Archives for posts with tag: Estação Fluvial da Ilha Verde

Na sequência da publicação da fotografia do 1.º reservatório de águas de Macau (1) encontrei outras duas fotos, também do ano de 1927, referentes a outros reservatórios que existiram em Macau.
O coronel engenheiro Adriano Augusto Trigo, em 1919, quando foi nomeado Director dos Serviços de Obras Públicas, comprometeu-se resolver o problema da falta crónica do abastecimento de água potável, aproveitando  somente os recursos hidrográficos de Macau. Traçou um plano  que abarcava duas áreas. Uma referente a águas fluviais, com os projectos (todos concluídos em 1925) de construção de um reservatório na Colina de Guia  e outro na Flora, para aproveitamento das águas da Colina da Guia (2) e implementação de sete fontenários na cidade, para a sua distribuição.  Para as águas subterrâneas recomendou pesquisas no vale de Mong Há. (3)
Em 2 de Abril de 1923, foi aberto um concurso para «Distribuição de água potável explorada na Colina da Guia » com arrematação em hasta pública nesta data. (4)
ANUÁRIO de 1927 - Reservatório da FloraMas o primeiro reservatório (1) foi logo abandonado devido ao seu pequeno tamanho e capacidade armazenamento de água  para um regular abastecimento ao público.
ANUÁRIO de 1927 - Reservatório da Colina da GuiaAssim foi logo construído um segundo reservatório na Colina da Guia mais acima, a meio da encosta onde hoje (desde 1997)  é um “anfiteatro”/campos de jogos de actividades de lazer, entre a “Estrada das 33 curvas” projectada em 1924 pelo mesmo engenheiro António Augusto Trigo, em baixo e o circuito de manutenção, em cima.

Reservatório da Colina da Guia 2015ASPECTO ACTUAL DO TOPO DO ANTIGO RESERVATÓRIO (ABRIL DE 2015)

Um novo reservatório surgiria após a constituição, no dia 13 de Julho de 1935, por escritura pública, da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau, Limitada (SAAM), uma empresa inglesa, também conhecida por “The Macao Water Supply Company, Limited.” Assinou contrato do exclusivo do abastecimento de água à cidade, com o Leal Senado, dois dias depois, por um prazo de 60 anos. De acordo com o contrato, o gerente geral da sociedade era Frederick Johnson Gellion, também gerente da “The Macao Electric Lighting Company, Limited.” (MELCO)
A sociedade com um novo plano para o abastecimento de água potável a Macau captando a água no estuário junto à Ilha Verde. decidiu construir o novo reservatório principal num terreno baldio conquistado ao mar, situado no Porto Exterior.  A construção de uma estação de tratamento na Ilha Verde, de uma estação elevatória e do referido reservatório no Porto Exterior, ficaram concluídos em 1936. (5)

O Reservatório do Porto Exterior 2015O RESERVATÓRIO DO PORTO EXTERIOR (ABRIL DE 2015)

