“A velha cathedral de Macau, que existia no mesmo logar da nova que representa a estampa, era construída de taipa (terra com cal humedecida e batida), como a maior parte dos antigos edifícios da cidade. Os estragos do tempo, e os furiosos vendavaes ou tufões que de vez em quando assolam aquellas paragens, a reduziram a tal estado de ruinas, que o cabido pelos annos 1835 ou 1836, achando-se a sé vaga, resolveu cessar a celebração dos officios divinos n´aquella egreja, e com auctorisação do governo , passou a servir de cathedral a egreja do convento de s. Domingos. (1)
Este templo, posto tivesse melhores condições, por ser mais moderno, vasto, e construído de tijolo, estava mal situado para aquellas funcções, por causa da proximidade do basar chinez, onde sempre ha muita agitação e estrondo.
Por isso começou a pensar-se no concerto da antiga cathedral, muito melhor situada, e contigua ao palacio episcopal. Tão reconhecida era a necessidade d´esta mudança, que a curia romana, quando expediu as bullas de confirmação do bispo de Macau, D. Nicolao Rodrigues Pereira de Borja, em 1843, recommendou particularmente este assumpto ao zelo d´aquelle prelado. Este não descurou d´elle, conseguindo, por suas representações, que fosse expedida pela secretaria da marinha e ultramar, em 26 de fevereiro de 1844, uma portaria auctorisando o mesmo prelado para fazer na antiga sé, de accordo com o governador da colonia, os reparos e concertos que se julgasse necessarios.
Cathedral de Macau – Desenho de Nogueira da Silva – Gravura de Flora
Feito o competente exame ao velho edifício, achou-se que não admittia concertos, e resolveu-se a completa reedificação. Promoveu-se subscripção entre os habitantes, que produziu de seis a sete mil patacas (seis a sete contos de reis), e deu-se começo à obra em dezembro de 1844, sob melhor forma e nova orientação.
A antiga sé tinha o fronstispício para oeste, e estava como apertada entre as casas proximas e o palacio episcopal, que ficava a um canto, e encoberto em grande parte pela mesma sé. A nova egreja tem a frente para norte , ficando a frontaria do palacio desembaraçada e mais vistosa, como mostra a estampa.” (2)
Artigo assinado por “C.” do ” Archivo Pittoresco, Semanario Illustrado“, Vol I, 1857, n.º 35.
(1) “05-08-1835 – Data do tufão que fez tantos estragos na Sé Catedral que o cabido obteve a autorização em 29 de Fevereiro de 1844, para transferir provisoriamente a Catedral para a Igreja de São Domingos. Foi em S. Domingos que se fez a cerimónia de Sagração do Bispo D. Jerónimo José de Matta em 1835. A Sé ficou reconstruída em 1850 (SILVA, Beatriz B. – Cronologia da História de Macau, Volume 3)
03-08-1836 – Por a igreja da Sé ter ficado muito danificada com o tufão a catedral foi provisoriamente transferida para a Igreja de S. Domingos (GOMES; L. G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(2) Foi sagrada a 14 de Fevereiro de 1850.
“14-02-1850 – Foi sagrada, pelo Bispo D. Jerónimo da Mata a igreja da Sé, reconstruída por iniciativa do Bispo D. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja, em Dezembro de 1844, e com o produto de uma subscrição entre os habitantes da cidade. A igreja, que foi reconstruída no mesmo sítio da antiga, sofreu alterações no frontispício. (GOMES; L. G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
NOTA: A Sé Catedral viria a sofrer grandes beneficiações/restauro em 1874, 1889 e 1938. Esta foto é da década de 20 do século XX (c. 1927) antes do restauro de 1938.
(COLOMBAN, Eudore de – Resumo da História de Macau, 1927)