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18 de Setembro de 1708 – “Neste dia se fes na Se Cathedral desta Cidade as Exequias  funebres pela morte do Sr Rey D. Pedro 2.º na forma e modo seguinte –Sahirão da Caza do Senado os Ministros e Officiaes do mesmo com varas alçadas acompanhados da nobresa e povo desta cidade todos vestidos de luto, e se dirigirão a Sé para assistirem as Vesperas do seu Officio. Ao Sahirem da Caza do Senado fóra da porta se quebrou o primeiro Escudo que levava no braço o primeiro Vereador que era o mais velho, dizendo – Chorai povo a morte do nosso Rey D. Pedro. 2.º – Ao pé de S.m Domingos se quebrou o segundo que levava o segundo Vereador com as mesmas ceremonias e ao pé da Se se quebrou o 3.º que levava o 3.º Vereador também na forma do primeiro.”(1)

19 de Setembro de 1708 – “ Se fes o Officio com Missa Cantada achando-se huma Eça no Corpo da Igreja magestozamente coberta de preto e illuminada por todos os lados: assistirão a esta função fúnebre o Gov. Diogo Teixeira Pinto, o Cap.º do Senado – O sr. Bispo D. João do Cazal e todos os lugares próprios de representação que tinhão. Os Conegos e Clero na Capella-mor cantando com muzica todas as partes do Officio – Fez a orção fúnebre com toda a Eloquencia própria deste acto o P.e João Mourão da Cp.ª de Jesus.” (1)

NOTA: Quebra dos Escudos – cerimónia praticada desde a morte de D. João I. Consistia em quebrar os escudos do rei falecido para os substituir pelos do novo monarca. O Regimento do Senado, feito na época de D. Manuel I, regulamentou esta cerimónia

D. Pedro II faleceu de apoplexia em 9 de Dezembro de 1706. Reinou de 1683 a 1706. Sucedeu a Afonso VI e foi sucedido por João V.

Retrato de D. Pedro II, autor desconhecido (séc. XVII).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_de_Portugal

OUTRAS FONTES: “18-09-1708 – Effectuou-se n´este dia, em Macau, a quebra de escudos pela morte de el-rei D. Pedro II, sendo esta cerimonia feita pelos tres vereadores, com grande acompanhamento do povo. Foi quebrado á porta do palácio do senado o escudo, defronte da igreja se S. Domingos o segundo, e o terceiro junto á sé catedral, onde o préstito assistiu a vésperas. No dia seguinte se celebraram, também na sé, as exéquias, com missa e officio, estando erguida ao meio do templo uma eça, magnificamente odornada e allumiada. Foram presentes a este acto o governador Diogo de Pinho Teixeira, o senado, o bispo D. João do Cazal, e as mais pessoas notáveis da cidade. Orou o padre João Mourão da Companhia de Jesus. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954) (PEREIRA, A. M. – Ephemerides Commemorativas, 1868, p. 85)

Beatriz Basto da Silva na sua Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 215, data este acontecimento a 17 de Setembro de 1708 – Quebra de escudos por morte de D. Pedro II.      

(1) BRAGA, Jack M. Braga – A Voz do Passado, 1987, p. 25)

O mais antigo sino em Macau é o que se acha no campanário da igreja de S. Clara, cuja inscrição diz:

Em vez de ARO deve ser ORA; e significa: «Roga por nós, bem-aventurada Madre Clara. Ano do Senhor de 1674»

Francisco Tavares deve ser filho de Manuel Tavares Bocarro, (1) o grande fundidor de sinos e canhões em Macau por um quarto de século. Frei Manuel de Madalena de Lampreia, O. F. M., natural de Macau, foi várias vezes guardião ou superior do Convento de S. Francisco e em 1674 era comissário do Convento de S. Clara (2)

Segue-se o sino de N. Sra da Guia no qual se lê:

Foto de 1998

No outro lado do mesmo sino lê-se:

D. Diogo de Pinho Teixeira foi Capitão-Geral de Macau de 1706 (posse do cargo a 5 de agosto, dia da celebração anual à Nossa Senhora das Neves, celebrada na capela de Nossa Senhora da Guia) (3) a 1710. Posteriormente nomeado para a Capitania de Diu 1716 regressando a Goa em 1719.

