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Ofício enviado de Lisboa por D. Diogo de Costa ao Vice-Rei da Índia em 27 de Março de 1626, (1) sobre o direito de Caldeirão (2) e conservação do Colégio de S. Paulo.

“Conde VRei Amigo Eu ElRey etc. O anno de 1624 apliquey as despezas da obra da fortificação da Cidade Macao a renda do direito de Caldeirão daquela Cidade, e que fortificada ella se trataria depois da conceruação, e sostento do Collegio a mesma Cidade que pertende consignar se lhe o necessário naquele drt.º p se ter p conveniente conseruarse o dito Collegio, pella boa criação e ensino, que ali tem os filhos dos moradores da dita Cidade, e vendo o que em reposta disso me escrevestes na via do anno passado, me pareceo encomendarnos me avizeis do que montara cada anno passado o rendimento daquele direito de Caldeirão, e o que importara a despeza, que será nescessario fazerse com o Collegio de Macao, e que do dito dinheiro do Caldeirão se não faça nelle agua sem primeiro saberem e julgarem os efeitos para que he mais necessário. Escrita em Lisboa a 27 de Março de 1626. Dom Diogo da Siua. Diogo de Costa.” (3)

(1) Em 1626, Portugal estava sob o domínio filipino, Filipe IV de Espanha (de 1621 a 1640), o Vice-Rei e Governador da Índia era D. Francisco da Gama (Conde de Vidigueira) (de 1622 a 1628). Em Macau, governava o Capitão-Geral de Macau D. Filipe Lobo (de 19-07-1626 a 1630): o Bispo era D Diogo Correa Valente, S. J (de 1626 a 1633) e o reitor do Colégio de S. Paulo, Manuel Lopes (de 1626 a 1627).

Nesse ano de 1626, concluía-se a Fortaleza de S. Paulo “conforme inscrição epigráfica, sobre a porta de acesso” e já existia a Capela na Guia (quando os holandeses tentaram invadir Macau, em 24 de Junho de 1622, já existia uma ermida) e o Forte da Guia (rudimentar sistema defensivo) que seria reconstruída como Fortaleza entre 1637-38, pelo Capitão de Artilharia António Ribeiro, a expensas da cidade, sendo Capitão-Geral Domingos da Câmara de Noronha

(2) Sobre o direito de Caldeirão – dinheiro das rendas dos cidadãos de Macau que patrocinavam as obras das fortalezas e outras do sistema defensivo da cidade:

“Toda a dita artelharia que tem esta cidade e obras de muros e fortes fez ella a sua custa sem a fazenda Real entrar nisso com couza algua em tempo que a viagem de Japão corria quasi por sua conta e particularmente os direitos que chamavam o caldeirão que são oje a oito por cento de todas as fazendas que vão pera Japão, e antigamente erão a tres e a quatro, e ainda assy lhe rendião muito», como explica António Bocarro no seu «Livro do Estado da índia Oriental», de 1635 reproduzido em C. R. Boxer, em “Macau na época da Restauração”, p. 34 da edição de 1993, da Fundação Oriente.

(3) “Arquivos de Macau”, 2.ª série –Vol I. n.º 2 de Fev-Março de 1941, p. 123

(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume IV, 2015, pp 10, 33, 46, e 49; Volume I, pp. 139.

Nesse terreno firme – a colina da Guia – argamassado com o suor de tantos valentes guerreiros e, por isso, mais consistentes, calcado com as rodas pesadas que deslocavam as grossas peças de artilharia, ajoelham anualmente novas fardas e novos cidadãos, envolvidos no sentimento patriótico e de devota homenagem da alma portuguesa, no dia 5 de Agosto, aos pés da Senhora das Neves. Vestida de seu gracioso manto azul, tapetado de estrelas doiradas, a todos recebe com o mesmo carinho de outrora, quando os marinheiros, singrando os mares para trazerem novas do reino distante, iam à sua capelinha cumprir os votos feitos em horas de tormenta e de aflição.

Foto de 1955

Cenário rico de natureza, mas também cenário abundante de recordações históricas e de terna devoção patriótica. Muitos calcorrearam os caminhos que conduziam ao cima da Guia; mas cremos que foi a Fé dos que subiram essas encostas em peregrinação que manteve desfraldada a bandeira lusa a flutuar ao vento mesmo ao lado da capelinha branca da Senhora.

