Archives for posts with tag: Eugénio de Andrade

O poeta Eugénio de Andrade (1923-2005) (1) visitou Macau em Outubro de 1990 e registou as suas impressões no “Pequeno Caderno do Oriente”, (2) formado por um conjunto de textos em prosa poética e em verso (3)

JARDIM DE LOU LIM IEOC

Deste jardim o que levo comigo

É um ramo de bambu para servir

De espelho ao resto dos meus dias

Lou Lim Iok Garden/ Jardim de Lou Lim Iok. PHOTO: 譚永強 Tam Weng Keong (4)

TEMPLO DA BARRA

O verde dos bambus mais altos é azul

Ou então é o céu que pousa nos seus ramos

A-Ma Temple / Templo A-Ma – PHOTO: A. Roland (5)

APROXIMAÇÃO DE COLOANE

O primeiro pregão da luz insegura

A cercada voz do azul das ilhas

A marítima sombra das palmeiras

Ardendo entre as águas e a bruma.

Avenida Cinco de Outubro, Coloane, década de 90 (século XX)

(1) Ver anteriores referências a Eugénio de Andrade: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/eugenio-de-andrade/

(2) ANDRADE,Eugénio de – Pequeno Caderno do Oriente «Revista da Cultura», n.º 18 (II Série) Janeiro-Março de 1994, pp.183-216. Edição do Instituto Cultural de Macau. Existe versão em Chinês e em Inglês. http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30011/1584

 (3) PUGA, Rogério Miguel (coord) – Macau na Obra de Eugénio de Andrade in E-Dicionário de Escrita de Viagens Portuguesa.

(4) Colecção Macau – LH 112 – Lou Lim Iok Garden (17, 5 cm x 12,5 cm). “Built by a wealthy chinese merchant in the 19th century, this garden is modelled on those of Souchow, most famous of all Chinese classical gardens”. Ver anteriores referências a este jardim em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ioc/

Ver anterior foto-postal de 譚永強-Tam Weng Keong: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/10/05/postal-greetings-from-macau-residencia-santa-sancha/

(5) Colecção Macau – LH 111 – A-Ma Temple (17,5 cm x 12, 3 cm). “This temple dedicated to the seafarer´s Goddess A-Ma, dates from the early 16 th. Century

A Jau

Sou a tua presença, aos pés, calada, quieta,
Ò jau, com quem me identifico tanto,
Nesta gruta onde estou e escuto o canto
Das cigarras que é, hoje, a voz do teu poeta.
António sou (tenho o teu nome)
E escravo, também, da poesia.
Para ela é que estendo, em cada dia,
A mão à minha fome.

António Manuel Couto Viana (10.6.86) (1)

Camões e Jau (2)
Theobald Reinhold Freiherr von Oer, c. 1850

NOTA: O escravo indonésio natural da ilha de Java (Jau) a quem foi dado o nome cristão de António ficou conhecido em Portugal como o criado de Camões tendo acompanhado o poeta desde a Índia.
Terá assistido à morte de Camões na Calçada de Santana, juntamente com a mãe do poeta. Desconhece-se o destino do Jau após a morte do poeta. A sua existência é  referenciado por Pedro de Mariz (c 1550 – 1615; bibliotecário, historiado e escritor)

.. viveu em tanta pobreza, que se não tivera um jau,
chamado António, que da Índia trouxe, que de noite pedia
esmola para o ajudar a sustentar, não pudera aturar a vida.
Como se viu, tanto que o jau morreu, não durará ele muitos
meses.
Pedro de Mariz

Lembro aqui a propósito de Jau, outro poeta, Eugénio de Andrade: Lamento de Luís de Camões na morte de António, seu escravo”

Marginal
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
– eu vi terra limpa no teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.

(1) In Macau – p.59 Suplemento da Revista Latina, Maio de 1991.
Anteriores referências deste poeta em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/
(2) Ver outro quadro de Camões com o escravo Jau em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/04/macau-e-a-gruta-de-camoes-xxxi-francisco-augusto-metrass/

COM PALAVRAS AMO – livro (1) com poesias de Eugénio de Andrade (2), traduzidas para chinês por Yao Jingming, editado pelo Instituto Cultural de Macau, em  1990.

