O governador Macau homenageado era José Maria da Ponte e Horta (26-10-1866 a 2-08-1868)
Maximiano António dos Remédios filho de António dos Remédios e de Rita de Sousa Peres nasceu em S. Lourenço a 12.09.1808 e faleceu S. Lourenço a 1.02.1875. Rico negociante e proprietário, arrolado em 1871 como um dos 40 maiores contribuintes de Macau. A 17.09.1871, reuniu em sua casa um grupo de macaenses que constituíram o núcleo fundador da «Associação Promotora da Instrução dos Macaenses» (APIM). Na eleição da 1.ª direcção Maximiano dos Remédios foi eleito presidente.
Maximiano dos Remédios tinha uma propriedade na chácara de S. José, vulgarmente conhecida por chácara de Manochái sita na Calçada das Chácaras (lugar onde havia várias chácaras) local hoje junto de Santa Sancha. A 17 de Abril de 1902, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, (SCM) propôs e a Mesa concordou em comprar por $2 000 a «Chácara de S. José» pertencente à viúva de Maximiniano António dos Remédios, contínua ao Hotel BoaVista (comprada pela SCM em 15 de Novembro de 1901 para aí instalar Hotel Sanatório) com intenção de aumentar a área de construção.
Informações retiradas de: FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, VOL. III, 1996, p. 40; TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1997 p. 303, 311,
Foram apreendidos e confiscados pela Autoridade Administrativa, (1) no dia 11 de Junho de 1913, grande quantidade de diversos materiais destinados ao fabrico de pau-cheung (panchões).
Extraído de «Boletim Oficial» XIII-25 de 23 de Junho de 1913, p. 276
Anúncio da Repartição Superior de Fazenda da Província de Macau de 19 de Junho, chamava a atenção para a venda em hasta pública destes materiais e utensílios destinados ao fabrico de pau-cheung e pau-cheung já preparados, no dia 28 do mesmo mês, no Depósito do Material de Guerra dos Particulares, sito na Fortaleza da Barra. Foram apreendidos às firmas Iu-Seng-Long-Tac-Qui e Tac-Heng-Long, estabelecidas no sítio do Tanque do Mainato, vulgo Calçada das Chácaras desta cidade.
(1) Transgressão do «Regulamento para o Comércio de Armas, Munições e Explosivos e Indústrias de Fogo de Artifício» (Portaria Provincial de 19 de Agosto de 1907) .
Em 24 de Fevereiro de 1868, o aterro do rio, para o lado da Barra, achava-se já unido ao aterro do Pagode chinês, de modo que as povoações da Barra e Patane ficaram em comunicação pela estrada marginal (1)
Manuel de Castro Sampaio, no seu livro “Os Chins de Macau” (1867) informa (2): “Uma das primeiras povoações fica próxima da fortaleza da Barra e é por isso chamada Povoação da Barra. A outra acha-se na encosta outeiro da Penha, onde está a fortaleza do Bom Parto, e onde se encontram as mais lindas chácaras de Macau. Esta é conhecida pelo nome de Tanque-Mainato, nome derivado de um tanque de lavadeiros ou mainatos, como lhes chamam no paiz. As outras três povoações são denominadas de Patane, de Mong-ha e de S. Lázaro. Patane é de todas as cinco a mais importante, pela sua industria fabril e pelo seu comercio, principalmente, em madeiras de construção. Esta fica no litoral do porto interior, tendo Mong-ha do lado oposto, onde existe a maior parte dos agricultores e onde há alguma industria e comercio, como em todas as outras povoações, excepto a do Tanque-Mainato, onde pouca industria e nenhuma comercio há, por ser um povoado insignificante. A Povoação de S. Lázaro, que está em continuação da cidade cristã, é onde principalmente habitam os chins que não tem abraçado o christianismo. Nesta povoação há além da Igreja de S. Lázaro que é o mais antigo templo de Macau, uma pequena capella a cargo de um sacerdote catholico, que se dedica a catechese”. (3)
Miguel Aires da Silva (4) concessionário das obras do cais e aterro, foi o homem que se abalançou à terragem da marginal do Porto Interior, ficando as obras concluídas em 4 de Março de 1881. (3)
Em 17 de Janeiro de 1873, o Governador Januário de Almeida, Visconde de S. Januário, ordenou a execução da primeira fase do alargamento do aterro marginal do Porto Interior e simultânea regularização do regime da corrente do rio, numa extensão de 160 metros, desde a Fortaleza da Barra até à Doca de Uóng-Tch´oi. (5)
NOTA:José Maria de Ponte e Horta governou Macau de 26-10-1866 a 16-05-1868. O Vice almirante Sérgio de Sousa chegou a Macau a 1-8-1868, tomou posse do governo a 3 de Agosto de 1868 e governou até 23 de Março de 1872, sucedendo o Visconde de S. Januário Correia de Almeida que governou de 23 de Março de 1872 a 7 de Dezembro de 1874. Na toponímia de Macau a Rua do Almirante Sérgio começa na Rua das Lorchas, a par da rua do Dr Lourenço Pereira Marques e ao lado da Praça de Ponte e Horta e termina no Largo do Pagode da Barra
(1)
«Boletim da Província de Macau e Timor» , XIV-8 de 24-02-1868, p.45
Trecho da avenida marginal em 1910 – futura Avenida da República
Construída em 1910, aberto ao público a 10 de Dezembro desse ano sendo as obras dirigidas pelo Engenheiro Miranda Guedes.
