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No dia 27 de Julho de 1893, foi criado, por decreto desta data, o Liceu Nacional de Macau, (1) (2) (3) foi criado por Carta de Lei desta data, o Liceu Nacional de Macau. Foi entregue ao Reitor em Abril de 1894 o edifício do antigo Convento de Sto Agostinho, restaurado, para funcionamento desse estabelecimento escolar. (3) (4). Entretanto foi-se nomeando o corpo docente. (5) (6)  

Extraído de «Echo Macaense», I-1 de 18/7/1893

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, pp. 300, 301, 306 e 309

(3) 28-09-1894 – Foi inaugurado o Liceu Nacional de Macau, instalado num Convento de Santo Agostinho, com uma simples visita do Governador Horta e Costa. Não se realizou nenhuma solenidade, por a família real se encontrar de luto. (1) (2)

(4) 21-10-1893 – Estudo das obras e despesas de adaptação do edifício do Convento, que seria depois o Quartel de Sto Agostinho, para instalação do Liceu Nacional de Macau. (2)

(5) Entre as primeiras nomeações: 14-04-1894 – Wenceslau de Morais é nomeado professor de Matemática Elementar do Liceu Nacional de Macau. (2) 16-04-1894 – Wenceslau de Moraes tomou posse do cargo de professor da 5.ª cadeira do Liceu Nacional de Macau, Matemática Elementar. O colega do 8.ª cadeira, Filosofia Elementar era Camilo de Almeida Pessanha (2)

(6) O Liceu foi Nacional de 1894 a 1898, com o curso completo; continuou coma designação de Nacional, mas sem a 6.ª e a 7.ª classes, de 1898 a 1918; foi Central, readquiridas essas classes, de 1918 a 1933; foi Nacional de 1933 a 1936, em que foi classificado como Provincial; voltou a ser Nacional em 1937 e assim se tem mantido até hoje. Por Portaria n.º 2350, de 17 de Julho de 1937, foi dado ao liceu por patrono Luís de Camões; mas, logo a seguir, por Portaria n.º 2366, de 21 de Agosto do mesmo ano, foi-lhe dado por patrono o Infante D. Henrique, visto haver em Lisboa um liceu com o nome de Luis de Camões. (TEIXEIRA , P. Manuel – Liceu Nacional Infante D. Henrique (1894-1969), 1969, pp. 146-147)

NOTA- anteriores referências ao Liceu Nacional em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liceu-centralnacional-de-macau/

Eudore de Colomban Leal Senado 1927O primitivo edifício data provavelmente de 1584 e tinha como anexo o tronco e a cadeia. Daí a denominação de Calçada do Tronco Velho e Beco da Cadeia dada às vias públicas que lhe ficam próximas. Em 1783 foi reconstruído e ampliado, passando a ter um aspecto já muito próximo do actual; em 1874, depois do tufão  que praticamente o destruiu, foi objecto de novas e profundas obras de reconstrução. Em 1940 sofreu importantes obras de remodelação. por ocasião do Duplo Centenário da Independência e de Portugal.

Revista Casa e Jardim 1994 - LEAL SENADO FotoLEAL SENADO em 1994

Ver anteriores referências ao Leal Senado em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/29/leitura-o-leal-senado-da-camara-de-macau/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leal-senado/

Eudore de Colomban Ilha Verde e Fábrica de cimento 1927Colina da Ilha Verde com 57 metros de altura e a fábrica de cimento «Green Island Cement Works» que era gerida nesse ano de 1927 por T. Arnott.

A Ilha Verde deixou de ser “ilha” em 1890 com a construção do dique que o ligava a Macau. O istmo de ligação no início conhecido pela designação de Estrada do Dique da Ilha Verde, viria a ficar com o nome do governador que o mandou construir, Avenida Conselheiro Borja. (Governador Custódio Miguel Borja, 1890-1894).
Em 7 de Maio de 1886, celebrava-se o contrato entre o Seminário de S. José e Creasy Ewens que estabelecia, na Ilha Verde, a «Green Island Company Limited» e quatro dias depois, em 11 de Maio, era concedida licença ao solicitador judicial de Hong Kong, Creasy Ewens para o estabelecimento, nessa Ilha Verde, da referida fábrica.(1)

POSTAL de 1906 - Fábrica de Cimento na Ilha VerdeGreen Island Cement Factories, Macao, 1906 ou 1907
http://industrialhistoryhk.org/green-island-cement-company/