Com Palavras Amo - Eugénio de Andrade1990 CAPACAPA

IGNORO O QUE SEJA A FLOR DA ÁGUA

Ignoro o que seja a flor da água
mas conheço o seu aroma:
depois das primeiras chuvas
sobe ao terraço

entra nu pela varanda,
o corpo inda molhado
procura o nosso corpo e começa a tremer:
então é como se na sua boca

um resto de imortalidade
nos fosse dado a beber,
e toda a música da terra,
toda a música do céu fosse nossa,

até ao fim do mundo
até amanhecer (3)

Com Palavras Amo - Eugénio de Andrade1990 CONTRACAPACONTRACAPA

Eugénio de Andrade(1) ANDRADE, Eugénio – Com Palavras Amo. Antologia Bilingue Português-Chinês. Tradução para chinês: Yao Jingming. Instituto Cultural de Macau, 1990, 113p., ISBN 972-35-0091-1. (23 cm x 15, 8 cm).

NOTA: No dia 9 de Outubro de 1990, foi inaugurada na Livraria Poruguesa, uma exposição de retratos do poeta, na ocasião do lançamento da antologia bilingue (português-chinês) “Com Palavras Ano”. No dia anteior, 8 de Outubro, houve um recital de poesia no Leal Senado.
(2) Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, (1923 – 2005), esteve em Macau, em Outubro de 1990, tendo escrito 12 pequenos poemas, apontamentos e textos em prosa poética, publicados em “Pequeno Caderno do Oriente”.
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/eugenio-de-andrade/
(3) Página 67 do livro citado em (1)

Março voltou, esta
ácida loucura de pássaros
está outra vez à nossa porta,
o ar
 
de vidro vai direito ao coração.
Também elas cantam, as montanhas:
somente nenhum de nós
as ouve, distraídos
 
com o monótono silabar do vento
os doutros peregrinos.
Já sabeis como temos ainda restos
de pudor,
 
e pelo mundo
uma enorme, enorme indiferença
Eugénio de Andrade (1)

Eugénio de Andrade(1) ANDRADE, Eugénio de – Com Palavras Amo. Antologia Bilingue Português -Chinês . Selecção e tradução de Yao Jingming. Instituto Cultural de Macau, 1990,114 p., ISBN 972-35-0091-1.
Sobre Eugénio de Andrade (1923-2005) ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/eugenio-de-andrade/
Yao Jingming traduziu para chinês outras obras de Eugénio de Andrade nomeadamente as publicadas em
Uma Antologia de Eugénio de Andrade.  Poetry & People, Guangzhou, 2004.
O Outro Nome da Terra. Cultural Institute of Macau & Flower Mountain Literature Press, Macau/ Shijiazhuang, 1994.
Com as Palavras Amo. Instituto Cultural de Macau, 1990.

No ar imóvel a pedra começa.
Sou-lhe fiel pelo seu aroma.
Vim de longe para tocar o fogo
da sua geometria sem fronteiras.
Pedra ferida. pedra acariciada.
Pedra profunda. Subindo alto.

Eugénio de Andrade (1) (2)

Templo de Á Má DSTMTemplo de A-Má – Barco Pintado na Rocha  (Postal da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau. Lito: Imprensa Nacional de Macau, sem data impressa)

Pequeno Caderno do Oriente Eugénio Andrade(1) Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, (1923 – 2005), esteve em Macau, em Outubro de 1990, tendo escrito 12 pequenos poemas, apontamentos e textos em prosa poética, publicados em “Pequeno Caderno do Oriente”. A obra foi ilustrada pelo arquiteto e artista plástico Carlos Marreiros e publicada na Revista de Cultura de Macau em Novembro de 1993. Posteriormente, a obra foi traduzida em inglês por Rui Cascais e em chinês por Yao Jingming (3), sendo editada em 2002 por iniciativa do Instituto Camões, Instituto Cultural da RAEM e Instituto Português do Oriente.
(2) ANDRADE, Eugénio de –  Pequeno Caderno do Criente. (Notebook of the Orient: 東方札記),  des. e il. Carlos Marreiros; trad. Rui Cascais, Yao Jingming. Macau: Instituto Camões, Instituto Cultural da RAEM, Instituto Português do Oriente, 2002, 106 p. ; 30 cm.
(3) Yao Jingming traduziu para chinês outras obras de Eugénio de Andrade nomeadamente:
Uma Antologia de Eugénio de Andrade.  Poetry & People, Guangzhou, 2004.
O Outro Nome da Terra. Cultural Institute of Macau & Flower Mountain Literature Press, Macau/ Shijiazhuang, 1994.
Com as Palavras Amo. Instituto Cultural de Macau, 1990.
NOTA: aconselho a leitura de “Despedida e Desprendimento no pequeno caderno do oriente de Eugénio de Andrade” de António José B. Menezes Jr em
http://www.revistas.usp.br/desassossego/article/view/47392