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Extraído de «A Voz do Crente», I-1, de 1 de Janeiro de 1887

O estabelecimento oficial das Canossianas em Macau deve-se a D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, bispo desta diocese desde 1873 a 1883. Foi ele que pediu oficialmente à Superiora de Hong Kong, Madre Stella para que as Canossianas se estabelecessem definitivamente em Macau. O bispo Enes só chegou a Macau a 2 de Janeiro de 1877 mas as Canossianas porém já estavam em Macau, antes dos finais de 1873 ou princípios de 1874. Na altura abriram uma escola chinesa para as crianças pobres que foi aumentando que logo necessitaram de maior espaço. Inicialmente na Rua de S. Paulo até ao tufão de 1874; depois na Rua de Santo António; e mais tarde na Horta da Companhia. Abriram também uma escola em S. Lázaro para as meninas chinesas. O Governador do Bispado Deão Manuel Lourenço de Gouvea e o Padre António Medeiros conhecendo o prestimoso auxílio das irmãs canossianas, pensaram em comprar uma casa maior. Adquiriram o edifico intitulado “Casa da Beneficência” (no Largo de Camões). (1)

Aí, em 1876, as Canossianas acolhiam meninas órfãs tanto europeias como chinesas. Até 1886, a escola da Casa de Beneficência era exclusivamente chinesa. Mas nesse ano muitas famílias portuguesas manifestaram o desejo de internar lá as suas; outras pretendiam também que as suas filhas lá estudassem como externas. Essa escola canossiana de instrução Primária (para além da instrução primária tinham aulas de inglês, francês, música, piano etc., e depois instrução secundária) esteve instalada na Casa de Beneficência durante quase um século, por isso também conhecido como «Colégio da Casa de Beneficência» (2)

(1) Era chamado pelos chineses, ”Hotel queimado”, sede da Procuratura das Missões estrangeiras francesas em Macau que vagou em 1847 com a transferência da sede dessa Procuratura para Hong Kong (2)

(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982, pp.327-331

A sagração episcopal de D. Arquimínio da Costa realizou-se a 25 de Março de 1976.
A nomeação do novo bispo de Macau, na pessoa do Padre Arquimínio Rodrigues da Costa (1) pelo Papa Pauli VI, veio preencher a vaga deixada pelo falecimento de D. Paulo José Tavares. A notícia do acontecimento, foi transmitida em 21 de Janeiro de 1976, pela Rádio Vaticano e foi recebida pela população católica de Macau com manifesto regozijo, dada a simpatia que o nomeado desfrutava em Macau.

O novo prelado dá entrada na Sé Catedral

A Sé Catedral vestiu as suas melhores galas pera receber o seu novo Antístite, e os Revs. Prelados que vieram presidir à cerimónia litúrgica da sagração. Dísticos em português e chinês engalanavam o frontispício do templo e saudavam o novo prelado com o dizer evangélico: «BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR».

Arquimínio da Costa dirige, pela primeira vez, como Bispo de Diocese, a palavra aos fiéis

A assistência à cerimónia da sagração episcopal, vendo-se no primeiro plano o Governador, coronel Garcia Leandro e Sua esposa.

Nas primeiras bancadas destacava-se a presença do Governador, Coronel Garcia Leandro e esposa, Madre Maria Clemência da Costa (irmã de D. Arquimínio), os Secretários-adjuntos, o Meritíssimo Juiz da Comarca, o Cônsul-Geral da França e muitos Chefes de Serviços e suas esposas. Em lugar especial da capela-mor, via-se o Bispo Anglicano de Hong Kong, Dr. John Gilbert Baker, o Rev. Frank Lin, pastor anglicano da Igreja de S. Marcos, em Macau e esposa.

Outro aspecto da assistência, estando na primeira bancada, destacadas autoridades oficiais.

