Artigo de Jaime do Inso publicado no «Jornal de Macau» do dia 16 de Abril de 1931 e republicado no Boletim Geral das Colónias, acerca da possibilidade de se instalar em Lisboa, o pavilhão de Macau (fachada: templo da Barra – Á Má) que esteve presente na Exposição Ibero-americana de Sevilha (1929)
Ver anterior referência a este pavilhão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilha-1929/
Continuação dos extractos da monografia do capitão-tenente Jaime do Inso, preparada para a Exposição Portuguesa em Sevilha sobre o Comércio e Indústrias de Macau. (1) (2)
“Outra industria digna de menção, é a do descasque do arroz, para o que há uma importante fábrica mecanica, além de outras que empregam ainda o processo vulgar dos pilões movidos com os pés.
O descasque anda intimamente ligado ao comercio do arroz, havendo umas 18 casas de descasque e venda por grosso e 8 só para esta venda.
Além destas industrias, muitas outras de menôr importancia há ainda em Macau que, pelo seu numero, representam actividades da colónia, susceptíveis de grande desenvolvimento e valorisação.
Assim, contam-se: 10 pequenas fábricas de vidros, 1 de cortumes, 1 de tijolo, 8 de velas de cebo, 2 de sabão, 1 de papel ordinario para panchões, 1 de fundição de metais, 4 de cal, 12 fabricas de objectos de cobre, 7 fabricantes de artigos de chumbo, e varias ourivesarias, litografias, marcenarias, galvanoplastias e sapatarias, tendo estas ultimamente tomado grande incremento.
A principal firma que trabalha e m cobre, Choi-Heng , obteve um diploma de honra na Exposição de Paris e medalhas de ouro na Exposição Industrial e Feira de Macau de 1926.
Uma outra industria muito espalhada e de todas a mais pobre, é a dos tamancos de madeira da China e de Borneo, no q ue se ocupam cerca de 30 casas, que fabricam artigos muitos variados.
As Oficinas Navais, unico estabelecimento metalurgico importante que há na colónia, tomaram ultimamente um notavel desenvolvimento, estando aptas a satisfazer todas as necessidades do meio, como certas reparações de navios, de automoveis, etc, necessitando, entre outras cousas, para alargar convenientemente os seus meios de trabalho, uma doca sêca, que será construída logo que seja possivel.
A industria e o comercio do chá e das sêdas, hoje em decadencia, constituiram um valioso elemento de riqueza de Macau nos fins do século XIX quando o porto frequentado por navios de todas as nacionalidades.(a)
Mais tarde, com o assoreamento do porto, a concorrencia de Hong Kong e outros factores, Macau perdeu a navegação , de longo curso, e o seu movimento foi reduzido ao que hoje é.
Em alguns bairros de Macau ainda hoje se veem bôas e grandes casas de solida construção, lembrando as antigas casas portuguesas, que foram dos nossos ultimos armadores que desta colónia enviaram os seus navios às costas da China, Singapura, América Central, Java e Timor.
Não é sem uma evocação dos tempos idos que se olha para aqueles edifícios do nosso outrora rico comercio tornados hoje armazens, fábricas, ou vulgares habitações da população chinesa.”
(a) Em 1869 frequentaram o porto de Macau 53 navios de guerra e 185 mercantes, representando uma tonelagem de 87.545 T. e pertencendo a 18 nacionalidades diferentes e dos quais 11 eram portugueses.
(1) INSO, Jaime do – Macau, extrato de uma monografia. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.º 7-8, Julho -Agosto, Série 48.ª, 1930, pp. 157- 717.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/11/leitura-macau-extrato-de-uma-monografia-do-capitao-tenente-jaime-do-inso-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/18/leitura-macau-extrato-de-uma-monografia-do-capitao-tenente-jaime-do-inso-ii/
Extracto de uma monografia (1) do capitão-tenente Jaime do Inso, preparada para a Exposição Portuguesa em Sevilha sobre o Comércio e Indústrias de Macau.
Macau fez-se representar na Exposição de Sevilha com um pavilhão próprio. (2)
Jaime do Indo analisa e comenta o movimento comercial de Macau entre 1920 e 1928 e as principais indústrias do território nomeadamente o pescado, (3) cimento, artefactos de malha, tabaco, fósforos, panchões, pivetes, conservas, vinhos chineses, azeite de amendoim e tecidos de algodão.
Alguns extractos da conferência:
(…) A maior parte do comércio de Macau encontra-se nas mãos dos chineses, e a quasi totalidade faz-se com portos da China, principalmente com Cantão e Hong Kong…
(…) No comércio da China com as nações estrangeiras, no ano de 1927, avaliado em mais de 27 biliões de patacas, Portugal figura com a importância de $ 73.130 nas exportações e $ 456 nas importações, isto é, um total inferior a 0, 0003% do comércio geral…
(…) Se um par de sapatos bons ingleses, para homem, chega a custar em Hong Kong, 240$00 escudos da nossa moeda, porque não se experimenta colocar na China calçado português?…
(…) O alvitre aqui fica e, se fôr viável, não se deve deixar de perder a oportunidade, porque o Oriente é um mundo onde há muito campo para trabalhar. Com isto lucraria muito não só o comércio da Metrópole, como o da colónia.
(…) Além da pesca (3) , muitas indústrias se encontram em Macau, algumas instaladas em fabricas convenientes e outras domésticas a saber:
CIMENTO: – existe uma importante fábrica pertencente à companhia inglesa «The Green Island Cement Works», que aproveita os lodos do porto interior, ao Norte da Ilha Verde, onde se encontra instalada. A média diária da produção é de 70 toneladas, que aumentará lôgo que termine instalação de dois novos fornos, mandados fazer por a produção ser muito inferior á procura. A exportação faz-se para vários portos, principalmente para Hong Kong.
TABACO – há em Macau 10 fábricas de tabaco, sendo a mais importante a da firma «Chi Cheong Ki», fundada há um século, que emprega mais de 60 operarios, sendo o valor da sua produção anual superior a $ 100.000. A sua materia prima é importada de Ok-San e Sa-Peng, na província de Kuang-Tung (4), e o tabaco manifacturado que excede o consumo local é exportado, principalmente, para a China, Singapura e California. Esta industria emprega cerca de 500 operários e representa uma produção anual de cerca de $ 700.000. A maior parte do tabaco é preparado para cachimbo, como preferem os chineses, mas também se fabricam cigarros e charutos.
continua…
(1) INSO, Jaime do – Macau, extrato de uma monografia. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.º 7-8, Julho -Agosto, Série 48.ª, 1930, pp. 157- 717.
Sobre Jaime do Inso ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/05/09/noticia-de-9-de-maio-de-1929-exposicao-mundial-ibero-americana-de-sevilha/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilha-1929/
(3) Sobre esta indústria, transcreverei extractos desta monografia, numa próxima postagem.
(4) Província de Kuang-Tung – Província de Cantão – Guangdong 廣東