Conferência pronunciada, no Salão Nobre do Leal Senado, no dia 28 de Fevereiro de 1948, por António Maria da Silva, chefe de Repartição Técnica do Expediente Sínico aposentado, e advogado (1)
Canonização S. João Brito“Como V. Exas, devem ser conhecimento, todas as representações das nossas possessões ultramarinas, na peregrinação a Roma, ao regressarem às suas terras, testemunharam publicamente o seu profundo reconhecimento pela forma cativante como foram recebidas  não só  pelos seus irmãos metropolitanos, mas também pelos supremos dirigentes do nosso grande País… (…)… Faziam parte da Delegação de Macau alguns católicos de pura raça chinesa. estes foram recebidos na Metrópole com igual entusiasmo e tratados com o mesmo carinho e afecto….(…)…  Saímos de Hong Kong pelas 8 horas, do dia 3 de Junho de 1947, e, no dia 7, o “Skymaster” norueguês, que nos levou, descia no aeroporto de Lisboa, pelas 13  horas. Se não tivéssemos passado a primeira noite em Bangkok, a segunda em Karachi e a terceira na encantadora cidade do Cairo, onde nos demorámos 27 horas, o mesmo avião ter-nos-ia transportado de Hong Kong a Lisboa em 18 horas!
Admirável progresso da ciência moderna !!
No aeródromo de Portela aguardavam-nos o Sr. Dr. Braga Paixão, representando a Comissão Organizadora da grandiosa peregrinação, o Deputado por Macau, Sr. Tenente-coronel Fontoura da Costa, um representante do Governo, outro do Patriarcado, alguns amigos, jornalistas e fotógrafos. No dia seguinte, a Delegação de Macu foi recebida por S. exa., o Sr. Ministro das Colónias…(…)… Esta deputação de portugueses de 4 continentes do mundo, incluindo o Rei do Congo, D. Pedro VII, com sua esposa e os príncipes, ali se reuniu em Lisboa, donde se seguiu para a Cidade Santa, para render homenagem a um insigne compatriota, morto ao serviço da Religião e da Pátria.  Às 2 horas da da tarde, realizou-se uma solene recepção, concedida por S- Exa. o Presidente da República, Sr. Marechal Carmona, no Palácio de Belém…..(…)…  Ao cair da tarde, entre palmas e aclamações, o paquete Mouzinho largava o porto de Lisboa. Com uma esplêndida viagem, chegámos 5 dias depois a Civitá Vecchia, donde fomos transportados para a Cidade Santa em dezenas de auto-ónibus… (…)… Depois de mais alguns dias em Roma, seguimos de comboio para Assis, percorrendo os lugares santos do Poverello e dali para Florença e Génova, atravessando a maravilhosa Riviera italiana. Em Génova embarcámos novamente no Mouzinho e 5 dias depois desembarcávamos em Lisboa…”
Canonização S. João Brito IIEste exemplar está assinado pelo autor na 1.ª página. Tem a seguinte dedicatória: “Ao  “meu” (?) caro Dr. Fernando Pacheco. Com um abraço do melhor amigo, António Maria da Silva”
NOTA 1: As cerimónias da canonização de S. João de Brito realizaram-se no dia 22 de Julho de 1947, na Basílica de S. Pedro. Estiveram presentes 2500 portugueses que entraram na Basílica, em procissão, cantando o hino em honra de S. João de Brito. Sua Santidade (Papa Pio XII), para distinguir os peregrinos portugueses do Ultramar, recebeu-os numa audiência especial, entregando, ele próprio, e pela sua própria mão, a cada um uma medalha, tendo numa das faces a sua efígie e na outra representada a Sagrada Família. Nas mesmas cerimónias, foram canonizados também os italianos “Santos Confessores” Bernardino Realino e José Cafasso.
João Heitor de Brito (Lisboa, 1 de Março de 1647 — Oriur, Índia, 4 de Fevereiro de 1693) foi um missionário jesuíta português e mártir, frequentemente chamado de “O Francisco Xavier Português”. No ano que sobe ao trono D. Afonso VI, 1662, a 17 de Dezembro, entra no noviciado da Companhia de Jesus em Lisboa. Faz estudos em Évora e Coimbra, será professor no Colégio de Santo Antão, em Lisboa, mas o sonho dele é a Índia. No ano de 1668, pede ao Superior Geral que o deixe ser missionário. Entretanto, passam os anos, consolida-se a vocação, ordenado sacerdote (1673) e recebe com alegria o mandato de partir as missões da Índia, não obstante a intervenção do núncio apostólico, solicitado por influências da Corte movidas a rogos de sua mãe. Partiu a 25 de Março de 1673 numa expedição em que vão 27 jesuítas (16 portugueses, 1 romeno, 1 italiano, 1 siciliano, 1 de Trento, 1 saboiano, 1 inglês, 2 belgas e 1 bávaro), sendo capitão-mór Rodrigo da Costa. Uns destinam-se à China, outros como João à India. (2). No ano de 1674, desembarca em Goa, a grande capital do Oriente. Logo vai fazer visita ao túmulo de S. Francisco Xavier.  A missionação na Índia como é sabido pode caracterizar-se em várias fases. A 1ª (de 1498 a 1542) é marcada pela actividade dos franciscanos e dominicanos. A 2ª. corresponde à estadia de S. Francisco Xavier, durante uns 6 a 7 anos, antes de partir para o Japão. Xavier limitou-se à costa marítima, passando ao lado da civilização hindú. A 3ª. fase é marcada pela chegada de novas Ordens e congregações religiosas, mas em que pouco se altera  a postura anterior. A 4ª fase, os missionários, como João de Brito, adoptam um modo de viver, vestir e de comer dos “pandarás-suamis”, género de penitentes aceites por todas as castas da Índia. Com este novo método os missionários aumentam a sua aceitação.(3) . Foi canonizado em 22 de Junho de 1947, pelo Papa Pio XII.
Emblema Escola S. João BritoNOTA 2: Em Macau, existe a Escola S. João de Brito (Rua de Pedro Coutinho n.º 118), dirigida pelas Caritas Macau (Fundação Casa de Macau/ São João de Brito)
(1) SILVA, António Maria da – Canonização de S. João de Brito. Macau – Imprensa Nacional, 1949, 20 p., 21,5 cm x 14,5 cm (com dedicatória, assinada pelo autor).
(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Brito
(3) http://alvalade.no.sapo.pt/sjoaobrito.htm