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Notícia publicada no jornal “A Voz de Macau” no dia 5 de Julho de 1937 e republicada no BGC (1)
NOTA 1 – O Governador era Artur Tamagnini de Sousa (1880-1940), no seu terceiro mandato como governador de Macau: 11 de Abril de 1937 a 1940. (substituiu A. Bernardes de Miranda – B.O. n.º 15/1937)
NOTA 2 – Portaria de 30 de Janeiro de 1937 : o  capitão Afonso da Veiga Cardoso que foi nomeado, a partir de 26 de Dezembro do ano de 1936, para exercer interinamente o cargo de Administrador do Concelho das Ilhas, foi substituído pelo capitão de artilharia, Alexandre dos Santos Majer (B. O. n.º 4)
Quatro fotografias respeitantes a obras de construção e melhoramentos realizadas durante o ano de 1939 nas ilhas de Taipa e Coloane.

ILHA DA TAIPA – represa de água em construção
ILHA DA TAIPA – represa para abastecimento de água
ILHA DE COLOANE – abertura de novas estradas
ILHA DE COLOANE – abertura de novas estradas pelos militares africanos

(1) BGC XIII-146/147 , 1937.

Continuação da leitura da carta escrita (minha postagem de 22-04-2014 ) (1) pelo capitão Joseph Fry, oficial do barco «Plymouth» quando esteve em Macau , Abril de 1853, para a esposa.
Nós éramos assaltados por tantas com estes gritos, e o clamor era tal, que, para nos defendermos, tivemos  de escolher um barco e partir. As raparigas, mencionadas em primeiro lugar, devido à sua beleza, ganharam a maioria, e o seu barco era limpo e bem equipado, e isto vai além do que se podia dizer de muitos deles. Notei o olhar de desapontamento que passou pelas faces da rapariga que acabo de descrever, o qual me persegue ainda agora. Se bem que pareçam ninharias para nós, estas cenas constituem grandes acontecimentos nas suas pobres existências, e estes triunfos ou derrotas são para elas de grande importância.
Depois de entrar no barco tanká, (2) notámos que a mãe destas raparigas e a criança estavam tipicamente vestidas. A criança era filha da mais bonita das raparigas, cujo marido andava ausente na faina da pesca. A velha era muito palradora e deu-nos de facto muitas notícias!.

CHINNERY Sampana com tancareira 1834Sampana (com tancareiras)
Aguarela sobre papel de George Chinnery (1834)

Tinham um templo em miniatura na proa do barco, com um ídolo sentado, de pernas cruzadas, mostrando-se muito gordo, muito vermelho e muito estúpido. Diante dele havia uma oferta de dois pêssegos, mas o ídolo não se dignava olhar para eles e parece que não tinha apetite. No entanto, senti um profundo respeito para com os sentimentos devotos destes pobres idólatras, reconhecendo ainda aqui o instinto universal que ensina que há Deus.

CHINNERY Tancareira num barco 1830Tancareira num barco
Desenho a lápis sobre papel de George Chinnery (1830)

