Em 28 de Junho de 1966, o Observatório Meteorológico de Macau (1) instalou-se -se na Fortaleza do Monte que nesse dia abriu as portas ao público/turistas. O anterior observatório de dimensões reduzidas esteve desde 1901 no morro do Bispo, depois ao lado do Hospital Central Conde de S. Januário no antigo forte de S Jerónimo. (2) (3)
POSTAL – 18 cm x 12,3 cm – Serviço Meteorológico Fotografia de Ho Kuok Man (4)
(1) Em 1976, a Fortaleza do Monte foi desmilitarizada e em Abril de 1995, neste sítio, teve início o planeamento do museu de Macau. A construção do Museu iniciou-se em Setembro de 1996 e foi inaugurado a 18 de abril de 1998.
(3) 1912 – Mapa de Macau editado pelo Leal Senado nesta data assinala o Observatório Meteorológico no local do antigo Fortim de S. Jerónimo, o qual ali começou a funcionar em 1905 (2.º suplemento do B. O. n.º 28 de 1910) (2)
1931 – Faz 50 anos o serviço de observação meteorológica de Macau, tão necessário em terra de tufões. Foi instalado nos finais do séc. XIX, quando este ramo de saber se desenvolveu graças a Verrier, director do Observatório de Paris; para tanto contribuíram os Padres Dechevrens, Faura, Froc e Algué, o observatório de Manila, em geral, e o de Zicawei. Antes disto, as observações meteorológicas socorriam-se em Macau, apenas, de um barómetro da Capitania dos Portos. (2)
(4) Da colecção “Macau Life Postcards” – fotografias de Ho Kuok Man. Edição: Mercearia Tin Fu, Rua de Mercadores 5, Macau. Impresso em Macau, 1994.
“16-11- 1915 – Aforamento de um terreno com a área de 4.000 m2 sito na Estrada dos Parses, a pedido de Francisco Xavier Anacleto da Silva. Ali mandou construir uma das mansões actualmente classificadas como património arquitectónico de Macau, Vila Alegre, hoje Colégio Leng-Nam”. (1) Idêntico pedido de aforamento de um terreno sito na colina de S. Januário em nome de Francisco Xavier Anacleto da Silva, consta no Processo n.º 42 do A. H. M. de 06-19-1916. (2)
Postal de c. 1920 – Vivendas no Monte da Guia (LOUREIRO, João – Postais Antigos Macau, 2.ª edição, 1997, p. 40)
A construção do palacete Vila Alegre, hoje escola “Leng Nam” bem como a Casa Branca ou casa Nolasco da Silva, sua vizinha, hoje Autoridade Monetária e Cambial, iniciaram se em 1917. Foram mansões residenciais respectivamente dos advogados macaenses Francisco Xavier Anacleto da Silva e Luiz Nolasco da Silva construídos mais propriamente na encosta da colina de S. Jerónimo., segundo um projecto do Eng. John Lamb, de Hong Kong. (1) (3)
A Vila Alegre só foi concluída em 1921, porque a mulher do proprietário, que tão entusiasticamente tinha escolhido as linhas arquitectónicas de uma casa que apreciou em Xangai- e que mandou fotografar – faleceu de parto e as obras foram suspensa. (1) Em 1937, a mansão senhorial de Francisco Xavier Anacleto da Silva – Vila Alegre – deu lugar à instalação da Escola Secundária Leng Nam/Ling Nam (posteriormente ampliada com um edifício anexo (1)
POSTAL de c. 1920 – Vista da Rada do Farol da Guia (Lei Kun Min; Lei Fat Iam – Macau em Bilhetes Postais do Séc. XIX e XX, p. 45.
