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Notícia de Janeiro de 1945 revela que “à revelia dos tratados sino-portugueses vigentes e numa tentativa para obliterar no terreno o regime de extraterritorialidade portuguesa na China, as autoridades chinesas de Chongqing (重慶) detêm o macaense Lourenço Osvaldo Sena, antigo agente do corpo da PSP de Macau, sob suspeitas de ter ligações com os japoneses e com o cônsul britânico e por outros actos praticados em Macau no exercício das suas funções policiais.” (1)  

E neste dia de 16 de Janeiro de 1945, ás 9 horas da manhã, teve lugar o primeiro bombardeamento aéreo de Macau por uma esquadrilha de três aviões da «Carrier Task Force 38», da Força Aérea dos EUA, sob o comando do almirante William Halsey. (2)  O alvo principal do ataque aéreo era a destruição dos depósitos de combustível existentes no hangar do extinto Centro de Aviação Naval de Macau, construído em 1938 e situado no Porto Exterior . (1)

Recordações do Padre Teixeira desse dia:

Nam Van” n.º 10 de 1 de Março de 1985, pp.23-25

Em 1945 começou a guerra civil na China, Chiang Kai-shek –
蔣介石(1887 –1975, em mandarim como Chiang Chieh-shih ou Jiang Jieshi) lançou um golpe em Shanghai , desfazendo a aliança entre o seu partido , o Kuomitang, (國民黨), e o Partido Comunista. O conflito terminou com a vitória da facção de Mao Zedong (毛泽东) e o estabelecimento da República Popular da China em 1949. O governo de Chiang Kai-shek fugiu de Xunquim (Chongqìng) (4) em 1949 após a derrota na Guerra Civil Chinesa.

(1) (FERNANDES, Moisés Silva – Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas 1945-1995 Cronologia e Documentos, 2000. Pp. 27-28.

(2) A força naval “Carrier Task Force 38”, formada pelos aliados para dar batalha à Esquadra Japonesa do Sul, sob o comando do almirante William Halsey, tinha como núcleo, oito grandes porta aviões: Yorktoun, Hancock, Ticonderoga, Essex, Wasp, Hornet, Enterprise e Lexington; e seis porta aviões mais ligeiros como apoio: San Jacinto, Monterey, Cowpens,langley , Cabot e Independence. Estes porta aviões que levavam 850 aviões dirigiram-se para o mar da China do Sul em 10 de Janeiro de 1945 para atacar os navios e os aviões japoneses . A 14 desse mês atacaram a baía de Cam-rahn e o porto de Saigão; mas os coraçados japoneses não estavam lá; estavam em Singapura. A Task Force 38 dirigiu-se para o norte para atacar os aeródromos na costa da China do Sul, de Yulin, na ilha de Hainão até Swatow. Foi designado o Grupo 5 da Task Force 38, conhecido por T. F. 38.5 para atacar os navios e aeródromos japoneses na proximidade do Estuário do Rio das Pérolas. Isto significava ataques aso aeródromos do Hong Kong, Cantão, e infelizmente, Macau. (3)

(3) Na data desta entrevista (1985), o liceu que ficava no Tap Seac, era o edifício da Delegacia de Saúde. Hoje Instituto Cultural. TEIXEIRA, P.e Manuel – Bombardeamento de Macau 16 de Janeiro de 1945 in Nam Van” n.º 10 de 1 de Março de 1985, pp.23-25.

(4) Xunquim (重慶 ; mandarim pinyin: Chóngqìng) é uma cidade no sudoeste da China. Administrativamente, é um dos quatro municípios sob administração direta do governo central da República Popular da China (os outros três são Pequim, Xangai e Tianjin) e o único município localizado longe da costa. É a cidade mais populosa do mundo. Em 1901, criou-se uma colônia japonesa na cidade. Em 1938, Xunquim transformou-se na capital provisória da China Nacionalista durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, (1937-1945), depois da queda de Nanquim (Nanjing). Xunquim foi gravemente bombardeada pelas tropas japonesas durante esse período. https://pt.wikipedia.org/wiki/Xunquim

Anteriores referências aos bombardeamentos de Macau, na Guerra do Pacífico: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/01/18/noticias-de-16-e-20-janeiro-de-1945-bombardeamento-aereo-de-macau/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/16/noticia-de-16-de-janeiro-de-1945-bombarde-amentos-em-macau/