Domingos Pio Marques (de Noronha e Castelo Branco) nasceu em Macau, a 06-05-1783 e faleceu a 8-02-1840; sepultado no jazigo de família no Cemitério de S. Miguel) sendo filho de Domingos Marques e de Maria Ribeiro Guimarães. (4) Domingos Pio Marques, proprietário e armador, cavaleiro, comendador da Ordem de Cristo, e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (1825), foi ao Brasil em 1819, como representante do Leal Senado, para saudar D. João VI, que por decreto de 06-02-1818, outorgara ao Leal Senado o tratamento de «Senhoria».

D. Frei Francisco de N. Senhora da Luz Chacim, O. F. M., foi bispo de Macau de 1804 a 1828, falecendo a 31 de Janeiro de 1828. (5)

(1) Manuel Tavares Bocarro que possuía uma fundição de canhões em Macau de 1625 a 1664, informava que em 1635, o baluarte da Guia tinha 5 peças, i. é, uma colubrina, um pedreiro e 3 sagres, todas de metal; Marco d´Avalo afirmava que, em 1638, tinha 4 ou 5 peças.

(2) TEIXEIRA, P: Manuel – A Voz das Pedras de Macau, 1980, pp. 110-111.

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/08/05/noticia-de-5-de-agosto-festa-de-nossa-senhora-das-neves-ii/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/05/5-de-agosto-festa-de-nossa-senhora-das-neves-i-2/

(4) Domingos Marques (1730-1787) e sua mulher estavam sepultados na Igreja de S. Agostinho. A lápide foi removida em 1960 para as ruínas de S. Paulo onde foi partida em dois pedaços em 1967, e depois depositada  na Fortaleza do Monte. (2)

(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-francisco-de-n-s-da-luz-chacim/

Extraído de «Ephemerides da semana» de A. Marques Pereira  in Bol. do Gov. de Macau XII-36, 1866.
NOTAS:
1 – O governador era Diogo de Pinho Teixeira (tomou posse em 5 de Agosto de 1706 e governou até 28-07- 1710). Teve um mandato muito complicado com as constantes desavenças com o Senado de Macau e com o Bispado (por causa das contendas entre partidários do Patriarca de Antioquia e os do Padroado Real)
Anteriores referências neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/diogo-de-pinho-teixeira/
2 – O Patriaca de Antioquia desde 1701, era o legado apostólico Carlos Tomás Maillard de Tournon (1668-1710) que chegou a Macau, pernoitando apenas na Ilha Verde, a caminho de Cantão tendo sido enviado à China, pelo Papa Clemente XI, para acabar com as controvérsias entre os jesuítas e os missionários de outras ordens, sobre os Ritos Chineses. Faleceu em Macau a 8 de Junho de 1710, pouco depois de receber o barrete cardinalício.
Anteriores referências  aeste Patriarca em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/carlos-tomas-maillard-de-tournon/ 
3 – Devido à ocupação e à independência de Portugal de Espanha  e à disputa quanto à nomeação do novo bispo , desde 1633 (o último Bispo foi D. Diogo Correia Valente de 1630 a 1633) até 1690 ficou vaga o lugar de Bispo de Macau. O Bispo D. João do Casal (1641-1735), do hábito de S. Pedro, foi nomeado em 1690 por D. Pedro II, confirmado pelo Papa Alexandre VII, que na mesma data criou as Dioceses de Macau, Nanquim e Pequim, como distintas, cada um com o seu Bispo. D. João do Casal chegou a Macau tomando posse em 1692, instituiu o Cabido de Macau em 1698,  foi Provedor da Misericórdia, em 1706, e Governador Interino de Macau, em 1735. Faleceu em 20-09-1735, em Macau tendo sido sepultado na Sé Catedral-
Anteriores referências ao Bipso D. João do Casal em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-joao-do-casal/
Informações de: SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 1 e 2,  1997)

