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No B.O. n.º 1, deste 2.º semestre do ano, é publicado, no dia 7 de Julho de 1923, o seguinte edital da Administração do Concelho de Macau: ”Faço saber que, a partir da data da publicação deste edital no Boletim Oficial da Província, será proibido aos vigias chineses tocarem nas vias públicas e casas de vigia os bambus e tambores que é costume usarem para anunciar as horas ao público, sob a pena de desobediência aos mandados de autoridade”. Trata-se de um velho costume da China, mencionado de visu por Fernão Mendes Pinto e por Fr. Gaspar da Cruz, entre outros. SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 135

Morre em Roma a 29 de Novembro de 1976, depois de receber a visita e bênção de Paulo VI. D. José da Costa Nunes. (1) As Exéquias foram na Basílica de S. Pedro e o seu túmulo está na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma. (2)
Recordo-o, neste dia, apresentando um postal de 1964.

Creio tratar-se de uma foto da missa campal repleta de fiéis celebrada pelo Cardeal D. José da Costa Nunes e co-celebrada pelo Bispo de Macau, D. Paulo José Tavares (bispo de Macau: 1961-1973) em frente às Ruínas de São Paulo, no ano de 1964.
Em 10 de Novembro de 1964, o Cardeal D. José da Costa Nunes foi nomeado pelo Papa Paulo VI, legado papal para as comemorações do IV Centenário das Missões da Companhia de Jesus em Macau e IV centenário da chegada dos primeiros missionários católicos a Macau. (3)
Nesse mesmo mês e durante a sua estadia, no dia 23 de Novembro de 1964, o Leal Senado, em sessão ordinária desta data, proclamou o Cardeal D. José da Costa Nunes (Bispo de Macau de 1920 a 1940) como Cidadão Benemérito de Macau.
(1) Antes de completar o curso teológico, acompanhou para Macau, como secretário particular de Bispo D. João Paulino, tendo chegado a Macau em 1903 e ficou a estudar no Seminário de S. José. Foi ordenado sacerdote e, em 1920, foi nomeado Bispo de Macau, Restaurou o Colégio de Sta. Rosa de Lima, confiando em 1932 a direcção do estabelecimento às Franciscanas Missionárias de Maria; inaugurou a nova igreja de Santa Clara; fundou as escolas chinesas “Pui Cheng”, “Mong Tak”, “Kung Chon” e o Colégio de S José; melhorou a Escola Portuguesa, ambas anexas à Casa de Beneficência; inaugurou em 13 de Outubro de 1935 a nova Igreja de Nossa Senhora da Penha; restaurou o Paço Episcopal; confiou o Seminário de S. José aos jesuítas; foi professor do Liceu de Macau.
(SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 5, 1998).
NOTA 1: Há muita informação sobre a vida e a obra do Cardeal D. José da Costa Nunes acessível através da net:
Sugiro entre outros:
http://www.eccn.edu.pt/index.phpoption=com_content&view=article&id=3&Itemid=268
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_da_Costa_Nunes
COSTA, Susana Goulart – D. José da Costa Nunes (1880-1976); Um Cardeal no Oriente
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4523/1/LS_S2_19-20_SusanaGCosta.pdf
Nos «Arquivos da RTP: Chegada do Cardeal José da Costa Nunes, Vice-camarlengo da Santa Sé. a Lisboa, em 1964.»
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/chegada-do-cardeal-jose-da-costa-nunes/#sthash.TfvpHSEE.dpbs
(2) No dia 27 de Junho de 1997, os seus restos mortais foram solenemente trasladados para a Igreja Paroquial de Nossa Senhora das Candeias, freguesia da Candelária, concelho da Madalena.
(3) A Companhia de Jesus desempenhou papel preponderante na fundação e de Macau. Embora as notícias dos primeiros Jesuítas em Macau datam de 1555, (chegada do padre Belchior Nunes Barreto, o Irmão Fernão Mendes Pinto e o padre Gaspar Vilela (conforme carta escrita pelo padre Belchior Nunes Barreto) os Jesuítas só se estabeleceram definitivamente em Macau em 1563, com a vinda dos padres Francisco Peres e Manuel Teixeira e do Irmão André Pinto:
O padre Francisco Peres, em 1565, fundou em Macau, junto à ermida de Santo António, a primeira residência da Companhia de Jesus.
SEABRA, Leonor Dias de – Macau e os jesuítas (séculos XVI e XVII) . História Unisinos 15(3):417-424, Setembro/Dezembro 2011.
Acessível em
http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/viewFile/htu.2011.153.09/609
NOTA 2: Circula na net outro postal (mesma imagem) deste evento com a seguinte legenda:

Sam Ba Sing Tzik St. Paul’s Cathedral Macau 1964

Jorge Álvares morre nos braços do seu grande amigo Duarte Coelho, na tarde do dia 8 de Julho de 1521: « … e foi enterrado ao pé de hum padrão de pedra com as Armas deste Reyno, que elle mesmo Jorge Àlvares alli puzera hum ano ante que Rafael Perestrello fosse aquellas partes no qual ano que ali esteve, ele tinha enterrado hum seu filho que lhe faleceo…» (1)
« … Estando os nossos no qual trabalho em perigo, em vinte e sete de Junho de quinhentos e vinte e um, chegou Duarte Coelho em um junco seu aperecebido, e com êle outro dos moradores de Malaca. O qual, tanto que soube dos nossos o estado da terra, e como o Itau, que era Capitão-mor do Mar, os cometera já por vezes, quisera-se logo tornar a sair; mas, vendo que os nossos não estavão apercebidos pera isso, po-los ajudar a salvar, ficou com êles. E principalmente por amor de Jorge Álvares, que era grande seu amigo, o qual estava tam enfêrmo, que da chegada dêle, Duarte Coelho, a onze dias, faleceu e foi enterrado ao pé de um padrão de pedra com as armas dêste reino, que êle mesmo Jorge Álvares ali pusera um ano ante que Rafael Perestelo fêsse àquelas partes; no qual ano que ali esteve, êle tinha enterrado um seu filho que lhe faleceu…» (2)
Numa postagem anterior sobre Jorge Álvares (3) sublinhei o seguinte:
Por falar em Jorge Álvares, consta-se que foi Sarmento Rodrigues, nessa viagem a Macau, em 1952, quem mandou erguer uma estátua a Jorge Álvares. Coincidência ou não… eram ambos de Freixo de Espada à Cinta.
Ora este Jorge Álvares embora venha mencionado em muitos trabalhos como natural de Freixo de Espada à Cinta, não há documento que comprove tal facto.
Artur Basílio de Sá, autor do livro “Jorge Álvares”, (2) retrata não o Jorge Álvares (cuja naturalidade não se conhece) escrivão, por mercê do capitão de Malaca e modesto armador de um junco, primeiro europeu a aportar a China por via marítima em 1513 mas outro Jorge Álvares, este sim, natural de Freixo de Espada à Cinta, abastado mercador e capitão de um navio, homem do mar, navegador por vocação, primeiro cronista do Japão, grande amigo do padre Mestre Francisco Xavier, a quem tanto procurou auxiliar nos seus trabalhos apostólicos, pondo ao serviço do santo o seu navio, o seu saber e a sua fé de zeloso e instruído cristão.
Assim mesmo na Introdução, o mesmo autor escreve:
“Com sobejos motivos e fundamentos se interessou pois, o Sr. Comandante Sarmento Rodrigues quando ainda Ministro do Ultramar, por uma justa consagração daquele seu conterrâneo na sua vila natal. E para que naquela terra transmontana se pudesse erguer um condigno monumento ao insigne navegador dos ares do Oriente e primeiro cronista do Japão, teve intervenção decisiva e generosa o Sr. Governador de Macau, contra-almirante Joaquim Marques Esparteiro, concedendo para esse efeito um subsídio, retirado da verba destinada ao levantamento em Macau da estátua do outro Jorge Álvares, o primeiro navegador ocidental que foi à China e cuja naturalidade ainda se não conhece.”
Cita o mesmo autor: “ … no período situado entre 1511 e 1550, o nome de Jorge Álvares aparece-nos a designar alguém que desempenha ofícios vários em datas diferentes:
– Em 1511, o escrivão da nau «S. João Rumessa» chamava-se Jorge Álvares
-Em 1514, o primeiro português qua vai à China como feitor da fazenda de el-rei embarcada no junco do bendara de Malaca, chamava-se Jorge Álvares.
-Em 1518, o homem de armas que sabia a língua malaia e traduziu três cartas dos reis das Moluscas tinha igualmente o nome de Jorge Álvares.
– Finalmente, em 1548, um dos grandes amigos do Padre Mestre Francisco chama-se também Jorge Álvares., que Fernão Mendes Pinto diz ser natural de Freixo de Espada à Cinta.”
A estátua que está em Freixo de Espada à Cinta (foto anterior) é deste navegante (e não o da China) embora a escultura dele seja de Euclides da Silva Vaz (1916), o mesmo escultor que fez a estátua do Jorge Álvares colocada em  Macau (foto seguinte).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_%C3%81lvares