Era véspera de Natal de 1929 e muitas pessoas abandonavam a cidade na espectativa de os revoltosos cumprirem as suas ameaças de bombardeamento indiscriminado de ruas e casas. (1)

Foi rapidamente sufocada a tresloucada insubordinação dumas 50 praças de artilharia recentemente chegadas que, chefiadas pelo 2.º sargento Manuel dos Santos Guerra, exigiram um aumento de vencimentos a que se julgavam com direito e que o Governo não podia conceder, por falta de disposição legal. Os tresloucados que se insubordinaram na Fortaleza do Monte, onde se encontrava o Quartel de Artilharia de Guarnição, ameaçaram bombardear a cidade. Esgotados todos os meios suasórios e, após um cerco de 26 horas, pela polícia e outros elementos da guarnição desta província e de os subordinados terem sido intimados a renderem-se por intermédio de ordem lançadas pelos aviões da Aviação Naval, (2) dentro de 10 minutos, foram disparados uns tiros de peça, acompanhados de algumas rajadas de metralhadoras, (3) o que bastou para obrigar os insubordinados a entregarem-se às autoridades. (4) |Respeitada a linguagem da época no resumo apresentado|. (5) (6)

(1) , Luís Andrade de – Aviação em Macau, um século de aventuras, 1990, pp. 59-60

(2) “1-05-1928 – Foi criado o Centro de Aviação Naval, dependente dos Serviços de Marinha (DL 22 de 14Jun28) CAÇÃO, Armando António Azenha – Unidades Militares de Macau. 1999, p. 24. Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aviacao-naval/

(3) “O tenente José Cabral, comandante da Aviação Naval de Macau, sugeriu que o ataque fosse feito com metralhadoras por não existirem bombas próprias contra tropas mas apenas destinadas a destruir fortificações e navios de guerra. Os chefes militares decidiram intervir e ficou assente que a Aviação Naval despejaria não bombas nem balas mas sim panfletos sobre o Monte e a Guia. Às 8 horas e 45 minutos dessa manhã, o “Farey 20”, tripulado pelo tenente Cabral e pelo sargento mecânico Francisco José Júnior, voou sobre as duas fortalezas à altura de 1000 a 1200 metros, fora do alcance de tiro. Com o ruído do motor foi impossível ouvir o fogo de terra, mas um tal major Andrade, das forças fiéis, garantiria mais tarde que foram disparados tiros contra o avião. Horas depois o sargento Guerra ordenaria aos seus homens que se rendessem incondicionalmente.” (1)

(4) Julgamento em Abril de 1930, no hangar da Taipa: “No ano de 1930 não começara da melhor maneira para a Aviação Naval de Macau cujo hangar servia em Abril de 1930, de sala de julgamento de militares implicados numa rebelião armada. Os réus eram vinte e sete praças de artilharia e um sargento Manuel dos Santos Guerra, que, no Natal de 1929, tinham posto Macau em estado de sítio” (1)

(5) Extraído de SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 222

(6) Embora as fontes citadas apontam o acontecimento na véspera de Natal de 1929 (dia 24), uma notícia do dia 23 do correspondente da “Reuter”,  foi publicada num jornal de Singapura no dia 24 com o título de “INSUBORDINATE MACAO GARRISON. Exaggerated Report of Mutiny. (Reuter´s Far Eastern Service). Macao, Dec. 23.

“An exaggerated report is being circulated of a mutiny of the garrison here. The facts are that between 60 and 70 artillerymen, headed by a sergeant, stationed at Monte Fort, became insubordinate, demanding higher pay. The resto of the garrison was loyal, and the Government compelled the disaffected men to surrender without a shot being fired. All is quiet in the city and business is as usual”. The Singapore Free Press and Mercantile Advertiser, 24 December 1929, p. 11. ” https://eresources.nlb.gov.sg/newspapers/digitised/issue/singfreepressb19291224-1