25-08-1710 – Neste dia se alterarão fortemente os Chinas desta Cidade, na qual entrou hum Mandarim com seus soldados da Caza Branca, pela noticia que tiverão de que hum Português chamado Manoel Ayres de Oliveira (ou Manuel Álvares de Oliveira) Condestavel de hum Navio e cazado nesta cidade mattara hum China o qual depois de morto metteo em hum sacco ou Gune de Bangalla e o deitou ao mar, sem advertir que o dito sacco levava a sua marca. Forão taes as perturbações que os Chinas fiserão que depois de achar morto o Corpo do China no dito Sacco, que dellas resultou haver bastantes pancadas, que huns levarão, outros derão, não havendo mais remedio para se acabar esta tão grande história, do que prender o Ouvidor (Ouvidor Gaspar Martins) ao mattador no tronco, para se faser justiça nelle, porque as provas são verdadeiras de que elle fora o aggressor. Enviou-se para o  Baluarte de Bom Parto, (1)  e ahi se fes nelle a execução da morte, e para esta ter effeito tres veses quebrou o garrotte primeiro que morresse.  Assistirão a este acto de execução os P.es José d´Almeida e João Pereira, ambos da Companhia de Jesus, e tambem a mulher, e parentes do China morto e Ouvidor que era o Vereador mais velho Gaspar Martins.” (2)
NOTA: Nesse ano de  1710, a cidade de Macau vivia sobressaltada quer pela morte do Cardeal Patriarca Carlos Tomás Maillard de Tournon (a 8 de Junho) quer pelo permanente  conflito entre o Senado (com o apoio dos jesuítas) e o Governador Diogo de Pinho Teixeira (posse a 5-10-1706, com a residência na Fortaleza do Monte). Houve uma acalmia com a posse do novo governo de Francisco de Melo e Castro (em 28-07-1710) embora passado um ano depois, este fosse também desapossado pelo seu procedimento despótico (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 2)

Carte de lentrée de la Reviére de Canton 1750“Carte de l´Entrée de la Riviere de Canton”  c. 1750
A “Isle de Macao” com a península “de Macau” ao sul.

(1) A Fortaleza de Nossa Senhora do Bom Parto que se supõe ser amais antiga fortaleza de Macau, estava concluída em 1622. Desmantelada em 1892 e destruída posteriormente, quase por completo, com a construção da Avenida da República.
(2) BRAGA, Jack –  A Voz do Passado. 1964