Visitei o comodoro, que me recebeu com grande cortesia e me deu um relato interessante da viagem, via das Ilhas Maurícias, do «Susquehanna”, (3) para cujo serviço eu recebi a minha primeira nomeação. Ele (o navio) partiu para Amoy.
Conheci uma família portuguesa, chamada Lurero (4). As raparigas tinham uma educação completa, falando francês, espanhol, italiano, mas não o inglês. Elas desceram para receber a visita do nosso cônsul (5) e esposa, que foram a casa delas quando eu ali estava. O sr. Lurero deu-me alguns exemplares de soap-fruit (fruta-sabão) (6) e mostrou-me  a árvore. O fruto é um sabão magnífico, que, sem preparação alguma, é usado para os artigos mais elegantes.” (7)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/04/22/noticia-de-22-de-abril-de-1853-o-plymouth-em-macau/
(2) Tanká ( 蛋  家mandarim pinyin: dàn jiá; cantonense jyutping: daan2 gaat1 – casa do ovo), também chamado “t´eang-chai”, é uma pequena embarcação, comum nos portos da China, pelo menos no Sul e muito usada em Macau, no transporte de passageiros dentro do porto. Quase sempre tripulada por mulheres a que em Macau chamam «tancareiras»
(3)O “Susquehanna” era o navio principal da expedição diplomática  americana à China por indicação do Comodoro Matthew C. Perry (comandante das expedições ao Japão entre 1852 e 1954) que esteve em Macau e Hong Kong de 4 a 17 de Abril) a bordo da fragata “Mississipi“. Os outros navios da expedição à China foram o “Plymouth” (onde estava Joseph Fry),  o “Saratoga” e o “Supply” (navio de abastecimento).
(4) Segundo Padre Teixeira, tratava-se de Pedro José da Silva Loureiro, capitão do porto de Macau desde 1847 até à sua morte ocorrida a 12-09-1855. Casou com Ana Rosa Inocência de Almeida  (neta paterna do Barão de S. José de Porto Alegre e materna do Conselheiro Manuel Pereira e Ana Pereira Viana. Pedro Loureiro teve de Ana de Almeida 10 filhos.
Nesse tempo o francês prevalecia sobre o inglês, que pouca gente aprendia; por isso as filhas de Pedro Loureiro, conheciam a primeira, mas não a segunda língua.”
Foi sob a direcção de Pedro Loureiro que foi construído em 1847 o forte na Taipa sendo ele louvado, em 14-01-1848, pelo Governador João Maria Ferreira do Amaral.(7)
(5) Robert P. De Silver era o  Vice-cônsul dos E. U. A. em Macau, nesse ano.
(6) É a árvore sapindus , em chinês môk wan sue (木患樹) , árvore que atinge até 15 e 18 metros de altura; fácil de identificar pelos seus frutos: uma drupa carnuda, oleosa, quase transparente, com um ou dois carpelos na base, dando ao fruto um aspecto assimétrico.. Os chineses empregavam o fruto como sabão para a lavagem da seda preta, devido à grande percentagem da saponina contida na polpa oleosa.(7)
木 患樹mandarim pīnyīn: mù huàn shù; cantonense jyutping: muk6 waan6 syu6.
Sapindus” derivado do latim que significa “sapo” = sabão e “indicus” = índia
Joseph Fry . Plymouth(7) Transcrito das pp. 45-46 de TEIXEIRA, P. Manuel – Macau Através dos Séculos. Macau, 1977.
Para quem estiver interessado poderá ler o original em inglês ” Life of Captain Joseph Fry – The Cuban Martyr” em
http://www.latinamericanstudies.org/book/Joseph_Fry.pdf

No dia 16 de Setembro de 1880, o tenente José Correia de Lemos, Comandante da Fortaleza da Taipa, vendo passar um sapatião com 13 chineses, chamou-o à Fortaleza. Responderam os tripulantes que iam para a Praia Grande e continuaram a remar. Intimou-os com dois tiros, mas eles não fizeram caso, virando para o canal de Bugio . Mais tiros e nada. O sapatião, depois de tocar na ponta da Ilha de D. João seguiu para a aldeia de Chai-ngui-van (Tchai-ngui-Uán, segundo Luís G. Gomes) na mesma ilha, onde os chineses desembarcaram. Da fortaleza seguiu uma sampana com seis praças e sete loucanes.

MAPA n.º 13 -MACAU A CIDADE e o PORTO 1870PLANTA DA COLÓNIA PORTUGUESA DE MACAU
DESENHADA por M. Azevedo Coutinho, Capitão de exército
1870

O tenente José Correia de Lemos narra:
“Ao chegarem a terra disse-lhes o Tipu que os chinas do sapatião eram piratas, e que estavam a roubar uma casa na povoação. O cabo Almiro, collocando a força como melhor convinha, correu à casa indicada com dois loucanes e ahi encontrou debaixo de uma cama escondidos dois piratas que prendeu e entregou à guarda dos loucanes, ordenou tambem para afastarem da praia o sapatião que estava encalhado, para que os piratas não conseguissem fugir. Os onze piratas restantes tinham já retirado para a montanha, sendo perseguidos pelos quatro soldados e os dois cabos. Esta força ainda capturou mais sete piratas, não podendo dar com os quatro que faltavam.
Depois de terem voltado para a praia e quando tratavam já de retirar para a fortaleza, os quatro piratas que ficaram na montanha começaram a fazer-lhes fogo de espingarda.
Felizmente não feriram praça alguma.
O soldado n.º 69 quando andava perseguindo os piratas foi atacado por dois d´elles, um dos quais lhe apontou a espingarda, de que estava armado, mas faltando-lhe terreno, cahiu de bruços. O cabo Almiro que chegou n´aquelle momento, pôde salvar o soldado descarregou sobre o pirata uma corunhada d´arma, que o feriu a cabeça e atordoou.
Quando a champana chegava a Chai-ngiu-van fez o tipu d´aquella povoação o signal pedindo socorro”.
O comandante da Fortaleza da Taipa pediu reforços a Macau, mas quando estes chegaram a D. João, já os piratas estavam presos e desarmados.
Os moradores de D. João, encorajados com a presença dos nossos soldados animaram-se e percorreram também a montanha em perseguição dos piratas que resistiram aos soldados, não lhes sendo possível encontrá-los.
Os piratas capturados haviam cometido muito crimes na China, sendo por isso extraditados para Cantão a pedido do Vice-Rei.
Foram encontradas no sapatião 3 lanças, 3 rodelas, uma porção de balas, 3 peças de artilharia, 8 espingardas e 1 pistola.
(TEIXEIRA, Padre Manuel – Taipa e Coloane, 1981.

