Archives for posts with tag: Colina de Mong-Há

Foi inaugurada no dia 8 de Maio de 1957, o novo infantário do Menino Jesus, junto ao Canídromo, na Avenida Almirante Lacerda, no sopé da Colina de Mong Há. A planta era da autoria do eng. José Maria Paulo Rodrigues e a construção importou em 43.000 patacas pagas pela Catholic Welfare. Tinha capacidade para 100 crianças, ficando a cargo das Madres Canossianas. O Infantário era dotado dum magnífico parque para recreio das crianças.

O Bispo de diocese, D. Policarpo da Costa Vaz benzendo as instalações do novo infantário do Menino Jesus (1)

Segundo Padre Teixeira (2), estava anexa à “Escola Infantil do Menino Jesus” (3) também dirigida pelas Irmâs Canossianas. As Canossianas mantinham além do infantário do Menino Jesus em Macau, o infantário da Beata Madalena de Canossa em Coloane; acolhiam todos os dias 70 a 30 crianças respectivamente de 1 a 5 anos. Eram-lhes fornecidas refeições gratuitas.  As Madres substituíam as mães durante o dia, em que estas eram obrigadas a procurar no trabalho os meios de subsistência. (2)

Aspecto da inauguração do Infantário (3)

Em 1975,  o local do infantário foi transformada em Casa Mortuária.

(1) Extraído de «BGU» XXXIII- 304, Junho de 1957, pp. 301-305

(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982, pp. 342 e 347.

(3) A “Escola Infantil do Menino Jesus”, em 1981, era frequentada por 185 crianças, ensinadas por quatro professoras. As aulas de catequese eram ministradas por três legionárias.

Mais dois ”slides” digitalizados da colecção “MACAU COLOR SLIDES – KODAK EASTMAN COLOR”, comprados na década de 60 (século XX), se não me engano, na Foto PRINCESA (1)
Dois slides referentes ao Templo de Kun Iam (Kun Iam Tong -觀音堂)

“Um dia, dois pastorinhos da aldeia de Mong Há (Mong Há Tchun- aldeia do Vestíbulo ou aldeia que contempla Há Mun, ou aldeia que contempla Casa Grande ou Palácio) viram boiar nas águas do rio que banhava os pés da Colina de Mong Há (outrora chamada Kam Kok Lam – Colina do Cume de Oiro), uma estatueta de madeira da Kun Iam , deusa; colocaram-na num nicho, que mais tarde se transformou num templo; este foi ampliado nos fins do sec. XVII. No reinado de Man Lek (1572-1620) (2) foi construída a bonzaria Pou Tchai Sin Un, junto do templo. Esta bonzaria foi-se ampliando com novos pavilhões, que vieram a dar o actual Kung Iam Tong; este ofuscou o primitivo santuário que ficou sendo conhecido pelo nome de Kun Iam Ku Miu -觀音古廟 (Antigo Templo de Kun Iam)” (3) (6)

O actual edifício de Kun Iam Tong data de 1627, sendo o templo restaurado durante os reinos de Chia Ching (1795-1821) (4) e de Tong Chih (1862-1875) (5) (6)
(1) Ver anteriores slides desta colecção em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/artes/
(2) Imperador Wanli (Man Lek) – 萬曆; mandarin pinyin:: Wàn Lì; cantonense jyutping: maan6 lik6
(3) O Kun Iam Ku Miu 觀音古廟 (Antigo Templo de Kun Iam) também chamado Kun Iam Tchai ( Pequeno Kun Iam) fica ao sul da colina de Mong Há, perto do Kung Iam Tong, fora do alinhamento da Avenida Coronel Mesquita, em frente da Rua Madre Terezinha. Reconstruído em 1867.
觀音古廟 – mandarin pinyin: guān yīn gǔ miào; cantonense jyutping: gun3 jam1 gu2 miu6
(4) Imperador Jiaqing (Chia ching ) – 嘉慶帝: mandarin pinyin: Jiāqìng Dì; cantonense jyutping: Gaa1 hing3 dai3
(5) Imperador Tongzhi (Tong chih) – 同治帝 – mandarin pinyin: Tóng zhì Dì; cantonense jyutping: Tung4 ci4 dai3
(6) TEIXEIRA, Padre Manuel – Pagodes de Macau, 1982.
Anteriores referências ao Templo de Kun Iam
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/templo-de-kun-iam/

No livro “Tellurologie et Climatologie Medicales de Macau”, estão publicados quatro mapas da região de Macau. Um dos mapas foi já reproduzido em (1). Hoje mais um deles, – MACAU (Relief du Sol) – com a descrição do relevo do solo e subsolo.