Pelas 10 horas de manhãa mandou o Governador Diogo Teixeira de Pinho(1) correr bando pelas ruas da Cidade para que na tarde deste dia se achassem todos em sua Caza assim Cidadãos como os mais filhos da terra, sem excepção de pessoa alguma que não tivesse justo impedimento e fasendo pôr sentinelas na porta da rua, fes assignar a todos com ameaças o termo da nova Eleição que pretendia faser dos Ministros e Officiaes do Senado que havião de servir dali em diante, e tendo se feito tudo quanto elle Governador  queria sem embargo de ser tudo nullo, houve de sahir António de Sousa Gaio por Vereador, e também José da Cunha, e João da Cunha Lobo por Juis, Escrivão Francisco de Mendonça e Procurador Thomás Garcias de Coutto. Depois de ser feita por esta forma a Eleição nova, mandou o Governador huma Carta aos Padres da denominada Companhia que largassem os homens que estavão no Seminario porque já não eram Ministros do Senado, e que o povo tinha feito novamente outros para Governarem a Cidade e como os Padres zombarão de semilhante rezolução, mandou o Governador cercar todo o Convento até a mesma porta que deita para o campo e tambem a porta travessa do Seminario, que por tudo forão seis sentinellas em roda, tudo isto succedeo no dia 17 de Maio. Aos 19 do mesmo mez se auzentou João da Cunha Lobo que tinha sahido por Juis da nova Eleição antecedente o qual foi homeziar no Seminário referido levando em sua Comp.ª os seus tres filhos. Outra vez se ajuntarão os homens bons na Cidade para faserem outro juis na falta daquelle que se tinha homeziado e fiserão então a Manoel Gomes cunhado de Manoel Pereira digo Manoel Peres, e este novo Juis se recolheo no mesmo Seminario. Neste dia sempre o Governador fes deligencias para entrar no Seminario por força o Ouvidor para tirar os mesmo que la estavão. Dias digo dois dias continuados se pôs huma meza no Pateo ou Adro da Igreja de S.m Paulo, em que assestia o Ouvidor Geral e o Provincial da denominada Comp.ª e tambem o Advogado do Ouvidor Manoel de Abreu Preto, a qual deligencia chamavão imùnidade, aqui se disputou este negocio apresentando os Padres os seus pevilegios, e acharão razões para não entrarem por força no seu Convento. Deixarão o Governador e seus Conselheiros desta deligencia, e dahi a poucos dias mandou elle Governador levar hua pessa de Artilheria do Navio de António da Cruz para arrazar a parede e portas do Seminário, mas não achou a peça capas para este desempenho, o que visto mandou o Condestavel logo para a Fortaleza do Monte embocar a Artilheira para arrazar o Colégio como também o Seminario. Foi obrigado o Sr. Bispo ir pedir-lhe que deixasse destas couzas para a quietação da terra. Não quis elle Governador ceder aos rogos do Bispo o qual tomou a rezolução de ir para a Se e mandar expor o Santíssimo Sacramento onze dias a fio athe o primeiro de Junho que recolheo o Sacramento” (2)

                   Seminário S. José J. Braga A Voz do Passado A Igreja do Seminário de S. José num esboço de George Chinnery (viveu em Macau 1825 a 1852)

NOTA: Esta disputa de “poderes”- conflito entre o Senado e o Governador Diogo de Pinho Teixeira e em que tomaram parte principal os jesuítas e outros regulares, prolongou-se até Julho desse ano, terminando somente com a posse do novo Governador e Capitão Geral, Francisco de Mello e Castro a 28 de Julho. Este veria também a ser desapossado, um ano depois, pelo seu procedimento despótico.

(1) Sobre este Governador, Diogo de Pinho Teixeira, ver anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/07/19/noticia-de-19-de-julho-de-1707/
(2) BRAGA, Jack M. A Voz do Passado. Instituto Cultural de Macau, 1987, 78 p.

“Neste dia por ordem do Governador desta Cidade Diogo Ferreira de Pinho (1) se pregou a mão do sargento António Rodrigues na porta da rua da sua mesma Caza, por ter forçado hua moça Timora no Campo” (2)

(1) O nome correcto do Governador era Diogo de Pinho Teixeira, nomeado em 5 de Agosto de 1706 e governou até 28 de Julho de 1710 (data da tomada de posse de Francisco de Melo e Castro). Foi durante o governo de Diogo de Pinho Teixeira que se agudizaram os conflitos entre o Senado e o Governador, chegando ao ponto, deste ter ordenado fogo (dois tiros)  da Fortaleza do Monte onde residia contra a casa da Câmara (arrombou o portão matando o porteiro). As desavenças entre Governadores e o Senado de Macau eram permanentes pelo que o Governador Francisco de Melo e Castro, em carta a D. João V, solicitava que uma das duas instituições deveria ser extinta. Francisco de Melo e Castro foi desapossado um ano depois, pelo seu procedimento despótico (3).
(2) BRAGA, Jack M. – A Voz do Passado. Instituto Cultural de Macau, 1987, 78 p.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XVIII, Volume 2. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª edição, Macau, 1997, 217 p. , ISBN-972-8091-09-5