A estátua foi colocada frente ao edifício das Repartições, na então zona de aterro da baía da Praia Grande, a 16 de Setembro de 1954 (data do descerramento)
(1) BARROS, João de – Da Ásia (edição de 1777), Década III, Liv VI, Cap. II in KEIL, Luís – Jorge Álvares O Primeiro Português que foi à China (1513). Instituto Cultural de Macau, 1990.
(2) SÁ, Artur Basílio de – Jorge Álvares, Quadros da sua biografia no Oriente. Agência Geral do Ultramar, 1956, 143 p.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/07/noticia-de-7-de-janeiro-de-1514-leitura-jorge-alvares-o-primeiro-portugues-que-foi-a-china-1513/
Anteriores referências a Jorge Álvares
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/

Carta do irmão Fernão Mendes ao padre Baltasar Dias, reitor da Companhia de Jesus em Goa , datada de 20 de Novembro de 1555.

“…E aos 20 de Julho chegámos a Sanchão, (1) onde o padre saiu em terra e foi dizer missa sobre a cova onde  o  nosso padre bem-aventurado mestre Francisco Xavier fora enterrado, a qual já achámos coberta de muitas ervas, que arrancámos com as mãos, e alguns com muito sentimento e devoção, porque ali parece que dava Nosso Senhor muito a sentir que para que era mais senão acabar ali um homem sua vida e ali ser enterrado. E dali nos embarcámos e viemos ter a 3 dias de Agosto a Lampacau, onde os navios fazem fazenda, donde o padre  mestre Melchior (2) foi duas vezes a Cantão, como lhe lá escreverá…” (3)

MAPA - China Regio Asiae 1589CHINA REGIO ASAE, mapa anónimo possivelmente de origem portuguesa, de meados do  século 16 (4)

“Partidos nós desta ilha de Champeiló, fomos demandar as ilhas de Cantão, e aos cinco dias de nossa viagem, prouve a Nosso Senhor que chegássemos a Sanchão, que era a ilha onde fora enterrado o padre mestre Francisco, como atrás tenho dito. Ao outro dia pela manhã, toda a gente da frota desembarcou em terra e nos fomos todos em procissão ao lugar do jazigo do santo padre, o qual achámos já todo coberto de ervas e de mato, sem aparecer dele mais que só as pontas das cruzes de que estava cercado; porém logo por todos foi limpo e preparado com muita devoção, e após isso fechado com umas grades de pau  fortes, e por fora se fez mais outra estacada, e todo o chão ao redor foi muito limpo e aplainado, e toda esta obra em roda estava cercada de muito bons valos, `enetrada dos quais estava uma cruz muito alta e muito formosa… (…)
Ao outro dia pela manhã nos partimos desta ilha de Sanchão, e ao sol-posto chegámos a outra ilha que está mais adiante seis léguas para o norte, chamada Lampacau, onde naquele tempo os portugueses faziam sua veniaga com os chins, e aí se fez sempre até ao ano de 1557, em que os mandarins de Cantão, a requerimento dos mercadores da terra nos deram este porto de Macau, onde agora se dfaz, no qual sendo antes ilha deserta, fizeram os nossos uma nobre povoação de casas de três a quatro mil cruzados, e com igreja matriz em que há vigário e beneficiados, e tem capitão e ouvidor e oficiais de justiça, e tão confinados e seguros estão nela, com cuidarem que énossa, como se ela estivera situada na mais segura parte de Portugal.” (5)
(1) Ilha de Sanchoão – 上川 (mandarim pinyin: shàng chuān ; dǎo; cantonense jyutping: soeng5 cyun1 dou2). Também denominada Chang-Chuang, Sancian, San-choão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-de-sanchoao/
(2) Padre jesuíta Belchior Nunes Barreto, que esteve nas costas da China, de Agosto de 1555 a 7 de Junho de 1556 e exerceu o seu apostolado entre os 300 portugueses que se encontravam, então em Macau, Fundou uma missão de Cantão.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fernao-mendes-pinto/
(3) CATZ, Rebecca D. – Cartas de Fernão Mendes Pinto e outros documentos. Editorial Presença, 1983
Alguns trabalhos desta investigadora norte-americana (Universidade de Califórnia, Los Angeles) relacionados com Fernão Mendes Pinto:
CATZ, Rebecca D. – Fernão Mendes Pinto, The Travels of Mendes Pinto. ed. & tr. Chicago and London (The University of Chicago Press) 1989, 663 pp., ISBN 0-226-66951-3.
CATZ, Rebecca D.  – A Sátira Social de Fernão Mendes Pinto: análise crítica da Peregrinação. Lisboa, prelo Editora, 1978, 358 p. (tradução de:  Iconoclasm as Literary Technique: A Study of the Satiric Devices used in the Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (1972).
CATZ, Rebecca D.  – Fernão Mendes Pinto and His Peregrinação in Hispania. Volume 74, Number 3, September 1991.
http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/hispania–11/html/p0000002.htm
(4) Retiraoa de “Mapas e Iconografias dos Sécs. XVI e XVII” –  Mapa da China in Epitome theatri orteliani, praecipuarum regionum delineationes, minoribus tabulis expressas...; cópia equivalente à da ed. de Antuérpia, Christophorus, 1589, fl. 85r.
http://www.tdx.cat/bitstream/handle/10803/4951/fmpnro4de4.pdf;jsessionid=6E1775B5EBE59AF37C63E385C6F3658A.tdx1?sequence=4
(5) Retirado  das pp. 33-34: Fernão Mendes Pinto  – Peregrinação in SANTOS, Carlos Pinto; NEVES, Orlando – De Longe à China, Tomo I Instituto Cultural de Macau, 1988, p. 383.

