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No dia 4 de Março de 1899, o Major Engenheiro Augusto César de Abreu Nunes, Director das Obras Públicas de Macau, avisou os parentes das pessoas enterradas no «cemitério de empestados»(1) na Estrada da Solidão (2) que segundo ordem do governo vai proceder naquele local as obras de saneamento e aterro.(3)

Praia de Cacilhas Bol AGCII -16 pp. 27-41 BOXER

Praia de Cacilhas ( primeiro plano); Colina de D. Maria II (ao fundo)
Foto retirado de ” B. G. A. 1926″

(1) “Cemitério de empestados” porque “aportou à Baía de Cacilhas em 16-8-1888, o transporte de guerra Índia tendo-se declarado a bordo «cólera morbus», contraída  em Hong Kong. Montaram-se lazaretos improvisados junto à Fonte de Solidão, na Ilha Verde, na Taipa, e naturalmente em Cacilhas. Os lazaretos em Cacilhas, junto à Fonte de Solidão eram para os doentes mais graves, tendo ali morrido 32 empestados, curando-se 74.” (4) Para evitar a propagação da peste foram enterrados os mortos, em Cacilhas. Aliás já essa zona era utilizada por chineses (muito antes da proibição, por lei, dos enterramentos fora dos cemitérios) para enterrarem os mortos dado ao bom “Feng Shui” (“Fông Sôi”, em cantonense) – geomancia chinesa.(5)
(2) A Estrada de Solidão (por passar pela fonte com este nome) era o nome antigo da via pública que estava à beira mar e que hoje se chama Estrada de Cacilhas ( começa ao cimo da Calçada do Paiol, junto ao Cemitério dos Parses,  e termina entre a Avenida de Sidónio Pais e a Estrada de Ferreira do Amaral. É por isso que o nome em chinês desta Estrada é 海邊馬路 (6), estrada à beira mar. Mas mesmo os residentes (principalmente os motoristas de táxi) chineses em Macau desconheciam (nas décadas de 50 e 60 – século XX) a localização desta Estrada. Mas conheciam-na (talvez por tradição oral muita antiga) como 劏狗環 (7) orla (beira, borda) onde se matava os cães.
Anteriores referências desta Estrada e a Fonte de Solidão em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/estrada-de-cacilhas-solidao/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fonte-da-solidao/
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(4) Ver este episódio relatado em:
https://nenotavaiconta. wordpress.com/tag/colera)
(5) Geomancia chinesa: 風水mandarim pinyin: fēng shuǐ; cantonense jyutping:  fung1 seoi2
(6) 海邊馬路mandarim pinyin: hǎi  biān  mǎ  lù; cantonense jyutping: hoi2 bin1 maa5 lou6 –  estrada (cavalo) beira mar
(7) 劏狗環mandarim pinyin: tāng gǒu huàn; cantonense jyutping: tong1 gau2 waan4 – orla (beira, borda) matança cães

