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Retrato oficial (póstumo) do Presidente Sidónio Pais (1937), por Henrique Medina. Museu da Presidência da República.

O Presidente da República Portuguesa, Dr. Sidónio Pais, 3.º Presidente eleito (primeiro e único eleito por sufrágio directo na 1.ª República) (Presidente – Rei como lhe chamou Fernando Pessoa), foi assassinado em Lisboa, vítima de um atentado, na Estação do Rossio, em 14 de Dezembro de 1918. (1)

Já em 5 de Dezembro, Sidónio Pais sofrera um primeiro atentado, durante a cerimónia da condecoração dos sobreviventes do Augusto de Castilho, do qual conseguiu escapar ileso. Não conseguiu escapar ao segundo, levado a cabo com dois tiros de pistola pelo ex-sargento José Júlio da Costa, (1893-1946) (republicano radica) na Estação do Rossio, acabando por falecer no Hospital de São José (Lisboa) (2)

Bilhete-Postal de 1919, (de autor desconhecido) retratando o assassinato do Presidente Sidónio Pais na Estação Ferroviária de Lisboa-Rossio, no dia 14 de Dezembro de 1918.

No Boletim Oficial (suplemento ao n.º 50), (n.º 11), de 15 de Dezembro, publicava-se ainda o telegrama enviado de Lisboa de 14-XII-1918 ao Governador de Macau, informando-o do malogro da primeira tentativa de assassinato “ … não teve consequências, assassino disparou de entre o povo que aclamava tendo falhado cartuxo…”

O conhecimento da morte foi publicado no 2.º suplemento ao N.º 50 do Boletim Oficial (N.º 12), de 18 de Dezembro. Telegrama de Lisboa do Ministro das Colónias, de 16-12-1918: “Sidónio Pais agredido tiros revolver estação Rocio ao embarcar para Porto falecendo momentos depois. …”

Um terceiro suplemento ao N.º 50 do Boletim Oficial (n.º 13) foi publicado no dia 19 de Dezembro, o Ministro das Colónias comunicava ao Governador Artur Tamagnini Barbosa, com a data de 17 de Dezembro da eleição por unanimidade de João de Canto e Castro da Silva Antunes (1862-1934) para Presidente (de 16 de Dezembro de 1918 a 5 de Outubro de 1919)

O Governador Artur Tamagnini Barbosa em 8 de Janeiro de 1919, tomou a resolução para que a Estrada da Flora passasse a denominar-se Avenida Sidónio Pais embora em chinês continuasse a ser conhecida pela fonte que aí se encontrava: “I Long Hao” (3)

(1) Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (1872-1918), militar, professor universitário (formado em matemática) e político foi empossado Presidente da República a 9 de Maio de 1918, mas já liderava o Governo desde 12 de Dezembro de 1917 (por ausência de um presidente da República) após a “vitória” das forças revolucionarias” por si comandadas, a 8 de Dezembro de 1917.  Em 1966, os seus restos mortais foram trasladados solenemente para o Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, aquando da sua inauguração. A cerimónia ocorreu no dia 5 de dezembro e homenageou igualmente com estas honras outros ilustres portugueses. Antes disso, o seu corpo encontrava-se na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos.

Ver anterior referência em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/12/14/noticia-de-14-de-dezembro-de-1918-morte-de-sidonio-pais/

(2) Segundo algumas versões, as duas balas foram disparadas de duas direcções. O primeiro projéctil alojou-se junto do braço direito do Presidente, e o segundo, fatalmente, no ventre, fazendo com que a vítima caísse de imediato por terra. José Júlio da Costa faleceu em 1946, com 52 anos de idade, internado no Hospital Miguel Bombarda, depois de 28 anos de prisão sem direito a julgamento.

(3) “8-01-1919 – Resolução tomada pelo Governador para que a Estrada da Flora passe a denominar-se Avenida de Sidónio Pais. “ (A.H. M. – F.A.C., P. n.º 578 – S-R) .

