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No dia 28 de Novembro de 1735, em Macau, grandes demonstrações de pesar ordenadas pelo Vice-Rei de Cantão, pela morte do Imperador Iông-Tcheng, ou Yung Cheng (雍正 Yongzheng) (1) com tiros de ampulheta, por espaço de 24 horas, salva no fim, pela Fortaleza do Monte e luto pelos homens bons da governança (2)

PEREIRA, A. Marques – Ephemerides Commemorativas da Historia de Macau e …  1868, pp. 118-11

 (1) Yongzheng 雍正 (13-12-1678/8-10-1735) (nome de nascimento: Yinzhen 胤禛) foi o quarto imperador da Dinastia Manchu, e terceiro imperador Qing, tendo reinado de 1722 a 1735. Embora com um reinado de menor duração (13 anos) comparado ao do seu pai (imperador Kangxi) e do seu filho (imperador  Qianlong) governou a China num período de paz e prosperidade, embora se conste que era muito cruel nas punições e castigos aos seus inimigos.

(2) GOMES, Luís G.  – Efemérides da História de Macau, 1954.

NOTA – Governava Macau, Cosme Damião Pereira Pinto que chegou da Índia a 4 de Agosto e tomou posse a 24 de Agosto e governará Macau no seu 1.º mandato de 24-08-1735 a 27-08-1738; o 2.º mandato seria de 25-08- 1743 a 29-08-1747. O 4.º bispo de Macau, D. João do Casal que lhe entregou o Governo, faleceria a 20 de Setembro de 1735, com 94 anos de idade e 43 anos e três meses de governo do bispado. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015 p. 253) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cosme-d-pinto-pereira/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-joao-do-casal/

Relato da «Colecção de vários factos acontecidos nesta mui nobre Cidade de Macao pelo decurso dos anos», redescoberta por Jack M. Braga na Biblioteca de Évora (1).
“1743, Dezembro 6 Neste dia houve huma Grande revolta nesta Cidade com a vinda de hum Mandarim e seus soldados por cauza de huma morte de hum China feita por hum filho de Macao chamado Anselmo. O Mandarim examinou o Corpo morto que estava na travessa do Tronco, e lhe achou cinco feridas penetrantes pedio o mattador e se foi.”
Em consequência desse acto, regressou o Mandarim:
“1743, Dezembro 18Neste dia tornou a vir o Mandarim a pedir o matador, disendo que se lhe não o entregavam, mandava fechar as Boticas pois sabia pelos seus chinas quem elle era. Os juíses já o tinhão preso no tronco e fazendo-se Conselho no Senado, forão todos de parecer que se lhe entregasse, levando-o a presença do Mandarim lhes fes várias perguntas, mandou medi-lo e disse que quando tornasse se fasia a execução.”
E voltou de novo em:
“1744, Janeiro 8Neste dia veio o Mandarim, e foi a padecer o desgraçado Anselmo matador do China. Sahio do tronco com alva vestida, e acompanhado dos Padres da Companhia e Irmandade da Mizericórdia com Bandeira e Crucefício: veio do tronco velho para a porta da Cidade passou pela Mizericórdia quando o Padre que o esperava fes a elevação da Sagrada Hostia, fes sua adoração na porta, e depois seguiu o seu caminho para o Vazar por de trás de Sam Domingos. Chegado que foi ao Campo do Mandarim logar destinado para os Suplicios o Mandarim mandou que se fizesse a execução delle. Então hum moço lhe bottou o garrote, cujo arrebentou ao que accudirão os Irmãos da Mizericórdia com a Bandeira, mas como os chinas não entendem e ignorão de tal protecção se alvoroçarão e houveram algumas pancadas de pouca entidade, não havendo outro remédio, se não deitarem-le o segundo, com que acabou os seus dias. Sendo este desgraçado o primeiro que foi ao vazar ficando desde então este lugar destinado para serem justiçados os delinquentes de pena de morte.”