Pequeno extracto dum artigo de 1940, (pp.127-134) escrito pelo 1.º tenente A. Gomes Namorado, comandante do Centro de Aviação Naval (1)  para a publicação “ U N de Macau”,  (137 p.) da União Nacional de Macau no ano XIV da Revolução, 1940.
“… Interessante seria registar nestas páginas as milhares de toneladas, em especial correio, e as centenas de milhares de passageiros hoje transportados por aviões. Aqui mesmo, Macau, é um exemplo, talvez quási despercebido. Efectivamente, saber-se-á que em 1938 e 1939 o número de cartas enviadas por correio ordinário e aéreo foi respectivamente de 1.829.662, 4.032.945 e 39.434 e 92.577. A consideração destes números mereceria talvez a atenção de capitais da Colónia, adiantando-se a iniciativas estranhas que à Colónia veem buscar rendimentos que nela deveriam ficar.
Macau precedeu êste movimento pro-aviação. Data de 1921 a criação da sua primeira escola de aviação, criada pelo Governador Paço d´Arcos. A sua vida foi efémera; 6 alunos pilotos a frequentaram e destes apenas 2 concluíram as provas.
Em 1939, por proposta do actual Governador, o Governador que primeiro e melhor viu as possibilidades da aviação, Sua Exa. o Ministro das Colónias, a quem a aviação nas Colónias tudo deve, criou a Escola de Aviação de Macau para formação de pilotos, mecânicos, artífices e radiotelegrafistas. Dotada, desta vez, com os meios necessários, a Escola poderá desempenhar cabalmente da sua missão, desta forma contribuindo para o desenvolvimento da Colónia.” (2)

(1) Recorda-se que nesse ano, o Serviço de Aviação de Macau tinha aparelhos velhos e dos quatro aparelhos apenas um conseguia voar e, mesmo assim não muito bem. Em 1939, a aviação tinha três pilotos em Macau, o primeiro-tenente José de Freitas Ribeiro (2.º comandante do Centro de Aviação Naval) o 1.º tenente aviador Pedro Correia de Barros e o 2.º tenente aviador Rodrigo Henriques Silveirinha (morreria no acidente aéreo em 26 de Junho de 1942, queda do Osprey n.º 6 no Bairro do Tap Seac) auxiliados pelo 1. º Sargento mecânico aviação, Joaquim Macedo Girão e os 2.ºs sargentos artífices de aviação, Rafael Afonso de Sousa e João dos Santos Louceiro.
O 1.º Comandante, capitão-tenente António Gomes Namorado júnior, encontrava-se em Lisboa a frequentar o curso naval de guerra e o Governo decidia-se pela construção de um novo hangar no Porto Exterior, onde coubessem, em condições razoáveis, os aparelhos. Namorado Júnior regressa a Macau e ao comando do Centro em 1940 até Maio de 1941, sendo substituído por Freitas Ribeiro que , por doença de sua mulher – tuberculose- pediu demissão do cargo e regressaria à metrópole, em 1941. O comando passou para o primeiro tenente Pedro Correia de Barros, então com 30 anos de idade.

A construção do hangar no Porto Exterior, cerca de 1941

Informações de Anuário de Macau 1940-1941 e SÁ, Luís Andrade de – Aviação em Macau, Um Século de Aventuras, 1990 p.79
Anteriores referências ao Centro de Aviação Naval em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/centro-de-aviacao-naval/

https://www.marinha.pt/conteudos_externos/RevistaArmada/423/HTML/files/ra_423_sut08.pdf

(2) António Gomes Namorado Júnior (1901-?) foi um oficial de Marinha que serviu na Aviação Naval desde 1926 como piloto-aviadGomes or e deixando-a em 1948 como cap.-frag. RF
É autor de vários artigos e textos aeronáuticos (“Crónicas de Aviação”) publicados nos “Anais do Clube Militar Naval” entre 1927 e 1933 (22 dos 26 textos publicados neste período),
Participou na “Lisboa-Madeira-Açores-Lisboa”,  a primeira viagem com aviões em grupo realizada pela aviação da Armada entre 30 de junho e 31 de julho de 1935.  Tinha como objetivo o treino de manobras e navegação. Os três aviões eram tripulados por Namorado Júnior, Ferreira da Silva, Aires de Sousa, Carlos Sanches, Bernardino Nogueira, Correia Matoso, Brandão, Falcoeira e Nascimento.
Quanto às crónicas de Namorado Júnior, no seu primeiro texto de 1928 (janeiro e fevereiro) de 1928 (assinado N.J.) inserido, tal como o anterior e os restantes, na “Crónica Naval”/”Crónica Marítima” o autor defende a importância de os governos comparticiparem as viagens aéreas (raids) como forma de conhecerem melhor as suas potencialidades a nível económico e militar. Também é defendido que o desenvolvimento e apoio da aviação civil é importante no sentido em que esta pode servir os fins militares em caso de guerra”
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/25055/1/ASPOF%20Faria%20Pinheiro%20-%20A%20Avia%C3%A7%C3%A3o%20Naval%20nos%20Anais%20do%20Clube%20Militar%20Naval.pdf