A avenida marginal em construção. Ao fundo a colina e a ermida da Penha
Como a República havia sido implantada em Portugal, os republicanos de Macau, que já haviam dado o nome de Rua de Cinco de Outubro à Rua Nova de El-Rei, baptizaram a nova avenida marginal com o nome de Avenida da República (1)
Nova avenida marginal do porto exterior – Avenida da República.
Ao fundo a Chácara de Santa Sancha
A 1 de Setembro de 1924, o tarefeiro Au-Koc, comprometeu-se a executar a mão de obra dos trabalhos da «Pavimentação da Avenida da Praia Grande, desde a Rua do Campo até à Calçada do Tanque do Mainato», sendo parte dos trabalhos por conta do orçamento de 43 000 patacas. TEIXEIRA, Pe. M. – Toponímia de Macau Volume I.
“Ligação dos mictórios públicos com a canalização geral de água salgada.” (1)
Há notícias da arrematação da construção de um reservatório de água salgada na Colina da Guia a 13 de Janeiro de 1912 e do fim do prazo de entrega, em 30 de Julho de 1912, das propostas para fornecimento e instalação de máquinas elevatórias de água e canalizadas desde a praia da Vila Leitão aos reservatórios da Guia . A água era salgada servia para rega das estradas (2) e combate a incêndios. (3) Foi a primeira rede de águas de Macau.
Recorda-se que o grande reservatório de água potável (ainda existente) abastecido a partir da China, construída na antiga praia de Cacilhas, foi somente em 1939.
Sobre a história da água potável em Macau aconselho a leitura de AFONSO, José da Conceição – Macau, contributos para a história do abastecimento de água potável, Administração n.º 75, vol. XX, 2007-1º, 281-299, consultável em: http://www.safp.gov.mo/safppt/download/WCM_004505
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(2) “25-01-1918 – Aquisição de carros-cisterna para o serviço de regas da cidade” (1)
(3) Mas um nota do Comando do Corpo de Bombeiros de 26-04-1921 revelava que a quantidade de água salgada fornecida pelas máquinas elevatórias da Guia não era suficiente para a necessidade de serviço (1)
“Macau – a Mónaco do Oriente – lhe chamam os estrangeiros, sem o jogo do fantan (1) seria tão mesquinha como o principiado dos trágicos suicídios sem a roleta devastadora. As noites de Macau, luminosas e lindas, teem a brutalidade estranha para os espíritos occidentaes de mysterios entrevistos em livros perturbantes escriptos, pelo que fumaram as canulas do opio e dormiram attribulados nos braços abaçanados das orientaes.
É o Monte Carlo, onde se terem vagares e cautellas de conspiradores para fazer sumir os vultos nos humbraes das casas de jogo, onde se chocalha a sphapecka(2) ou nos limiares dos predios suspeitos onde a chineza os espera perfumada e amante. Caminha-se trazido de medo, um medo que existe no ar dentro da qual se olvida a civilização regrada; a vontade de adorar Brahma, a suprema incarnação, e uma garota pintada de tintas finas, pequena como a creança, com o seu traço leve a nankin(3) nas sobrancelhas ausentes, a suprema loucura do desconhecido e de, deitados em brancas esteiras, falar do azul – o Lame (4) – e esquecer de bom agrado o ouro – o Tcha-ne-cam, (5) ouvi-las falar do seu arroz, leve como um mimo, do seuFane(6)querido e pômo-nos a amal-as como só se ama a novidade.