MAPA do Relevo de Macau 1921 Tellurologie et ClimatologieEste mapa (escala de 1/50.000) foca o relevo do solo da cidade de Macau, em 1921, estando assinaladas as colinas e a Ilha Verde.

 “Le squelette de Macao est granitique. Les noyaux éruptifs sont indiqués par ses collines. Les rochers et la colline de Mong-Ha, celle qui est appelée Montanha Russa, les collines de Dona Maria, Guia, San Jerónimo, de Patane ou de la Grotte de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, Santo Agostinho et Penha, – sont como les points d´ossification du squelette… (…)
L´isthme réunit cette terre à l´île de Hiong-Chan – et voilà formée la presqu´ile de Macao.
Un autre noyau, Ilha Verde (35 m. de alt), un peu plus isolé, est resté aussi sous línfluence dynamique du fleuve, et on a vu de nos jours l´oeuvre de la liaison naturelle au plus proche noyau, Mong-Ha, laquelle a été aidée par l´homme.
Les collines de Macao peuvent être divisées en deux groupes, délimités par la continuité qu´on remarque en chacaux d´eux. Appartenant au premier groupe, je citerai: Mong-Ha, Montanha Russa, Dona Maria, Guia, San Jerónimo, – dont la ligne d´enemble est une courbe sensible de concavité vers l´Ouest, les plus hautes cotes de niveau étant à Mong-Ha (59 mètres) et à Guia (76 à 99 mètres). La ligne du second groupr, courbe aussi en partie et envelippée par celle-là, évoque, en sa planification, la forme d´un bâton pastoral, dont la crosse est formée par les collines de Camoens, San Miguel, San Paulo do Monte, – se prolongeant selon l´axe de la presqu´île jusqu´à son extremité, passant para la Sé, Santo Agostinho, San Lourenço, Bom Jesus et Penha, et la cime atteignant les cotes plus élevées à San Paulo do Monte (40 m) et à Penha (70m).
Les terrains bas de Tap-Seac, Long-Tin-Chin, Mong-Ha, Sa-Kong, San-Kiu et Patane, oú coulent les eaux et les ruissellements des ravines voisines, sont développés en une grande superficie sub-urbaine, entre les deus courbes. Tap-Seac a un facile accés vers la mer, entre da Sé et San Francisco, et les autres terrains qui , naguère n´étaient que des marécages, ont été comblés aux dépens de l´aplanissement des colines de Mong-Há et San Miguel, et ils sont convenablement drainés et amplement libres vers le fleuve.
La zone base de la ville se développe dans la concavité de la courbe de rayon plus petit, en quartiers riverains qui s´appelent Tarrafeiro, Matapao, Bazar, et qui sont continués par les terrains marginaux de Praia Manduco et Barra.
Au dehors de la courbe plus grande on remarque, au Nord, les terrains bas de l´isthme et la plage Areia Preta. Dans le rest de la courbe, la petite plage de Cacilhas, exceptée, il ný a pas dáutres terrains bas, puisque le versant de la Guia coule vers la mer en pente brusque.” (1)
NOTA: o negrito é da minha autoria.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/06/01/leitura-tellurolo-gie-et-climatolo-gie-medicales-de-macao/

8 de Março de 1828 – Officio do mandarim de Hain-chan (Heong-Sán) ao procurador da cidade de Macau, intimando-lhe que prohibisse aos residentes ingleses renovarem à sua custa, como intentavam, a estrada do campo de Mong-há, e passearem nella a cavallo pois com taes concertos e passeios afrontavam as sepulturas dos chinas e as barracas dos pescadores.” (1)

