir. Era um vapor com dois convés, 225 pés de comprimento e 45 pés de boca, construído na Doca de Taikoo em 1924.
REEVES, John Pownall – The Lone Flag . Hong Kong University Press, 2014.
(3) O número dos mortos também não é consensual: a imprensa portuguesa sempre referiu um morto e alguns guardas do posto da Polícia Marítima e Fiscal (que ficava a escassos metros onde estava ancorado o «Sai On») feridos, ao contrário da estrangeira que refere 20 mortos (5). A Polícia Marítima era chefiada pelo adjunto da Capitania dos Portos, 1. º Tenente Augusto Botelho de Sousa.
(4) Afinal os japoneses não desmantelaram o navio e sob o nome de «Tak Shing» e «Tung Shan», operou na carreira Hong Kong – Macau até Janeiro de 1974 (TEIXEIRA, P. Manuel – Macau Durante a Guerra, 1976.). Os refugiados foram nos dias seguintes, devolvidos a Macau.
(5) Sobre este mesmo episódio, ver anterior referência em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1943/
(7) Segundo John Reeves “Orders had been given not to fire on the ship as she went out very slowly past the Barra Fort where artillerymen are said to have wept because they were not allowed to fire. I can understand orders not to fire on the ship itself for fear of hurting the refugees aboard but she had a tug ahead of her and one alongside and she passed less thart a hundred yards from the fort. The tug ahead could well have been immobilized”. Engano de John Reeves (o livro contém alguns), a artilharia preparada para o disparo não estava na Barra mas no Forte da Guia; mas tem razão quanto à possibilidade de se poder atingir o rebocador e a decepção dos soldados.
Pode ler online este livro em: https://books.google.pt/books?isbn=9888208322
(6) A Guarnição Militar portuguesa em Macau durante a guerra (1941-1945), sob o comando do Governador Capitão de Fragata Gabriel Maurício Teixeira era constituída por:
Quartel General das Forças do Exército:
1.ª Repartição:
Chefe de Estado Maior: interino, Capitão de infantaria, Carlos da Silva Carvalho
Adjunto – Tenente de artilharia, João Vitor Teixeira Bragança
2.ª Repartição:
Chefe – capitão miliciano do Q. E. do Serviço de Administração Militar, José Martins dos Santos Loureiro
Adjuntos – Capitão de artilharia, António Pedro da Costa e
Tenente do Serviço de Administração Militar, João Francisco Calado.
Companhia de Metralhadoras (143 europeus); Comandante interino: Tenente Fernando Homem da Costa; em Novembro de 1942, Tenente Álvaro Marques de Andrade Salgado.
1.ª Companhia Indígena de Caçadores (153 militares) sediada em Coloane, com diligência na Taipa (7-07-1941); Comandante: Capitão de infantaria, José Teodoro da Silva Santos.
2.ª Companhia Indígena de Metralhadoras sediada no quartel da Porta do Cerco; Comandante: Capitão de infantaria, José António da Silva que acumulava com o cargo de comandante militar da Porta do Cerco. A Companhia foi extinta em 31-12-1941 passando o pessoal para a 2.º Companhia Indígena de Caçadores (152 militares) criada a 1-01-1942 com o mesmo comandante até Outubro de 1944, Tenente Joaquim Afonso Pinto. Tinha um destacamento na Ilha Verde.
Companhia de Artilharia (195 europeus); Comandante: Capitão de artilharia, Rogério de Paiva Cardoso (de 29-11-1939 a 16-01-1941;) Interinamente o Capitão António Pedro da Costa (nomeação em 07-02-1943) e depois o Tenente, João da Costa Lage (nomeação em 01-10-1943)
Subalternos – Tenentes, João da Costa Lage (em 30-11-1939 funções de director do Depósito de Material de Guerra) , Mário Machado da Graça e Manuel Gomes Madeira Guedes de Andrade e os alferes Augusto Bagôrra e Eduardo J. T. Barbosa de Abreu
1 sargento, sete 2.º s sargentos, dois furriéis.
Na dependência Quartel General estavam uma Secção de Reformados e de Depósitos na Fortaleza do Monte (onde os Serviços de Recrutamento foram integrados a partir de 14-04-1937): Comandante: Tenente reformado Augusto Teixeira e depois António Lopes da Silva (a partir de 23-12-1941 ?); o Depósito de Material de Guerra e o Presídio Militar na Fortaleza de S. Paulo do Monte (O director do Depósito era o comandante do Presídio) Comandante: Tenente de artilharia João da Costa Lage), e o Tribunal Militar Territorial.
Na Taipa, o destacamento militar era chefiado pelo Tenente de artilharia, João Vieira Branco e em Coloane, o comandante era o Capitão de infantaria, José Teodoro da Silva Santos.
(Dados recolhidos de CAÇÃO, Armando A-.A. – Unidades Militares de Macau, 1999 e ANUÁRIO DE MACAU 1940/41)
Foi determinado em acta do Leal Senado de 11 de Maio de 1940, a inauguração de algumas vias públicas nesse ano, atribuindo-lhes o nome de figuras históricas dentro do programa das comemorações do Duplo Centenário da Independência e da Restauração (oitavo centenário da Independência e terceiro centenário da restauração de Portugal),
Era Governador do território, o Capitão de Fragata Gabriel Maurício Teixeira.
Inauguração da Avenida de D. Afonso Henriques
A Avenida de D. Afonso Henriques, começa na Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho, em frente da Avenida do Infante D. Henrique e termina perto do Reservatório.
Foi inaugurada a 4 de Junho de 1940.
Afonso Henriques filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, foi o 1.º rei de Portugal (1128-1185).
Inauguração da Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho
Começa entre a Rua da Praia Grande, e a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, em frente da Estrada de S. Francisco, e termina na Avenida da Amizade. Foi inaugurada a 25 de Junho de 1940.
Lopo Sarmento de Carvalho, natural de Bragança, estabeleceu-se em Macau, em 1615, casando com Maria Cerqueira, natural de Macau (falecida a 26 de Outubro de 1639, sepultada em S. Paulo, na capela de Jesus).
Foi o último Capitão-Mor da viagem de Japão no governo de Macau (1617/18 e 1621/22), pois a 7 de Julho de 1623, o primeiro Governador e capitão-geral, D. Francisco de Mascarenhas, tomava posse.
Obteve grandes lucros da viagem ao Japão, em 1617, de maneira que em 1920 comprou três viagens de Japão. Das três viagens que comprou só pode realizar uma em 1621(com 6 galeotas e de lá trouxe muita seda, de que auferiu grande lucro). Foi o herói da vitória contra os holandeses em 24 de Junho de 1622 (1).
Um filho seu, Inácio (Macau 1616 – Goa 1676) foi capitão-geral da Armada e da Costa do Norte, governador e capitão-geral de Diu e capitão-geral de Moçambique, e tem perpetuado, em Macau, o seu o nome: Travessa de Inácio Sarmento de Carvalho.
Inauguração da Avenida de D. João IV
A Avenida de D. João IV começa na Rua da Praia Grande, em frente do Jardim de S. Francisco e termina na Avenida da Amizade (nessa altura, Dr. Oliveira Salazar). Foi inaugurada a 1 de Dezembro de 1940.
D João IV (1604-1656), 8.º duque de Bragança, foi coroado a 15 de Dezembro de 1640, após o golpe do 1.º de Dezembro, Rei de Portugal (1640-1656)
Inauguração da Avenida de D. João IV (outro aspecto)
Fotos do Anuário de Macau, 1940-1941 e informações de TEIXEIRA, P.. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II.
(1) Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/