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Extraído de «BPMT», XIV-38 de 21 de Setembro de 1868, p. 179

Governador de Macau –António Sérgio de Souza (3-08-1968 / 22-03-1872) Governador do Bispado (1866-1870) – Padre Jorge António Lopes da Silva (natural de Macau) nomeado em 1866, pelo Arcebispo de Goa. Era Mestre Escola, e pároco de S. Lourenço antes da nomeação.

A Igreja paroquial de S. Lázaro é dedicada Nossa Senhora da Esperança cuja estatua se vê no altar-mor; dos dois lados da nave ficam os altares do Sagrado Coração e de S. José. No cruzeiro, ergue-se uma cruz de granito, em cuja base se lê: «Cruz da Esperança, Ano 1637». Contíguo à igreja, fica o Asilo de S. José, construído por ocasião da epidemia de 1895 e que hoje é o albergue. A jurisdição espiritual da Paróquia de S. Lázaro não é local, mas pessoal, abrangendo toda a população chinesa de Macau, sendo por isso a maior e mais populosa freguesia da cidade.” (TEIXEIRA, P. Manuel – Macau e a sua Diocese I, 1940, p.171.)

Anteriores referências a esta Igreja: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/igreja-de-s-lazaro-n-sra-da-esperanca/

Extraído de «A Voz do Crente», Anno I n.º 1 de 1 de Janeiro de 1887
Igreja de S. Lázaro, década de 30 (séc XX)

“D. Melchior Carneiro, chegado a Macau, em 1568, fundou logo no ano seguinte a Santa Casa da Misericórdia, de que foi o primeiro provedor, e os hospitais de S. Rafael e de S. Lázaro. Não se conhece a data certa da erecção da Ermida de Nossa Senhora da Esperança que devido à leprosaria anexa, ficou vulgarmente conhecida pelo nome de Igreja de S. Lázaro. Também não sabemos qual existiu primeiro: se a Ermida ou o hospital de leprosos. Parece no entanto, pelo que dissemos atrás que, juntamente com Santo António e S. Lourenço, a Ermida de N. Senhora da Esperança deve ter sido coeva do estabelecimento dos portugueses em Macau… (…)
Em volta da Ermida, no decorrer dos tempos, foram-se estabelecendo os chineses, havendo já ali em 1818 nada menos que 98 casas de cristãos chineses; para atender aos seus interesses espirituais levantou-se uma capela aproximadamente no local da actual escola de Kong Kan, ficando a Ermida reservada aos leprosos. Tendo o bairro chinês aumentado mais e mais e sendo já insuficiente a pequena capela para os cristãos chineses foi-lhes cedida em 1878, de acordo com a autoridade eclesiástica, a mesma Ermida ou Igreja de N. S. da Esperança com a sacristia e a casa anexa do sacristão, passando o padre china que vigariava aquele bairro a celebrar os actos do culto na dita igreja. Arruinada com o decorrer do tempo, foi esta igreja, por Portaria Provincial n.º 65 de 8 de Agosto de 1885, reconstruída em 1886, de modo a poder estabelecer-se a nova Paróquia de S. Lázaro, sendo nesta ocasião demolida a capela. A nova igreja servia para cristãos e leprosos, assistindo estes aos ofícios divinos num compartimento reservado, gradeado de ferro.
Em 1895 espalhou-se em Macau uma terrível epidemia, provindo um grande número de casos das miseráveis choupanas do bairro chinês; alguns anos depois, foram elas expropriadas, de comum acordo entre o Governador Horta e Costa e o Bispo Carvalho e então o hábil arquitecto Abreu Nunes delineou e executou o plano de ruas do actual bairro de S. Lázaro. Por esta ocasião, foram removidos os leprosos para a Ilha de S. João e as leprosas para Ká Hó, ficando desde então até hoje a cargo do Governo, depois de terem estado a cargo da Santa Casa durante perto de três séculos e meio.”
TEIXEIRA, P. Manuel – Macau e a sua Diocese I, 1940, p.169-171

The Directory & Chronicle for China, Japan, Corea, Indo-China, Straits, 1904Do mesmo Directório, transcrevo:
“Owing to its being open to the south-west breezes and the quietude always prevailing . Macao has become a frequent retreat of invalids and business men from Hong Kong and other neighbouring ports. There are two well conducted hotels: the Boa Vista and the Macao Hotel. While neighbouring centres of population have in recent years been visited by plague or other epidemies Macao has continued to enjoy absolute immunity.”