Nota à foto anterior: o porto exterior ainda sem os aterros de 1923 com o sudeste da Colina da Guia (à direita) banhado pelo mar. Moradias: dt para esq. No sopé da Guia, a casa de Silva Mendes; a casa Nolasco da Silva e a seguir, Vila Alegre na encosta da colina de S. Jerónimo, em 1920 e no topo desta colina, o Hospital Militar São Januário (inaugurado em 1874)
Francisco Xavier Anacleto da Silva, (1883-1946) que teve como seu padrinho de baptismo, o Cónego Francisco Xavier Anacleto da Silva (1815-1888), estudou no Liceu de Macau e iniciou a sua vida na carreira de intérprete sinólogo. (4) Fez depois exame para advogado provisionário. (5) Foi Presidente do Leal Senado, (08-01-1921 – 14-06-1922; 02-04-1928 – 15-01-1930), (6) vogal do Conselho Legislativo, do Conselho Inspector da Instrução Pública e do Conselho da Administração das Obras do Porto. Comendador da Ordem de São Gregório Magno, da Santa Sé (7) e senador por Macau durante a 1.ª República. (8) Viúvo de Maria Bernardina dos Remédios, casou em Macau (2.ª núpcias) a 29-V-1920, com Leolinda Carolina Trigo (1891 – 1983), filha de Adriano Augusto Trigo, Director das Obras Públicas entre 1919 e 1925. (9)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4 (1997) e Volume III, 3.ª edição, 2015, pp. 33, 85, 96, 175, 256, 288)
(2)06-09-1916 – Processo n.º 42 – Série A – Pedido de Francisco Xavier Anacleto da Silva, do aforamento de um terreno sito na colina de S. Januário (Boletim do Arquivo Histórico de Macau, Tomo I (Janeiro/Junho de 1985), p. 167) – A.H.M.-F.A.C.P. n.º 37 – S-A
(3) Na 1.ª edição do Volume 4 da “Cronologia da História de Macau” (1997), p. 138, informação de que o projecto da mansão “Vila Alegre” poder ter sido do Engenheiro macaense José da Silva, mas essa informação não surge na edição reformulada e aumentada de 2015 (1)
(4) “18-01-1909 – Nomeação de Francisco Xavier Anacleto da Silva, intérprete-tradutor de 2.ª classe da Repartição do Expediente Sínico, para, durante o impedimento do respectivo titular, desempenhar o lugar de Professor da cadeira da língua Sínica do Liceu Nacional” (1)
(5) REGO, José Carvalho e – Notícias de Macau 7-04-1968 inTEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. II, 1997, p. 437)
(6) “11-01-1916 – Nomeação do Presidente do Leal Senado da Câmara, Francisco Xavier Anacleto da Silva, para desempenhar as funções de Administrador do Concelho de Macau, durante o impedimento do proprietário Daniel da Silva Ferreira júnior” (A.H.M.-F.A.C.P. n.º 356 –S-N)-Arquivos de Macau, Boletim do Arquivo Histórico de Macau, Tomo I (Janeiro/Junho de 1985) , p.195.
(7) “28-10-1925 – Festa importante da entrega da Comenda da Ordem de S. Gregório Magno, concedida por S. S. o Papa Pio XI ao macaense Sr. Francisco Xavier Anacleto da Silva, Senador por Macau. (1)
(8) 1949 – Francisco Xavier Anacleto da Silva é o 1.º macaense a ter «assento em S. Bento». Esta a referência colhida em Macau na V Legislatura da Assembleia de Nacional, 1949-1953», Macau, U.N., 1953, pág 23, a propósito da eleição de António Maria da Silva, irmão do primeiro e que igualmente vem a ser eleito Senador da Republica (1)
(9) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol II, 1997, p. 434)
FOTO – MACAU- VISTA DA PRAIA GRANDE, c. 1890 (1) Autor desconhecido
NOTA: a baía da Praia Grande, vista da Colina da Penha, ou possivelmente do Hotel Bela Vista. Ao fundo à direita, à beira mar, o Grémio Militar, construído em 1870 e no alto a Colina da Guia.
FOTO – MACAU – VISTA DA PRAIA GRANDE c. 1895 (2) Autor desconhecido
NOTA: A baía da Praia Grande, vista da Colina da Guia ou possivelmente da Colina de S. Jerónimo. Ao fundo o Hotel Bela Vista, à beira da baia, e a Colina da Penha (Igreja da Penha).
Não podia deixar passar também uma notícia deste dia, 1 de Setembro de 1887, relacionada a um edifício histórico -VILA BRANCA – que não sei se vai fazer parte do plano de destruição para futura construção de um novo edifício que irá servir de Bloco Hospitalar destinado às doenças infecto-contagiosas do Centro Hospitalar Conde de S. Januário. De certeza serão demolidos (ou já estarão ?) os edifícios que foram o Pavilhão de Isolamento e a Farmácia do Hospital de S. Januário – e assim se vão perdendo os lugares de outrora com passado histórico.