No dia 5, logo pela manhãzinha, o sino velhinho, religiosamente conservado na pequena torre, fez ouvir a sua voz pela encosta e pela cidade, a despertar a população e a relembrar a data que mais uma vez se repetia.” (1)

Foto de 2005

A capela apresenta uma fachada simples, com um frontão triangular assente sobre pilastras pintadas de amarelo sobre um fundo branco. A nave mede 16 por 4,7 m e as suas grossas paredes suportam a abóbada interior. As paredes da capela estão ainda reforçadas por contrafortes ao longo do perímetro do edifício. Os frescos que hoje se vêm nas paredes e que estavam escondidos pelo caiado, foram recuperados em 1996. A sacristia situa-se do lado esquerdo e existe um pequeno coro-alto por cima da zona de entrada. O telhado está coberto com telhas cerâmicas tradicionais vermelhas. (2)

(1) Sem indicação de autor, MBI, III-41 de 15 de Agosto de 1955, pp. 8-10.

(2) http://www.wh.mo/pt/site/detail/25

Ver anteriores referências à Capela da Guia/Capela de Nossa Senhora das Neves, em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/01/10/1898-os-postais-do-jornal-unico-iv-pharol-da-guia/

Continuação da publicação dos postais de Macau digitalizados do «Jornal Único» de 1898 (1)
NOTA:Os chichés das vistas photographicoas foram tirados pelo photographo amador Carlos Cabral. Todos os trabalhos respeitantes a este «Jornal Único» foram executados em Macau
Extractos do artigo de E. C. Lourenço “Pharol da Guia”, publicado no «Jornal Único».
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jornal-unico/
http://purl.pt/32511/3/html/index.html#/1

Extraído de «BGC»,  XXI-244, 1945.

Extraído de «Arquivo das Colónias» – Vol. II, n.º 11, de 15 de Maio de 1918.

Fortaleza da Guia -1885Fortaleza da Guia em 1885

“01-09-1637 – Principiou a construção da Fortaleza de Nossa Senhora da Guia tendo terminado um ano depois.” (1)
A fortaleza encontra-se no mesmo sítio onde havia uma bateria pois  desde 1622 (2) foram feitos reparos defensivos a um “rudimentar sistema anterior” (bateria), junto da ermida. (3) A fortaleza sofreu várias alterações ao longo do tempo tendo sido ampliada e prolongada dando origem à actual fortaleza.

Planta de Macau final s. XVII chinês - pormenor fortalezasPormenor da Planta de Macau em finais do século XVII
pertencente ao Arquivo Nacional n.º1 da China,  onde se vê três fortalezas,
a Fortaleza de Nossa Senhora da Guia (no topo, com dois canhões),
a Fortaleza do Monte (à esquerda, com 11 canhões) e
a Fortaleza de S. Francisco (à direita, com 4 canhões)

Esta Fortaleza de Nossa Senhora da Guia ou Fortaleza da Guia encontra-se  a Nordeste da Fortaleza de S. Paulo do Monte, e está situada na colina de Nossa Senhora da Guia, com uma altitude de 94 metros, o ponto mais alto da Península de Macau. As cartas desta parte da costa da China indicam que o farol (4) existentes no seu recinto tem as coordenadas de 22° 11´ 51´´ de latitude Norte e 113° 32´48´´.
Esta fortaleza colocada fora das muralhas defensivas da cidade antiga mas em situação dominante foi edificada como defesa contra a ameaça do continente Chinês. Funcionava também como aviso e posto de observação (5) tem um sino (6) que tocava sempre que se avistava um navio ou  se esperava um tufão“. (7)
ESQUEMA Fortaleza da Guia

Compreende uma área de cerca 800 metros quadrados. O seu plano primitivo era mais regular, com a forma de trapézio de área ligeiramente inferior à presente. Possuía um quartel para uma companhia de soldados e uma cisterna de água assim como uma ermida dentro do seu recinto. O portão de entrada ficava na muralha Norte, com casa da guarda por cima. Tinha também armazéns para equipamento e pólvora e uma casa para o Comandante da guarnição. Tinha de início quatro pequenas torres mas restam apenas duas. A torre no cato Norte não é original, é de construção recente em cimento armado.(7)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) A  laje de pedra encaixada sobre o portão de entrada da fortaleza tem gravada uma inscrição que regista que a fortaleza foi erigida e concluída nos anos de 1637-1638.