O Centro da Aviação Marítima de Macau foi criado pelo Diploma Executivo n. 22 de 14-06-1928 (publicado no Boletim Oficial  da Colónia de Macau, n.º 24 de 16-06-1928),  após autorização de Lisboa da passagem dos Serviços da Aviação da Marinha de Guerra (1) para a Marinha Privativa da Colónia, do material, pessoal e equipamento do anterior centro, em 1 de Maio de 1928,
O chefe dos Serviços de Marinha em 1928, apetrechou o Centro com dois aviões (Fairey equipados com motor Rolls Royce) (2) e metralhadoras antiquadas) e um quadro de pessoal europeu que nunca ultrapassou a meai dúzia (o diploma no seu artigo 3, estipulava um quadro de 8 elementos)  um piloto (o primeiro-tenente, José Cabral) (3) dois sargentos (um deles, o ajudante  de carpinteiro Joaquim Carpeita), dois cabos e um Havia ainda ao serviço, seis loucanes e um guarda africano, um cavalo e algumas cabras que quando em liberdade, insistiam em destruir as árvores e plantas do jardim da Taipa perante o desespero e indignação do comandante da Aviação Naval.(4)

A leste da Taipa Grande, onde é hoje a Avenida da Praia, esteve até 1940, estabelecida a base da aviação naval da Colónia.

(1) Em 1927, havia apenas três centros de Aviação naval dependentes do Chefe dos Serviços de Marinha de Guerra: Lisboa, Aveiro e Macau.
(2) Em abril de 1927, por necessidade de vigilância das águas territoriais, face à pirataria e às contingências da guerra civil na China, foi estabelecida uma Secção da Aviação Naval em Macau sob o comando de José Cabral, com ao três hidroaviões Fairey (um deles era o “Santa Cruz”, o F – 17 que fez a travessia do Atlântico Sul, com Gago Coutinho e Sacadura Cabral) baseados na Ilha da Taipa.O avião “Santa Cruz” regressou a Portugal em 1928. A extinção dessa unidade aviação-naval foi em Abril de 1933.

Fairey IIID

(3) José Cabral, primeiro-tenente, ex-combatente da I Grande Guerra, de “valentia indispensável para ser o único que só tinha aviões decrépitos que nunca caíram.”, em Macau de 1928 a 1931, (4)  esteve integrado inicialmente num projecto inicial de Sacadura Cabral, de viagem aérea à volta do mundo, que retomado em 1926 pelo major Sarmento de Beires (travessia aérea Lisboa-Macau, em 1924) (5)  viria a transformar-se na 1ª travessia nocturna do Atlântico Sul, mas por ter sido colocado em Macau, foi substituído pelo capitão Dovalle Portugal.
(4) , Luís Andrade de – Aviação em Macau, um século de aventuras, 1990.
(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-m-sarmento-beires/
Outras referências ao Centro de Aviação Naval
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/centro-de-aviacao-naval/

No dia 23 de Maio de 1930, seguiu o pessoal da aviação marítima da vila da Taipa para Tim-pin, próximo da vila de Ngai- Hau, a 60 milhas de Macau, onde caiu o avião Potez Colonial n.º 1480, em que viajava o aviador francês Terrassier e seu mecânico Felin. Os outros dois aviadores, Mathis e Durand conseguiram chegar a Cantão, vindos todos de Hanói. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
Os aviões “Potez” (com as várias variantes) foi fundada pela Sociedade francesa “Aéroplanes Henry Potez” de Henry Potez em 1919 e eram muito utilizados na aviação militar francesa entre as duas grandes guerras nomeadamente nas colónias francesas, neste caso estacionados na Indochina desde 1928. Também utilizados para o transporte de correio aero-postal.
O mais utilizado terá sido o “Potez 25” monomotor avião de observação e de bombardeamento construídos desde 1924.
https://fr.wikipedia.org/wiki/Potez_25
https://en.wikipedia.org/wiki/Potez
https://www.youtube.com/watch?v=EHNDZTUcogY

