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Extraído de «BGC», XIV-155, MAIO DE 1938, p. 177

Artur Tamagnini de Sousa Barbosa foi nomeado governador de Macau, pela 3.ª vez, a 19 de Dezembro de 1936 (B. O. n.º 51) tendo tomado posse a 11 de Abril de 1937 e ficou no cargo até à sua morte em 10 de Julho de 1940. A 5 de Outubro de 1940, foi nomeado novo Governador, capitão de fragata Gabriel Maurício Teixeira (B.O. n.º 40)

“ O ano de 1937 marca o início da devastadora guerra sino-japonesa. Macau exigia um governo prudente, que assegurasse a calma no território. A população portuguesa radicada em Xangai teve de refugiar-se em Macau, que teve que fazer um enorme esforço financeiro para enfrentar a despesa de hospedagem, alimentação, manutenção de roupas, pessoal auxiliar, subsídios … Lisboa colaborou com verbas e, para respostas mais musculadas, com o envio do Bartolomeu Dias e do Gonçalo Velho, com gente e meios de defesa/ataque. A polícia de Macau também foi apetrechada e posta em alerta. O vapor Mouzinho saiu de Moçambique para reforçar Macau, com tropas, oficiais e pessoal hospitalar, além de material de guerra.

Em 1937 três “destroyeres” japoneses e um cruzador desembarcaram tropas na Ilha da Montanha mas afastaram-se quando informados que se encontravam em águas portuguesas. O perigo continuou a rondar. Tamagnini foi sempre firme e e morreu ao serviço de Macau, no cargo de Governador, a 10 de Julho de 1840; pouco dias antes, abriu em Lisboa a Exposição do Mundo Português com uma sala da China e uma rua de Macau reproduzida cm enorme realismo” (1) (2)

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia de História de Macau, Vol. III, 2015, pp.256-259)

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/exposicao-do-mundo-portugues-1940/

Anteriores referências a este governador em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/

Este livro “Exposição do Mundo Português: Secção Colonial”, inaugurada a 23 de Junho de 1940, (1) serviu de catálogo da área colonial da “Exposição do Mundo Português” cujo director da secção colonial foi o Capitão Henrique Galvão (2)
Henrique Galvão afirma no Prefácio: “Uma vez que a Secção Colonial se instalava no Jardim Colonial, onde já se encontram numerosos espécimens da flora ultramarina e que fica situada junto de gloriosas e impressionantes recordações da nossa epopeia Além-Mar como são os Jerónimos e a Torre de Belém – isto é: uma vez que a Exposição se situava em quadro próprio, bastava assegurar a duração das construções e orientar de certa forma a realização para ficarmos automaticamente com o Museu Popular as Colónias que nos faltava e assegurarmos à cidade mais uma grande atracção de carácter permanente. Demais seria êste um museu originalíssimo – único do género na Europa.”
A capa apresenta foto de um quadro de Fausto Sampaio intitulado “Macau – Rua 5 de Outubro“. (3) Deste autor, estiveram expostos na Sala Fausto Sampaio, na área “Rua de Macau, 39 quadros com a temática: Macau e inserido neste livro, estão ainda fotos e outros 4 quadros de Macau, nomeadamente: “Velha rua com chuva”, “Leong-Soi Teng –O Curandeiro” , “Um Retrato”  e “Tancareiras” (4).
Do pintor Chiu Shiu Ngon estiveram presentes 22 quadros
O livro está dividido em duas partes A primeira apresenta os dados referentes às colónias nomeadamente: informação geográfica; informação económica; vias de comunicação; indústria; Comércio; situação financeira; informação etnológica e etnográfica;
Referente a Macau (pp.131 a 164) constam os seguintes dados: informação geográfica; informação económica; principais centros de população e colonização; produtos; vias de comunicação; comércio; indústria; pesca; informação etnológica e etnográfica sobre a população; vida material; vida intelectual – linguagem; arte e faculdades intelectuais; vida social, religião e família e acção civilizadora.
A 2.ª parte apresenta os catálogos, mapas, fotografias e esquemas dos pavilhões das colónias na secção colonial da Exposição. Está dividida em 5 secções:
Secção I – Pavilhões das províncias ultramarinas.
De Macau (pp. 276- 278) apresenta a “Rua de Macau” (composição dos cenógrafos Saúl de Almeida e Raúl Campos, sobre documentação fornecida pelo Director da Secção) composta por uma rua típica de Macau, com a sua côr, o seu movimento, o seu pitoresco e os mais importantes elementos de carácter.
Legenda:
1 – Carta da Colónia
2 – Diuramas
3 – Quadros