Fortaleza da Guia - Laje portãoESTE FORTE MANDOV FAZER A CIDADE A SVA
CYSTA PELO CAPITAO DA ARTILHARIA ANT RIBR
RAIA COMESOVSE EN SETEBRO DE 1637 ACABOVSE
EN MARÇO D 1638 SENDO GERAL DA CAMARA
DE NORONHA

A fortaleza de N.ª Senhora da Guia teve princípio em Setembro de 1637 e terminou em Março de 1638. (PEREIRA, J. F. Marques – Ta-Ssi-Yang-Kuo, 1984.)
Padre Manuel Teixeira refere que “vários historiadores, que se limitam a copiar Marques Pereira, afirmam erradamente que a fortaleza da Guia foi construída em 1637 mas afirma que segundo documentos de Bocarro (8) ” Manuel da Câmara Noronha, Capitão-Geral de Macau (1631-1636), demoliu o forte mas, em 1636, foi substituído no governo por seu irmão Domingos da Câmara Noronha, que tinha ideias muito diferentes; este reconstruiu-o com maior perímetro em 1637- 1638, segundo reza a inscrição da fortaleza.” (TEIXEIRA, P.e Manuel – Os Militares e Macau, 1975)
Domingos da Câmara de Noronha foi Capitão-geral de Macau de 1636 a 1638.
(3) No relato da invasão dos holandeses em 22 de Junho de 1622 … Tendo pois o inimigo de passar ao lado d´este bambual, temeu alguma emboscada, e pelo facto de não ver pessoa alguma e estar soffrendo não só os tiros do Monte como tambem descargas successivas do lado da Guia; assim mudou de plano, e diligenciou subir ao alto do oiteiro, sobre o qual já existia uma ermida… (Boletim do Governo de Macau, n.º 30 de 28-06-1862).
(4) O farol é posterior, foi construída por ordem do Governador José Rodrigues Coelho do Amaral em 1864/1865. Acendeu-se pela primeira vez a 24 de Setembro de 1865.
(5) A fortaleza da Guia (e antes a Ermida da Guia) servia durante o dia de guia para os navios  que se dirigiam para Macau e Cantão. Quando aparecia um navio um navio, o governador era avisado da sua aproximação por sinais, e quando se descobre a bandeira, o comandante participava-o por escrito. Se era um a navio português, tocava-se o sino.
(6) O sino que se encontra ao lado da Capela, (mas ali colocada somente em 1707), tem a seguinte inscrição:

ESTE SINO
FOI FEITO PARA UZO DE
STA ERMIDA DE N.S DA GUIA
EM O ANO DE 1707 SENDO
PREZIDENTE DELLA E CAPI
TÃO GERAL DESTA CIDADE
DIOGO DO PINHO TEIXEIRA
Fortaleza da Guia - SINO - 1998Foto de 1998

O italiano Marco d´Avalo diz na «Descrição da Cidade de Macau»: ” Deste último forte recebe a cidade aviso dos navios que se avistam no mar, quer venham do Norte ou do Sul, do Japão ou de Manila, para entrar no seu porto. Logo que se avista qualquer , toca-se o sino na montanha e, segundo as maneiras como for tocado, indica de qual lado eles apparecem”  in  (Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vol II).
(7) GRAÇA, Jorge –Fortificações de Macau.
(8) Manuel Tavares Bocarro que possuía uma fundição de canhões em Macau de 1625 a 1664,  informava que em 1635, o baluarte da Guia tinha 5 peças, i. é, uma colubrina, um pedreiro e 3 sagres, todas de metal; Marco d´Avalo afirmava que, em 1638, tinha 4 ou 5 peças.
Anteriores referência à Fortaleza da Guia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fortaleza-da-guia/page/4/

Ta-Ssi Yang-Kuo MAPA Macau sec. XVII »1638Macau no seculo XVII (depois de 1638)
(Margem do porto interior, vista da Lapa – Fac-simile (reduzido) d´uma antiga gravura hollandeza) (1)

Apezar de não ser não ser desenhada com as devidas proporções, é curiosa porquie é das mais antiga s que conheço. Representa a margem que deita para o porto interior, vista da ilha da Lapa. Para mais facil comprehensão colloquei diversos números que indicam:
1- Fortaleza do Monte; 2 – Ermida e fortaleza da Guia; 4- Ermida e fortaleza (?) da Penha; 5 – Forte do Bom parto ?  ou bateria no alto do monte imminente à fortaleza da Barra ?; 6 – Fortaleza de S. Thiago da Barra; 7 – Pagode da Barra; 8 – Convento de S. Paulo; 9 – Porta do cerco.
É curioso notar n´esta gravura: os torreões da fortaleza do Monte; a Guia já com fortaleza, o que mostra ser a gravura posterior ao anno de 1638 (2);  as ameias e canhoneiras que se notam no muro que circumda a ermida da Penha; e a indicação d´um reducto ou bateria na altura sobranceira à Barra, de que hoje não restam vestígios. E a que vae indicado com o n.º 5, que não parece seja a fortaleza de Bom  porto, (ou Bom parto) que está na outra margem da cidade e não podia ser vista do ponto da Lapa d´onde foi tirada a estampa.” (1)