A imprensa escrita em Portugal (nomeadamente a «BGC») noticiou o bombardeamento aéreo de Macau do dia 16 de Janeiro de 1945

Extraído do «BGC» XXI – 236,  Fevereiro 1945.

Sobre este episódio, o relato de Leonel Barros (1)
Às nove e meia do dia 16 de Janeiro de 1945, numa manhã de sol e a poucos meses do fim da guerra, eu estava de sentinela junto à Porta de Armas do quartel de São Francisco quando vi uma esquadrilha d seis caças. Voavam muito baixo e faziam evoluções sobre o centro da cidade. Momentos depois, voaram em direcção ao hangar do antigo Centro de Aviação Naval no Porto Exterior e lançaram sobre o local algumas bombas, ao mesmo tempo que disparavam tiros de metralhadoras.
Inicialmente pensei tratar-se de um combate aéreo entre aviões americanos e japoneses. No entanto, apercebi-me que estava errado quando o fumo negro e espesso começou a subir ao céu e o hangar da Aviação Naval ficou em chamas.
O meu comandante, capitão Álvaro Salgado, dirigiu-se ao terraço do quartel, donde se podia perceber melhor o que se estava a passar. Mandou de imediato formar a companhia, selecionado pessoal especializado em fogo antiaéreo. Álvaro Salgado colocou homens nos postos de defesa, construídos com sacos de areia no terraço do quartel.

Desenho de Leonel Barros (1)

Lembro-me de ter olhado para o céu e ver que dois dos seis caças estavam a “picar” em direcção ao local onde me encontrava. Pressentindo que iam abrir fogo, não tive outra solução senão esconder.me atrás da guarita. Nesse mesmo instante, ouviram-se tiros que atingiram a Porta de Armas e o interior do edifício. As balas partiram vidros, causaram estragos no terraço, perfuraram as canalizações e os esgotos. Tive sorte, apenas fui atingido no capacete e nas costas por vidros, estilhaços de tijolos e areia. No interior do quartel, alguns soldados estavam com ferimentos ligeiros. O pânico foi maior por ninguém saber como transportar os feridos para o Hospital Conde de São Januário. Um dos soldados conseguiu retirar da garagem do quartel uma moto com side-car, onde foram transportados os feridos. O percurso até ao hospital foi muito arriscado, tendo sido necessárias muitas manobras. Ao longo da subida da Calçada de S. Francisco, o condutor da moto foi tentando escapar aos disparos de um dos caças que o perseguia. Ao mesmo tempo, o quartel continuava a ser atacado e, por isso, os militares não conseguiram sair das instalações para montar o material de defesa antiaéreo no ponto mais alto da Colina da Guia. Só conseguimos sair do quartel após a retirada de todos os aviões por volta das 11 e 45 minutos. O rancho, normalmente servido às 11 da manhã, só chegou duas horas depois. Enquanto almoçávamos, sobrevoavam Macau cerca de 45 aviões fortalezas voadoras que, vistos de baixo, pareciam não ser maiores do que a palma da mão…(…)” (1)
(1) BARROS, Leonel – Memórias do Oriente em Guerra, APIM, 2006
Anteriores referências a Leonel Barros:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leonel-barros/