Numa postagem anterior “ANÚNCIO -SOCIEDADE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUAS DE MACAU LIMITADA (S.A.A.M.)”, (1)  referi que o primeiro reservatório público de Macau foi construído em 1924 no vale da Colina da Guia, (2) mas que devido ao seu tamanho, poucas centenas de metros quadrados de área, muito limitado para o abastecimento de água público, foi abandonado  o seu uso (e também porque a Sociedade foi à falência).
Encontrei esta fotografia de 1927 em que se vê esse reservatório : “Reservatório de água do lado Sul da Colina da Guia”
ANUÁRIO de 1927 - Reservatório de CacilhasNesse mesmo lugar, em 1949, iniciou-se  as obras para a adaptação do reservatório em paiol (Paiol da Solidão) (3)  (estava no “vale”  por cima da Fonte da Solidão, hoje “escondida” porque está parcialmente enterrada com o alargamento da Estrada de Cacilhas e atrás das barreiras de protecção do Grande Prémio) (4)
O reservatório era fechado (na foto vê-se o terraço) e com as obras de adaptação foi cimentada constituindo o terraço do paiol, cuja entrada dava directamente para uma pequena rampa na direcção da Estrada de Cacilhas.
À esquerda da foto, a entrada  para um espaço escavada na colina onde escorria água que depois era canalizada para o reservatório. Este espaço foi readaptado para servir de armazém do paiol. Nesta foto, esta entrada não tinha ligação directa para o terraço (a passagem era feita apenas por uma tábua, do muro para a entrada). Na transformação em paiol foi necessária a destruição de parte desse muro do reservatório para dar  uma ligação mais larga, cimentada e directa à entrada. O transporte do material era difícil para este espaço pois não havia nenhuma passagem do andar superior para o inferior, apenas uma escada de madeira vertical ligava o terraço e a guarita (à direita na foto – futuro local de trabalho do paioleiro) (5) pelo que se construiu uma passagem em terra, da porta da guarita (visível, à direita na foto) para umas escadas de pedra que ainda hoje é possível observar no local (muitos degraus já desfeitos) Pela dificuldade de transporte, armazenava-se aí nesse espaço interior, o material menos usado ou que aguardava  abatimento.

MEU ÁLBUM Paiol de Solidão IAspecto actual do Paiol de Solidão. (FOTO Abril 2015)

Na foto acima, a rampa que dá acesso ao paiol com o muro do antigo reservatório recuperado. A rampa (como ela está, mais larga e alcatroada) foi feita já na década de 60 (século XX) para melhor acesso dos transportes da carga e descarga de armas, munições e explosivos (por força de lei, as empresas que lidavam com  explosivos empregues em trabalhos particulares eram obrigadas a terem esse material depositados no Paiol). À direita, à beira da estrada,  por detrás das barreiras, a Fonte da Solidão.
MEU ÁLBUM Paiol de Solidão II ABRIL 2015À direita a escada de acesso, de pedra (infelizmente mal conservada, semi-desfeita) para o “andar” superior. O portão e a  pequena guarita no topo das escadas foram colocadas depois do 25 de Abril de 1974.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/07/anuncio-sociedade-de-abasteci-mento-de-aguas-de-macau-limitada-s-a-a-m/
(2) Já em 1919, o coronel (engenheiro) Adriano Augusto Trigo  quando assumiu a Direcção dos Serviços de Obras Públicas de Macau, traçou um plano que incluía o aproveitamento das águas fluviais e águas subterrâneas. O projecto para captação de águas fluviais, entre outros, previa a construção na Colina da Guia de um reservatório.
(3) Recordar que o anterior paiol estava na Flora junto ao Palacete da Flora – hoje Jardim da Flora,  desde 1924 até ao episódio do seu rebentamento pelas 5 horas da manha do dia 11 de Agosto de 1931, atribuída ao excesso de calor. Provocou 24 mortos e 50 feridos e destruiu completamente o Palacete da Flora.
Há indícios dum anterior paiol em Mong-Há com a data de 1887 e outro mais antigo (primitivo’?) numa informação datada de  30-03-1639: “Tendo sido reconhecida a necessidade de se construir um Paiol de pólvora e proposto para este fim o sítio de Nossa Senhora da Penha de França ou no baluarte de Sao Pedro, o Senado preferiu, porém construí-lo no monte de S. Paulo” (MOSAICO, 1951)
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/decada-de-50/
(5) O primeiro paioleiro deste paiol, foi colocado em 1 de Janeiro de 1951.  O primeiro (e único) paioleiro do Paiol da Solidão foi o  Cabo Pereira, já que posteriormente se construiu outro paiol, (em meados da década de 50 do século XX) ligeiramente mais a oeste, ao nível da  Estrada de Cacilhas que tem no seu interior uma ligação interna – túnel que “perfura” a Colina da Guia – com saída no Jardim da Flora. Os dois paióis sob a designação de Paiós de Cacilhas mantiveram-se em funcionamento simultâneamente e sempre com mesmo paioleiro até à sua reforma e mesmo depois de reformado até 1973.
Paioleiro – guarda de Paiol, ou seja, é o guarda do local onde ficam armazenadas as munições e os explosivos dos militares. Em Macau também se armazenavam (por lei) os materiais das empresas civis que utilizavam explosivos para as obras.