“… Logo de começo ainda antes de elaborar o anteprojecto de Obras do Porto Exterior, foi, planeado por esta Direcção uma captação vulgar de aguas pluviais, na Colina Este da Guia, que na parte considerada podia produzir cêrca de 20.000 m3 por ano para o porto e bem assim o aproveitamento da Fonte da Solidão que tem sido praticamente desaproveitada, ficando a agua com bastante carga para ser distribuída em elevação e podendo a obra ser feita a expensas do Conselho de Administração das Obras dos Portos; mas com a resolução atraz dita, cabia esse trabalho á Direcção de Obras Publicas e esta intendeu por melhor estender ali o sistema que estava empregando na face Oeste da Guia, isto é de provocar maior infiltração por meio de canais horizontais permeáveis, e quanto ás aguas da Fonte de Solidão decidiu canalisal-as para a cidade pelo tunel que foi aberto; tendo então sido prometido que o volume de 20.000 m3 seria fornecido pelo grande manancial que fôra descoberto em camada profunda do subsólo na baixa de Monghá; mas vê-se agora que as esperanças neste manancial não eram tão bem fundadas pelo menos quanto ao processo de captação propriamente dito e o abastecimento de agua ao terreno do porto ficou assim de alguma forma prejudicado.”
LACERDA, Hugo Carvalho de – Obras dos Portos de Macau, Memórias e Principais Documentos desde 1924, 1925.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/02/postal-de-1927-o-primeiro-reservatorio-de-macau-e-o-paiol-da-solidao/
(2) “03-06-1922Importante acta de uma sessão do Conselho Técnico das Obras Públicas, a 5.ª, de 11 de Maio p.p. é publicada no B.O. n.º 22 desta data. Intervêm duas figuras que deixaram obra em Macau. O director das Obras Públicas (Eng Adriano  Trigo) e o Chefe dos Serviços de Saúde, Dr. Morais Palha. Intervêm também o Director das Obras dos Portos (Eng. Hugo de Lacerda Castelo Branco), o vogal deste Conselho Técnico (Eng. Duarte Abecassis) ao serviço da Direcção das Obras dos Portos. Fala-se de sondagens geológicas, de obras na Praza Luís de Camões, da descoberta de abundantes águas no sopé da Guia, etc ” (4)
(3) A ribeira de Patane (em chinês a zona é conhecida por “Soi Hang Mei” – 水坑尾) era um braço de rio que se bifurcava e chegava perto da Aldeia de Mong Há. A água era, naturalmente salobra, mas ali ia desaguar uma verdadeira ribeira de boa água, com nascente no Monte da Guia, ribeira que, depois, ficou reduzida ao antigo charco que veio a dar a Fonte da Inveja, próximo do Jardim da Flora (AMARO, Ana Maria – Das Cabanas de Palha às Torres de Betão, 1998, p.72)
水坑尾mandarim pinyin: shuǐ kēng wěi; cantonense jyutping:  seoi2 haang1 mei5
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(5) CRUZ, Patrícia – A longa luta de Macau pela água potável , em:
http://www.revistamacau.com/2015/06/29/a-longa-luta-de-macau-pela-agua-potavel/

Anúncio SAAM 1938 portuguêsDois anúncios de 1938 (um em português, outro em inglês) publicitando a “água pura” proveniente da canalização instalada pela Sociedade “Abastecimento de Águas de Macau Ltd” (S.A.A.M.)

“Água pura, em abundância, facilmente obtida para todos os usos domésticos e industriais e fornecida
rapidamente pela
Sociedade de Abastecimento de Água de Macau Ltd.
Rua Central N.º 2ª Telefones 962 e 966

Anúncio SAAM 1938 inglêsO abastecimento de águas à cidade de Macau, iniciou-se em 19 de Julho de 1936, com a inauguração da estação fluvial, no norte da Ilha Verde, e o reservatório, no Porto Exterior. (GOMES, L.G. Efemérides da História de Macau).
A “Macau Electric Lighting Co. Ltd” (MELCO), “General Managers” da S.A.A.M., era a Companhia que tinha o exclusivo fornecimento da energia eléctrica à cidade de Macau (contrato de concessão desde 18 de Novembro de 1933) (SILVA, B. B. – Cronologia da História de Macau, Vol. 4).

Um anúncio da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau Limitada (S. A. A. M.)
Publicado em 1956.

Podeis beber, com toda a segurança, a água que
corre da torneira. Ela é tratada, cientificamente
a garantir a vossa SAÚDE

 Anúncio SAAM 1956

Roteiro do Ultramar Estação Bombagem águasA propósito de um “post” recente acerca de um postal de 1958 (1), em que referia a localização da central de bombagem de água na Ilha Verde, este anúncio “corrige” o erro.
A Central das Bombas e Laboratório Químico ficava na Avenida Conselheiro Borja; a Estação Fluvial é que ficava na Ilha Verde.
A sede da S.A.A.M estava na Rua da Praia Grande, n.º 63.
Com horas de expediente de manhã e de tarde, curiosamente, os escritórios desta Companhia, não estavam abertos nas quartas e sábados à tarde.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/01/postais-de-macau-de-1958-vi/

Quando se podia pescar no reservatório mas só com licença…

Exemplar retirado da revista Nam Van (1), referente ao ano de 1961. Nas décadas de 50 e 60, era comum a presença destes “pescadores” , “empoleirados” nas rochas do lado norte/nordeste do Reservatório (do lado da Estrada de Cacilhas e da curva de D. Maria), durante horas , “tentando” pescar “uns peixitos”.
Licença pesca II

Como se pode ver pela licença havia dois locais onde se podia pescar, com autorização: no Reservatório e na Estação Fluvial (Ilha Verde), com regras/condições, que em caso de incumprimento, estavam sujeito a”coimas”. A pesca só estava autorizada a determinados meses do ano (nos meses do Verão)
Licença pesca I

(1 ) ALECRIM, Alberto – Um dos últimos de Man-Ió, in MACAU, Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau, n.º 20, Fevereiro de 1990, pp. 66-67