Extraído de BGC XXII AGOSTO DE 1946, n.º 254/255, pp. 169-170
Notícia publicada num diário, em Lisboa, neste dia 13 de Outubro de 1947, intitulada “Macau será respeitada” referia que o Generalíssimo Cheang Kai Chek (1) deu ordem para cessarem quaisquer movimentos de opinião tendentes à devolução daquela colónia à China. (2) Esta notícia foi publicada nos mais importantes jornais da China e na Imprensa inglesa de Cantão e de Hong Kong. (3)
Nesse documento, Cheang Kai Chek dizia textualmente: “Qualquer agitação nesse sentido seria ridícula. Essa propaganda nunca foi tomada a sério pelo Governo central, que não encontra qualquer justificação para encetar negociações com Portugal respeitantes à devolução de Macau à China.”
O jornal noticiava também que “informações de Macau revelam que a campanha de certos jornais e de certos sectores políticos chineses, no sentido da devolução de Macau, foi iniciada por um jornal chinês de Cantão, do qual é director Kuo Ying Shu, membro do Conselho da cidade de Cantão, mas que nunca encontrou ecos nos meios responsáveis do Governo central da China. A acrescentar a estas informações, há a mensagem de boa amizade que Li Tai Chao, director dos serviços do Kuomintang (partido de Chang Kai Chek em Hong Kong e Macau), dirigiu recentemente ao então encarregado do Governo de Macau, sr. Capitão de fragata Samuel da Conceição Vieira, documento no qual se lêem entre outras, estas palavras:
«Fazemos votos por que as excelentes relações de amizade que existem entre os Governos da China e de Portugal se estreitem cada vez mais e que a china e Portugal se auxiliem mutuamente para o estabelecimento duma paz permanente no Mundo.»
NOTA: O comandante Albano Rodrigues de Oliveira que chegou a Macau a 23 de Agosto de 1947 é empossado Governador de Macau no dia 1 de Setembro de 1947 substituindo o comandante Gabriel Maurício Teixeira, que tinha exercido o cargo desde 1940. Entre a partida do Comandante Gabriel Teixeira e a posse do novo governador, o encarregado do Governo foi o Capitão de fragata, Samuel da Conceição Vieira. Um dos primeiros actos oficiais do novo governador foi a visita a Guangzhou (Cantão) onde foi recebido pelas autoridades civis e militares nacionalistas «com grande provas de cortesia, o que não deixou de impressionar os meios cantonenses, incluindo a própria imprensa» (4)
(1) Cheang Kai Chek (蔣介石; em inglês Chiang Kai-shek) (1887-1975).
Recorda-se que desde 1945, após a Guerra do Pacífico, reiniciou a guerra civil na China, depois do presidente da República Chinesa, generalíssimo Chiang Kai Chek ter rompido a aliança entre o seu partido, o Kuomitang e o partido Comunista.
蔣介石 – mandarin pīnyīn: jiǎng jiè shí; cantonense jyutping: zoeng2 gaai3 sek6
(2) Aliás já desde 1945 após a II Grande Guerra apareceram os primeiros sinais sobre a chamada “questão de Macau”:
“24-08-1945 – Acabada de fresco a Guerra do Pacífico, o embaixador português em Washington informou que, segundo um telegrama da United Press, o jornal «Ta Kung Pao», de Chung King pedia, em artigo de fundo, para Portugal, devolver Macau, à China com base na Carta do Atlântico“.(4)
“31-08-1945 – O Conselheiro da Embaixada da China em Bruxelas refere-se à “questão de Macau” declarando que era necessário restabelecer a soberania portuguesa nesse território, segundo o Princípio da Soberania, que se instalara após a 2.ª Guerra Mundial. A notícia chegou, via Londres, a Lisboa“. (4)
(3) Em 19-de Outubro de 1947, o jornal «China Mail», de Hong Kong, publicava em 1.ª página um artigo sob o título de «China makes move to regain Macao».(4)
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
Na madrugada do dia 19 de Agosto de 1943, soldados japoneses (e chineses colaboracionistas) carecendo de navios e de ferro, (1) atacaram e apoderaram-se do ferry «S.S. Sai On» (2 ) de bandeira inglesa que antes da guerra efectuava diariamente a carreira Macau-Hong Kong e que estava atracado no Porto Interior, em Macau, servindo de recolhimento de refugiados (cerca de 70) na maioria mulheres e crianças filipinos. Mataram no ataque um policia (3) – João António José – e levaram o barco para Hong Kong. (4) (5)
Foi logo dado o alerta nessa madrugada na Companhia de Artilharia, (6) no Quartel da Guia e quando alvoreceu, já os soldados estavam todos prontos e preparados com os canhões na bataria de artilharia virada para o lado do mar. Ainda se avistava o “S.S. Sai-On” a ser puxado por um rebocador ao longo do Porto Exterior, bem perto à costa , por causa da maré.