Desta fábrica saiu cimento para muitas das obras que se fizeram em Macau nomeadamente os referenciados no aterro do porto interior (2) e na Rua do Hospital (depois chamada Rua de Pedro Nolasco da Silva (3)
A fábrica de cimento prosperou até carecer de matéria-prima (pedra que deveria vir de Cantão). Conservando o nome da Fábrica de Cimento da Ilha Verde, «Green Island Cement”  mudou-se para East Kowloon (Hong Kong), em 1898 ou 1899, onde ainda hoje permanece. A fábrica em Macau continuou a sua laboração. (4)
Em 8 de Agosto de 1926 houve rescisão do contrato de arrendamento do terreno a sul da Ilha Verde com a área de 13.335 m2 feiro a favor “The Green Island Cement Co Ltda”  (FAC Proc 15162 a 15175) (5) e surge em 1929, outra fábrica inglesa de cimento, no mesmo sítio,  a «The Green Island Cement Works» que aproveitava os lodos do Porto Interior, junto à Ilha Verde, e produzia uma média diária de 70 toneladas mas viria a falir em 1936 (6)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954 ; e
http://www.macaudata.com/upload_files/book/1065/p-163.html
(2) “2- 09 – 1889 – Fundo de Administração Civil Proc 897 a 932 MCAHM/AC/38/707/A. G12 – Processo 929 Termo do contrato feito entre o Estado  a Companhia “Green Island Cement Company Limited” para proceder o aterro do porto interior.
http://www.macaudata.com/upload_files/book/1065/p-163.html
(3) “1917 – A Rua do Hospital depois chamada Rua de Pedro Nolasco da Silva, pavimentada nesta data pelas Obras Públicas, foi a primeira a utilizar, na sua pavimentação, cimento vindo da fábrica da Ilha Verde que começara a operar, por mão de ingleses, em 1886.”(SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)
(4) “In 1898 or 1899, the  company moved to a location on the harbour front at  Hok Yuen, an area in East Kowloon near Hung Hom where  a larger and more fully equipped factory was built. (The Macau “factories”  appear to have continued.)
http://industrialhistoryhk.org/green-island-cement-company/
(5) http://www.macaudata.com/upload_files/book/1065/p-163.html
(6) “1936 – Faliu a Companhia de Cimento que, por contrato celebrado pelo sr. Creasy Evans, com o Seminário de S. José, se estabeleceu na Ilha Verde”  (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)

Regulamento Contribuição Predial 1893 CAPAOpúsculo com o regulamento para o lançamento e cobrança da Contribuição Predial em Macau, aprovado por Decreto de 9 de Março de 1893, impresso em Lisboa pela Imprensa Nacional, em 1893 (1)
Na capa, carimbo de posse “MINISTÉRIO DAS COLÓNIAS – ARQUIVO

Regulamento Contribuição Predial 1893 1.ª pNa 1.ª página carimbo com “OFERECIDO PELO MINISTÉRIO DAS COLÓNIAS
Preâmbulo do Decreto:
“Tomando em consideração a proposta do governador da província de Macau e Timor, (2) no sentido de ser modificado o regulamento para o lançamento e cobrança da contribuição predial, em harmonia coma s circumstancias especiaes da capital da mesma província; tendo ouvido a junta consultiva do ultramar e o conselho de ministros, e usando……(…)
Assina: o ministro e secretário d´estado dos negocios da marinha e ultramar assim o tenha entendido e faça executar, Paço, em 9 de março de 1893 = REI (3) = João António de Brissac das Neves Ferreira. (4)
Este regulamento viria a ser revogado pelo Diploma Legislativo n.º 1630 (5)
(1) Regulamento para o lançamento e cobrança da Contribuição Predial em Macau. Imprensa Nacional, Lisboa, 1893, 83 p., 23,5 cm x 15 cm.
Custódio Miguel de Borja(2) Custódio Miguel Borja (1849-1911) foi governador de Macau e Timor entre 16 -10-1890 e 24-03-1894. Depois passou a ser encarregado de negócios (Outubro de 1890) e Ministro plenipotenciário de Portugal na China (Abril de 1891), Japão e Tailândia (Julho de 1891).
(3) O rei era D. Carlos I que reinou de 1889 a 1908, assassinado pelos republicanos a 1 de fevereiro.
João A. Brissac das N. Ferreira(4) João António de Brissac das Neves Ferreira (1846 – 1902) foi um militar e administrador colonial português: governador de Benguela (1880), do Congo Português (1885-1889), de Moçambique (1889 -1890), de Angola (1896 – não chegou a tomar posse pois teve de ir à Índia Portuguesa.) Em 1893 foi encarregado do Ministério da Marinha e Ultramar, chamado pelo conselheiro Hintze Ribeiro, o 1.º mandato de 1893 a 1897 como Presidente do Concelho de Ministro (foi três vezes)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Ant%C3%B3nio_das_Neves_Ferreira#/media/File:Jo%C3%A3o_Ant%C3%B3nio_das_Neves_Ferreira.jpg
(5) Diploma Legislativo n.º 1630 – Aprova o Regulamento da Contribuição Predial Urbana. – Revoga o Regulamento da Contribuição Predial Urbana de 9 de Março de 1893 e demais legislação posterior que o tenha aditado ou alterado.