Notícia publicada no jornal de Macau “A Verdade” de 18 de Agosto de 1928 e reproduzida no Boletim Geral das Colónias (1)
NOTA: A “Royal Air Force“ (RAF) estava instalada em Kai Tak desde 1927 e tinha os hidroaviões bombardeiros  da geração doss “Fairey IIIF ” (aparelhos de dois lugares motorizados com motores “Napier Lion”), utilizados pela RAF de 1926 a 1934.  A “RAF KAI TAK”  além das missões militares actuava também no combate à pirataria nos mares da China. Foi transferida em 1938, para “Sek Kong Airfield” nos Novos Territórios onde esteve até  1999, ano da entrega de Hong Kong à RPChina. Durante a ocupação japonesa de 1941 a 1945 o aeroporto de Kai Tak foi a base dos aviões japoneses “A6M Zero”.
https://en.wikipedia.org/wiki/RAF_Kai_Tak
http://www.rafweb.org

http://asasdeferro.blogspot.pt/2015/09/fairey-iii.html

Anteriores referências ao Centro de Aviação Naval da Taipa e à Aviação Naval  em Macau:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/06/23/centro-de-aviacao-naval-de-macau-taipa-1928/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aviacao-naval/
(1) «BGC», n.º 40 , Outubro de 1928.

F6F HellcatsDois Grumman F6F – 3 Hellcats em Maio de 1943
https://en.wikipedia.org/wiki/Grumman_F6F_Hellcat#/media/File:Hellcats_F6F-3,_May_1943.jpg

Uma esquadrilha de F6F, caças «Hellcats», da «Taskforce 38» da força aérea americana, (1) sob o comando do almirante William Halsey,  atacou pouco antes das 9.30 horas de 16 de Janeiro de 1945, alguns pontos da cidade, como a estação telegráfica de Dona Maria, que ficou danificada,  a Avenida Marginal e o Porto Exterior, sendo o principal alvo do ataque, a destruição dos depósitos de combustível existente no Centro de Avião Naval de Macau (CANM), situado no  Porto Exterior da península, que se incendiou, ficando o hangar completamente arruinado. Conhecedora das intenções das autoridades de venderem parte do combustível aos japoneses, (2) a marinha de guerra americana  efectuou as duas operações para destruir o alvo. A operação de manhã demoliu o alvo e os aviões regressariam pela tarde, (3)  lançando mais bombas, na área do hangar. O bombardeamento saldou-se em cinco mortos (4) e na destruição do antigo Museu Marítimo de Macau, (5)  que estava abrigado no hangar de aviação. (6) (7)

F6F Hellcats no porta-aviões YorktownF6F Hellcats do porta-aviões Yorktown
http://science.howstuffworks.com/grumman-f6f-hellcat.htm

(1) Tratava-se do Grupo 5 da «Task Force 38» conhecido por «T. F. 38.5», integrado no chamado «Carrier Task Force 38» , sob o comando do Almirante William Halsey e que tinha como núcleo oito grandes porta-aviões: Yorktoun, Hancock,Ticonderoga, Essex, Wasp, Hornet, Entrepise e Lexington; e seis porta-aviões mais ligeiros como apoio: San Jacinto, Monterey, Cowpens, Langley, Cabot e Independence.

Porta-aviões EnterprisePorta-aviões Enterprise
Capacidade para 90 aviões e uma tripulação de 2217 homens.
http://ww2db.com/ship_spec.php?ship_id=296

O «T. F. 38.5» pertencia ao grande porta -aviões Entreprise, porta-aviões de apoio Independence e de seis contratorpedeiros: McCord, Trathen, Franks, Hazelwood, Haggard e Buchanan. Tinha como missão atacar os navios e aeródromos japoneses na proximidade do Estuário do Rio das Pérolas.
TEIXEIRA, P. Manuel – Bombardeamento de Macau,  16 de Janeiro de 1945.  NAM VAN, 1985.
 

Porta-aviões IndependencePorta-aviões Independence
Capacidade para 30 aviões e uma tripulação de 1569 homens
http://ww2db.com/ship_spec.php?ship_id=220

