Em 9 de Maio de 1780, o Vice-Rei ordenou ao Senado que cada fortaleza passasse a ter de guarnição 20 soldados efectivos, pelo que o Senado suspendeu o soldo que Santo António recebia anualmente na sua festa, 13 de Junho, como «soldado» desde o começo do presídio militar na cidade, (1) visto não lhe chegar o dinheiro para tantas despesas. A quantia era de 143 taéis, 8 mazes e 6 condorins de prata. (2) Após essa data e durante três anos, a cidade começou a sofrer várias “continuadas infelicidades” que foram atribuídas pela população ao facto de a vereação passada ter dado baixa do soldo pelo que em 1783 (3) o novo Governador Bernardo Aleixo de Lemos e Faria (1783-1788), ao saber disso, pediu ao Senado que renovasse a matrícula de St.º António; este assim fez, pagando-lhe com a patente nova de «Capitão da Cidade», reembolsando-o dos atrasados.
(1) “Reza a tradição que Santo António foi alistado como soldado em 1623 ano em que veio de Goa o primeiro presídio militar com o primeiro governador D. Francisco de Mascarenhas” (TEIXEIRA, Manuel – Macau e a sua Diocese, Vol. XII, Macau, 1976)
(2) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/02/01/noticia-de-1-de-fevereiro-de-1849-o-jogo-em-macau/
(3) “27-12-1783 – Tendo há três anos experimentado a cidade contínuas infelicidades atribuídas ao facto de a vereação passada ter dado baixa de soldo ao glorioso St.º António, que o recebia, anualmente, como soldado, desde a que houve presídio militar nesta cidade, por motivo de cada guarnição de fortaleza ter sido reduzida, em 9 de Maio de 1780, a vinte soldados efectivos, o Senado, reconhecendo a necessidade de protecção deste Santo, com o vencimento do soldo de capitão e com o título de Capitão da Cidade. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
O Governador da Índia, D. Frederico Guilherme de Sousa em carta endereçada ao Senado de 25 de Abril de 1784 dizia:
“(…) aprovo o pio acordo que tomou, com os pareceres do Governador e do Desembargador Juiz Sindicante, de mandar pagar os soldos de soldado ao Glorioso Santo António do tempo que teve de baixa, mas também que devesse assentar Praça de Capitão da Cidade, e que se paguem daqui em diante, os soldos que vencer, e que serão aplicados no culto desse Glorioso Santo Português… (…)” (TEIXEIRA, Manuel – Macau e a sua Diocese, Vol. XII, Macau, 1976)
Anteriores referências ao soldo de Santo António em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/10/noticia-de-10-de-junho-de-1988-santo-antonio/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/06/18/festa-do-taumaturgo-portugues-santo-antonio-de-lisboa-em-18-de-junho-de-1955-capitao-da-cidade-de-macau/
Foi determinado em acta do Leal Senado de 11 de Maio de 1940, a inauguração de algumas vias públicas nesse ano, atribuindo-lhes o nome de figuras históricas dentro do programa das comemorações do Duplo Centenário da Independência e da Restauração (oitavo centenário da Independência e terceiro centenário da restauração de Portugal),
Era Governador do território, o Capitão de Fragata Gabriel Maurício Teixeira.
Inauguração da Avenida de D. Afonso Henriques
A Avenida de D. Afonso Henriques, começa na Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho, em frente da Avenida do Infante D. Henrique e termina perto do Reservatório.
Foi inaugurada a 4 de Junho de 1940.
Afonso Henriques filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, foi o 1.º rei de Portugal (1128-1185).
Inauguração da Avenida de Lopo Sarmento de Carvalho
Começa entre a Rua da Praia Grande, e a Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, em frente da Estrada de S. Francisco, e termina na Avenida da Amizade. Foi inaugurada a 25 de Junho de 1940.
Lopo Sarmento de Carvalho, natural de Bragança, estabeleceu-se em Macau, em 1615, casando com Maria Cerqueira, natural de Macau (falecida a 26 de Outubro de 1639, sepultada em S. Paulo, na capela de Jesus).
Foi o último Capitão-Mor da viagem de Japão no governo de Macau (1617/18 e 1621/22), pois a 7 de Julho de 1623, o primeiro Governador e capitão-geral, D. Francisco de Mascarenhas, tomava posse.
Obteve grandes lucros da viagem ao Japão, em 1617, de maneira que em 1920 comprou três viagens de Japão. Das três viagens que comprou só pode realizar uma em 1621(com 6 galeotas e de lá trouxe muita seda, de que auferiu grande lucro). Foi o herói da vitória contra os holandeses em 24 de Junho de 1622 (1).