Livro de Jordão de Freitas sobre «Camões em Macau» (1) , no 331.º aniversário do falecimento do poeta, de 1911, da Imprensa Libânio da Silva, em Lisboa.

Camões em Macau, 1911 CAPA

Jordão de Freitas (2) foi o primeiro a salientar que já em 1555 havia Portugueses na península de Amacao, pondo a hipótese de Camões haver estado em Macau.
“Antes de passar adiante, seja-me permitido advertir que Macau (Maquao, Amaquao, Amacau, Amacoao, Amaquã, Amaquan), é nome que á ilha ou península, de que se trata, se dava já em 1555 (se não antes) e não apenas mais tarde, de 1557.
Uma das cartas escriptas por Fernão Mendes Pinto, quando fazia parte da Companhia de Jesus, editadas e annotadas em 1902 em Hamburgo pelo dr. Nachod, em face do codice 49-IV-50, fl. 95 a 98, é datada de “Amacao” no mez de novembro de 1555.
Nésta carta diz o auctor da Peregrinaçam: “Mas porque hoje cheguei de Lampacau, que é o porto onde estamos, a este amaquã que é outras seis leguas mais adiante aonde achey ao padre Mestre Belchior que veio aqui de Cantam…”
De Macau e do mesmo mez e anno de 1555 são igualmente datadas duas cartas do padre jesuita Belchior Nunes Barreto; uma dirigida para Roma a Santo Ignacio de Loyola e publicada em Coimbra (em hespanhol) e em Veneza (em taliano) no anno 1565; a outra remettida para Goa aos padres e irmãos da Companhia e de que se conserva copia no codice da Real Bibliotheca da Ajuda 49-IV-49, fl. 236-237, bem como da primeira a fl. 237-241.” (3)
Neste livro, o autor analisa as três opiniões ou hipóteses que, sob o ponto de vista da determinação do ano ou dos anos em que Camões residiu em Macau: a do Visconde de Juromenha (entre 1556 a princípios de 1558), a de Wilhelm Storck (fins de Julho de 1558 aos princípios de 1560) e a do Dr. Teófilo Braga (os anos 1557, 1558 e 1559).

Camões em Macau, 1911 CONTRACAPA

O livro que é anunciado na contra-capa: NO PRÉLO – «Macau-Materiais para a sua história no século XVI»  foi publicado em 1988 pelo Instituto Cultural.
FREITAS, Jordão de – Macau : materiais para a sua história no século XVI. Macau: Instituto Cultural, 1988. – 43 p.