(1) PEREIRA, J. F. Marques – Ta-Ssi-Yang-Kuo, 1899-1900. Edição da Direcção dos serviços de Educação e Cultura / Arquivo Histórico de Macau, 1984.
(2) A fortaleza de N.ª Senhora da Guia teve princípio em setembro de 1637 e terminou em março de 1638. (1)

“Não sabemos ao certo, por falta de documentação, a data em que esta capela foi erecta; mas deve ter sido, muito provavelmente no ano de 1600. Por essa ocasião já eram florescentes as ordens religiosas nesta cidade, sobretudo a de S. Francisco. E é muito provável que remonte a essa época a fundação de capelinhas no cimo dos montes, o que aliás se presenciava já através de Portugal. Aqui, mais do que em nenhum outro lugar, a Capela da Guia eleva o pensamento cristão. É tradição que os mareantes portugueses organizavam romagens à guia , em que incorporavam todos os tripulantes dos navios, levando em procissão as velas dos barcos, ricamente enfeitadas de cordões de flores. Este costume continuou pelos anos fora, crescendo em esplendor e em significado e enraizando em todos a devoção a Nossa Senhora. Atingiu mais acolhimento quando recorrendo a Nossa Senhora da Guia, (1)  se obtiveram graças especiais.

MBII-1 15AGO1953 Capela da GuiaFiéis assistem à missa rezada no dia 5 de Agosto de 1953

Numerosos são os factos que a história regista e a tradição ciosamente guarda.
O vapor “África” com um contingente de tropas a bordo, é atingido em cheio por um temporal, e julga-se perdido. Todos se encomendam à Senhora da Guia, e fazem a promessa de ali ir em peregrinação , se o barco se salvasse. Dias depois aportavam a Macau e, cumpriam a sua promessa, acompanhados pelo povo.

MBII-1 15AGO1953 Altar Mor Capela da GuiaAltar-mor (1953)

Em 1888, o vapor “Índia”, transportando um contingente de tropas, arriba a esta cidade com a bandeira amarela hasteada.. Trazia a bordo uma epidemia de cólera.

Caple da Guia Altar Mor 20152013

Salva do contágio a população, estabelece-se uma festa de acção de graças, feita exclusivamente a expensas da Companhia de Artilharia. A imagem de Nossa Senhora era transportada para a Sé Catedral onde permanecia durante a novena e, conduzida depois em grandiosa procissão, subia pelas esplanadas  até à sua capelinha, onde ficava exposta à veneração dos fiéis pela noite fora. As ruas e caminhos que levam à guia, bem como a encosta, tinham ares festivos de profusa iluminação e colorido embandeiramento.” (2)

MBII-1 15AGO1953 Altar Lateral Capela da GuiaAltar lateral (1953)

(1) Já em anterior “post” se questionava:  a capela da Guia, dentro da fortaleza da Guia, na ermida da Guia tem no seu altar a Nossa Senhora das Neves (a capela foi erigida em sua homenagem) cuja festa se festeja a 5 de Agosto. Há no entanto uma semelhança da imagem do altar mor com a imagem de Nossa Senhora da Guia encontrada em muitas das igrejas em Portugal. Como por exemplo esta Nossa Senhora da Guia que se venera na Capelinha na Foz do Ave do Século XI – Vila do Conde.

Nossa Senhora da Guia Vila do Conde 20015https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/05/5-de-agosto-festa-de-nossa-senhora-das-neves-i-2/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/wp-admin/post.php?post=2886&action=edit
(2) Informação e fotos de 1953  retirados de MACAU B. I. 1953.