Em Fevereiro de 1918, registaram-se, em Macau, alguns casos da epidemia de meningite cerebro-espinal, vinda de Hong Kong por contágio de forças australianas em trânsito para o teatro da guerra em França” (1)
A doença “Meningite Cerebro-Espinal” afectou as tropas australianas estacionadas nos campos rurais na cidade de Victória em 1915 e espalhou-se para todos os estados da Austrália em 1916 e 1917, determinando medidas de isolamento e quarentena em toda a Austrália.
meningite-cerebroespinal-1918-iEm 1934, na revista científica médica, (2) William W. Cadbury publicou um artigo “Epidemic Cerebrospinal Meningitis in China” em que apresentava um quadro com a incidência da meningite cérebroespinal (números de casos e de mortes) em cinco cidades da China, de 1918 a 1932. Em 1918, Macau teve quatro casos de meningite (dados recolhido do relatório de Dr. Peregrino da Costa de 1932). (3)
meningite-cerebroespinal-1918-iiUm das primeiras epidemias meningiocócica na China foi em 1918. (4)
O primeiro caso foi declarado em 9 de Fevereiro de 1918 em Hong Kong mas provavelmente teria havido casos em Janeiro. A máxima incidência ocorreu em Março depois um decréscimo rápido durante o mês de April. Reportaram-se 1 232 casos com uma mortalidade de 76 %. (968 mortes) Durante este período nenhum caso foi declarado oficialmente  em Cantão mas durante o ano de 1918, 1 caso fatal num Hospital em Cantão. (5)
Nos anos seguintes, os casos diminuíram em Hong Kong (nenhum caso em Macau) verificando-se novo aumento progressivo a partir de 1926.  Nova epidemia,  em 1932, que se iniciou no distrito vizinho de Chung San atingiu Macau e  a causa foi atribuída aos milhares de refugiados que foram para Macau, Hong Kong e Cantão devido ao ataque de Shanghai pelos japoneses.
Em Macau esta epidemia assumiu proporções (cerca de 600 casos  com uma mortalidade de 58%)  que vieram a ser detalhadamente descritos pelo Dr. Pedro J. Peregrino da Costa. (3)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(2) CADBURY, William W –  Epidemic Cerebrospinal Meningitis in China. American Journal of Public Helth and meningite-cerebroespinal-1918-iiiThe Nation´s Health Vol 24, September, 1934, Number 9
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1558731/pdf/amjphnation00920-0009.pdf
(3) COSTA, P. J. P. da – Relatório da Epidemia de Meningite Cerebro-Espinal em Macau.  Macau, 1932.
Relatório que mereceu o seguinte despacho do Encarregado do Governo, João de Magalhães de 15-06-1932 : «Aprecio muito este relatório do Sr. Dr. Peregrino da Costa, a quem louvo pelos seus relevantes serviços.» O relatório foi publicado no Boletim Oficial e foi traduzido em inglês, de que se tirou separata.
TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes III-IV, 1998p.344
Dr. Pedro Joaquim Peregrino Francisco da Costa (1890) tenente-médico em 29-07-1916, embarcou para Macau a 9 de Outubro de 1916 tendo chegado a este território em 12 de Dezembro. Regressou a Portugal em 1919 e de novo foi colocado em Macau em 1920, chegou somente a 12 de Março de 1921. Entre outros cargos em Macau, foi director do Laboratório Bacteriológico e director dos Serviços de Saúde e Higiene da colónia. É também autor dos Relatórios da epidemia de cólera de 1937 e 1938. Reformado no posto de tenente-coronel em 1937, esteve em Macau 14 anos e 14 dias.
(4) Quarentena em Hong Kong
Public Health Reports (1896-1970),Vol. 33, No. 35 (Aug. 30, 1918), pp. 1470-1476
https://www.jstor.org/stable/4574878?seq=1#page_scan_tab_contents
(5) Em Macau, uma das medidas foi a construção em 13 de Março de 1918, de um pavilhão destinado ao isolamento e tratamento de doenças epidémicas, na Colina de D. Maria. Em 6 de Abril de 1918 foi publicada em Boletim Oficial, as medidas profilácticas contra a doença. (1)