Ouviam-se os gritos das mulheres e crianças que estavam ao bordo do Sai On.
Os militares recebem ordens para parar o navio e o quarteleiro da bataria da Guia (e nomeado observador da área do Porto Exterior durante a guerra), soldado 4371 Pereira ( terminara a sua comissão em 23 de Março de 1939, mas “não havia barcos para me levar e o pré era de 13 avos por dia” pelo que recebia 3.90 patacas por mês “) prepara e aponta o canhão. Então recebe ordens do tenente Graça para acertar no cabo de ligação do rebocador para o barco. (7)
Exclama o soldado:
– Mas, meu tenente, a esta distância é como acertar a agulha num palheiro.
– Então o que é quer que se faça, responde o tenente.
– Meu tenente, é apontar para o rebocador e metê-lo já a pique.
– Mas isto não tenho ordens para o fazê-lo, responde o tenente desalentado.
Perante a estupefacção dos que estavam e uma certa revolta dos soldados, nada se vez, a não ser verem o rebocador a puxar o barco para as águas internacionais, persistindo nos ouvidos dos presentes o gritos das mulheres e o choro das crianças , até desaparecerem no horizonte.
(1) Terá sido mais a necessidade de ferro (desmantelamento do navio) ou de barcos de transporte, a razão deste assalto, contrariando o que está muito divulgado na imprensa estrangeira: o barco transportava contrabando para o Nacionalistas Chineses “Perhaps it was carrying contraband war supplies for Nationalist Chinese Forces.“(5)
(2) O «SS Sai On» (também conhecido como «Xi An») estava em Macau desde 7 de Dezembro de 1941 (dia do ataque ao porto de Pearl Habor) e deveria partir para Hong Kong nesse dia às oito horas. Recebeu ordens do cônsul Britânico em Macau, John Reeves para não partir. Era um vapor com dois convés, 225 pés de comprimento e 45 pés de boca, construído na Doca de Taikoo em 1924.
REEVES, John Pownall – The Lone Flag . Hong Kong University Press, 2014.
(3) O número dos mortos também não é consensual: a imprensa portuguesa sempre referiu um morto e alguns guardas do posto da Polícia Marítima e Fiscal (que ficava a escassos metros onde estava ancorado o «Sai On») feridos, ao contrário da estrangeira que refere 20 mortos (5). A Polícia Marítima era chefiada pelo adjunto da Capitania dos Portos, 1. º Tenente Augusto Botelho de Sousa.
(4) Afinal os japoneses não desmantelaram o navio e sob o nome de «Tak Shing» e «Tung Shan», operou na carreira Hong Kong – Macau até Janeiro de 1974 (TEIXEIRA, P. Manuel – Macau Durante a Guerra, 1976.). Os refugiados foram nos dias seguintes, devolvidos a Macau.
(5) Sobre este mesmo episódio, ver anterior referência em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1943/
(7) Segundo John Reeves “Orders had been given not to fire on the ship as she went out very slowly past the Barra Fort where artillerymen are said to have wept because they were not allowed to fire. I can understand orders not to fire on the ship itself for fear of hurting the refugees aboard but she had a tug ahead of her and one alongside and she passed less thart a hundred yards from the fort. The tug ahead could well have been immobilized”. Engano de John Reeves (o livro contém alguns), a artilharia preparada para o disparo não estava na Barra mas no Forte da Guia; mas tem razão quanto à possibilidade de se poder atingir o rebocador e a decepção dos soldados.