N´este anno de 1622, virão os Olandezes sobre Macao para o tomar à força de armas, como o desejão à muito, porque desta maneira se malquistarião com os chinas, pois lhe não fazião a elles guerra, enm multiplicarão povoações de Estrangeiros, que tanto teme esta nasção. E alem disso ficarião empedindo os Portuguezes, ou atravessando este Cômercio, que he o mais groço, de todo o Oriente. Não falo no saque da Cidade, que seria grande, por estar ella ao presente mais povoada, e rica, do que os mesmos inimigos imaginavão; com esta determinação chegarão aqui em 22 de junho 13 vellas Olandezas, entre navios, e Patachos, e Galeotas, em que vinha por general hum Cornelio Regres, e já antes estavão neste Porto coatro navios, que levavão sua Derrota para o Japão… (…)
Picou-se n´este tempo o sino da Cidade, e a gente que por varios logares estavão repartidas veyo concorrendo, posto que sem ordem, nem bandeiras, nem huma Companhia , que tudo faltou de nossa parte, senão a muita providencia de Deos, que por esta via de andarem os nossos espalhados, nos quiz dar a victoria mais barata, e vinha o inimigo já com o rosto nos bambuaes e Cidade, quazi emparelhando com a Hermida de Nossa Senhora da Guia, quando do Monte de São Paulo, que lhe fica sombranceiro, atodo aquelle Campo, se desparou huma pessa grossae apóz ella outras menores, que os fizerão parar, e juntamente reparar na muita gente que tinhão diante de sy, e valle, e pelo monte acima hia subindo até a Hermida, donde forçozamente lhe havia de ficar nas costas se quizece marchar por diante e já neste tempo muitos dos seus dando-se por cercados, não quizerão virar o rosto, ou pelo menos hirem-se retirando…. (…)
… Por elle lhe forão os Portuguezes dando nas costas, e os Olandezes fugindo tão soltamente que muitos largarão bandeiras, armas, e tudo, para hirem mais ligeiros, desta maneira até à praya de Cassilhas , onde tinhão dezembarcado, com diferente brio… (…) (1)

Armada Holandeza por Johan Nieuhof 1665Armada holandeza nas águas de Macau, desenho de Johan Nieuhof  em 1665 (2)

No tempo da briga (de 1622) recolherão (os comerciantes) seus cabedais ao Collegio (da Madre de Deus),como também as Senhoras principais (e “Religiosas de Sta.Clara” – se recolherao na Egreja (e Colégio), ao tempo da batalha, por ficar o dito collegio debaixo (a coberto) da artelheria do dito Monte, e dali não sahirão até a vitória ser alcançada” (Livro de copias de alvarás, cartas e mais papeis pertencentes ao governo economico de Macau, de 1769, citado em Ta- Ssi-Yang-Kuo). (1)
Segundo Guilhaume Isbrantsz Bontekou de Hoorn,, oficial holandês da esquadra, um dos participantes nessa invasão, numa obra escrita por ele e publicada em Amsterdão em 1725:
“Logo ao amanhecer do dia 24, canhoneamos a cidade com todas as bandas de artilheria, sem parar, e tanto quanto as peças poderiam supportar. tendo desembarcado, pouco depois, o nosso comandante com 600 homens, fez-se avançar rente à terra dois yachts, afim de estarem ahi promptos para qualquer eventualidade; principalmente para protegeram a retirada, se a empreza não fosse coroada de bom exito e, tambem, para favorecerem a aproximação das nossas chalupas e dos outros pequenos barcos que conduziam a nossa gente e deviam reconduzil-a quando fosse necessario. Os Portuguezes tinham construido um entricheiramento no sitio onde se devia realizar o desembarque; mas fizeram pouca resistencia, e quando a nossa gente penetrou n´elle, fugiram logo para um mosteiro ou convento situado n´uma eminencia… (…)

POSTAL DST 1986 Forte do Monte - Canhão“Overlooking the Macau Taipa Bridge from Monte Fort“(3)

 … Mas aconteceu-nos um accidente de grande importancia. Pegou o fogo a alguns meios-barris de polvora e não houve maneira de ir buscar outros nem de reparar de prompto essa perda. Pior foi o aviso que os portuguezes receberam do caso por um japonez desertor das nossas tropas. Tencionava-se occultar a retirada que era necessario fazer-se, o que com bastante facilidade se realisaria; mas, tendo esse aviso alterado tudo, cahiram os inimigos sobre a nossa gente que, sem polvora, nehuma resistencia podia oppôr; de maneira que resultou um grande numeroi de mortos. perdemos 130 homens e tivemos numero egual de feridos. N´esse numero contava-se Cornelio Reyertsz, nosso comandante; que foi ferido logo no começo, por ocasião do desembarque, com um tiro de mosquete, na barriga, de que, graças a Deus, não morreu… (...)” (1)

