Como referi em anterior “post”, (1) o “semanário de propaganda e defeza das colonias” «Gazeta das Colonias», nos anos de 1924 e 1925, apresentou vários artigos sobre a educação e o ensino em Macau.
Este artigo “MACAU – INTERESSES DA COLÓNIA. O problema da instrução ” apareceu no n.º 15 de 15 de Dezembro de 1924. Foi escrito por Raul Boaventura Real, engenheiro, 1.º Tenente maquinista naval (em Macau 2.º tenente) que foi o 2.º Director das Oficinas Navais de Macau (1918-1919), director da Escola «República» e autor de vários livros sobre marinhagem (2)
“… No decurso dos últimos catorze anos, período a que me estou reportando , foi Álvaro de Melo Machado, um dos mais distintos oficiais da nossa marinha, infelizmente hoje afastado dos serviços dessa corporação e do convívio dos seus camaradas que muito o estimavam e apreciavam, o primeiro governador que aos assuntos da instrução dedicou assinalado interesse.
Por sua iniciativa foi criada a primeira escola «República», comemorando o advento do actual regime, escola essa que ele manteve pelo seu bolso particular e pelo de alguns amigos dedicados. Enormes foram as dificuldades a vencer para se conseguir manter essa escola, sobretudo depois de Álvaro Machado ter deixado a Colónia em 1912.
A falta de recursos poderá ser avaliada – sabendo-se que, ao tomar o signatário desta carta a direcção da Escola, em Outubro de 1913, recebeu do seu antecessor um saldo de quatro escudos e sessenta e dois centavos em cofre, e uma quotisação mensal de trinta escudos e vinte e cinco centavos…
… Não pode o governador que a Álvaro Machado se seguiu e que foi o ilustre oficial de artilharia Anibal Sanches de Miranda, deixar uma obra notável em Matéria de instrução...(…)
Convivas ao almoço em honra do Comandante Mendes Norton (X), no dia 08-07-1928, em Lisboa. Assinalado com o n.º 13 , o primeiro-tenente e engenheiro de máquinas Raul Boaventura Real
http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=1207963
… Em 1914 tomou o Governo da colónia José Carlos da Maia, esse grande e desventurado amigo, cuja perda ainda hoje sentimos com irreprimível revolta e cuja obra em Macau hade ser sempre recordada com saudade… (…)
E de facto nesse sentido foram as suas primeiras diligencias; tendo tomado posse do Governo em 10 de Junho de 1914, logo em 6 de Julho, pela Portaria Provincial numero 160, nomeava uma comissão a quem entregava a elaboração das bases em que deveria assentar a reforma da instrução.
Sob a presidência do actual deputado por Macau, sr. Manuel Ferreira da Rocha, ao tempo Secretário Geral do Governo da Provincia e consequentemente Inspector da Instrução Publica, constituiram a comissão com vogais os srs:
Francisco Xavier Anacleto da Silva, nessa data vice-Presidente do Leal Senado e, em 1924, senador por Macau;
Francisco Gonçalves Velhinho Correia, deputado da Nação e então professor do liceu;
Dr. Carlos de Melo Leitão, Presidente do Leal Senado;
Mateus António de Lima, engenheiro e Reitor do liceu;
Artur da Silva Bastos, Director das Escolas Luso-Chinesas;
Patrício da Luz , Director da Escola Comercial dos Macaenses;
Francisco Xavier Gomes, Director das Escolas Primarias
Como secretário da comissão: Raul Boaventura Real.
“… No seu trabalho reconheceu a comissão que o liceu, então com cinco classes, tinha uma frequência diminuta, havendo apenas dois ou três macaenses que as tivessem aproveitado para seguirem cursos superiores: havia, é certo, que ter em consideração a frequencia por parte dos filhos dos funcionarios que da metropole iam desempenhar as suas comissões em Macau…
… Assim resolveu a comissão propor que o ensino liceal fôsse reduzido às três primeiras classes e que o ensino comercial fôsse instituído com o desenvolvimento conveniente para pôr os macaenses em condições de concorrerem com os chineses e outros estrangeiros…
… na hipótese de qualquer macaense desejar seguir qualquer curso superior, admitir em principio o subsídio para quem o merecesse, propôr a utilização da magnífica Universidade de Hong Kong, a quatro horas de Macau, onde qualquer se poderia especializar na engenharia, na advocacia, na medicina, nas artes, etc…
… Enviadas para a Metrópole as bases e o relatório elaborados pela comissão, nenhuma resolução, nos consta, foi tomada sobre eles, sendo de prever que se encontrem sepultados no arquivo do Ministério…
...Voltando nós a Macau, em 1918, fomos encontrar o liceu com sete classes, em vez das Três que tinham sido propostas; os professores já não são interinos, eram efectivos; quanto à frequência são elucidativos os elementos que possuímos e pelos quais vemos que em 1919 teve o liceu nas sete classe, 37 alunos matriculados, sendo apenas 25 macaenses e os restantes filhos de metropolitanos… (…)
Interessante esta fotografia inserida no artigo: Escola Municipal na Ilha da Taipa
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/24/macau-na-imprensa-portuguesa-de-1925-fomento-colonial-e-a-questao-do-ensino-em-macau/
(2) Encontro no Arquivo Histórico de Macau, uma entrada intitulada:
“Diferença de £12.00 proveniente de passagens debitado ao 2.º tenente maqinista, Raul Boaventura Real, no seu regresso à Metrópole (1917/01/30 – 1917/08/27)” sobre um pedido do 2.º tenente maquinista, Raul Boaventura Real, para não ser obrigado a repor a quantia de doze libras, referente à diferença de passagens entre os preços da viagem Hong Kong-Lourenço Marques e Hong Kong-Cabo da Boa Esperança.
http://www.archives.gov.mo/webas/ArchiveDetail2013.aspx?id=25553