Padre Manuel Teixeira contesta esta informação, copiada de A. Marques Pereira e repetida por outros historiadores (Bento da França, Levy Gomes, Rocha Martins e Montalto de Jesus.)
Refere Padre Teixeira (2) que as chapas originais não tinham esse teor, mas conclui no entanto, por fim que a chapa de 23 de Maio de 1828 dizia «… rigorosas prohibições, para q. os Estrangeiros saiba daqui por diante, q. nos muros da Cidade se comprhendem os limites das suas habitaçoens, dentro das quaes habitarão socegamente e q se alguém se atreve a continuar a obra do sobred.º caminho, sera rigorozamt. e agarrado e castigado. »
Assim a chapa de 02-02-1828 diz:
« os europeus não podem andar ali a cavalo, nem os chinas abrir sepulturas para não impedir os ingleses de concertar esse caminho , que é para o bem comum.»

Macau from the Forts of Heang-shan 1839-42“Macau from the Forts of Heang-shan 1839 & 1842” (3)

A de 12 de Abril de 1828, o mandarim de Heong San, de apelido Li, publicou um edital para os chinas de Macau, dizendo que ordenara ao procurador «fizesse para a obra, q os Ingleses estavão fazendo no caminho fora da Cidade para os seus passeios a cavallo, obstando deste modo aos Chinas abrirem ali sepulturas»
O procurador respondera que esse «caminho tem sido desde tempos, huma estrada publica, tanto para os chinas como para os Europeus, e como com o andar do tempo, tem sido arruinado, e entupido de pedras, e lodo, fazendo-se assim difficultozo de se passar, os Inglezes tinham recorrido a elle, e ao Senado, pedindo-lhes permitissem concerta-lo,e q vendo elle Procurador e o Senado, q este concerto era mt.º útil, tanto para os Europeus, como para os China, sem obstáculo algum a estes para abrirem sepulturas, o tinhão permitido e q esperava por tanto da minha parte mandar aos chinas, q não fizessem sepulturas ao lado do caminho, para não servirem de obstáculo aos caminhantes…»
Finalmente a chapa de 23 de Maio, o mandarim da Casa Branca e o mandarim de Hian-san publicaram um edital «alguns inglezes estavam fabricando uma estrada fora da Porta da Cidade desde Cano Real, athé atrz do Pagode de Mohá… não hera hum caminho plano, nem largo, mas sim huma pequena estrada, em cujos lados se achavão sepulturas fabricadas, e que o  caminho , q. tudo havia embaraço…»
Acharam que aos portugueses primitivos que aqui vieram «se concedera somente habitarem dentro dos muros da Cidade (4) como pois se podia consentir, q elle representassem q. o caminho q hia abrir-se, era hum caminho antigo»
(1) A. Marques Pereira (1839-1881) na sua “Efemérides Comemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Cristãos “ (1868), citado por GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau Volume I
(3) Rise & Fall of the Canton Trade System Gallery: PLACES
href=”http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/ 
(4) A cidade estava amuralhada, estendendo-se os muros desde a Porta de St.º António até à Fortaleza do Monte, e desta até à Colina de S. Jerónimo (Hospital S. Januário), ficando a Fortaleza da Guia fora das muralhas.
NOTA: a 27 de Fevereiro de 1847, o governador Ferreira do Amaral mandou abrir 3 estradas: uma desde a Porta de S. João até ao Pagode; outra rodeando a colina de Mong Há e a terceira desde a Porta de St.º António, indo fazer a ligação com a primeira junto ao Pagode e seguindo até à Porta do Cerco. Foram removidas cerca de 700 sepulturas. Daí a aversão dos chineses para com este governador e dois anos mais tarde a sua cabeça rolaria pelo chão.

Livro de António Júlio Emerenciano Estácio e António Manuel de Paula Saraiva, de 1993, (1) responsáveis pelo pelouro das zonas verdes das duas câmaras do território nessa altura e dedicado “À memória de quantos como Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro e Alfredo Augusto de Almeida, dedicaram grande parte das suas vidas e do seu saber em prol dos Zonas Verdes do território de Macau”.