(1) FREITAS, Jordão de – Camões em Macau. Lisboa, Imprensa Libânio da Silva, 1911, 52 p. 22, 5 cm x 15,5 cm
(2) Jordão Apolinário de Freitas (1866-1946) dedicou entre 1904 a 1907, os seus estudos ao Extremo-Oriente, o Japão, a China, Luís de Camões em Macau, Fernão Mendes Pinto, a embaixada dos príncipes japoneses à Europa em 1584, etc.
Sobre este autor, uma biografia detalhada em «Elogio do Dr. Jordão de Freitas» pelo Dr. António da Silva Rego (publicado pela Academia Portuguesa da História, 1956) e disponível em:
http://arquivohistoricomadeira.blogspot.pt/2009/03/elogio-do-dr.html
Disponível também «Camões e Macau» do Padre Manuel Teixeira (onde analisa a opinião do Jordão de Freitas) em:
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP272/index.htm
NOTA: Foi também Jordão de Freitas, então bibliotecário da Ajuda, quem deu a conhecer o manuscrito encontrado em 1911, sobre uma relação dos bens de raiz do Colégio de São Paulo de Macau, do Padre António Cardim, reitor do Colégio de Macau de 31-08-1632 a 23-05-1636. Nele, referia que existia já nessa época um local de Macau, denominado «Penedos de Camões», junto do «campo dos patanes».
(3) Artigo publicado no «Portugal», n.º 98, de 2-VI-907, e reproduzido em “O Oriente Portuguez”, vol. IV, n.º de Julho e Agosto de 1907, pp. 293-94.

Em 7 de Abril de 1541 sai a primeira expedição jesuíta de Lisboa (1) para a Índia e Extremo Oriente,  chefiada por Francisco Xavier (2) (que fazia nesse dia 35 anos) na nau “Santiago”, iniciando assim os 200 anos  de missionação que se seguiriam para essa direcção. Segundo cartas datadas de Fernão Mendes Pinto e do Pe. jesuíta Belchior Nunes Barreto, a presença dos primeiros missionários jesuítas na Índia foi a partir de 1542 e em  Macau, a partir de 1555 (3)
 
Um jesuítaOs padres estrangeiros não pertencem a uma só classe. Os frades de S. Paulo rapam o cabelo e usam um barrete verde parecido com uma mitra. O superintendente da religião chama-se fât-uóng (soberano das leis, ou seja, o Bispo). até o próprio Governador, que vem de Portugal, não tem poderes como ele. Se ocorrer qualquer caso importante ou, por suspeita, se aprisione, o Governo e o Procurador de Senado não podem resolver. pedem então (ao Bispo) uma ordem. passada a ordem, recebem-na, acatando-a, respeitosamente. Quando o Bispo sai ou entra, é protegido por um grande pálio e rodeado de padrezinhos. Os homens e as mulheres, quando o vêem, avançam, apressadamente, ajoelham-se, segurando-lhe respeitosamente os pés, esperando pela sua passagem e, só depois, é que se levantam. Se o Bispo afagar as suas cabeças, isto é considerado como uma grande felicidade. As mulheres são as que têm mais fé nele.” …
As regras do Convento de S. Paulo são mais severas... (4) 

(1) Inácio de Loyola, de origem nobre, em 15 de Agosto de 1534 e seis outros estudantes encontraram-se na Capela dos Mártires, na colina de Montmartre e fundaram a Companhia de Jesus para “desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém ou para ir aonde o papa nos enviar, sem questionar”. Nessa data, fizeram os votos de pobreza e castidade. A Companhia de Jesus é uma organização rigidamente disciplinada de absoluta abnegação e a obediência ao papa e aos superiores hierárquicos (“perinde ac cadaver“, “disciplinado como um cadáver“). O lema dos jesuítas é “Ad maiorem Dei gloriam” (“Para a maior glória de Deus“). Salienta-se a importância dos jesuítas na expansão portuguesa principalmente no Oriente e a sua grande influência em Macau.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus
(2) S. Francisco Xavier faleceu no dia 27 de  Novembro de 1552 (segundo outros autores, 3 de Dezembro de 1552), na Ilha de Sanchoão.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/27/noticias-27-de-novembro-de-1552/
(3) SILVA, Beatriz Basto da Silva. Cronologia da História de Macau, Séculos XVI-XVII, Volume 1. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª edição, Macau, 1997, 198 p., ISBN 972-8091-08-7
(4) OU-MUN KEI-LÉOK Monografia de Macau por Tcheong-U-Lam e Ian-Kuong-Iâm. Tradução do chinês por Luís G. Gomes. Editada pela Repartição Central dos Serviços Económicos- Secção de Publicidade e Turismo, Macau. Imprensa Nacional, 1950, 252 p.

…………. Faz hoje, 457 anos.