NOTA: Governava Macau desde 25 de Agosto de 1743, Cosme Damião Pereira Pinto (2.º mandato) e o Bispo de Macau era D. Fr. Hilário de Santa Rosa, que tinha chegado a 5 de Novembro de 1742 (tomou posse por procuração a 12 de Novembro.) (2)
Em 1736, veio estabelecer-se em Macau o mandarim de Hian-Chan, um «sub-mandarinato», destinado segundo vozes, a auxiliar na administração de Macau  e outros documentos de 1944, relatava a interferência dos mandarins:
Um documento do Senado de Abril de 1744 dizia que «Desde Abril de 1744 achava-se nomeado e feito governador desta cidade um Mandarim, o qual já intentou vir morar dentro della e se acha residindo na sua vizinhança, tendo-nos intimado ele e os mais mandarins muitas vezes, que so pelas Leis do Imperador devemos ser governados»
E outro de 28 de Junho de 1744: «Estabeleceu-se em Macau o Tso-Tang. Um documento da Procuratura, nesta data, refere-se à residência deste mandarim, dizendo que «nunca residiu entre a Barreira (Porta do Cerco) e a Porta do campo de St.º António, mas sim, nos primeiros tempos, em Choi-me, alem da Barreira; e depois da guerra do A-po-chai, dentro das Portas do Campo, no sítio do Matapau; e agora, ultimamente, no sítio do Hopu da Praia Pequena, numa casas pertencentes a um português, a quem ele as aluga»
Em Novembro de 1744, é publicado um édito imperial, dia 7 da 3.ª lua do 9.º no do Imperador Quianlong, em que se ordenava aos mandarins para que se apurassem todos os factos «e daí em diante se algum europeu matasse um china se lhe cortasse a cabeça ou se enforcasse».

(1) BRAGA, Jack – A Voz do Passado. Instituto Cultural de Macau, 1987, 78 p.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 2.

“Falleceo neste dia Nicolão Feumes, e no outro dia foi enterrado em Sam Francisco na sepultura da sua primeira mulher Marcelina de Abreo que tinha fallecido em 3 de Junho de 1731 cujo enterro se fes com grande pompa e acompanhamento sendo Provedor da Misericórdia o Gov.or Cosme Damião Pereira Pinto.

Falleceo depois de 80 annos, de intrevado na cama tendo vivido com esta segunda mulher cinco annos e sette meses que viuva cazou-se depois com António José da Costa que os Jesuitas mandarão-no buscar, ficou a dita Viuva com mt.º Cabedal e poucos annos que teria vinte, o que tudo era necessário para achar hum sugeito para casar. Ella ficou por herdeira universal de quanto estava em Caza, tanto que as desposições da alma deixou elle defunto Feumes que se fisessem depois da chegada do seu navio St.º António, e do cabedal que nelle tinha, mas como succede quasi sempre o sermos enganados elle o experimentou (#) pois que o Navio se perdeo no mar da China escapando sòmente a gente que com tempo se aproveitou da lancha e do Escaler, indo aportar em Sanchuan, e vindo a esta Cidade por Cantão. Desta sorte ficou a Viuva com tudo e a Alma do dito defunto sem nada – quem sabe se não precizava” (1)

(#) Na margem anotada pelo anónimo autor: “boa maneira depois de morto

(1) Cosme Damião Pinto Pereira (1.º mandato) governador de 4 08-1735 a 27-08-1738.
Retirou-se entregando o governo a Manuel Pereira Coutinho, verificando-se que a posse, em Agosto anterior, não fora seguida de imediato exercício.”
Voltaria como Governador (2.º mandato) a 25-08-1743 e ficou até 29-08-1747.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XVIII, Volume 2. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 216 p. (ISBN 972-8091-09-5).
(2) BRAGA, Jack M. – A Voz do Passado. Redescoberta de A Colecção de varios factos acontecidos nesta mui nobre cidade de Macao. Instituto Cultural de Macau, 1987, 78 p.