Jardins e Parques de MacauDa “Introdução” retiro:
Alguns jardins têm uma grande carga histórica e mesmo científica, como, por exemplo, os jardins de Camões e da Flora, enquanto outros encerram um simbolismo muito especial como sucede em relação ao Jardim de Lou Lim Ioc.
A par dos jardins propriamente ditos possui a península de Macau, sete colinas – Guia/S. Jerónimo (S. Januário), Barra, Monte, Mong-Há, D. Maria, Penha e Ilha Verde – as quais, por terem sido utilizadas para fins militares ou por instituições religiosas, se mantiveram como Zonas Verdes.
Por serem colinas, são visíveis de muitos pontos – isto é, são zonas dominantes da paisagem – contribuindo, em parte, para que Macau se apresente com uma certa imagem de enquadramento verde.
No entanto, e muito lamentavelmente, as Zonas Verdes têm sofrido, nos últimos anos, um autêntico cerco imobiliário que a continuar, poderá transformá-las em “jardins interiores” – o que constituirá uma perda para a imagem do território, nomeadamente na cidade de Macau.”
Os autores descrevem de forma sucinta, a realidade histórica, social, botânica e paisagística, ilustrando com fotografias coloridas, os seguintes Jardins: Camões, Lou Lim Ioc, de S. Francisco, da Flora, da Montanha Russa, de Vaco da Gama, da Vitória, de Santa Sancha, Interior do Leal Senado, e ainda os Parques, Dr. Sun Iat Sen e da Guia.
(19 ESTÁCIO, António J. E; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. 1.ª Edição. Instituto Português do Oriente, 1993, 62 pp., ISBN 972-8013-06-X, 32 cm x 23,5 cm

Do álbum da colecção Duarte de Sousa, reproduz-se outro desenho a lápis de Macau, (do livro: “Macau, Cidade do Nome de Deus na China”), sem nome do autor, referenciados como do ano de 1831-1832. (1)

Macau Cidade do Nome de Deus na China CHINNERY Porta da Barreira“The Barrier. Macao, on the Race Course. The Cecilia Bay.”

O istmo que ligava Macau à terra chinesa, a chamada Porta do Limite ou da Barreira. O campo de corridas de cavalos mantido pelos ingleses, com apostas que atraía muita gente. À direita, a baía/praia da Areia Preta que vem referenciada como  Baía Cecília. Nunca vi referenciada esta baía/praia com este nome. Terá sido o autor induzido em erro por esta praia/baía estar em continuidade com a praia de Cacilhas?

Sobre esta região escreveu  J. Dyer Ball (2), em 1905, no capítulo “The Barrier”:
This is the division between Portuguese, and Chinese territory. It is some distance along the long isthmus which unites the peninsula of Macao to China… (…)
Just before reaching the Barrier a short distance is the bathing place, the whole coast line here forming with the sandy beach on the seaward side a magnificent roughly semi-circular bay. Many large fishing stakes are seen with the hovels of their owners perched up amongst the rocks. The whole of Macao seems dominated by forts. To the left is a large one, topping a hill, commanding the Barrier, while to the left are two small ones overlooking the sea and Cacilha’s Bay. Once on the road, leading to the Barrier, we see facing us the large gateway which marks the boundary line…”

Sobre o “hipódromo” e as corridas de cavalo na Areia Preta, uma descrição com algum pormenor de Harriet Low (3) que viveu em Macau de 1829 a 1834, no seu Diário:
5 de Novembro de 1829:“…O campo de corridas está no lugar chamado a Barreira, que impede todos os estrangeiros de passarem além. O campo mede cerca de três quartos de milha. Havia lá uma casa provisória de bambú construída para as senhoras, e posso afiançar-te, minha querida irmã, que era muito interessante comtemplar o matizado grupo abaixo de nós. Chineses de todas as descrições, enfarpelados nos seus trajos muito singulares, alguns com os chapéus da forma dum cesto, muitos de cabeça descoberta, mas empunhando uma ventoínha que os protege do sol. Alguns tinham sacos nas costas medindo cerca de meia jarda quadrada, nos quais metem os bebés. Estes pobrezinhos apanhavam chocadelas em toda a roda, no meio da multidão, como se fossem pedaços de madeira.
Portugueses e lascares andavam de mistura com chineses e, ao ouvir esta mistura de línguas – das quais nada comprendi, fez-me pensar na confusão de Babel, o que me levou a desejar que esta doida gente visesse na terra tamto tempo quanto lhe fosse permitido.
Algumas das corridas foram muito boas e fizeram-se grandes apostas.
Regressámos cerca das sete horas e tivemos uma longa discussão sobre os méritos dos ingleses…(4)

Macau Cidade do Nome de Deus na China The Race Course

“Near the Race Course. Macao”

Creio que é a mesma “paisagem” do anterior mas “vista” de mais longe, podendo distinguir melhor o istmo que ligava Macau à terra chinesa. A colina à esquerda, muito provavelmente, a de Mong Há.

