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Extraído de «O Correio de Macau», Vol. I -13, 21 de Janeiro de 1883, p. 60

Hoje dia 13 de Setembro de 2019, celebra-se o 15.º dia do 8.º mês – Dia do Festival do Outono, mais conhecido como a Festa do «Bate-Pau» ou das «lanternas»
Do “Ta-Ssi-Yang-Kuo – Arquivos e Anais do Extremo Oriente Português” (1) (pp. 392~393), a propósito dos “Costumes e crenças da China” de Francisco Pereira Marques, retiro o seguinte:
A lua corresponde ao mez de setembro é consagrada pelos chins à festa do bate-pau ou das lanternas a que eles chamam Chung – chau e os inglezes Mid Autumn festival, por coincidir com a quadra outomnal.

Caixa contendo quatro bolos bate-pau

Dá-se o nome de bate-pau a um bolo que os chins preparam n´esta ocasião, que é arredondado e parecido com um pastelinho com crosta de farinha, recheado de doces. Há varias espécies de bolos de bate-pau: uns que que só entra feijão; outros o mungo (2); outros a semente de trate (3); e outros o gergelim, amêndoa e toucinho.
Só durante esta lua ou pouco antes é que os chins preparam estes bolos para venda e exportação.
Tambem por este tempo os chins vendem caramelos em forma de castello, embarcação, jarro, etc.; pães de farinha figurando um porco de tamanho de trez e quatro polegadas, metido n´um cesto de bambú de feitio conico; bolos de massa de farinha muito dura coma configuração de um prato com pintura a côres, representando paisagens e figuras humanas, postos n´uma caixinha de papelão de forma circular, polygonal ou oblonga, segundo o feitio do bolo, com uma rede muito fina e transparente de cassa. Este bolo só é feito para ornato e presente às creanças.

Bolo Bate.pau embalado

O bolo de bate-pau é o symbolo da lua, e os chins chamam-n´o em dialecto mandarim Yué-ping 月餅 e em cantonense Yut—peang. Geralmente o seu peso nao atinge meia libra.
Os macaístas conhecem-n´o pelo nome de bate-pau, por ser preparado com um pau em forma de ferula, com um orifício no centro onde se mettem a massa de farinha e os recheios, carregando com a palma da mão para comprimil-o bem; e em seguida batem o pau com força, por duas ou tres vezes sobre a meza, para fazer expellir o bolo que é levado acto contínuo ao forno, a assar.
Todo este mez lunar é consagrado a esta festa, mas o decimo quinto dia da lua é o mais solemne.
As lojas, onde se fazem e vendem stes bolos, costumam ter nos seus terraços ou telhados um mastro com bandeiras e ou lanternas.”
(1) PEREIRA, J. F. Marques (“coligidos, coordenados e anotados” )- Ta-Ssi-Yang-Kuo, Archivos e annaes do Extremo-Oriente Português. 1899-1900. Série II, – Vols. III e IV. Edição S.E.C., !984.
(2) Mungo é uma espécie de feijãosinho que os chins do sul chamam Loc tau 綠豆(feijão verde) e, se não me engano, é o Phaseolus mungo, conhecido entre os ingleses pelo nome de “kidney beans”. Os chins cozem o mungo com jagra (melaço) fezes de assucar mascavado, a que chamam Wong-tong 黃糖 (assucar amarello) e vende-se em pães e se serve quente em chávenas como refrigerante, com o nome de Loc-tau-choc 綠豆粥(cozimento de mungo com jagra) e Loc-tau-sá  綠豆沙 (cozimento de mungo) , segundo o modo de o prepararem.
Quasi todos os navegantes que fazem viagens longas nas embarcações, costumam prover-se de mungo, e, quando a bordo há falta de hortaliça, os chinas borrifam agua sobre uma porção de mungo, que, ao cabo de dois ou três dias, gréla em espiga tenra.. Cozem-n´o como hervas e dão-lhe o nome de Teang-ká-choi 蛋家菜,, isto é, hortaliça dos barqueiros.
(3) Trate é uma planta aquática muito apreciada no Oriente. Os chins aproveitam toda esta planta, desde a flôr até a raiz, e denominam-na Lin-chi 蓮子… (…)
Os chins gostam muito da semente d´esta planta, que cosem com sopa e carne. Aproveitam esta semente para fazer doce e também preparam uma bebida, cosida com assucar e ovo de galinha e que servem ás chávenas, conhecida pelo nome de Lin-chi-kang 蓮子 羹 A sua raiz denominam Lin-ngan 蓮藕 e é apreciada para se cozer com carne de porco ou de vacca, e também fazem d´ella doce. Attribuem-lhe propriedades sedativas e anti-aphrosidíacas.
Anteriores referência a este festa em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bolo-lunar-bolo-de-bate-pau-%E6%9C%88%E9%A5%BC/