D. Arquimínio da Costa entrou na Catedral na companhia do Bispo Sagrante, D. João Baptista Wu, de Hong Kong e dos Bispos consagrantes, D Carlos Lemaire, Bispo titular de Otrus, e D. Júlio X. Labayen, Bispo da Prelatura de Infanta, Filipinas.

O Governador de Macau apresenta os seus cumprimentos de felicitações a D. Arquimínio Rodrigues da Costa

(1) D. Arquimínio Rodrigues da Costa (1924 – 2016)  高秉常, natural da Ilha do Pico (Açores), veio para Macau na companhia de Monsenhor José Machado Lourenço, com mais três companheiros, em 1938, dando ingresso no Seminário de S. José a 8 de Dezembro desse ano. Foi sempre um aluno modelar, tanto no comportamento como nos estudos, pelo que foi durante anos subprefeito da disciplina dos seminaristas (1949-1953). Terminado o Curso Teológico, foi ordenado sacerdote por D. João de Deus Ramalho, S. J., no dia 6 de Outubro de 1949, celebrando a sua missa nova três dias depois. Foi professor de várias disciplinas, entre as quais Filosofia tanto para alunos internos como externos. Ficou reitor interino do Seminário de Fevereiro a Maio de 1955, na ausência do então reitor Cónego Juvenal Alberto Garcia (gozo de licença graciosa). Em 1957 seguiu para Roma a fim de cursar Direito Canónico na Universidade Gregoriana onde se licenciou em 1959. Regressou a Macau no dia 15 de Outubro de 1960, sendo novamente nomeado prefeito da disciplina e professor do Seminário. Em 1 de Agosto de 1961, foi nomeado reitor interino e, em 30 de Novembro, reitor efectivo daquele estabelecimento. Nomeado governador do Bispado nas ausências, em Roma, de D. Paulo José Tavares, em 1963 e 1965, durante o Concílio Vaticano II. Com a transferência do curso filosófico para o Seminário do espírito Santo de Aberdeen, Hong Kong, foi nomeado professor daquele estabelecimento de ensino, a partir do ano lectivo de 1968-69, onde lecionou Filosofia e Latim e foi prefeito de estudos do Curso Filosófico.
A 14 de Junho de 1973, foi eleito pelo Cabido vigário capitular da Diocese, cargo que exerceu até ser eleito Bispo de Macau. Bispo de Macau entre 1976 e 1988. Foi o último bispo de etnia portuguesa da Diocese de Macau. Eleito Bispo emérito de Macau, em 06-10-1988, regressou à sua terra natal nos Açores.
D. Arquimínio da Costa foi o terceiro Bispo de Macau, natural da Ilha do Pico, os outros dois foram D. João Paulino de Azevedo e Castro e o Cardeal D. José da Costa Nunes. É o quinto bispo natural dos Açores, sendo os outros, o Bispo D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, da Ilha de S. Jorge, e o falecido Bispo D. Paulo José Tavares, da Ilha de S. Miguel.
Extraído de «MBIT» N.º 1-2, 1976.