31 de Julho de 1918 —A Repartição dos Serviços de Saúde reclama contra a utilização, pelo público, da água da Fonte da Solidão” (1)

Fonte da Solidão década de 50FONTE DA SOLIDÃO – década de 50 – já nessa altura a fonte estava seca

O abastecimento regular da água potável à cidade de Macau foi sempre, no passado, um problema  de difícil resolução especialmente nos anos de maior seca, sendo a cidade muito pobre em águas potáveis e os veios que forneciam o caudal necessário para os poços, estavam quase todos ao nível do mar. (2)
Nessa data, a canalização existente para a cidade era de água salgada implementada pela primeira rede em 1912  (3)

Fonte da Solidão 2015 - IA fonte actualmente, 2015

Desde cedo,  a fonte de solidão está referenciada como de “água cristalina e boa”.
“Verificou-se em 1882, em grande parte, este importante melhoramento higiénico, devido à determinação do governo da província e à execução pronta e inteligente do actual director das obras públicas. Assim, uma poça lamacenta, que tinha por baixo a dois metros e meio uma veia de água, e de que se tirava em mais de um quarto de hora uma dada 283 porção de um líquido turvo, transformou-se numa fonte que fornece hoje em dois minutos a mesma quantidade de água cristalina e boa. Foi também aproveitada na estrada de Cacilhas outra nascente de água, que havia sido explorada no tempo do governo do conselheiro Coelho do Amaral e depois abandonada, a qual fica do lado oposto àquele em que brota a primeira fonte e a denominada da Flora que também foi melhorada.” (4)

Toponímia Estrada de CacilhasCom os trabalhos de aterro do Porto Exterior iniciados em 1921 (a Estrada da Solidão, hoje Estrada de Cacilhas era banhada pelo mar) e terminados em 1926, as águas que brotavam da Fonte da Solidão foram-se extinguindo (5) e depois com o traçado e as obras para o circuito da Grande Prémio de Macau iniciados em 1954, a fonte foi em parte enterrada e hoje, a parte superior da fonte está parcialmente escondida (permanentemente) pelas “barreiras de pneus” colocadas no circuito.

Fonte da Solidão 2015 - IIAs «barreiras», a fonte e o paiol antigo («de cima»)

Na verdade ,com a “construção” do paiol (princípios de 50) denominado «de baixo» (junto à Estrada, para diferenciar do Paiol «de cima» que estava num piso superior à fonte), descobriu-se outro veio no seu interior, de água límpida e bebível e que, nos anos de maior chuvas, corria abundantemente para fora sendo local de paragem de muita gente que com os garrafões iam aí buscar a água para beberem (décadas de 50 a 70).
Como a Estrada de Cacilhas até à década de 60 não tinha água canalizada, desde o meu nascimento até à minha saída de Macau, cresci bebendo  a água do Paiol.

Paiol de CimaO Paiol «de Cima»,  com a escada de acesso (infelizmente mal conservada) e a rampa feita muito mais tarde para acesso da carga e descarga de armas, munições e explosivos (por força de lei, as empresas que lidavam com  explosivos empregues em trabalhos particulares eram obrigadas a terem esse material depositados no Paiol). À direita, a Fonte da Solidão.
Paiol de baixoO Paiol «de baixo», actualmente em utilização, com o posto de vigia em cima do pequeno muro /forte de protecção da entrada (construído na década de 60)

