




O capitão J. Lima Carmona, num artigo de Ta-Ssi-Yang-Kuo, diz-nos que «no princípio do século XVII, depois do ataque dos holandeses em 1622, foi construída a muralha numa linha contínua, que corta a península de meio a meio na direcção NO. a SE., (ainda se via em 1899), onde havia as portas do Campo e de Santo António, por onde se entrava na cidade. Encravados nesta muralha havia os fortes de S. João e de S. Jerónimo, hoje em ruínas. A muralha, de 16 pés de altura, permitia que os defensores nela se colocassem em toda a extensão, servindo-lhes de parapeito a parte superior que se reduz a um muro de 3 pés de altura por 1 de espessura.»
Planta de Macau incluída no Atlas manuscrito de Johannes Vingboons (c. 1665). (1)
O padre jesuíta José Montanha, na sua obra «Aparatos para a História do Bispado de Macau», depois de nos falar da imponência dessa obra de fortificação, S. Paulo do Monte, faz uma referência à muralha, o que passamos a transcrever:
«. . . E pegado a ella (2) está hua porta que vai para o Campo de Moha, (3) e desta porta vai correndo o muro das casas dos moradores athe S. António, aonde está outra porta para o ditto Campo, e na mesma forma vay correndo o muro para o Campo da Patane, aonde está hu postigo, e vindo de volta para a praya pequena, fica outro postigo que se fechou por não ser necessário, e do terceiro baluarte desta Fortaleza (4) corre outro pano de muro para a parte de leste pegado ao Baluarte, aonde está o sino, aonde tem hum postigo para o Campo, e andando para o pano do muro a tiro de mosquete está a porta que vai para o Campo de S. Lázaro, e desta porta andando pelo muro a tiro de mosquete está um Baluarte (5) cô duas peças de ferro de 10 libras e na mesma conformidade a tiro de mosquete no mais alto d´esta muralha, e defronte da fortaleza da Guia está outro Baluarte cô huma pessa de ferro assistida para a porta da Fortaleza da Guia e dahi volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco, e antes de chegar a elle tem hua porta que cahe para o mar, a qual se fecha todas noites». (6)
Este último baluarte é o de S. Jerónimo, demolido para se construir o Hospital Militar de Sam Januário.
Parte da muralha da cidade, ainda visível (foto de 2015) à entrada do Cemitério Protestante (antigo cemitério protestante) no Largo Camões.
(1) O título do Atlas é: “Platte Gronde van Stadt Macao, waer ia aen geweesen wordt de voornamste Plaetsen der Stadt” (Grande Plano da Cidade de Macau, onde se indicam os principais sítios da cidade).
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-53.ht
(2) Estava a referir-se ao Colégio dos Padres da Companhia, conhecida como a Horta de S. Paulo/Horta da Companhia.
(3) Campo de Mong Há.
(4) Fortaleza do Monte.
(5) Este baluarte era o de S. João de que não existem quaisquer vestígios. Após um surto de peste bubónica, que teve origem nas habitações existentes próximo do baluarte, no ano de 1895, foram queimadas as barracas com todos os haveres, e seguidamente construídas e alinhadas as ruas. Foi então, desmantelado esse Baluarte de S. João que ficava no cruzamento da Rua de S. João com a da Colina, estendendo-se em sua frente, a conhecida «Horta da Mitra».
(6) Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vols I-II, 1899-1900, pp. 417-418
“Em 1880 um pedido feito pelo Director do Observatório Meteorológico de Zi-Ka-Kei, de Xangai, deixou o segundo-tenente Demétrio Cinatti, ao tempo Capitão dos Portos de Macau, um tanto embaraçado: – era solicitada uma cópia das observações meteorológicas registadas nesta Província e, na Capitania dos Portos, apenas existia um barómetro, onde se faziam leituras quando havia tufões nesta região. (1)
Este facto desagradável, porém, veio ressaltar a lacuna que se fazia sentir e que carecia de ser encarada devidamente.
No ano seguinte passou aquela Capitania a fazer observações regulares dos diversos elementos meteorológicos. Todavia, só em 1900 foi criado o 1.º posto meteorológico, com a designação de Observatório Meteorológico de Macau, na Ermida da Penha, (2) onde passou a funcionar até 1904, data em que foi transferido para parte das antigas dependências do Hospital Conde S. Januário.
“Três dos cinco pavilhões que constituem a sede do Serviço Meteorológico”nas antigas ruínas do fortim de S. Jerónimo
Desde aquela data intensificou-se o número de observações feitas com maior regularidade e os resultados eram publicados no Boletim Oficial da Província. Montou-se em 1918 um aparelho de importância capital numa zona onde os ventos tempestuosos são frequentes: – o anemógrafo de Dines (3) e, pouco depois, foi aquele Serviço apetrechado com dois sismógrafos. (4) Nesse mesmo ano foi estabelecido o serviço da hora.
Estes melhoramentos e muitos ali introduzidos bastante beneficiaram aquele Serviço e foram devidos ao então encarregado do Observatório, Almirante Artur Barbosa Carmona.(5)
“Desenhando a carta do tempo, o que se faz duas vezes ao dia, e mais vezes nas proximidades dos tufões”
O último e definitivo impulso que o funcionamento sofreu, foi o resultado da publicação da Lei n.º 2:042, (6) que criou os Serviços Meteorológicos de Ultramar e do Decreto n.º 38:021, que fixou os respectivos quadros do pessoal, em consequência do que foi designado um meteorologista do Serviço Meteorológico Nacional, para Chefe do Serviço Meteorológico de Macau, então criado.” (7)
A 28 de Junho de 1966, o Observatório Meteorológico de Macau transfere-se para a Fortaleza do Monte.
Hoje, a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos – 澳門地球物理暨氣象局 encontra-se na Rampa do Observatório na Taipa Grande desde 1995.
(1) 1880 – Fundação, por Demétrio Cinatti, do Observatório Astronómico, com edifício novo desde 1904 sobre as ruínas do Forte de S. Jerónimo. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3).
(2) No Morro do Bispo.
(3) Aquisição de um anemógrafo “Dines Baxendel” para o serviço do Observatório desta Província 1910/10/01-1911/07/13. (http://www.archives.gov.mo/)
Anemógrafo – aparelho destinado a registar continuamente todas as variações de direcção (em graus), de velocidade dos ventos (em m/s)e a distância total (em Km) percorrida pelo vento com relação ao instrumento a as rajadas (em m/s)
(4) 1918 – Instalado em Macau, para melhoria dos serviços meteorológicos, o anemógrafo de Dines Baxendell. Nesta mesma data se repararam vários registadores e se estabeleceram sismógrafos e um pluviómetro eléctrico.(SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4).
(5) Anterior referência a este Almirante em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-l-barbosa-carmona/
(6) Lei n.º 2042 publicada a 22 de Junho de 1950, no B.O. de Macau, n.º 29 – cria em cada uma das colónias portuguesas um Serviço Meteorológico.
A Capitania dos Portos, instalada desde 1904 em edifício próprio sobre as ruínas do fortim de S. Jerónimo, na Guia, cessa responsabilidades no campo dos Serviços de Meteorologia. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 5).
(7) MACAU, Boletim Informativo, 1955.