Pode ler online este livro em: https://books.google.pt/books?isbn=9888208322
(6) A Guarnição Militar portuguesa em Macau durante a guerra (1941-1945), sob o comando do Governador Capitão de Fragata Gabriel Maurício Teixeira era constituída por:
Quartel General das Forças do Exército:
1.ª Repartição:
Chefe de Estado Maior: interino, Capitão de infantaria, Carlos da Silva Carvalho
Adjunto – Tenente de artilharia, João Vitor Teixeira Bragança
2.ª Repartição:
Chefe – capitão miliciano do Q. E. do Serviço de Administração Militar, José Martins dos Santos Loureiro
Adjuntos – Capitão de artilharia, António Pedro da Costa e
Tenente do Serviço de Administração Militar, João Francisco Calado.
Companhia de Metralhadoras (143 europeus); Comandante interino: Tenente Fernando Homem da Costa; em Novembro de 1942, Tenente Álvaro Marques de Andrade Salgado.
1.ª Companhia Indígena de Caçadores (153 militares) sediada em Coloane, com diligência na Taipa (7-07-1941); Comandante: Capitão de infantaria, José Teodoro da Silva Santos.
2.ª Companhia Indígena de Metralhadoras sediada no quartel da Porta do Cerco; Comandante: Capitão de infantaria, José António da Silva que acumulava com o cargo de comandante militar da Porta do Cerco. A Companhia foi extinta em 31-12-1941 passando o pessoal para a 2.º Companhia Indígena de Caçadores (152 militares) criada a 1-01-1942 com o mesmo comandante até Outubro de 1944, Tenente Joaquim Afonso Pinto. Tinha um destacamento na Ilha Verde.
Companhia de Artilharia (195 europeus); Comandante: Capitão de artilharia, Rogério de Paiva Cardoso (de 29-11-1939 a 16-01-1941;) Interinamente o Capitão António Pedro da Costa (nomeação em 07-02-1943) e depois o Tenente, João da Costa Lage (nomeação em 01-10-1943)
Subalternos – Tenentes, João da Costa Lage (em 30-11-1939 funções de director do Depósito de Material de Guerra) , Mário Machado da Graça e Manuel Gomes Madeira Guedes de Andrade e os alferes Augusto Bagôrra e Eduardo J. T. Barbosa de Abreu
1 sargento, sete 2.º s sargentos, dois furriéis.
Na dependência Quartel General estavam uma Secção de Reformados e de Depósitos na Fortaleza do Monte (onde os Serviços de Recrutamento foram integrados a partir de 14-04-1937): Comandante: Tenente reformado Augusto Teixeira e depois António Lopes da Silva (a partir de 23-12-1941 ?); o Depósito de Material de Guerra e o Presídio Militar na Fortaleza de S. Paulo do Monte (O director do Depósito era o comandante do Presídio) Comandante: Tenente de artilharia João da Costa Lage), e o Tribunal Militar Territorial.
Na Taipa, o destacamento militar era chefiado pelo Tenente de artilharia, João Vieira Branco e em Coloane, o comandante era o Capitão de infantaria, José Teodoro da Silva Santos.
(Dados recolhidos de CAÇÃO, Armando A-.A. – Unidades Militares de Macau, 1999 e ANUÁRIO DE MACAU 1940/41)
Foi determinado em acta do Leal Senado de 11 de Maio de 1940, a inauguração de algumas vias públicas nesse ano, atribuindo-lhes o nome de figuras históricas dentro do programa das comemorações do Duplo Centenário da Independência e da Restauração (oitavo centenário da Independência e terceiro centenário da restauração de Portugal),
Era Governador do território, o Capitão de Fragata Gabriel Maurício Teixeira.
Inauguração da Avenida de D. Afonso Henriques
A Avenida de D. Afonso Henriques, começa na Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho, em frente da Avenida do Infante D. Henrique e termina perto do Reservatório.
Foi inaugurada a 4 de Junho de 1940.
Afonso Henriques filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, foi o 1.º rei de Portugal (1128-1185).
Inauguração da Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho
Começa entre a Rua da Praia Grande, e a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, em frente da Estrada de S. Francisco, e termina na Avenida da Amizade. Foi inaugurada a 25 de Junho de 1940.