“01-09-1887 – Pedido feito pelo Chefe de Saúde desta Colónia, Dr. José Gomes da Silva, de aforamento de um terreno junto ao planalto do Hospital de S. Januário para construção duma casa de habitação (1)
Foto de 2005 – edifício da antiga farmácia do Hospital S. Januário (traseiras)
“VILA BRANCA situa-se na vertente Sul da Colina de S. Januário onde estão (ou estavam) edificados os pavilhões de isolamento e a farmácia do Hospital de S. Januário, entre o hospital e a Estrada Nova. A Vila Branca era a residência do Dr. José Gomes da Silva, que deu à sua casa o nome de sua esposa. Gomes da Silva nasceu no Porto em 1853 sendo filho de Joaquim Gomes da Silva e de Ana Rosa Gomes da Silva. Casou com Branca Chaves nascida em Bordeaux, França, em 1851, sendo filha de João José Lopes e de Casimira Esperança Douguel Branca. Formou-se na Escola Médica do Porto. O Dr Gomes da Silva faleceu na Vila Branca, no posto de coronel-médico, a 1 de Novembro de 1905, (2) com 52 anos de idade, 22 dos quais passados em Macau, sendo chefe do Serviço de Saúde desde 1884; foi ele também o 1.º reitor do Liceu de Macau, inaugurado no extinto convento de S. Agostinho a 28 de Setembro de 1894. Sua esposa, Branca Chaves Gomes da Silva, faleceu na Vila Branca a 9 de Dezembro de 1895, com 44 anos de idade, deixando 11 filhos. O Dr. Gomes da Silva foi também, botânico, músico, jornalista e professor além do liceu, no Seminário A vila Branca foi comprada pelo Governo em 1917, por ocasião da epidemia da varíola para isolamento dos variolosos; em 1919, foi lá instalado o serviço de parturientes e puérperas.” (3) NOTA: Foi dada o nome de «Rua de Gomes da Silva», à rua que começa na Rua da Erva, entre os prédios n.º 29 e 31, e termina na Rua de João de Araújo, entre os prédios n.ºs 22 e 24.
Foto de 1940 – edifício do Pavilhão de Isolamento (frente e parede lateral direita) do Hospital S. Januário
O edifício do antigo pavilhão de isolamento e o edifício da farmácia do Hospital de S. Januário, entre o hospital e a Estrada Nova foram restaurados para servir de residência de médicos. Posteriormente à frente do antigo Pavilhão de Isolamento construíram o chamado “Edifício Residencial dos Médicos” dentro do projecto do então novo Centro Hospitalar da década de 80 (século XX). Na data desta fotografia (1998) estava a residir no primeiro andar, o médico pediatra Dr. Jorge Humberto e família; no rés-do-chão (trás) o médico dermatologista e Director dos Serviços de Saúde, Dr. Larguito Claro e família e no rés-do-chão esquerdo (à direita na foto) estava a sede da Associação dos Médicos de Clínica Geral de Macau (A. M. C. G.M.)
Foto de 1998 – edifício do antigo pavilhão de isolamento (frente e parede lateral esquerda) do Hospital S. Januário
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) Na sessão de 11 de Novembro de 1905 do Conselho Escolar do Liceu, o reitor Dr. Manuel da Silva Mendes «pediu que se exarasse na acta um voto de sentimento pelo fallecimento do sr. dr. José Gomes da Silva, que foi reitor e professor deste lyceu durante o estabelecimento delle nesta colónia, pedindo mais que se desse conhecimento do sentir de todo o conselho à família do finado»
(3) TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997 .
Fotografia com a legenda “Hospital de Macau“, publicado na revista Portugal Colonial , em 1937.
Inicialmente denominado Hospital Militar de Sam Januário, com início de construção em 1872 (terraplanagem do planalto do monte de Sam Jerónimo) (1) ficou concluído em Dezembro de 1873. O Hospital delineado pelo macaense António Alexandrino de Melo, Barão do Cercal, foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1874 pelo Governador Visconde de S. Januário. A construção da empreitada custou 38 500 patacas ( 32,725$000 réis). Além do edifício, fizeram-se outras construções acessórias e em tudo se pode crer não foi excedida a verba de 46 contos. (2)
Em Boletim Oficial de 10 de Julho de 1937 e por iniciativa do Governador Tamagnini Barbosa, o Hospital Geral do Governo toma o nome de Hospital Conde S. Januário.