Projectada a Igreja de N.ª S.ra do Carmo na Ilha da Taipa, apesar de concluída só em 1885. A ideia foi do Tenente João Procópio Martins Madeira, Comandante Militar da Taipa, que expôs ao Governador José Maria Lobo d´Ávila (1874-1876) em seu ofício n.º 85 de 8 de Dezembro de 1875, a necessidade de uma capela na Taipa e outra em Coloane. O Governador entregou o ofício ao Governador do Bispado de Macau e Deão da Sé, Manuel Lourenço de Gouveia. (1)
ROTEIRO DAS ILHAS TAIPA Igreja N. S. CarmoOfício de 8-12-1875 do Comandante Militar da Taipa ao Governo de Macau:
Sendo certo o que a história nos mostra que os nossos antepassados percorreram o mundo atravessando mares, arriscando a vida e os haveres para engrandecer a nossa Pátria com novas descobertas, e a religião de nosso Redemptor com maior numero de fieis, sendo tambem certo que onde fluctua a bandeira das quinas está arvorada a cruz de Christo, symbolo da mesma, é de estranhar que havendo ha muito tempo duas povoações  portuguesas importantes, Taipa e Coloane, tam proximas de um estabelecimento de missões, destinado à conversão de gentios e com fundos e elementos bastantes à sua disposição, para engrandecimento da Relegião Catholica Apostolica Romana , não haja uma unica Capella n´estas povoações onde ao menos os christãos aqui residentes possam cumprir os preceitos da religião do Estado e que seus paes lhes ensinaram. ..(…)
…As razões acima erão já bastantes, ainda que não houvessem, como ha maior numero de ellas para eu pedir a Sua Exa, digo a V. Sa. que leve ao conhecimento de Sua Exa. o Snr. Governador  estas considerações afim do mesmo Snr, servindo-se tomal-as em consideração propor ao Revdo. Snr Governador do Bispado para fazer duas capellas n ´estas Povoações, sendo uma na Taipa e outra em Coloane, formando assim duas freguesias“.

ROTEIRO DAS ILHAS TAIPA Igreja N. S. Carmo 1996

FOTO de 1996

Embora a ideia do Tenente Madeira fosse aprovada pelo Governador Lobo de Ávila e pelo Deão Lourenço de Gouveia, Governador do Bispado, (2) e depois retomada e reforçada pelo bispo D. Manuel Bernardo de Sousa Enes e secundada pelo Governador Joaquim José da Graça (1879-1883), somente foi concluída  em 1885, durante o episcopado de D. António Joaquim de Medeiros (1883-1897).
A 29 de Agosto de 1882, o director das Obras Públicas, Eng. Constantino José de Brito apresentava ao Governador o orçamento para a construção da igreja na Taipa, dizendo: “Existem naquela ilha, segundo a estatística de 1880, 3.230 habitantes, dos quaes são apenas 35 christãos…”
O terreno em que se projecta a Igreja fica num monte sobranceiro à povoação  e próximo dela, para o qual se sobe por uma calçada denominada do Carmo, motivo para a invocação de Nossa Senhora do Monte do Carmo.
O orçamento era inicial de 10.800.00 patacas (custou mais pelo atraso da construção) e estava prevista a conclusão em 10 meses. A pedra da igreja veio da pedreira de Hapui Van na Taipa (frente à pedreira de Seac Pai Van, de Coloane)
Quando em 1883 se tratou da construção da igreja de N. Sra. do Carmo, pretenderam as Obras Públicas aproveitar-se das pedras da colina Lon-Van, mas os habitantes da povoação opuseram-se e houve que desistir (episódio que narrarei numa próxima postagem acerca do “Fong Soi” da Ilha).
ROTEIRO DAS ILHAS TAIPA Igreja N. S. Carmo 1996 IIEste edifício de formas e linhas sóbrias, e de cor amarela no exterior, tem três pisos , com 29 metros de comprimento e 9 metros de largura. Na fachada principal tem uma torre sineira. O coro está bem projectado, permitindo, deste modo, um bom aproveitamento acústico do interior da igreja. As janelas permitem uma maior recepção da luz do Sol. Para além do altar-mor, tem ainda um pequeno altar no lado esquerdo da entrada, ambos dedicados a Nossa Senhora do Carmo. Ao lado direito do altar-mor vê-se uma imagem de S. José e do lado esquerdo uma imagem do sagrado Coração de Jesus.” (3)
Foi seu primeiro pároco-missionário o P. José Vicente Costa, nomeado em 16 de Setembro de 1885.
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) “09-02-1876 – Construção de uma Capela na Vila da Taipa. O assunto é levantado de novo”.
“01-04-1876 – Pela Portaria n.º 20, publicado em B. O., desta data, é aprovado o projecto e orçamento da construção de uma Ermida na Taipa”
(3) Roteiro da Ilhas – Ilha da Taipa. Câmara Municipal das Ilhas, 1996