“Além dos escravos, os portugueses tinham as suas escravas; os primeiros eram os moços cafres, as segundas, as «bichas» chinesas; e estas eram de vida fácil e fecunda. Dava-se-lhes o nome de «criação»; recebiam no baptismo os apelidos dos seus donos e realmente criavam muitos filhos próprios e alheios.
Exagero ?
Ora vejamos. O comandante da fragata N. Sra. da Penha de França, Nicolau Fernandes da Fonseca, que veio de Lisboa a Macau e fez o relatório da sua viagem, escrevia acerca das mulheres de Macau, em Janeiro de 1776:
«Quanto às mulheres as mais principais, são bastantemente recatadas e quando saem fora é dentro de seus palanquins. O seu trajo é ridículo, à excepção de algumas que se vestem à europeia com saia e manto. A sua condição é de serem soberbas e preguiçosas, porque, além dos filhos, nada mais fazem.
…As ordinárias que são chinas resgatadas ou filhas de escravas, como não têm estímulo de honra e também as domina a preguiça, são prontas a se facilitarem, principalmente com os estrangeiros, em razão do dinheiro e fatos que lhes dão...» (1)
O Dr. Soares (2) que cita isso, continua:
«Sobretudo a peculiaridade do lar não podia ser, de facto, condição de importância menor. A par dos escravos para os serviços grosseiros e pesados – «os moços cafres» sinónimo de africanos, de portas a dentro havia sempre inúmeras criadas – umas, escravas indianas ou principalmente malaias – «bem dispostas, proporcionadas e pela maior parte formosas – outras, as «bichas», raparigas chinesas, tidas como resgatadas, pelo eufemismo de primeiro as baptizarem, todo este pessoal a aumentar, à medida que os filhos do casal nasciam, tudo englobado no termo genérico de «criação»
(1) TEIXEIRA, P.e Manuel – Os Macaenses. Centro de Informação e Turismo, 1965, 99 p.
(2) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência. Edição da Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1950, 544 p.
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