Ainda sobre estas corridas de cavalos, há um ofício, de 28 de Abril de 1829, do Mandarim de Heong San ao Procurador da Cidade:
ordenando-lhe que proibisse imediatamente as corridas de cavalos com que, por divertimento, os estrangeiros residentes em Macau (ingleses) assustavam os viandantes, junto às Portas do Limite, o que constituía uma grave ofensa às leis do Império (5)
Em 1831 havia ainda a disputa/jurisdição sobre a posse de terras. Sobre umas obras na Ilha Verde, o Mandarim de Heong San, num ofício de 21 de Julho de 1831, informava:
“... Os portugueses só têm residência autorizada dentro das muralhas. A Ilha Verde está fora delas, no mar, à distância de alguns lis; por isso não é portuguesa …etc”(5)
NOTA: outra referência ao Hipodromo da Areia Preta em 1934:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hipodromo/

(1) Ver referências em anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/21/pintura-de-macau-de-1831-1832-i-fortaleza-da-guia/   
(2) Sobre este autor e referência ao livro, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/j-dyer-ball/ 
(3) Sobre Harriet Low, ver referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/23/leitura-diario-de-harriet-low-tufao-de-1831/
(4) TEIXEIRA, Padre Manuel – Macau no séc. XIX visto por uma jovem americana. Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, Macu , 1981, 59 p.
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)

Em Setembro de 1929, foi feita a entrega solene de trezentas casas de alvenaria e tijolo, construídas nos terrenos do norte da Ilha Verde (Macau), destinadas aos sinistrados chineses que, no grande incêndio ali ocorrido em 1928 (1), perderam totalmente a habitação e haveres e cujos efeitos desde logo o governador Tamagnini Barbosa (2), procurou atenuar, com a cedência do terreno e a quantia de $ 35.000,00 patacas. Para isso também contribuíram donativos de Macau e Hong Kong (cada casa custou cerca de $ 240.00 patacas).

No acto oficial da entrega, o capitalista chinês sr. Kou Ho Neng (3) pronunciou um discurso (4) em que transcrevo uma parte:
S. Ex.ª o Governador, antes da partida, (5) receando que esmorecêssemos nas obras de construção das ditas casas, recomendou à comissão encarregada de vigiar pela sua construção – a minha humilde pessoa, Chôi Nôk Chi, Vong Su, Mak Meng, Lou, Ch´ui Iôk, Lai Chan Vá e Ung Fat  – que não largássemos a obra a meio de caminho e que tivéssemos pela sua construção o mesmo carinho que tivemos no início.
Foi em virtude desta recomendação queimámos papel amarelo e fizemos um juramento, prometendo trabalhar com ardor e com honestidade até ao fim da obra.
Aproveito a ocasião para agradecer ao sr. Director das Obras Públicas que nos forneceu os fiscais Ló Sá Liu e Ki Li Lu Fi Nan Ti (6) que nos consentiu tirar pedras da colina de Mong Há, de Lin Fong e nos permitiu tomar saibro na colina da Ilha Verde; ao sr. Comissário de Polícia que pôs um polícia secreta para guardar o recinto das obras, dia e noite; à Companhia da Luz Eléctrica pela instalação da luz eléctrica; à Repartição dos Telefones pela instalação de um aparelho telefónico; à Companhia de Navegação «T´ông On», que transportou, gratuitamente o madeiramento pelos seus vapores «Seng Cheong» e «Hang Cheong», cujo frete seria de $ 1.846,00 (se tivéssemos de pagar); aos vapores «Chun Chao» e « Chun Li» que transportaram gratuitamente, 800 sacos de cimento e 190 vigas de pinho; à Vong Chiu que emprestou alguns reservatórios de peixe, para servir de depósitos de água; a Chu Ch´ôn Teng que ofereceu 15 barricas para encher com óleo; a Ló U pela dádiva de algumas tábuas grosseiras; ao Hotel Presidente que, no tempo da seca forneceu um dos dois carros de água por dia, por espaço de mais de dois meses; aos membros da comissão que gastaram algum dinheiro para as despesas de rick-shaw. (riquexó)
Também aproveito a ocasião para declarar que, receando que não tivesse quem quisesse tomar a responsabilidade da fiscalização das obras, incumbi Ung Fat para estar, desde a manhã até à tarde, a vigiar as obras, pelo que o gratifiquei, do meu bolso, com a quantia de $100,00 mensais, por espaço de cinco meses. Cumpre-me, outro-sim, declarar que Ung fat se recusou terminantemente a receber a gratificação que lhe quis dar e só aceitou depois de muito instado por mim, pois que eu não queria que êle arcasse com tão grande responsabilidade sem receber uma compensação.
Devo também declarar que um amigo meu, Li Io Sam, que foi por duas vezes comprar tijolos e telhas, fê-lo sem receber dinheiro para as despesas da viagem.”