A Santa Casa da Misericórdia
Depois, essa Macau tem em si a legenda de piratas que veem de longinquas aguas, soberbos e embuçados como príncipes revolucionários, tomar o chá consolador ou o opio da embriaguez, nas casas do fantan ou nas locandas (7) de goso, tem em si toda a attracção d´uma terra onde passam rapidos os ringchows(8) na luz polychroma dos balões e em que as lojas teem sobre as portas nomes celestiaes – o Paraizo Eterno, a Felicidade Sonhada, que se julga viver n´um paiz onde as nuvens tornem ligeiro o caminho dos nossos pés mortificados pelos passeios banaes do occidente…” (9)
A Villa (ou Chácara) Leitão
(1) “jogo do fantan” – 番攤 ( pinyin: fāntān; cantonense jyutping: faan1 taan1) é o nome de um jogo que poderá ser definido como uma roleta sem a roleta – melhor descrição em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/jogos-de-fortuna-e-azar/
(2) Sapeca – Moeda de cobre de baixo valor, com orifício no centro, usada no Extremo Oriente.
(3) “leve a nankin nas sobrancelhas” – pintar as sobrancelhas de cor acamurçada (segundo Dicionário de Cândido de Figueiredo)
(4) “o Lame” – azul (藍 – mandarim pinyin: lán; cantonense jyutping: laam4)
(5) “Tcha-ne-cam” – ouro de ??? (金 – mandarim pinyin: jin; cantonense jyutping: gam1)
(6) “Fane” – arroz cozido, alimento (飯 – mandarim pinyin: fàn; cantonense jyutping: faan6).
(7) “locandas” – tasca, taberna, tenda segundo Dicionário de Cândido de Figueiredo
(8) Riquexó, “rickshaw” ou jerinchá( 人力車 (em mandarim: rén li che; em cantonense jyutping: jan4 lik6 ce1). Sobre riquexós ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/riquexos/
(9) artigo não assinado e fotos retirados da “Ilustração Portugueza”, 1908.
Mais postais fotográficos inseridos no livro publicado em 1922 (1) com o título de “MACAU ARTÍSTICO”.
Jardim chinês – O Palácio do Govêrno
O jardim chinês é o de Lou Lim Ieoc, 盧廉若公園, na Estrada Adolfo Loureiro,construída pelo mercador Lou Kau e adquirido pelo Governo de Macau em 1974.
Panorama do lado Sul
Não tenho a certeza mas parece-me a praia de Cacilhas, em primeiro plano; a subida de S. Francisco e a pequena colina onde estava o Hospital Militar de Sam Januário, no segundo plano
Porto Interior e Chácara Leitão
A Chácara Leitão (esta foto de muita má qualidade) era propriedade de Francisco Filipe Leitão e ficava na Estrada de Cacilhas
Foto com melhor impressão e muito semelhante a esta, foi publicada na revista Ilustração Portuguesa (14 de Dezembro de 1908), intitulada “A Vila Leitão“
Foi nesta chácara (no ano de 1921) que se tirou a célebre foto de Camilo Pessanha, mal vestido (camiseta branca abotoada, uma calça preta e sandálias rústicas), acompanhado de seus cães.
Em finais de 70, ainda se via a entrada (na Estrada de Cacilhas após a curva da maternidade e antes de chegar ao Miradouro de Nossa Senhora do Mar, existia à direita um muro com uma entrada – portão de ferro enferrujado) e o resto do chão em pedra da chácara que “aproveitaram” para aí “levantar” umas “barracas” para habitação.
No lado esquerdo da foto, observa-se a entrada do Cemitério dos Parses.
Entrada do Cemitério (Parsee Cemetery – 1829) – hoje desnivelada face á rua com o alcatroamento do circuito da Guia
(1) LACERDA, Hugo (coord) – Macau e o seu futuro porto. Macau: Tip. Mercantil – N. T. Fernandes e Filhos, 1922, 84 p.:il; 25 cm + |2| mapas desdobr.