Entrada do pavilhão de Macau, (Eduardo Portugal) (5) para a Rua de Macau

Uma recriação da “Rua da felicidade”
Diário da Manhã, número especial da Exposição do Mundo Português em 1-12-1940

Fazem parte da rua, o Pavilhão de Macau com o seu material de documentação, vários estabelecimentos comerciais, a casa das lotarias, o Fan-Tan, um templo (pagode) e as moradias dos naturais da colónia que vieram à Exposição. Numa oficina típica, artífices de Macau realizavam os seus trabalhos em cedro e cânfora. Na rua, circulava os típicos riquechós conduzindo passageiros. Em edifício especial, ao lado do Pavilhão, no primeiro andar estava a «Sala Fausto Sampaio».
Secção II – Pavilhões diversos e instalações de documentação
Secção III – Aldeias e habitações dos povos indígenas
Secção IV – Monumentos, construções de utilidade pública, diversos
Entre eles, o Pavilhão do Chá Português (concepção: José Bastos e Decoração: Lino António)
Secção V – Pavilhões e mostruários particulares.
Secção VI – Expositores oficiais de arte.
Secção VII – Catálogos
(1) Exposição do mundo português: secção colonial / pref. Henrique Galvão. – s.n., 1940 (Lisboa: Neogravura. – [7] f., 299 p., XCVI pp (anúncios). il. ; 22 cm x 16,5 cm.
Incorporado na lombada (superior) um marcador (18 cm x 5,5 cm) com anúncio (idênticos dos dois lados) da marca “Graham” – (tecidos de Algodão crús, branqueados, estampados e tintos, etc)
(2) A Exposição do Mundo Português (exposição histórico-cultural) realizou-se de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940, em Lisboa, e teve o propósito de comemorar simultaneamente as datas da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640) mas, também (e esse seria o objectivo primordial), de celebrar o Estado Novo, então em fase de consolidação. Foi a maior exposição do seu género realizada no país até à Expo 98 (1998).
Incluía pavilhões temáticos relacionados com a história de Portugal e tinha uma Secção Colonial onde representava o império português no seu todo, incluíndo as colónias: S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné Portuguesa (Guiné-Bissau), Angola, Moçambique, São João Baptista de Ajudá (um enclave) e pelas colónias orientais de Macau, Timor Português (Timor-Leste) e Índia Portuguesa (Diu, Damão, Goa e Dadrá e Nagar Haveli).
(3) Já publicado em postagem anterior em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/10/21/leitura-fausto-sampaio-pintor-do-ultramar-portugues-iv/
(4) Também já reproduzidos em anteriores postagens:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/12/28/leitura-fausto-sampaio-pintor-do-ultramar-portugues-vii/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/10/01/leitura-fausto-sampaio-pintor-do-ultramar-portugues-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/10/11/leitura-fausto-sampaio-pintor-do-ultramar-portugues-ii/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/10/27/leitura-fausto-sampaio-pintor-do-ultramar-portugues-v/
(5) Hoje este pórtico encontra-se no Jardim Botânico Tropical (JBT) (outrora chamada Jardim Colonial ou Jardim do Ultramar),
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/01/09/macau-no-exterior-macau-e-o-jardim-oriental-em-lisboa-i/

“28-09- 1925 – Regressou a Lisboa o afamado escultor macaense Raul Xavier, autor de numerosas esculturas que embelezam os principais edifícios e lugares públicos do continente, depois de ter servido, durante algum tempo na Repartição das Obras Públicas desta cidade”.GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
Não consegui obter mais referências a esta estadia do escultor em Macau e por quanto tempo terá trabalho na Repartição das Obras Públicas.
Raul Xavier - FaceAuto-retrato (1)

Esta notícia despertou-me para a pouca relevância que é dada a este escultor (e medalhista) macaense. Muitos com certeza, já passaram pelo Palácio de S. Bento, visto a famosa escadaria da Assembleia da República mas poucos terão parado para admirar os leões da autoria de Raul Xavier.