Nos dias 20 e 21 de Abril de 1892, os comerciantes chineses de Macau estiveram em greve. Mais uma vez a questão dos monopólios – agora do vinho chinês liu-pun, que fora arrematado ainda por cima a um chinês de Hong Kong. A questão foi encaminhada para a resolução na Corte, em Lisboa e o Visconde de Senna Fernandes assumiu a questão do pagamento de taxas que o arrematante exigia, até vir resposta, o que de momento acalmou os ânimos. (1)

Este protesto foi originado pela publicação do Decreto do Governo de Sua Majestade Fidelíssima, de 1 de Outubro de 1891, para que estabelecesse em Macau o exclusivo da bebida chamada liu-pun, a que estavam ligados muitos interesses chineses. Já em Boletim Oficial de 6 de Abril de 1892, o Governador Conselheiro Borja alertava e põe desta data um ponto de ordem sobre uma agitação provocada através de pasquins afixados publicamente por «certos perturbadores da ordem, mal intencionados» acerca desse Decreto (1)

O vinho liu pun (2) – vinho de fermentação de arroz – era uma das indústrias mais rentáveis em Macau. Em 1927, por exemplo, existiam 48 fábricas em Macau que produziam o vinho liu pun. Estavam registas 56 firmas que importavam e exportavam o mesmo vinho. A «venda por grosso» fazia-se através de duas firmas e na «venda a retalho» no território, estavam autorizadas 126 casas comerciais.

Outras notícias posteriores a esta data , relacionadas com esta greve:
05-05-1892 – 14-06-1892 Arrematação do exclusivo do vinho chinês “Liu-Pun”
http://www3.icm.gov.mo/gate/gb/www.archives.gov.mo/webas/ArchiveDetail2013.aspx?id=19674
10-05-1892 – Ofício do Leal Senado ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, a enviar cópia de um requerimento dos chineses de Macau, em que pedem a abolição do exclusivo do vinho “Liu-Pun”
http://www.archives.gov.mo/webas/ArchiveDetail2013.aspx?id=19677
17-05-1892– Pedidos feitos pelos capitalistas e comerciantes chineses de Macau da abolição do exclusivo do vinho Liu-Pun e da conservação integral da franquia do Porto de Macau.
http://www.archives.gov.mo/webas/ArchiveDetail2013.aspx?id=19680
08-07-1892 – 09-07-1892 – Auto de averiguação feita pela Administração do Concelho de Macau acerca dos boatos que correm a dizer que haveria uma greve por parte dos comerciantes chineses sobre a questão de Liu-Pun
http://www.archives.gov.mo/webas/ArchiveDetail2013.aspx?id=19710
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 3.º Vol., 1995
(2) Utilizado na cozinha macaense como por exemplo na «Galinha de Chau-Chau parida». Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/04/24/postais-de-gastrono-mia-macaense-o-sabor-e-aroma-de-macau-v/

Dum livro escolar, editado pelos Serviços de Publicações do Comissariado Provincial da Mocidade Portuguesa de Angola, de 1972 (1), retiro este artigo referente a uma personalidade macaense que poucos conhecem e que merece a sua divulgação.