Em 20 de Novembro de 1555, Fernão Mendes Pinto, então noviço da Companhia de Jesus, escreveu de Lampacau, uma carta, na qual descreveu a sua chegada a Sanchoão, neste ano, e a sua viagem a Lampacau, na companhia do Pe. Belchior Nunes.(1)  Esta carta dirigida ao Pe. Baltasar Dias, Reitor do Colégio de Goa, é o primeiro documento conhecido em que aparece o nome de Macau, sob a designação de Amaquao ou Ama Cuao.” (2) (3)

(1) “Em 23-11-1555, o padre jesuíta Belchior Nunes Barreto, que esteve nas costas da China, de Agosto de 1555 a 7 de Junho de 1556 e exerceu o seu apostolado entre os 300 portugueses que se encontravam, então em Macau, escreveu para o Colégio de Goa,
                               “Deste Machoam porto da China….”
dando conta dos usos, costumes, governo etc, da China, particularmente de Cantão, para onde teve de efectuar duas viagens, a fim de negociar a libertação de Mateus Brito, que ali se encontrava preso, há seis anos, com mais dois portugueses e três nativos cristãos, mediante o resgate de 1.000 taes, por cabeça. Tanto esta sua carta como a de Fernão Mendes Pinto, de 20 de Novembro de 1955 são datadas de Macau, sendo nestes dois documentos que se menciona pela primeira vez o nome de Macau.” (3)
(2) Embora alguns críticos afirmam ser engano do copista, Amaquao deveria ser Lampacao (4), Fernão Mendes Pinto na carta é claro quando diz «Amaquao, distante seis  léguas de Lampacau que é o porto onde estamos…»
(3) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.
(4) Segundo Albert Kamerer (citado por Beatriz Basto da Silva ) (5), ” …mas a crítica afirma ser engano do copista, por Lampacao”
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Séculos XVI-XVII, Volume 1, Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997,198 p (ISBN 972-8091-08-7)

NOTA:  AMAQUAO – um dos possíveis nomes de Macau: Diz a lenda que a Deusa Neang Ma, patrona dos marinheiros de Fukien, (*) salvou a tripulação de um junco. Em sinal de gratidão, eles construíram um altar na praia em honra da Deusa, dando-lhe o diminutivo de A-Ma(**); o lugar passou a ser chamado de A- Ma-Kao (porto de A-Ma). Os portugueses, a partir de 1557 passaram a chamar-lhe Povoação do Nome de Deus de Amacao na China (5).
Até meados da dinastia Ming (***) , não existia o nome de Macau (****). A parte norte da península chamava-se Wangxia (MongHa) (*****)  e a parte sul tinha o nome de Haojing. O mar era rico  de ostras (ostras em chinês pronuncia-se “hao”) . Tinha duas baías nesta parte do sul que eram redondas como espelhos ( em chinês “jing”) Daí o nome de Haojing (******) (espelho de ostras)  (6)

Theodor de Bry (1528-1598) – circa 1598
Observa-se estrangeiros sendo transportados in palaquins acompanhados de criados com chapéus.
O porto Interior concorrido com navios estrangeiros. (7)

 (*) Fujian ( 福建) romanizado como Fukien ou Foukien é uma província do sudeste da China, a norte da província de Guangdong.
(**) Templo de Á-Má – 媽閣廟 mandarin Pinyin: Māgé miào; cantonense Jyutping: maa1 Gok3 Miu6
(***) Dinastia  Ming (1368-1644):  明朝 mandarin Pinyin; Ming cháo; cantonense Jyutping:  ming4 ziu1
(****) Macau  澳門 mandarin Pinyin: Àomén; cantonense Jyutping: Ou3 Mun4
(*****) Mong Ha 望廈 mandarim Pinyin wàng xià; cantonense jyutping mong6 haa6. (olhar/avistar a mansão)
(******) Haojing 濠鏡  cantonense jyutping hou4 geng3 (espelho de ostras)  ou Jinghai 鏡海cantonense jyutping geng3 hoi2 (espelho de mar)
(6) FEI Chengkang – Macao 400 Years. The Publishing House of Shanghai Academy of Social Sciences, 1996, 360 p. ISBN 7-80618-266-7
(7) http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/gallery_places/pages/cwM_1598_AH8121_Amacao_sc.htm
Segundo Beatriz Basto da Silva (5), trata-se de Macau no final do século XVI, segundo gravura em cobre (c. 1598) do artista Teodore de Bry. Foi copiado por Meinsner c. 1625 (Dervent Collection)
VER: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tufoes