Este velho Hospital Militar foi demolido, em 1952 (18 /XI/ 1952), começando a 1.ª das 3 fases da construção do novo edifício (Hospital Central Conde de S. Januário) que demorou até 1958.
(1) 10-08-1872 – Construção do Hospital Militar: início das obras de terraplanagem do planalto. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 3, 1995) 01-12-1872 – Lançamento das primeiras pedras para a construção do Hospital Militar de S. Januário e da Fortaleza 1.º de Dezembro (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(2) CARVALHO, Henrique de – Gazetta de Macau e Timor de 10 Dezembro de 1872.
Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hospital-militar-de-sam-januario/
No livro “Tellurologie et Climatologie Medicales de Macau”, estão publicados quatro mapas da região de Macau. Um dos mapas foi já reproduzido em (1). Hoje mais um deles, – MACAU (Relief du Sol) – com a descrição do relevo do solo e subsolo.
Este mapa (escala de 1/50.000) foca o relevo do solo da cidade de Macau, em 1921, estando assinaladas as colinas e a Ilha Verde.
“Le squelette de Macao est granitique. Les noyaux éruptifs sont indiqués par ses collines. Les rochers et la colline de Mong-Ha, celle qui est appelée Montanha Russa, les collines de Dona Maria, Guia, San Jerónimo, de Patane ou de la Grotte de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, Santo Agostinho et Penha, – sont como les points d´ossification du squelette… (…)
L´isthme réunit cette terre à l´île de Hiong-Chan – et voilà formée la presqu´ile de Macao.
Un autre noyau, Ilha Verde (35 m. de alt), un peu plus isolé, est resté aussi sous línfluence dynamique du fleuve, et on a vu de nos jours l´oeuvre de la liaison naturelle au plus proche noyau, Mong-Ha, laquelle a été aidée par l´homme.
Les collines de Macao peuvent être divisées en deux groupes, délimités par la continuité qu´on remarque en chacaux d´eux. Appartenant au premier groupe, je citerai: Mong-Ha, Montanha Russa, Dona Maria, Guia, San Jerónimo, – dont la ligne d´enemble est une courbe sensible de concavité vers l´Ouest, les plus hautes cotes de niveau étant à Mong-Ha (59 mètres) et à Guia (76 à 99 mètres). La ligne du second groupr, courbe aussi en partie et envelippée par celle-là, évoque, en sa planification, la forme d´un bâton pastoral, dont la crosse est formée par les collines de Camoens, SanMiguel, San Paulo do Monte, – se prolongeant selon l´axe de la presqu´île jusqu´à son extremité, passant para la Sé, Santo Agostinho, San Lourenço, Bom Jesus et Penha, et la cime atteignant les cotes plus élevées à San Paulo do Monte (40 m) et à Penha (70m).
Les terrains bas de Tap-Seac, Long-Tin-Chin, Mong-Ha, Sa-Kong, San-Kiu et Patane, oú coulent les eaux et les ruissellements des ravines voisines, sont développés en une grande superficie sub-urbaine, entre les deus courbes. Tap-Seac a un facile accés vers la mer, entre da Sé et San Francisco, et les autres terrains qui , naguère n´étaient que des marécages, ont été comblés aux dépens de l´aplanissement des colines de Mong-Há et San Miguel, et ils sont convenablement drainés et amplement libres vers le fleuve.
La zone base de la ville se développe dans la concavité de la courbe de rayon plus petit, en quartiers riverains qui s´appelent Tarrafeiro, Matapao, Bazar, et qui sont continués par les terrains marginaux de Praia Manduco et Barra.
Au dehors de la courbe plus grande on remarque, au Nord, les terrains bas de l´isthme et la plage Areia Preta. Dans le rest de la courbe, la petite plage de Cacilhas, exceptée, il ný a pas dáutres terrains bas, puisque le versant de la Guia coule vers la mer en pente brusque.” (1) NOTA: o negrito é da minha autoria.
“8 de Março de 1828 – Officio do mandarim de Hain-chan (Heong-Sán) ao procurador da cidade de Macau, intimando-lhe que prohibisse aos residentes ingleses renovarem à sua custa, como intentavam, a estrada do campo de Mong-há, e passearem nella a cavallo pois com taes concertos e passeios afrontavam as sepulturas dos chinas e as barracas dos pescadores.” (1)
Padre Manuel Teixeira contesta esta informação, copiada de A. Marques Pereira e repetida por outros historiadores (Bento da França, Levy Gomes, Rocha Martins e Montalto de Jesus.)