“ Uma firme e serena fisionomia, um comportamento exemplar e simpático, uma modesta e prestável gentileza – eis as marcas que julgam de engrandecer-lhe todos quantos ainda o conheceram.
Macau inteiro ainda recorda na convivência das pessoas e das coisas da governação, na defesa dos interesses da camada simples do povo, donde nascera. Homem curioso e culto, foram mesmo a sua elegância e simplicidade de maneiras que constituíra, na sua curiosa carreira, o valioso suporte de toda a sua acção.
Nós...Somos Nós - José Anock
Nasceu de pais chineses, na paróquia de St.º da velha cidade, em 1 de Fevereiro de 1867. Ainda soavam nítidos os ecos da vibrante ousadia de Nicolau de Mesquita ante as injustas pretensões de vizinhos dos meados do século.
Choi Anock teve a sorte de receber dos pais e dos missionários de sua comunidade uma boa iniciação cristã. Depois de seus primeiros estudos, em que não lhe foi difícil aprender a língua do seu País, alistou-se, de rapaz, no serviço da marinha. Criado de bordo, primeiro em navios portugueses que escalavam o porto de Macau, empregou-se depois como despenseiro numa canhoneira da nossa Marinha de Guerra. Todos o conheciam e consideravam pela sua arte de culinária, pela sua obediência e zelo de ofício. Todos: oficiais e camaradas, chineses e portugueses.
Coisa curiosa! Certos amores o foram prender, nas suas idas e vindas à capital do Reino, a uma senhora de Lisboa, de quem teve dois filhos.
Mas Choi Anock, que continuou ao serviço do Estado, voltou depois à sua terra oriental, constituiu família legal, educou e formou os seus filhos no mais genuíno amor nacional, no mais estrito acatamento das leis cristãs e portuguesas.
Vários governadores, dentre os quais salienta o macaense Artur Barbosa, julgaram-no indispensável no palácio. Precisando dos seus serviços, nomearam-no fiel o do Palácio, onde «a sua presença – como lemos em registo biográfico do «Noticias de Macau» – se notava pelo seu porte, pela disciplina que impunha a todos os seus serventuários, pela forma como dirigia um banquete, desde o arranjo da mesa até ao serviço dos criados, que o estimavam e cumpriam todas as suas indicações».
No seu despacho, no seu esmero, nas providências que tomava para chás, banquetes, recepções, de dia ou da noite, descansavam as senhoras do palácio. O fiel Choi Anock ganhou de todos, grandes e pequenos, o mais distinto e justo conceito.
Vivia já a sua meia idade quando, sentindo-se com aptidões superiores às de simples fiel, pediu que o dispensassem para se dedicar ao comércio particular. E sorrindo-lhe a sorte dos seus negócios, não se fechou egoisticamente no gozo dos seus bens. Bondoso e acessível, nunca ninguém da mais modesta condição dele se retirou sem o óbolo preciso.
Sincero na sua fé, Choi Anock activou a administração e direcção de diversas organizações católicas, cívicas ou humanitárias. Eis porque algumas delas guardam, em lugar de honra, o seu retrato, eis porque se orgulham de ter-lhe confiado a presidência de Beneficência «Tong Sing Tong», a Associação Católica Chinesa, a Associação de Beneficência do Hospital «Keang Wu», as confrarias de S. Vicente e de S. Lázaro.
A geral aceitação e competência deste homem simples do povo foi coroada quando enfim, o Governo de Macau o escolheu como representante da Comunidade Chinesa, para vogal do Conselho do Governo… (…)
Gasto, enfim, por uma vida trabalhosa, sem que jamais perdesse a serenidade e firmeza que lhe timbrou o ser, uma doença grave o vitimou para sempre, em 22 de Agosto de 1945. Tinha 78 anos.” (1)
(1)   Texto não assinado in SIMÕES, Antero – Nós … Somos Nós (“Antologia Portugalidade”), III Tomo. Edição dos Serviços de Publicações do Comissariado Provincial M. P., Luanda, 1972, 498 p.

NOTA POSTERIOR: este texto contém erros e  merece correcções:
1 –  A figura biografada é JOEL JOSÉ CHOI ANOK  e não  «José Choi  “Anock“»;  este é o nome do primeiro filho, que teve da governanta do ex-governador Custódio Miguel Borja que o levou para a Marinha em Portugal, filho nem sequer reconhecido imediatamente, dado que foi baptizado como filho de pai incógnito.
2 – Joel José Choi Anok nasceu a 17-03-1867 e não a 1-02-1867.
3  – Da “senhora de Lisboa” teve só um filho,  José Choi Anok.
3 – Creio que não chegou a ser Presidente da Associação Católica Chinesa; foi só conselheiro.
4- Não havia  “as confrarias de S. Vicente e de S. Lázaro” mas sim Confraria ou Sociedade de S. Vicente de Paulo da freguesia de S. Lázaro.
Quanto às sete condecorações que se vêem na foto, tirando a de Cavaleiro da Ordem de Cristo, as outras medalhas devem ser devido a distinções pela ficha exemplar na Marinha e pelos serviços prestados à Cruz Vermelha.
Agradeço a RBC as informações inseridas nesta nota.