Ver anterior referência em:https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/estrada-da-flora/

Anúncio do Restaurante “Vasco da Gama” situado na Estrada da Flora n.º 13 em 1898

Extraído de «Echo Macaense», V-95 de 8 de Maio de 1898 p. 4

Continuação da publicação dos postais de Macau digitalizados do «Jornal Único» de 1898 (1)

NOTA:Os chichés das vistas photographicoas foram tirados pelo photographo amador Carlos Cabral. Todos os trabalhos respeitantes a este «Jornal Único» foram executados em Macau
Extractos do artigo de Augusto Cézar d´Abreu Nunes ”Avenida Vasco da Gama”, publicado no «Jornal Único».
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jornal-unico/
http://purl.pt/32511/3/html/index.html#/1

No dia 5 de Maio de 1865, um grande incêndio na povoação da Horta da Mitra, em que 200 barracas de chineses foram devoradas pelas chamas. Provavelmente acidente provocado por panchões do Ano Novo Chinês (1) (2)
O bairro da Horta da Mitra ou do Bispo estava mais ou menos limitado pela Rua do Noronha e por parte das Ruas de Henrique Macedo, de Tomás da Rosa, de Horta e Costa, da Colina e Nova à Guia.
Ficavam situadas dentro deste bairro as Ruas da Cal, da Mitra, (3) da Surpresa, de Dezoito de Dezembro, parte das Ruas de Tomás da Rosa e de Henrique Macedo, as Travessas do Mercado Municipal e de S. João, bem como o largo do Mercado Municipal e o Mercado da Horta da Mitra. (2)
O bairro de Horta da Mitra (4) contígua ao bairro de Volong eram os locais mais salubres do território e devido aos problemas de higiene pública sofreram posteriormente alterações com o saneamento. No Bairro de Volong onde teve início o foco de infecção nas epidemias da peste e da cólera, foi expropriada por utilidade pública em 1894 e saneada. Tinha uma área de 200 hectares, limitado ao norte pela Estrada do Cemitério, ao sul pela Ferreira do Amaral, a leste pela Estrada da Flora e a oeste pela Rua de S. Lázaro. Em 1897 a área foi entregue ao Leal Senado e depois à Repartição de Obras Públicas para se proceder a obras de abertura das ruas, construção de canalização de esgoto e alicerces das casas particulares. O bairro de S. Lázaro também contíguo e um dos focos da epidemia da peste de 1896, seria saneado em 1900 (2)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, p. 468.
(3) Rua da Mitra: começa na R. da Colina, em frente da R. da Vitória e termina na R. do Noronha , entre a Travessa do Mercado Municipal e a Rua da Cal (2)
(4) Sobre Horta da Mitra, ver anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/11/postal-de-1940-mercado-municipal-da-horta-da-mitra/+
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/horta-da-mitra/n

No dia 14 de Dezembro de 1918, o Presidente da República Portuguesa, Dr. Sidónio Pais, foi assassinado quando embarcava para o Porto na Estação do Rossio (Lisboa) por José Júlio da Costa, que veio a falecer num  manicómio.
O seu nome foi dado a uma Avenida principal em Macau, por resolução tomada pelo Governador em 8 de Janeiro de 1919. Assim, a antiga «Estrada da Flora» passou a ser denominada «Avenida Sidónio Pais» conquanto em chinês a mesma Avenida ainda é conhecida pela fonte «I LON HAO», (1) de generoso caudal, que ali se encontra (2).
A Avenida de Sidónio Pais começa na Rua de Ferreira do Amaral, junto da Rua da Caixa Escolar e termina entre a Avenida do Coronel Mesquita e a Estrada de Cacilhas, em frente da Estrada de Ferreira do Amaral.
sidonio-pais-1872-1918Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (1872-1918). Tirou o curso de Artilharia, foi promovido a alferes em 1892, a tenente em 1895 e a capitão em 1906. Em 1898, formou-se em Matemática pela Universidade de Coimbra, sendo nomeado Professor Catedrático de Cálculo Diferencial e Integral da Universidade e professor da Escola Industrial de Brotero, de que foi diretor em 1911.
Exerceu os cargos de deputado à Assembleia Constituinte após a implantação da República, de ministro do Fomento (ministério de João Chagas em 1911), de ministro das Finanças (ministério de Dr. Augusto de Vasconcelos Correia em 1911-1912), de ministro plenipotenciário de Portugal (embaixador) em Berlim (1912- até 1916, data em que a Alemanha declarou a guerra a Portugal).
Derrubou num golpe militar (5 a 8) o governo de Bernardino Machado em 1917 assumindo a chefia do país – presidente da Junta Revolucionária de 1917 – destituindo Bernardino Machado do cargo de Presidente da República e forçando o seu exílio. Nesse processo, a 11 de Dezembro de 1917, Sidónio Pais tomou posse como presidente do Ministério (atual primeiro-ministro), acumulando as pastas de Ministro da Guerra e de Ministro dos Negócios Estrangeiros e, já em profunda ruptura com a Constituição de 1911, que ajudara a redigir, a 27 de Dezembro do mesmo ano, assumiu as funções de Presidente da República, até nova eleição.
Enquanto presidente da República, exerceu o cargo de forma ditatorial, suspendendo e alterando por decreto normas essenciais da Constituição Portuguesa de 1911. Fernando Pessoa chamou-lhe Presidente-Rei.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sid%C3%B3nio_Pais
http://www.presidencia.pt/?idc=13&idi=34
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/sidonio.html
(1) I Long Hau Fa Un – Jardim das duas torneiras também conhecida por Ho Tung Fa Un – Jardim de Ho Tung (nome do antigo proprietário Sir Robert Ho Tung) ou Jardim da Flora.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.