(1) Arquivo Histórico de Macau, F.A.C. P. n.º 42 — S-A in SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol.4, 1997.
(2) 1883 — “É Macau excepcionalmente pobre em águas, sobretudo em águas potáveis, porque os numerosos poços que abastecem a população vão procurar uma veia quase ao nível do mar formada por águas de infiltração sempre mais ou menos salobras, carregadas de matérias orgânicas, e portanto impróprias para beber, vindo assim a pouca pureza da água juntar mais um elemento de insalubridade a tantas outras que são inevitáveis nas grandes aglomerações de indivíduos.” (4)
“O fornecimento de água às populações era feito através de inúmeros poços públicos e privados, cisternas e depósitos nas casas para recolha da água das chuvas, fontes e, em especial, durante a estiagem, por meio de barcaças portadoras de água proveniente da ilha da Lapa mas a falta de higiene nesses poços e cisternas  e as veias que fornecia llevava muitas vezes á perigosidade para a saúde pública(MACHADO, Álvaro de Melo – Coisas de Macau, 1913.

Fonte da Solidão 2015 - III

Os poços, numa cidade como Macau, onde o problema da água se põe, sempre com grande acuidade, eram um dos índices de estatuto social dos seus habitantes. A fonte que servia Macau era a Bica do Nilau ou Lilau, situada na colina da Barra (S. Lourenço) onde também havia, no século passado, um grande poço público fronteiro à Igreja (que Chinnery registou num belo desenho). Extramuros havia boas nascentes, na Flora, outra na Guia (Fonte da Solidão). Mais tarde foi construído um chafariz na Rua do Campo, próximo dum antigo veio de água, de que só alguns velhos documentos falam e que veio a desaparecer. (AMARO, Ana Maria — Das Cabanas de Palha às Torres de Betão, 1998, pág. 85.)
1908 — A partir do processo n.º 29 da Secretaria Geral do Governo da Província de Macau, de 1 de Outubro de 1908, relativo à análise das águas de Macau e Ilha da Taipa, elabora-se o seguinte quadro das fontes, poços particulares, poços públicos e de exploração, então existentes. Dada a dificuldade pela falta de nascentes, de abertura de fontes e poços, é provável que esta lista datada de 1908, coincidisse ou quase com os existentes nos finais do século XIX. Os valores quantificados quanto ao número de fontes e poços da presente lista de 1908, ficam muito aquém dos apontados no extracto anterior, só para as freguesias de Santo António, Sé e S. Lourenço, relativo ao ano de 1905; tal poderá ser talvez explicado pelo facto de, quase todas as casas possuírem “poço” embora quase todos, não sendo de nascente, se limitassem à simples recolha da água das chuvas e por isso mesmo, a sua designação mais precisa deveria ser a de cisternas. Fontes: Fonte da Avenida Vasco da Gama, Fonte da Inveja, Fonte da Flora Fonte das duas caras — chafariz da Flora, Fonte do Lilau, Fonte da Solidão e Fonte da Guia” (4)
Fonte da Solidão 2015 - IV(3) “1912 — (VII-30) — Termina o prazo de entrega das propostas para fornecimento e instalação de máquinas elevatórias de água, e canalização desde a praia da Vila Leitão aos reservatórios da Guia. A água era salgada e servia para rega das estradas e combate a incêndios. Foi a primeira rede de águas de Macau” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4, 1997)
Como política de higienização urbana, foi considerado na altura como solução radical a limpeza da cidade a partir duma rede de água salgada prevista desde 1909, mas só concretizada depois de 1912; diga-se que foram notáveis os efeitos desta solução na desratização urbana e no combate à peste.” (4)
(4) AFONSO, José da Conceição – Macau, contributos para a história do abastecimento de água potável. Administração, 75, vol XX, 2007, 1.º, 281-199.
http://www.safp.gov.mo/safppt/download/WCM_004505
(5) “Logo de começo ainda antes de elaborar o anteprojecto de Obras do Porto Exterior, foi, planeado por esta Direcção uma captação vulgar de aguas pluviais, na Colina Este da Guia, que na parte considerada podia produzir cêrca de 20.000 m3 por ano para o porto e bem assim o aproveitamento da Fonte da Solidão que tem sido praticamente desaproveitada, ficando a agua com bastante carga para ser distribuída em elevação e podendo a obra ser feita a expensas do Conselho de Administração das Obras dos Portos; mas com a resolução atraz dita, cabia esse trabalho á Direcção de Obras Publicas e esta intendeu por melhor estender ali o sistema que estava empregando na face Oeste da Guia, isto é de provocar maior infiltração por meio de canais horizontais permeáveis, e quanto ás aguas da Fonte de Solidão decidiu canalizá-las para a cidade pelo túnel que foi aberto; tendo então sido prometido que o volume de 20.000 m3 seria fornecido pelo grande manancial que fôra descoberto em camada profunda do subsolo na baixa de Monghá; mas vê-se agora que as esperanças neste manancial não eram tão bem fundadas pelo menos quanto ao processo de captação propriamente dito e o abastecimento de agua ao terreno do porto ficou assim de alguma forma prejudicado.” LACERDA, Hugo C. de –  Obras dos Portos de Macau/Memorias e Principais documentos desde 1924.
Outras referências anteriores  ao abastecimento de águas em Macau.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/12/noticia-de-12-de-junho-de-1915/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/s-a-a-m/
NOTA : Todas as fotografias coloridas, do arquivo pessoal, de Maio de 2015.