Em 21 de Setembro de 1880, o tenente Lemos oficiou à Secretaria do Governo a relação das praças que compuseram a força militar e que foram louvadas, tendo o Vice-Rei de Cantão condecorado o cabo Almiro. – publicado em anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/21/noticia-de-21-de-setembro-de-1880-pirataria-na-ilha-de-d-joao/

LOUCANES – assim denominados os “marujos chineses”.
SAPATIÃO – barco chinês pequeno e ligeiro  – siu t´eang – 小 艇  – mandarim pinyin: xiǎo tǐng; cantonense jyutping: siu2 teng5.
SAMPANA – pequena embarcação (serventia dos barcos de pesca de arrasto) remado por meio de pás, como a pirogas africanas, usada para transportar passageiros e pequenas cargas ou para pesca em águas abrigadas (calmas). Muitas vezes, é indevidamente dado o nome de Sampana ao Tancar.
Não confundir com o “SAMPÁ – embarcação de 32 côvados de comprimento, 5 de boca e 1,5 de calado. Proa pouco aguçada e popa, aguçada também ou ligeiramente redonda convés corrido com um mastro amovível. Destina-se e fazer carreiras entre Macau e Sam-Chou, transportando pequena carga diversa e passageiros. É uma embarcação muito usada pelos piratas nos seus «raids»” (CARMONA, Artur – Lorchas, Juncos e outros Barcos Usados no Sul da China, 1985)
TIPU– regedor da povoação nas ilhas, eleito pela população local e nomeado pelo Governador.

Mapa que muitos ainda se recordarão, pendurado  no “quadro preto” ou na parede da Escola Primária (na sala da 4.ª classe).

Mapa de Portugal Insular e Imperio Colonial Português - 1934MAPA DE PORTUGAL INSULAR E IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS

Este mapa é de 1934; edição da LIVRARIA ESCOLAR “PROGREDIOR”  (Rua Passos Manuel – Porto); coordenado por Manuel Pinto de Sousa.

Mapa de Macau 1934Assinalados na cidade de Macau:  os Fortes de D. Maria II, da Guia, de S. Francisco, de S. Tiago da Barra; as  Portas do Cerco, a Ilha Verde já com istmo de ligação à cidade, a Baía da Praia, e Macau Siac.
Na Taipa: o Forte da Taipa, a Ponta Cabrita e  a Ponta Maria.
Em Coloane: o Forte Coloane, a Ponta de Cahó (Ka Hó) , a Baía de Hac-Sá, as povoações de Cahó (Ka Hó),  de Lai Chi Van, de Coloane, de Hac Sá e de Tai Van;
e as pequenas ilhas : da Pedra, de Kai Kiong e a Pedra da Areca.

“Inauguração após renovação, em Abril de 1956, do Jardim Público e Miradouro situados à esquerda da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, e junto à praia da Taipa.
MBI III-65 1956 ITrês fogões de cimento, especialmente construídos na extremidade Sul para esse fim, permitem aos visitantes a agradável facilidade de cozinharem ou aquecerem os seus petiscos ao ar livre, enquanto um caramanchão, guardado por dois ciprestes e que a seu tempo se cobrirá de trepadeiras, ensombreia uma grande mesa de marmorite, pronta a aparar as iguarias que farão as delícias dos excursionistas.

Jardim Público da Taipa I 2015O MESMO JARDIM – TAIPA  – ABRIL 2015

A toda a extensão da praia na encosta da Colina do Carmo, viçosas flores espalham seus aromas pelo relvado e pelas graciosas avenidas que levam ao mar, num conjunto harmonioso de singular exotismo e de arrebiques que fazem lembrar as histórias dos Jardins de Castelos de «Fadas e Mouras Encantadas».
Num pequeno lago, também ajardinado, ao lado da Igreja, com dois baloiços e outros tantos escorregadouros de madeira, expande a pequenada suas alegrias e fabrica suas inocentes brincadeiras enquanto não toca o sino para as aulas, ou não chega, nos dias de mais calor, o momento de poder nadar. Um pormenor que nos chamou a atenção: de cada lado duma das escadas que conduzem à praia, um escorregadouro de cimento por onde algumas crianças deslizavam alegremente.