Em 24 de Julho de 1901 foi declarada a utilidade pública para expropriação dos prédios existentes nas várzeas de Mong-Há entre a Estrada da Flora (hoje, Avenida Sidónio Pais), Estrada Adolfo Loureiro, Estrada Coelho de Amaral ( o troço desta estrada que vai desde a Avenida de Horta e Costa até à Avenida do Coronel Mesquita teve a designação de Estrada de Mong-Há) e a povoação de Mong Há, no total de cerca de 350 000 m3 para construção de ruas, largos e avenidas do novo bairro que ali vai ser edificado. (1)
VÁRZEA DE MONG-HÁNos anos da minha infância era uma planura recortada de hortas e várzeas de arrozal, com um lago de água límpida e quadros de vida rural chineses, apenas chamuscada por humildes povoações e esparsas casas de campo. Respirava-se ali o céu aberto, a planura varrida, sem oposição, pela nortada siberiana no pino do inverno ou torriscante, praticamente sem sombra , nos meses prolongados da canícula. Na primavera revestia-se de flores silvestres, no outono carpia toda a melancolia dos ocasos.
Em tempo mais remoto caçavam-se nas várzeas a rola, a narceja, os passarinhos ou pardais do arrozal, os rice-birds que a cozinha do Restaurante Fat Sio Lau  tornava saborosíssimos e se comiam assados com oleoso pão torrado em forma triangular e pulverizados por uma pimenta especial. O meu pai falava ainda de almoçaradas de arroz-de-passarinhos amanteigado, um prato hoje inteiramente defunto da gastronomia ou mesa macaenses.
Fora de portas e bucólica, Mong-Há enchia-se de gente de cidade quando se anunciava o circo que nos visitava diversas vezes, instalando-se sempre no mesmo terreno baldio. Então eram dias fora de comum. Embascava-se com os elefantes, os cavalos, os macaquinhos e os papagaios, tolhido de respeito  diante das feras enjauladas, os tigres e leões, toda uma fauna nunca vista. Havia depois a parada dos trapezistas, acrobatas, contorcionistas, moças loiras equilibristas e palhaços que, nos entanto, me metiam medo, com as máscaras deformadas pela pintura, vestimenta burlesca sapatos descomunais. Em destaque, o destemido domador das feras, com o seu chicote flagelante.
Certo terreno baldio, que não consegui localizar, servia de teatro  para outro entretimento. O futebol. Nessa altura, não havia campo desportivo para modalidade ainda incipiente e abaixo em importância do hóquei em campo. Foi, porém, ali naquele terreno improvisado que se desenvolveu o gosto pela prática desse desporto, com os primeiros encontros entre dois grupos rivais, o Argonauta e o Tenebroso, rivalidade feroz e emocionante que s estendeu até  a Guerra do Pacífico. A “cidade cristã” dividiu-se em duas facções, os aficcionados mais exaltados em intermináveis discussões que, amiúde, acabavam em corte de relações e até vias de facto.” (2)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(2) FERNANDES, Henrique de Senna – Mong-Há, 1998.
Anteriores referências a Mong-Há em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/mong-ha/