Monumento da Vitória 1927Monumento da Vitória , 1927

Neste relato o cronista holandês não fala como “pegou o fogo a alguns meios-barris de polvora, talvez manhosamente não quis atribuir o incêndio dos barris aos tiros de Monte. A narrativa da época evoca “se disparou huma pessa grossa e apóz ella outras menores“. Outras narrativas falam de ” 3 bombardas saídas duma única peça que ali, de novo, se tinha posto ou ” o P.e Rhó apresta 4 canhões que aí tinha colocado“.
“Do seu contexto porém, comparado com as versões portuguesas, não fica dúvida alguma de que os tiros de artilharia do Monte, dirigidos provavelmente pelo Pe.Jerónimo Rho,S.J., foram os que decidiram a salvação de Macau, nesse dia 22 de Junho de 1622. ” (4)
Um facto pouco conhecido é o seguinte: “ o célebre Padre João Adão Schall von Bell, (1591-1666), (conhecido em português por João Adamo), natural de Koln, e uma das maiores glórias da Companhia de Jesus na China por ocasião do ataque dos holandeses a Macau, tomou parte activa no combate, chegando a aprisionar por suas próprias mãos um dos oficiais holandeses.” (5)

(1) Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vols. I-II, 1899-1900, pp. 163-170.
(2) Johan Nieuhof (1618–1672), escritor holandês, sinologista, explorador e desenhista. A partir de 1649 empreendeu várias viagens ao Oriente onde, em 1664, era um dos principais agentes da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais.
Entre 1655 e 1657 empreendeu uma viagem de cerca de 2400 quilômetros, de Cantão até Pequim, na China, cujo relato fez dele um dos maiores escritores da época em relação aquele império.
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Macau#/media/File:Nieuhof-Ambassade-vers-la-Chine-1665_0739.tif
(3) Postal emitido pela Direcção dos Serviços de Turismo, em 1986.Impresso na Gráfica de Macau Ldª.
(4) PIRES, Benjamim Videira in http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP195/PP195063.HTM
(5) BOXER, Charles Ralph – Ásia Sínica e Japónica, Volume I, 1988 p.178. (245 p.).o

Continuação da publicação das fotografias deste pequeno álbum (1)

“SOUVENIR DE MACAU”

Souvenir de Macau 1910 Guia e o Farol“A MONTANHA DA GUIA E O FAROL” (à esquerda, em primeiro plano, a casa “Silva Mendes”)

“THE GUIA FORT

The Guia Fort is one of the most conspicuous objects in a landscape whore nearly very thing seeins conspicuous. lt crowns the Guia Hill and is approached by a zig-zag path from the Gap. Within its enclosures is an old chapel, containing old graves and opened once a year when a proces sion ascends to it. The lighthouse is also within the walls of this fort, The light is a revolving one going by clock- work, the works being wound up by two convicts, who have a cell for their incarceraton within the fort. The Guia Fort was built in A. D. 1637 and the lighthouse in 1865.There is a small chapel in the Guia Fort the ermida da nossa senhora da Guia, or Neves.”(2)

 O Farol da Guia foi custeada pela comunidade estrangeira de Macau tendo à testa o comerciante H. D. Margesson que tinha a sua firma na Rua Central n.º 17. Construído sob a direcção do governador José Rodrigues Coelho do Amaral, sendo o hábil macaense, Carlos Vicente da Rocha, o autor do engenhoso maquinismo que funcionava com um candeeiro de petróleo e acendeu-se pela primeira vez a 24 de Setembro de 1865. (3)

Souvenir de Macau 1910 Praia da Guia“PRAIA DA GUIA” (em primeiro plano, a rua empedrada que dava acesso ao Hospital Militar Sam Januário)

Ampliação Mapa 1921 -Tellurologie et ClimatologieAmpliação do mapa de 1921, anteriormente publicado (4)
Localização da Praia da Guia (C)
Outros pontos de referência no mapa: n.º 19 – Fortaleza de S. Paulo do Monte; n.º 20 – Jardim de S. Francisco; n.º 21 – Grémio Militar; n.º 22- Quartel de S. Francisco;
n.º 23: Observatório Meteorológico; n.º 24 – Farol/Fortaleza da Guia;
n.º 25: reservatório de água n.º 26: Jardim da Flora;
n.º 27: Quartel e Monumento da Vitória;
n.º 29 – Monumento e Avenida de Vasco da Gama; n.º 30 – Cemitério de S. Miguel;
n.º 31 – Cemitério dos Parses.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/artes/
(2) BALL, J. Dyer – Macao the Holy City: the gem of the Orient Earth.1905.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol I, 1997.
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/