Lopo Sarmento de Carvalho, natural de Bragança, estabeleceu-se em Macau, em 1615, casando com Maria Cerqueira, natural de Macau (falecida a 26 de Outubro de 1639, sepultada em S. Paulo, na capela de Jesus).
Foi o último Capitão-Mor da viagem de Japão no governo de Macau (1617/18 e 1621/22), pois a 7 de Julho de 1623, o primeiro Governador e capitão-geral, D. Francisco de Mascarenhas, tomava posse.
Obteve grandes lucros da viagem ao Japão, em 1617, de maneira que em 1920 comprou três viagens de Japão. Das três viagens que comprou só pode realizar uma em 1621(com 6 galeotas e de lá trouxe muita seda, de que auferiu grande lucro). Foi o herói da vitória contra os holandeses em 24 de Junho de 1622 (1).
Um filho seu, Inácio (Macau 1616 – Goa 1676) foi capitão-geral da Armada e da Costa do Norte, governador e capitão-geral de Diu e capitão-geral de Moçambique, e tem perpetuado, em Macau, o seu o nome: Travessa de Inácio Sarmento de Carvalho.
Inauguração da Avenida de D. João IV
A Avenida de D. João IV começa na Rua da Praia Grande, em frente do Jardim de S. Francisco e termina na Avenida da Amizade (nessa altura, Dr. Oliveira Salazar). Foi inaugurada a 1 de Dezembro de 1940.
D João IV (1604-1656), 8.º duque de Bragança, foi coroado a 15 de Dezembro de 1640, após o golpe do 1.º de Dezembro, Rei de Portugal (1640-1656)
Inauguração da Avenida de D. João IV (outro aspecto)
Fotos do Anuário de Macau, 1940-1941 e informações de TEIXEIRA, P.. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II.
(1) Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/
O HOTEL KUOK CHAI EM 1941, finais da construção.
É inaugurado neste dia, em Macau, um «arranha céus», o primeiro hotel de características contemporâneas a ser erguido no território: o Grande Hotel, também conhecido como Hotel Kuok Chai, com 9 andares, (1) situado no início da Avenida Almeida Ribeiro (do lado do Porto Interior). O Hotel Central também tinha altura imponente, mas foi crescendo progressivamente enquanto o Grande Hotel teve logo os nove andares de raiz (e teria mais dois em fase posterior se não fosse a Guerra do Pacífico). Tinha noventa e sete quartos, com salão de chá no último andar onde podia usufruir de uma magnífica vista sobre a cidade de Macau, a Ilha de Lapa e outras ilhas da China.
Foi um acontecimento tão importante que o Governador de Macau, em pessoa, e Sir Robert Ho Tung, deram a honra de ir cortar a fita. Sir Robert veio de Hong Kong num barco alugado expressamente para o efeito. (2)
Foi promovido pela família Fu, que detinha na altura o monopólio do jogo. Projectado pelo engenheiro civil macaense João Canavarro Nolasco em 1937, foi construído pelo empreiteiro Tai Man Hou. Destinava‐se preferencialmente à clientela chinesa, em alternativa aos hotéis de luxo que atraíam os ocidentais.(3)
“…Com linhas modernas e uma decoração filiada na expressão parisiense das arts déco, foi lugar de sofisticação e movimentação da elite endinheirada. O edifício articula‐se a partir de um corpo central, constituído pela torre com cerca de doze pisos que marca o eixo de simetria e se eleva do conjunto, marcada por três feixes de linhas verticais com expressão saliente que se desenvolvem a partir do enorme arco de perfil reto que marca a entrada aberta quase até ao terceiro piso. De cada lado, o corpo dos quartos surge suspenso da fachada, suportado por uma arcaria reta que vence os dois primeiros pisos e confere um aspecto de suspensão ao conjunto.” (3)
O Grande Hotel encontra-se encerrado desde os anos 1990. O edifício de nove andares encontra-se abandonado, devoluto e com acesso bloqueado por painéis de madeira. Não tenho informação sobre qualquer plano para a reabilitação ou demolição do prédio.
(1) Aquando da sua inauguração, foi considerado o prédio mais alto de todo o império colonial português.