Vindo de Hong Kong com tropas portuguesas em trânsito, chegou à Baía de Cacilhas no dia 16 de Agosto de 1888, o transporte de guerra “Índia”, tendo-se declarado a bordo «cólera morbus”(1), contraída na colónia britânica.
De 20 de Agosto a 9 de Setembro fez-se um cordão sanitário com centro de operações na Guia, para isolar aquela zona.
O responsável Major José dos Santos Vaquinhas, inspector de incêndios, acabou por ser contagiado e morreu, na sequência de complicações de ordem cerebral e apesar do seu caso ser inicialmente de cólera benigna.
Montaram-se lazaretos improvisados junto à Fonte dA Solidão, na Ilha Verde, na Taipa, e naturalmente em Cacilhas.(2)
Os lazaretos em Cacilhas, junto à Fonte de Solidão eram para os doentes mais graves, tendo ali morrido 32 empestados, curando-se 74; na Ilha Verde, a Casa de Campo do Seminário foi transformada em lazareto, a cargo do Dr. Augusto Tovar de Lemos;  a Igreja de N. Srª do Carmo da Taipa foi cedida para o mesmo fim. As vítimas foram sepultadas na Horta dos Mouros, junto ao Ramal dos Mouros.(3)
Por este motivo a zona da Horta dos Mouros e Mesquita dos Mouros, adjacente veio a estar interdita ao culto por 5 anos, durante os quais a comunidade muçulmana utilizou um terreno perto da Capitania dos Portos onde edificou, com um subsídio de 400 patacas concedido pelo Governo, uma Mesquita provisória.(2)
O combate à epidemia foi dirigida pelo Coronel, Dr. José Gomes da Silva, Chefe dos Serviços de Saúde. Quando declarou a doença «localizada e dominada», fez um relatório pormenorizado da epidemia, com o nome dos falecidos, publicado em Boletim Oficial – 1988, pp. 327-338.
Distinguiram-se, pela sua abnegada entrega as madres canossianas Teresina (Maria Teresa Lucian) (4) e Joana Biancardi. Ambas foram condecoradas pelo Governo Português, a 30 de Julho de 1897. (2)