Refere Padre Teixeira (2) que as chapas originais não tinham esse teor, mas conclui no entanto, por fim que a chapa de 23 de Maio de 1828 dizia «… rigorosas prohibições, para q. os Estrangeiros saiba daqui por diante, q. nos muros da Cidade se comprhendem os limites das suas habitaçoens, dentro das quaes habitarão socegamente e q se alguém se atreve a continuar a obra do sobred.º caminho, sera rigorozamt. e agarrado e castigado. »
Assim a chapa de 02-02-1828 diz: « os europeus não podem andar ali a cavalo, nem os chinas abrir sepulturas para não impedir os ingleses de concertar esse caminho , que é para o bem comum.»
“Macau from the Forts of Heang-shan 1839 & 1842” (3)
A de 12 de Abril de 1828, o mandarim de Heong San, de apelido Li, publicou um edital para os chinas de Macau, dizendo que ordenara ao procurador «fizesse para a obra, q os Ingleses estavão fazendo no caminho fora da Cidade para os seus passeios a cavallo, obstando deste modo aos Chinas abrirem ali sepulturas»
O procurador respondera que esse «caminho tem sido desde tempos, huma estrada publica, tanto para os chinas como para os Europeus, e como com o andar do tempo, tem sido arruinado, e entupido de pedras, e lodo, fazendo-se assim difficultozo de se passar, os Inglezes tinham recorrido a elle, e ao Senado, pedindo-lhes permitissem concerta-lo,e q vendo elle Procurador e o Senado, q este concerto era mt.º útil, tanto para os Europeus, como para os China, sem obstáculo algum a estes para abrirem sepulturas, o tinhão permitido e q esperava por tanto da minha parte mandar aos chinas, q não fizessem sepulturas ao lado do caminho, para não servirem de obstáculo aos caminhantes……»
Finalmente a chapa de 23 de Maio, o mandarim da Casa Branca e o mandarim de Hian-san publicaram um edital «alguns inglezes estavam fabricando uma estrada fora da Porta da Cidade desde Cano Real, athé atrz do Pagode de Mohá… não hera hum caminho plano, nem largo, mas sim huma pequena estrada, em cujos lados se achavão sepulturas fabricadas, e que o caminho , q. tudo havia embaraço…»
Acharam que aos portugueses primitivos que aqui vieram «se concedera somente habitarem dentro dos muros da Cidade (4) como pois se podia consentir, q elle representassem q. o caminho q hia abrir-se, era hum caminho antigo»
(1) A. Marques Pereira (1839-1881) na sua “Efemérides Comemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Cristãos “ (1868), citado por GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau Volume I
(3) Rise & Fall of the Canton Trade System Gallery: PLACES href=”http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/
(4) A cidade estava amuralhada, estendendo-se os muros desde a Porta de St.º António até à Fortaleza do Monte, e desta até à Colina de S. Jerónimo (Hospital S. Januário), ficando a Fortaleza da Guia fora das muralhas. NOTA: a 27 de Fevereiro de 1847, o governador Ferreira do Amaral mandou abrir 3 estradas: uma desde a Porta de S. João até ao Pagode; outra rodeando a colina de Mong Há e a terceira desde a Porta de St.º António, indo fazer a ligação com a primeira junto ao Pagode e seguindo até à Porta do Cerco. Foram removidas cerca de 700 sepulturas. Daí a aversão dos chineses para com este governador e dois anos mais tarde a sua cabeça rolaria pelo chão.
Algumas fotografias do Porto Exterior do meu álbum, tiradas neste dia.
A primeira foto é o que está mais bem conservada, sem manchas de humidade. As restantes estão manchadas.
As duas primeiras foram tiradas do Miradouro de Nossa Senhora do Mar na Estrada de Cacilhas e vê-se o Hospital Central Conde de S. Januário, o Hotel Matsuya (1) e o edifício em construção (habitação) à direita, na foto. No sopé da colina, algumas vivendas entre elas, a Vila “Tai Yip” (2) e a Escola Pui Tou, na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues.
A seguir a mesma foto apresentada já em (1) tirada do mesmo sítio, vendo-se melhor, no sopé da colina, as hortas e as barracas.