(2) O Governador era Gabriel Maurício Teixeira (governo de 5-10-1940 a 23-06-1947)
BASTO DA SILVA, Beatriz – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) HPIP – Património de Influência Portuguesa – Hotel Kuok Chai ou Grande Hotel
http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=495
“Os quatro selos postais aqui reproduzidos, comemorativos do 4.º centenário do estabelecimento dos portugueses em Macau deveriam ter sido postos a circular a 1 de Novembro de 1955. Impressos com um mínimo de cinco cores cada um, os selos apresentam quatro figuras dos mais proeminentes da história de Macau: Jorge Álvares, o primeiro português que aportou à China, em 1513; Tomé Pires, o primeiro embaixador de Portugal à China, que entrou em Pequim em 1521; Miguel de Arriaga Brum da Silveira, o destemido português a quem, em 1810, se entregou, com toda a sua esquadra, o célebre pirata Cam Pau Sai; e D Belchior Carneiro, o primeiro prelado que governou a diocese de Macau, erecta por bula de Gregório XIII, de 1575, e piedoso fundador da Santa Casa da Misericórdia de Macau. Os selos da emissão comemorativa seriam das taxas de 20, 24, 40 e 90 avos. Juntamente com os selos, seriam vendidos, no primeiro dia de circulação, um envelope especial, com desenhos coloridos, reproduzindo a chegada dos portugueses a Amagao.
Estavam programados para todo o mês de Novembro desse ano, os C.T.T. de Macau fariam apor em todas as cartas que passassem pela Estação Postal, carimbos com os seguintes dizeres:
No dia 1 – «1.º Dia – 4.º Centenário de Macau 1555-1955»
De 2 a 8 -«Macau, testemunho da secular amizade luso-chinesa – 1555-1955»
De 9 a 17 – «Macau, símbolo de paz e trabalho -1555 – 1955»
De 18 a 25 – «Macau, exemplo de patriotismo e de solidariedade humana – 1555 – 1955»
De 26 a 30 -«Macau, espelho da civilização cristã – 1555 – 1955». (1)
No entanto estes selos (autorização da emissão e circulação, em Macau publicada no B. O. n.º 43 de 22 de Outubro de 1955) nunca entraram em circulação.
A razão, segundo informações de Beatriz Basto da Silva (2):
“Os 4 selos não entram em circulação em Macau por motivos óbvios que transparecem na contra ordem de 4 de Outubro de 1955 , publicada no B. O. n.º 50 de 10 de Dezembro do mesmo ano. Algumas colecções foram enviadas como oferta a personalidades importantes, pela «Agência Geral do Ultramar». É cancelada, em 20 de Novembro de 1955, por receio a melindres, a pequena cerimónia para assinalar os quatro séculos da presença portuguesa em Macau.” (3)
Sobre este cancelamento, comenta o investigador Moisés Silva Fernandes (4):
“Graças a pressões públicas e particularidades exercidas por círculos nacionalistas macaenses, a administração portuguesa de Macau, foi persuadida a comemorar o 4.º centenário de Macau, em Novembro de 1955. A China não reagiu bem às comemorações e fez saber a nível particular e em público o seu desagrado. Zhou En Lai interviu pessoalmente na matéria e a administração portuguesa viu-se na necessidade de cancelar as comemorações para evitar a deterioração da situação política”
(1) Macau Boletim Informativo, n.º 51, 1955
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 5. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1998, 320 p., ISBN 972-8091-64-8
(3) NOTA: o Leal Senado, em sessão camarária, tinha resolvido convidar os cidadãos honorários de Macau para assistir a essas comemorações do IV Centenário do estabelecimento dos portugueses em Macau, encarregando-se o mesmo Leal Senado das despesas de hospedagem durante a estadia daquelas individualidades: comandante Manuel Maria Sarmento Rodrigues, antigo ministro do ultramar, Comandante Gabriel Teixeira e Albano Rodrigues de Oliveira, antigos Governadores de Macau, Dr. José Caetano Soares, antigo médico municipal de Macau e Jorge Grave Leite, antigo Presidente do Leal Senado de Macau.