(1) “8 de Outubro de 1928 – Pavoroso incêndio que vitimou a população chinesa que ocupava a aldeia junto à Porta do Cerco, sendo necessário dar alojamento a mais de 2 000 pessoas.
10 de Outubro de 1928 – Construção de 490 barracas para as vítimas do incêndio que devastou a aldeia da Porta do Cerco.”
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p . (ISBN 972-8091-11-7)
(2) 2.º mandato como Governador: Artur Tamaginini de Sousa Barbosa de 8-12-1926 a 1-02-1931
(3) Gao Kening (Kou Ho Neng) (1878-1955), conhecido como o «rei do jogo» pois dirigia as casas do jogo e também as do ópio. Em 1911, obteve uma licença para exploração do jogo “fan-tan” (7) na Rua da Caldeira. Em 1937 com Fu Lou Iong, (também conhecido como Fu Tak Iam) fundou a «Tai Hing Company» que viria a obter o exclusivo da exploração do jogo em Macau, por uma soma de 1.8 milhões de patacas por ano e assim continuaria por mais de 20 anos. Também conhecido em Hong Kong e Macau como «Rei das Casas de Penhores” por ter estabelecido muitas dessas “lojas” sobretudo nas cercanias dos estabelecimentos de jogos. (http://www3.icm.gov.mo/gate/gb/www.archives.gov.mo/en/featured/detail.aspx?id=61)
Foi condecorado pelo presidente da República General Craveiro Lopes (1951-1958) e receberia a condecoração a 28-06-1952, aquando da visita do Ministro do Ultramar a Macau. Em 1916 mandou construir uma mansão na Rua do Campo, hoje classificada como Património.
Tem uma rua em Macau, com o seu nome “Rua do Comendador Kou Ho Neng”, na Penha.
(4) Tradução do sr. António Maria da Silva, sub-chefe da Repartição do Expediente Sínico da Colónia.
(5) Em Abril de 1929, o Governador Tamagnini Barbosa partiu para Portugal para conferenciar com o Ministro das Colónias.
(6) Possivelmente Rosário e Guerreiro Fernandes
(7) Sobre o “fan-tan” ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/26/leitura-fan-tan/