As duas fotografias que se seguem foram tiradas da parada do Quartel da Guia – a ponte cais do Porto Exterior com o navio “Macau” atracado, da carreira diária de ligação Macau – Hong Kong , e o arvoredo da colina.
Nesta foto à esquerda o que restava do Hangar e as primeiras construções “modernas” nestes aterros.
As duas seguintes foram tiradas na Avenida, à beira mar. A primeira, da bancada principal do Grande Prémio, visualizando a ponte cais do Porto Exterior.
Esta a seguir, já apresentada em (3), a colina da Guia, a estrada de Cacilhas e os aterros ainda com as barracas e as hortas.
Livro de António Júlio Emerenciano Estácio e António Manuel de Paula Saraiva, de 1993, (1) responsáveis pelo pelouro das zonas verdes das duas câmaras do território nessa altura e dedicado “À memória de quantos como Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro e Alfredo Augusto de Almeida, dedicaram grande parte das suas vidas e do seu saber em prol dos Zonas Verdes do território de Macau”.
Da “Introdução” retiro:
“Alguns jardins têm uma grande carga histórica e mesmo científica, como, por exemplo, os jardins de Camões e da Flora, enquanto outros encerram um simbolismo muito especial como sucede em relação ao Jardim de Lou Lim Ioc. A par dos jardins propriamente ditos possui a península de Macau, sete colinas – Guia/S. Jerónimo (S. Januário), Barra, Monte, Mong-Há, D. Maria, Penha e Ilha Verde – as quais, por terem sido utilizadas para fins militares ou por instituições religiosas, se mantiveram como Zonas Verdes. Por serem colinas, são visíveis de muitos pontos – isto é, são zonas dominantes da paisagem – contribuindo, em parte, para que Macau se apresente com uma certa imagem de enquadramento verde. No entanto, e muito lamentavelmente, as Zonas Verdes têm sofrido, nos últimos anos, um autêntico cerco imobiliário que a continuar, poderá transformá-las em “jardins interiores” – o que constituirá uma perda para a imagem do território, nomeadamente na cidade de Macau.”
Os autores descrevem de forma sucinta, a realidade histórica, social, botânica e paisagística, ilustrando com fotografias coloridas, os seguintes Jardins: Camões, Lou Lim Ioc, de S. Francisco, da Flora, da Montanha Russa, de Vaco da Gama, da Vitória, de Santa Sancha, Interior do Leal Senado, e ainda os Parques, Dr. Sun Iat Sen e da Guia.
(19 ESTÁCIO, António J. E; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. 1.ª Edição. Instituto Português do Oriente, 1993, 62 pp., ISBN 972-8013-06-X, 32 cm x 23,5 cm
“Começa na Rua da Praia Grande, em frente da Avenida Infante D. Henrique e termina na Rua do Visconde de Paço de Arcos, em frente da ponte cais n.º 16. Esta avenida foi rasgada em 1915 pelo Eng. Director das Obras Públicas, António Pinto de Miranda Guedes. Porque tem esse nome? Pura e simplesmente porque esse homem quando ministro das colónias (1913-1914) sancionou a verba para a expropriação das casas para a abertura da avenida.”(1)
Os chineses chamam à Avenida, San Má Lou (新馬路) e por vezes, Tai Má Lou (大馬路) (2)
“A Praia, ao norte, terminava no Forte de S. Francisco. Com a construção do porto, fizeram-se grandes aterros, que engoliram o pedaço de mar desde o sopé das colinas de S. Januário e da Guia e de D. Maria até à marginal do Porto; e desde o Clube Militar e do Jardim de S. Francisco até à Esplanada em frente do Liceu (nesta foto ainda não existente). A única coisa que nos resta são as árvores seculares do Jardim de S. Francisco, que, com as da Praia Grande (as centenárias árvores do pagode – «banyan trees») continuam a agitar os seus braços possantes e a murmurar entre si os seus segredos e a afagar-nos coma sua sombra maternal.” (3)
Fotogravuras do livro de GONÇALVES, Manuel Henriques – Roteiro do Ultramar. Lisboa, 1958, 131 p.
(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II. ICM, 1997, 560 p
(2) 新馬路 – mandarim pinyin: xin ma lù; cantonense jyutping: san1 maa5 lou6) tradução literal – avenida/rua nova para cavalos. 大馬路 – mandarim pinyin: dà ma lù; cantonense jyutping: daai6 maa5 lou6) – tradução literal- grande avenida para cavalos.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997, 667 p.