(4) FERNANDES, Moisés Silva – Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas, 1945-1995: Cronologia e Documentos. Fundação Oriente, Lisboa, 2000, 849 p. + |Documentos LIX|
Notícia de um acontecimento em 25 de Abril de 1940:
“O Governo de Macau mandou recolher a polícia estacionada na Ilha da Lapa, depois de, durante um mês, ali assegurar a defesa dos habitantes face aos invasores japoneses” (1)
Neste mapa de 1925 (2) , a “província portuguêsa de Macau” era composta pela península de Macau e as ilhas de Patera ou da Lapa, Macarira ou de D. João, da Taipa, Tai-Von-Cam ou da Montanha e Coloane.
Recorda-se que as ilhas da Lapa, de D. João e a da Montanha foram posteriormente ocupadas pelos japoneses.
Retiro do site (3) “Portugal in War” o seguinte:
“Following the surrender of Hong Kong in December 1941, the Japanese decided not to formally occupy Macao. One reason may have been that the Japanese wished to respect Portuguese neutrality. The fact remains that Japanese troops went in and out of Macao at will with little protest from Portuguese authorities. However, in spite of this situation, the Allied flags (USA, United Kingdom, the Netherlands, France) were allowed to be displayed in Macao at their respective embassies.
The Portuguese military garrison in Macau consisted during the war (1941-1945) from the following units;
Commander: Navy Commander Gabriel Mauricio Teixeira (Comandante)
Headquarters, Chief of Staff: Major Carlos da Silva Carvalho (Chefe de Estado-Maior)
• two native light rifle companies, recruited in Mozambique (companhias indígenas de caçadores)
• one machine-gun company (companhia de metralhadoras)
• one artillery company (companhia de artilharia)
• military detachment at Taipa (Destacamento militar na Taipa)
• military detachment at Ilha Verde (Destacamento militar na Ilha Verde)
and supposedly there were 4 Hawker Osprey seaplanes in Macao in 1940.”
Outro artigo, de João Guedes (4) “Macau 1941-1945: Um anel de ferro a toda a volta” menciona:
“Apesar de toda a aparente imponência, o dispositivo militar de Macau não passava de um “tigre de papel” como se diria nos tempos da “Revolução Cultural”. De facto nessa época a guarnição militar era constituída por 497 homens, sendo 22 oficiais do exército, 35 da marinha e 440 soldado, cabos e sargentos, 224 dos quais eram elementos recrutados em Moçambique que constituíam as companhias de “caçadores indígenas” (Landins). Para além destas o dispositivo militar era integrado por uma companhia de metralhadoras, e outra de artilharia. Os destacamentos militares da Taipa e da Ilha Verde completavam o diagrama operacional. O apoio aéreo era garantido por 4 hidroaviões “Hawker Osprey” da Marinha, que tal como os canhões da Guia acabariam igualmente por se desvanecer em mãos obscuras resultantes de negócios de emergência ditados igualmente pela necessidade de adquirir bens essenciais.(4)
Recordo também, um artigo de Alberto Alecrim “Um dos últimos de Man-Ió” (5):
“Bernardino da Silva Azevedo, popularmente conhecido por Espanhol, chega a Macau em Maio de 1941…(…)…Foi um dos últimos militares portugueses a fazer serviço em Man-Ió, na Ilha da Montanha, quando esta ínsua do rio das Pérolas ainda se encontrava sob a jurisdição de Portugal”
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau – 1997, 454 p.ISBN-972-8091-11-7
(2)Mapas e parte do artigo “O porto de Macau” (não assinado) da revista “Portugal“, n.º 46, 30 Junho de 1925
(3) http://www.oocities.org/dutcheastindies/portugal.html
Há uma nota final que refere como principal fonte desta informação, o livro de História do Exército Português 1910-1945, coordenação do General A. N. Ramires de Oliveira, Vol III – A Grande Guerra, 1993. Publicada pelo Estado Maior do Exército, Lisboa, em 4 volumes
(4) http://temposdoriente.wordpress.com/2010/11/12/macau-1941-45-um-anel-de-ferro-a-toda-a-volta-09-11-10
(5) ALECRIM, Alberto – Um dos últimos de Man-Ió, in MACAU, Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau, n.º 20, Fevereiro de 1990, pp. 66-67