“Há uma boa centena de anos, vivia um velho jerarca, chamado T´ám-Uân, que se recolhera ao templo, afim de se dedicar a uma vida eretímica de inédia e contemplações  O asceta senil dedicava todo o seu tempo à leitura de sutras e à recolhida meditação dos filósofos e doutores do Budismo, sendo a sua única aspiração o poder subir um dia ao Nirvana por eutanásia.
Nesse tempo, os habitantes da cercana aldeia de Lông- T´in, sofriam cruelmente com as dificuldades, originadas pela falta da água potável.
Vendo que os homens não podiam viver neste mundo sem este precioso elemento e condoído com as aflições daquele povozito, o velho cenobiarca tratou de empregar toda a sua misteriosa ciência para que os seus fiéis pudessem ficar providos com o inestimável líquido.
E assim, recolheu-se um dia para o interior do templo e durante semanas entregou-se a um estado anagórico, aniquilando, com severo esforço, todas as suas vontades, não comendo, não bebendo e não falando.
Passado breve período daquela heróico exinanição , ouviu-se uma noite, um horrível estrondo no templo. As pessoas  pano que moravam nos arredores acorreram imediatamente, julgando ter desabado o telhado, mas nada encontraram. Foram então até ao parque e, depois de terem escabichado por todos os lados, julgaram ver através da obnubilação causada por um fugaz clarão, uma névoa que se ia enovelando e ascendendo dum escuso recanto. Aproximaram-se e verificaram  com enorme surpresa que uma grande porção de terreno tinha abatido, naquele sítio produzindo, dentro de funda cova, uma nascente.
Provaram os curiosos aquela cristalina água e verificaram que era dulcíssima. Próximo deste poço encontraram uma faixa de pano encarnado. Era ela a única relíquia que o cenobita T´am-Uân deixara neste mundo, pois o poço fora obra do seu estóico e milagroso sacrifício.
Daí em diante os camponeses de perto da aldeia de Lông T´in, passaram a servir-se da água deste poço que, mesmo nos períodos da maior estiagem nunca secava. Como reconhecimento por este milagre de T´am-Uân, todos os anos, no aniversário do seu desaparecimento, os aldeões não deixavam de celebrar a sua memória, dedicando-lhe pivetes, incensos, e velas votivas, rito que perdurou durante muito tempo, até que o poço foi entulhado ” (1) (2)

(1) GOMES. Luís Gonzaga – Curiosidades de Macau Antiga, Instituto Cultural de Macau, 1996, 184 p.
(2) Este poço estava no Colina de Mong Há e terá sido entulhado com a construção do fortim.

“Junto do templo chinês de Lin Fong Miu, (1) à entrada do Arco, há um rochedo, que ostenta o escudo português, encimado pela coroa real, tendo em baixo a data de 1848.
Este escudo e data foram ali esculpidos pelo Governador Ferreira de Amaral, como símbolo de soberania.
Um ano mais tarde, a 2-28-1849, a sua cabeça rolava por terra, decepada por um grupo de assassinos chineses, junto deste rochedo (2). Diz J. Dyer Ball, no seu livro “Macao” (3) , p. 28, que eles esconderam a cabeça e o braço de Amaral sob as cinzas no templo de Kun Yam. (4)
Há um outro rochedo, também com um escudo encimado pela coroa real à margem da Rampa dos cavaleiros, à esquerda de quem sobe.
Na Estrada do Arco, encostado à parede do prédio n.º 5, estava uma pedra, cravada no solo, com esta inscrição:

1872

ESTRADA

DO

ARCO

Esta pedra foi removida para as Ruínas de S. Paulo, sendo desfeita pelo camartelo dos assalariados do Leal Senado” (5)

(1) O templo Lin Fong (Lin Fong Miu ou Templo de Lótus ou , conforme Padre Teixeira “Pagode do Cume da Colina de Lótus”) fica na Estrada do Arco que começa entre as Avenidas do Almirante Lacerda e de Artur tamagnini Barbosa, em frente da Avenida do Conselheiro Borja, e termina na Estrada da Areia Preta; no sopé da colina de Hong Há. Outrora as águas lodosas do delta acercavam-se da entrada do templo e abrigava uma pequena povoação de pescadores.

Lin Fong Miu 1925Templo de Lótus em 1925

Único templo de origem taoísta em Macau, construído em 1592. Foi reconstruído em 1732, em 1752 (modificação e aumento de área) e em 1980
(2) No jardim exterior deste templo, do lado esquerdo (para quem entra) está uma enorme de pedra lavrada com o escudo português, indicando aproximadamente o local onde o governador de Macau, Ferreira do Amaral foi assassinado na tarde de 22 de Agosto de 1849.
(3) BALL, J. Dyer (James Dyer) (1847-1919) – Macao. the holy city: the gem of the Orient earth. Printed by the China Baptist Publication Society, Canton, 1905.
(4) O templo de Lótus possui vários átrios, sendo o principal dedicado a Tin Hau ou Deusa dos Céus. O principal pavilhão é dedicado a Kum Iam, a deusa da Misericórdia
(5) TEIXEIRA, P. Manuel – A Voz das Pedras de Macau, Macau, Imprensa Nacional, 1980, 324 p.