Raul Xavier - Leão de S. BentoLeão, Palácio de S. Bento (2)

Raul Maria Xavier nasceu em Macau – 23 de Março de 1894 e faleceu em Lisboa – 1 de Janeiro de 1964, é filho de Francisco Xavier da Silva (Pombal/Vila Chã –  Freguesia da Estrela/Lisboa) que foi soldado n.º 63 da Companhia Policial de Macau e de Filomena do Rosário. Foi para Portugal ainda criança. Frequentou a Escola de Belas-Artes de Lisboa, onde foi aluno de Ernesto Condeixa e, mais tarde, de Costa Motta (seu tio), cujo ateliê viria a frequentar, familiarizando-se com a técnica do talhe directo. Interrompeu os estudos académicos para realizar um estágio em Itália (bolseiro do estado português), onde estudou escultura religiosa.
Participou em Salões da SNBA (1ª medalha em 1941), nas Exp. de Artes Plásticas, Grupo Silva Porto (1945-58). Colaborou na Exposição do Mundo Português, 1940 (baixo-relevo Aljubarrota, 1940). Colaborou artisticamente em publicações como a II série da revista «Alma Nova» (1915-1918), iniciada em Faro em 1914.
Nomeado Cavaleiro da Ordem de Santiago de Espada e Comendador da Ordem Equestre de São Silvestre.
Desenvolveu uma obra escultórica de feição clássica, marcada pela serenidade e pela depuração das formas, tendo-se  dedicado especialmente ao retrato em estátuas ou bustos.
De entre os seus melhores trabalhos destaca-se o baixo-relevo representando a Batalha de Aljubarrota e a estátua de São Vicente (exibida na Exposição do Mundo Português, em 1940), a escultura de Santo António (Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Lisboa), as alegorias à Ciência e à Arte (Pavilhão dos Desportos, Parque Eduardo VII, Lisboa), a estátua de Vasco da Gama (Aquário Vasco da Gama, Lisboa), a escultura de Nossa Senhora de Fátima (Palácio Nacional de Queluz), os bustos do Coronel Mesquita (Museu Militar, Lisboa), de Camões (Universidade da Califórnia, E.U.A) e de Rafael Bordalo Pinheiro (Museu deste artista, no Campo Grande, em Lisboa), os Leões da Escadaria e a estátua da Prudência (Palácio de S. Bento – Lisboa). (3)

Raul Xavier - Monumento à BatalhaMonumento a Nuno Álvares Pereira (ou Monumento à Batalha , 1959 (4)

Alegoria a D. Nuno Álvares Pereira: Atoleiros, Aljubarrota, Valverde, 1959, Campo de S. Jorge (Leiria)
Este baixo-relevo monumental de inspiração clássica e assinalável depuração formal, é uma das obras mais emblemáticas de Raúl Xavier. O monumento é antecedido de uma plataforma com vários degraus, como se de um pódio se tratasse impondo-se ao espectador como um «friso» monumental concavo, numa alusão à batalha de Aljubarrota (mas também às batalhas dos Atoleiros e de Valverde) travada entre os exércitos português e castelhano, numa exaltação à vitória dos portugueses liderados por D. Nuno Álvares Pereira (1)

Raul Xavier - S. VicenteS. Vicente – Escultura de Raul Xavier e Luis Xavier (1949-1967) (5)

Raul Xavier - PrudênciaEstátua da Prudência no Palácio de S. Bento (1939) (6)

(1) http://www.geni.com/people/Raul-Xavier/6000000024128103125
(2) https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Raul_Xavier_Le%C3%A3o_Pal%C3%A1cio_de_S_Bento.jpg
(3) Dados recolhidos de
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Xavier
http://pagfam.geneall.net/1116/pessoas.php?id=1015636
http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/7883/4/ULFBA_TES%20324_3.pdf
(4) https://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_Xavier#/media/File:Raul_Xavier_Alegoria_a_D._Nuno_%C3%81lvares_Pereira_IMG_8793.JPG
(5) http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/s-vicente
(6)
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pal%C3%A1cio_de_S%C3%A3o_Bento_-_A_%22Prud%C3%AAncia%22.jpg
NOTA: O Museu Municipal Santos Rocha na Figueira da Foz, possuiu uma centena de trabalhos (escultura e medalhística)  de sua autoria, doados entre as décadas de 50 e 60 pelo próprio e pelos seus familiares e amigos.