(1) A cólera morbus (ou cólera asiática) é uma doença causada pelo vibrião colérico (Vibrio cholerae), que se multiplica rapidamente no intestino humano (o reservatório do vibrião é exclusivamente humano) produzindo uma potente toxina que provoca diarreia intensa. A sua transmissão é diretamente dos dejectos fecais de doentes por ingestão oral, principalmente em água contaminada. Embora existisse de forma endémica desde a antiguidade, na parte oriental da Índia e Bangladesh (delta do Rio Ganges), as grandes epidemias (as primeiras para África e Ásia e depois para todo o mundo) foram no século XIX, após 1820.
Em Macau já em 1862 teve uma epidemia, após ter passado por vários portos da China, tendo sido atacados indivíduos, entre chineses e portugueses, com 106 mortos.(2)
O cirurgião-mór da cidade, Dr. Lúcio Augusto da Silva, fez nesse ano, uma descrição desta doença no “Relatório Sobre a Epidemia de Cólera-Morbus em Macau
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9).
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II Rua com Nomes de Pessoas. Instituto Cultural de Macau, 1997, 667 p. ISBN 972-35-0244-5
(4) Foi dado o seu nome a uma rua de Macau: Rua da Madre Terezina: começa na Av. Do Coronel Mesquita e termina na Estrada de Fernão Mendes Pinto. A Madre Maria Teresa Lucian (1845 -1909), italiana, veio para Macau em 1869 e nomeada em 1878 superiora da nova Casa de Beneficência, no Largo de Camões (demolida em 1981). Em 1896, foi eleita superiora da Comunidade Canossiana de Macau (quando esta se separou da de Hong Kong)
Segundo Padre Teixeira (3) ao receber a medalha de prata em 1907, a Madre Lucian teria comentado «Se em vez duma medalha, me dessem um hábito novo, ser-me-ia mais útil». Baptizou por suas mãos mais de 15 000 crianças.

NOTA FINAL: Destacou-se também nessa epidemia de cólera em Macau, o médico João Jacques Floriano Álvares (Goa, 1819 – Macau, São Lourenço, 1885) e por isso foi condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, pelos serviços prestados durante a epidemia.
Médico pela Escola Médico-Cirúrgica de Goa (Carta de 11 de Junho de 1849), Físico da Guarda Policial de Macau e Cirurgião-Ajudante e depois Cirurgião-Mor do Batalhão Nacional de Macau (1872).
Casou em Macau, na Sé, a 7 de Junho de 1853 com Ana Maria Brandão Gomes (1833 – Macau, São Lourenço, 1912)  , uma macaense, com linhagem goesa, de quem teve doze filhos e filhas.
FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Vols I e II. Fundação Oriente, 1.ª Edição, 1996.

Anúncio com originalidade dirigida às Senhoras “domésticas” (?), publicado no ANUÁRIO DE MACAU de 1950
 
Em 15 de Julho de 1935 , foi  assinado um contrato de 60 anos entre o Governo de Macau e a MELCO. A Sociedade de Abastecimento de Águas tornou-se subsidiária da Companhia da Electricidade de Macau, Limitada, de propriedade britânica, com um capital social de MOP 1 milhão. A renovada Sociedade de Abastecimento de Águas foi inaugurada em 1 de Agosto de 1935. (1) (2) (3)

Recorda-se que o primeiro reservatório público de Macau foi construído em 1924 pelo Governo no vale da Colina da Guia (4) mas devido ao seu tamanho, poucas centenas de metros quadrados de área, o abastecimento de água ao público era limitado. (2)

Em 1936, o abastecimento de água a Macau entrou numa nova era – fornecimento de água tratada e desinfectada.  A Estação de Tratamento da Ilha Verde foi inaugurada a 1 de Julho de 1936 e no mesmo ano a estação de elevatória foi modernizada e ampliada, e foi construído, no Porto Exterior o “Reservatório Principal”, com uma área de 300 000 metros quadrados. (2)

(1) Anteriormente já existia uma Companhia das Águas de Macau, Lda., fundada em 1932, com capitais privados dos Srs. Wong Lei e Wong Kam e durou três anos. A metodologia de abastecimento era muito simples e rudimentar. (2)
4 de Junho de 1932 – Escritura entre o Leal Senado e a Companhia das Águas de Macau sobre, entre outros assuntos, a exploração comercial que esta venha a ter com o Concelho das Ilhas” (3)
(2) Historial do abastecimento de água a Macau:  http://www.macaowater.com/index.php?option=com_content&view=article&id=115&Itemid=230&lang=pt
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p, ISBN – 972-8091-11-7
(4) Localizado onde está actualmente o Paiol de Cacilhas (parte de cima), por cima da antiga e velha Fonte de Solidão.