Um filho seu, Inácio (Macau 1616 – Goa 1676) foi capitão-geral da Armada e da Costa do Norte, governador e capitão-geral de Diu e capitão-geral de Moçambique, e tem perpetuado, em Macau, o seu o nome: Travessa de Inácio Sarmento de Carvalho.
Inauguração da Avenida de D. João IV
A Avenida de D. João IV começa na Rua da Praia Grande, em frente do Jardim de S. Francisco e termina na Avenida da Amizade (nessa altura, Dr. Oliveira Salazar). Foi inaugurada a 1 de Dezembro de 1940.
D João IV (1604-1656), 8.º duque de Bragança, foi coroado a 15 de Dezembro de 1640, após o golpe do 1.º de Dezembro, Rei de Portugal (1640-1656)
Inauguração da Avenida de D. João IV (outro aspecto)
Fotos do Anuário de Macau, 1940-1941 e informações de TEIXEIRA, P.. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II.
(1) Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/
Livro (1) de J, Dyer Ball (2), de 1905
Acerca da muralha da cidade, (3) relata o autor:
“In the olden days when Macao was growing into a place of greater importance it was felt necessary to protect it from the assaults of covetous enemies and it was determined that a wall should be erected for that purpose.
One writer informs us that the open consent of the Chinese officials was first sought by a deputation from Macao but failing this, largesses prevented the corrupt mandarins from awkward objections or a hostile attitudeto the undertaking : so that in A. D. 1622 a wall was run from the Monte (the height in the centre of the penuisula) in a north easterly direction to the sea near St. Francis and, it is stated, the work might have been completed in A. D. 1626. This wall may still be seen. It starts from the Place of Luiz Camoens. At this point the author remembers a small arched gate, the San Antonio gate, (Sam Pa Mun) which was closed at night. This has now been pulled down and the road widened. From this place the wall runs along and then up the hill to the Monte Fort from whence it runs down the hill on the opposite side where at the foot there used to be another gate, that of San Francisco, now also abolished. The wall from here runs up the opposite hill towards the sea, to the ruined fort of San Joao, whence it proceeds towards San Francisco fort, which lies at one end of the Praya Grande, then running along the side of the Estrada da San Francisco down the hill facing the fort, mentioned above, where it ends. Thus the city was entirely closed on the land side. Some Dutch prisoners taken in 1622 were employed in the building of this wall.
Another short city wall is to be seen to the south of the city. It runs from the church on Penha Hill to the road above the disused Bom Parto Fort or just about opposite the old Boa Vista Hotel.”
(1) BALL, James Dyer – Macao: The Holy City; The Gem of Orient Earth. Printed by The China Baptist Publication Society, Canton, 1905, 83 p.
O livro está digitalizado pelo “Internet Archive”, em 2007 e poderá consultá-lo em
http://archive.org/details/macaoholycitygem00ballrich
(2) J. Dyer Ball (1847-1919) foi um sinologista nascido em Cantão; trabalhou como funcionário público em Hong Kong durante 35 anos (“Security officer” e ” Chief interpreter”) . Faleceu em Inglaterra, no ano de 1919
http://en.wikipedia.org/wiki/James_Dyer_Ball
É autor de vários livros: “Things Chinese”; “The Cantonese Made Easy Series”; “How to Write Chinese”; “Hakka Made Easy”; “Cantonese Made Easy”; “How to Speak Cantonese”; “Readings in Cantonese Colloquial”; “The Cantonese Made Easy Vocabulary”; “An English-Cantonese Pocket Vocabulary”; “Easy Sentences in Hakka, with a Vocabulary”; “How to Write the Radicals” (in the press)”; “The San Wui Dialect”; “The Tung Kwun Dialect”; “The Hong Shan or Macao Dialect”; “The Shun Tak Dialect”; “The English-Chinese Cookery Book”; “Things Chinese”.
(3) A primeira cerca muralhada, consentida pelos mandarins em Macau, foi mandada levantar em 1568 pelo Capitão-Mor Tristão Vaz da Veiga, em taipa (chunambo). (4) . Mas foi o Capitão-Geral e primeiro Governador da Cidade de Macau, D. Francisco Mascarenhas que assumiu funções a 17 de Julho de 1623 quem mandou cercar a cidade com uma muralha e aperfeiçoou o sistema de fortificação, em geral.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Séculos XVI-XVII, Volume 1. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 198 p (ISBN 972-8091-08-7)
(4) “Chunambo” – mistura de barro, terra, areia, palha de arroz, pedras e conchas de ostras moídas, compactado em camadas sucessivas.
Parte da antiga muralha junto ao Templo de Na Tcha (ao lado das Ruínas de S. Paulo)
Publiquei em post anterior, parte de muralhas existentes na Rua Nova à Guia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/colegio-de-santa-rosa-de-lima/