Nesse dia, 16 de Janeiro de 1945, os alvos dos bombardeiros da Task Force 38 na China foram os campos militares dos japoneses em Amoy, Swatow, Hong Kong (e oficialmente, uma esquadrilha atacou Macau por engano) e na Baía de Samah, em Hainão.
(2) Pedro de José Lobo, chefe dos Serviços de Economia vendeu aos japoneses que careciam de gasolina (desde 9 de Janeiro desse ano, após a invasão do Luzon do norte -nas Filipinas, pelo General Douglas MacArthur, a esquadra americana destruía em terra e no mar todas as fontes de abastecimento dos japoneses) o depósito de gasolina da Pan-American que mantinha carreiras para Macau, armazenada no Hangar. A transacção estava marcada para esse dia, 16 de Janeiro de 1945.
(3) “Cerca das duas e meia da tarde, cinco ou seis aviões voltaram e começaram a metralhar o aeródromo, a pista dos hidroaviões e da área vizinha. Estes aviões não lançaram bombas; usaram apenas metralhadoras para alvejar os automóveis, (8) os transportes do governo e os carros de bombeiros parcados na Avenida da Amizade. Os aviões afastaram-se e cerca de um quarto de hora depois, usando a imponente estátua do governador Amaral como ponto de referência, dois aviões fizeram um último voo baixo metralhando a área perto do aeródromo destruído enquanto outros aviões voavam mais alto a cobri-los para os proteger“- depoimento de Armando da Silva, citado pelo Padre Teixeira (1)
(4) O relatório oficial do Governo que foi enviado para a Comissão Americana após a guerra para efeito de compensação de todos os prejuízos, consta como resultado dos bombardeamentos, a morte de 5 pessoas e vários feridos para além da destruição da gasolina, a destruição do hangar (que foi depois reconstruída), a destruição do Museu Marítimo e de Pescarias e os vidros em vários edifícios. No entanto, os vários relatórios dos observadores militares e civis não foram conclusivas quanto à morte ou número de mortos, segundo informação oral do quarteleiro da bataria da Guia e observador militar da área do Porto Exterior durante a guerra, soldado 4371 Pereira.
(5) A criação em Macau de um museu dedicado ao estudo e divulgação das actividade relacionadas com o mar remonta ao ano de 1919 por iniciativa do então adjunto do capitão dos Portos de Macau, Primeiro-tenente Artur Leonel Barbosa Carmona. O Museu Marítimo e Pescarias ficou instalado na Capitania dos Portos até ser mudado, em 1934, para o Hangar da Aviação Naval. Entre o espólio que se perdeu com os bombardeamentos, encontravam-se cinco modelos, extraordinariamente precisos, de barcos de Macau que foram premiados com «Grand Prix» na Exposição Universal de Paris (7)
(6) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(7) SILVA, Beatriz B. – Cronologia da História de Macau,  4.º Vol, 1997.
(8) Segundo Padre Teixeira (1) os americanos que tinham em Macau a sua espionagem bem montada, nessa manhã, quando Pedro José Lobo se dirigia para o Hangar do Porto Exterior, surgiu uma onda de bombardeiros que despejaram bombas incendiárias sobre o hangar e perseguiram com metralhadoras o automóvel doe Pedro Lobo; este se salvou, saltando do carro e escondendo-se no lodo da estrada” Episódio verídico, confirmado pelo relatório do quarteleiro da bataria da Guia e observador militar da área do Porto Exterior durante a guerra, soldado 4371 Pereira.

HANGAR Porto Exterior (1940)O hangar do Centro de Aviação Naval em construção no Porto Exterior. (1940)
Vê-se à esquerda, a casa do Alferes Luís na Estrada de Cacilhas. Ao fundo e no alto, o Farol da Guia.

O Centro de Aviação Naval (ou Marítima) de Macau (1) foi extinta a 11 de Abril de 1933. Foi depois reactivada em 1937 (2) ou 1938 (3) (4) como Centro de Aviação Naval da Colónia de Macau. Desta vez, com aviões OSPREY, dois embarcados nos navios «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», a que se juntaram mais tarde quatro aviões também OSPREY, comprados ao governo inglês.
Em 1942, em plena II Guerra Mundial, o Centro de Aviação Naval, foi definitivamente extinta. O hangar inaugurado em 1940, foi bombardeado  por cinco  bombardeiros americanos pertencentes à esquadrilha sino-americana a 16 de Janeiro (duas vezes), a 25 de Fevereiro e a 11 de Junho de 1945. Depois da Guerra, foi reconstruído mas serviu mais para depósitos de materiais e residência para família de militares.