Jardim Público da Taipa II 2015O MESMO JARDIM – TAIPA  – ABRIL 2015

A dominar a paisagem batida pelas ondas e refrescada pela brisa do mar, uma pequena esplanada com mesas e assentos semicirculares de cimento, pintados a vermelho, tendo ao fundo um rico balneário.
O jardim público recente remodelação do que já existia no mesmo local, ornamentado com novas plantas, provido de engenhosos canteiros e enriquecido com larga variedade de flores, ostenta ainda ao centro o aquário-repuxo e ao fundo quatro grandes gaiolas com periquitos, canários e pintassilgos, bicos-escarlates e pardais de Batávia.
MBI III-65 1956 IILá estão ainda a árvore de S. João e a Velha Palmeira, Á direita, e quatro Araqueiras altivas, quase à entrada e ao fundo.” (1)

Jardim Público da Taipa III 2015O  MESMO JARDIM TAIPA – ABRIL 2015

NOTA:Sintoma também da falta de técnicos é um pequeno jardim que se debruçava sobre a zona sul da Taipa (Baía de Nossa Sr.ª da Esperança). Neste espaço o miradouro Dr.ª Laurinda Marques Esparteiro – construído entre Novembro de 1954 e Abril de 1955 a partir de um projecto do então presidente da Junta local das Ilhas, António Maria da Conceição – revela-se de uma cândida imaginação, traduzida na rica inventiva das variadas peças – escadas, floreiras, vedações, mesas e bancos. Dada a semelhança de estilo devem-se certamente ao mesmo autor os jardins junto à antiga Ponte fluvial do Carmo e à Fortaleza da Taipa. Aqui, entretanto, e felizmente as poucas habilitações do projectista funcionaram num sentido positivo, pois dificilmente um técnico com uma formação académica evidenciaria tal liberdade de criação.
SARAIVA, António M. P. – Jardins e a história de Macau in Macau, encontros de divulgação e debate  em estudos sociais, pp. 193-205.
(1) Macau Boletim Informativo ANO III, Abril 1956

Portugal no Extremo Oriente VIIcontinuação de (1), (2) e (3)
“…
Com o nosso desdem pelas cousas coloniaes não demos governador á cidade já poderosa. Os holandezes quizeram bombardear a terra portugueza, que foi  defendida. Segunda vez tentaram o assalto, que o macaista Thomaz Vieira repelliu, e assim, de tempo a tempo, os chinezes iam tomando folego, buscando intervir no que era nosso, encontrando pela frente apenas os teirares da gente burgueza do Leal Senado, a ponto de estabelecer, em 1688, um hopa, alfandega, na região, sem que lhe resistissemos.

Portugal no Extremo Oriente XIIJardim do Lu-cau (vista interior) (4)

D´ahi  as exigências continuas, os escarneos, as negociações frouxas, a que só uma embaixada pomposa de D. João V devia pôr termo, para d´ahi a pouco voltarem as pretensões.

Portugal no Extremo Oriente XIIIFortaleza da Taipa

Macau era anciosamente desejada pelos chinezes. Não queriam que construissemos estradas, obrigavam-nos a expulsar do porto os navios que lhe faziam sombra ao seu commercio, arrasavam o que se erguia, prohibiam aos chinezes que pegassem nas nossas cadeirinhas e foram até ao ponto de protestarem energicamente contra a abertura que decretámos em virtude de vêrmos desviado o commercio para Hong Kong recentemente formado…”.

Portugal no Extremo Oriente XIV “Vista geral da Villa da Taipa”

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/
(4) O «Jardim das Delícias» ou «Yu Yun» ficou conhecido por «Jardim de Lou Kao» ou de «Lou Lim Ioc», filho mais velho de Lou Cheok Chin (1837-1906), personalidade de relevo na via pública de Macau. Fixara residência em Macau no ano de 1870 e tornou-se num abastado comerciante mandando construir um jardim ao estilo dos jardins chineses do século XIV nas ainda pantanosas várzeas do Tap Seac, que transformou em fermoso lago.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p. (ISBN 972-8091-10-9)