Continuação da publicação das fotografias deste pequeno álbum (1)

“SOUVENIR DE MACAU” 
Souvenir de Macau 1910 Estrada da Av Vasco da GamaESTRADA DA AVENIDA VASCO DA GAMA

A área do T´ap Seac (que significa Torre de Pedra a qual deve ter existido nesse local) era uma extensa várzea, que foi saneada quando se abriu a ampla Avenida de Vasco da Gama de 65 m de largura e 500 m de extensão. Esta avenida desapareceu para nela ser construídos o monumento de Vasco da Gama, a Escola Luso-Chinesa Sir Robert Ho Tung, o Hotel Estoril, as Escolas Primárias Municipais, a Escola Infantil e o Comando a Polícia de Segurança Pública.” (2)

Souvenir de Macau 1910 Estrada da FloraESTRADA DA FLORA

Nos Bairros de T´ap Seac, de Sá Kong e de Mong Há, entre a Estrada da Flora, a Estrada Adolfo Loureiro, a Estrada Coelho do Amaral e a povoação, existiam extensas várzeas de 300 mil metros quadrados de área, as quais pelas águas das chuvas represadas pelos agricultores e pelo adubo que nelas se empregava – fezes humanas – constituíam um grande foco de infecção e de paludismo. O governador, José Maria de Sousa Horta e Costa (1894-1897), que era capitão de engenharia, a quem Macau muito deve no campo de sanidade, dedicou-se ao saneamento desses bairros começando pelo de T´ap Seac.” (2)
(1)  https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/29/macau-de-1910-souvenir-de-macau-i/ 
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol I, 1997.

Extracto dum artigo da escritora Bella Sidney Woolf (Mrs W. T. Southorn) (1) de 1929

“Macao has this exotic attraction…(..)
In thid peaceful sunny spot the Portuguese founded a little replica of their homeland. There is a fascination in travelling a few hours and finding a foreign atmosphere. The names of the streets – the tree-shaded Praia Grande, Estrada da Flora, Rua de S. Lourenço – how they carry one cross thousands of miles. How sonorously ring the Portuguese words, Escola de Artes, Orfanato da Imaculada Conceição, Santa Casa da Misericórdia…(…)
Then in the swift run round the town in a car, the dream continues, for we wind in and out among those green-shuttered, white-washed houses, and we read more street names in Portuguese, and we swoop down upon the the Praia Grande, peopling its tree-shaded allée with bearded dons and dark-eyed damsels. The noble ruin of St. Paul´s looks  down upon the town, a memento mori in the midst of so much smiling beauty. The fine hotels rise up in worldly pride – schools, hospitals, shops flash past us.
And then we find ourselves in a peaceful garden under age-old trees with guarled roots and far-reaching boughs. Before us is the bust of Camoens, the sweet singer od the Lusiad, who in this spot. far from home and kindred, composed his world-famed verses…(…)
To me it stands for Macao, the Loyal City, glowing through the ages – vigorous and undaunted as the spirit of the men who founded her”

(1) Bella Sidney Woolf  (1877 – 1960), escritora inglesa, irmã de Leonard Woolf (escritor) e esposa (segundo casamento) de W. T. Southorn (2) que foi secretário Colonial do Governo de Hong Kong. Visitou Macau a convite do Governador Artur Tamagnini Barbosa (2º mandato) possivelmente entre 1926 e 1929.
É autora de 13 livros (referenciados na wikipédia (3)) entre ficção ( a maior parte são contos baseados na experiência da sua vida pessoal e relacionados com a sua estadia nas colónias britânicas) e histórias infantis.
(2) W. T. Southorn (Wilfrid Thomas Southorn 1879 – 1957) foi Secretário Colonial do Governo de Hong Kong (e substituto do Governador de Hong Kong, Sir Cecil Clementi em muitas ocasiões, de 1925 a 1930). Antes foi durante muitos anos Administrador Colonial em Ceilão (onde conheceu Bella Sidney Woolf) e depois,  Governador da Gâmbia.
(3) http://en.wikipedia.org/wiki/Bella_Sidney_Woolf