Festa Chineza do Outono

Do livro de  Chrétien-Louis-Joseph de Guignes (1759-1845),  “Voyages à Peking, Manille et l’Île de France, faits dans l’intervalle des années 1784 à 1801”. 8vo. 3 vol. Avec Atlas in folio. Paris 1808
https://www.chineancienne.fr/17e-18e-s/de-guignes-voyage-%C3%A0-peking/

Hoje dia 15 da 8.ª Lua – FESTA DO «BOLO LUNAR» , na linguagem maquista «bolo bate-pau» (1)

“O povo chinês , agarrado às suas tradições, celebra os ritos dos seus antepassados sempre com a mesma característica dos tempos antigos, vincando um tradicionalismo arreigado.
Embora oficialmente abolido na China, o povo é que não deixa de se orientar pelo ano lunar, barreira que ele acha mais difícil de transpor do que as históricas muralhas do celeste Império.
Integrado nesse modo de pensar, celebra vários factos no decurso do ano, sendo um dos mais importantes o do dia 15 da 8.ª Lua que é designado por festa do «Bolo Lunar»
Quem alguma vez presenciou a forma festiva como se celebra esta data, não se terá esquecido dos não menos célebres bolos  que se confeccionam e se vendem sòmente nesta época do ano.
Os saborosos e tão variados bolos são a vida das padarias por todos esses dias, cujas vitrinas se enfeitam com motivos alusivos a tradições lendárias que os transeuntes apreciam e contemplam demoradamente.
É de ver ainda cruzarer-se os presentes desses bolos levados pelos amigos aos amigos, numa graciosidade de convívio que encanta  pela sua simplicidade e corrobora mais os laços de amizade já existentes.
Pela noite fora há folguedos  e todos se divertem animadamente, abancando às  mesas do característico jogo chinês «Majong», queimando panchões que estalam, num  crepitar ensurdecedor, por todas as ruas  e vielas, logo que a Lua aparece no Horizonte.
E quem aqui nasceu ou passa alguns anos que sejam é forçosamente  contagiado  por este  meio e embebe-se deste saudável espírito de amizade. Não pode mesmo esquecer a simplicidade desse povo tão nosso amigo, que se acostumou a simpatizar connosco  e agora não sabe viver doutra forma, tal a força do contágio….” (2)
bolo-bate-pau(1) “O bolo bate-pau é o symbolo da lua,  e os chins chamam-n´o em dialecto mandarim Yué-ping e em cantonense Yut-peang. Geralmente o seu peso não attige meia libra. Os macaístas conhecem-n´o pelo nome de bate-pau,  por ser preparado com um pau em forma de ferula, com um orifício no centro onde se mettem a massa de farinha e os recheios, carregando com a palma da mão para comprimil-o bem; e em seguida batem o pau com força, por duas ou tres vezes sobre a meza, para fazer expellir o bolo que é levado acto contínuo ao forno, a assar…” (MARQUES, Francisco Pereira – Ta-Ssi-Yang-Kuo, III , p. 393, 1984
月餅mandarim pinyin: yuè bing; cantonense jyutping: jyut6 beng2
(2) Artigo não assinado em «Macau B. I.»,  ano I, n.º 4, 1953.
Anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bolo-de-bate-pau/