Inauguração Hangar Porto Exterior 1940Inauguração do interior do Hangar do Centro da Aviação Naval de Macau (1940)

Efectivos da Aviação Naval 1940/1941 (5)
1.º Comandante – Capitão-tenente aviador, António Gomes Namorado.
2.º Comandante – 1.º tenente aviador, José de Freitas Ribeiro
1.º tenente aviador – Pedro Correia de Barros
2.º tenente aviador – Rodrigo Henriques Silveirinha
1.º sargento mecânico aviação – Joaquim Macedo Girão
2.º sargentos artífice de aviação – Rafael Afonso de Sousa e João dos Santos Loureiro

Inauguração Hangar Porto Exterior II 1940Inauguração do Hangar do Centro da Aviação Naval de Macau (1940)

(1) Em 1927, havia apenas três centros de Aviação Naval dependentes da Marinha de Guerra: Lisboa, Aveiro e Macau. Em 1928 o Governo aprovou a transferência, para a Marinha privativa da colónia de Macau, do material pessoal e equipamento do anterior centro de Aviação Naval.

HANGAR DA AVIAÇÃO TAIPANa primeira praia, a leste da Taipa Grande, onde é hoje a Avenida da Praia, esteve até 1940, estabelecida a base da aviação naval da Colónia.

O primeiro tenente, José Cabral ex-combatente da I Grande Guerra, foi apresentado voluntariamente em Macau para dirigir o Centro de Aviação Naval.
Esteve três anos no território e escreveu no relatório o que fora a sua actividade na Colónia: quase 500 voos, num total  de 218 horas e 15 minutos. Os aviões , só podiam ser usados em certas condições, com a maré cheia ou quando a água tivesse pelo menos sete pés de profundidade; o pessoal europeu da Aviação Naval não ultrapassava a meia dúzia  com ele e com o sargento, ajudante de carpinteiro, Joaquim Carpeta; havia ainda seis  loucanes e um guarda africano, um cavalo e algumas cabras que querendo em liberdade, insistiam em destruir as árvores e plantas do jardim da Taipa, perante o desespero e indignação da Comissão Municipal das Ilhas e a bonomia do comandante da Aviação Naval que não via como pôr termo a tal abuso ( SÁ, Luís Andrade de – Aviação em Macau, um Século de Aventuras, 1990)

Outro Aspecto da InauguraçãoOutro aspecto da inauguração do interior do Hangar

(2) “1937 – É Criado o Centro de Aviação Naval da Colónia de Macau pelo artigo 144.º do Decreto n.º 28 263, de 8 de Dezembro de 1937, publicado no Suplemento ao B. O. N,º 4 de 26-I-1938. Fica fazendo parte da marinha privativa, nos termos do decreto n.º 28 641 de 9 de Maio de 1938, publicado no B.O. n.º 26, de 25 de Junho de 1938. Logo no início de 1938 é nomeado o capitão-tenente piloto aviador José Cabral para ira Inglaterra receber e verificar o material de aviação destinado a Macau” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4.)
(3) 1938 – Reactivado o Centro de Aviação Naval desta vez com aviões OSPREY, primeiro os n.ºs 71 e 72, aviões que tinham embarcado nos navios «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», a que se juntam mais tarde quatro aviões também OSPREY. Em 1942, em plena II Guerra Mundial, o Centro de Aviação Naval, é definitivamente extinta. (VILARINHO, Manuel – entrevista à Revista «MACAU», n.º18, 1989, p.50)
(4) “Só em 1938, quando o conflito sino-nipónico, assinalava o agravamento da situação no continente chinês, o Governo da República decidiu enviar para a colónia de Macau o aviso Afonso de Albuquerque com dois aparelhos Osprey e elementos da aeronáutica. O navio chegou a Macau no dia 22 de Outubro de 1937 e na colónia encontrou um hangar desactivado,  com dois aviões de tela apodrecida, guardado por uma companhia indígena, cujas portas, baixas, eram demasiadas pequenas para que um dos Osprey pudesse ficar abrigado do mau tempo. Em Dezembro desse ano comprou-se ao Governo inglês mais quatro aviões Osprey, além de peças e motores sobresselentes. (, Luís Andrade de – Aviação em Macau, um Século de Aventuras, 1990).
(5) Anuário de Macau 1940/1941

Duas fotos com as respectivas legendas publicadas na revista “ILUSTRAÇÃO” (1928) referente ao Centro de Aviação Naval de Macau, localizado na Vila da Taipa e que foi inaugurado em 10 de Novembro de 1927. O comando foi entregue ao 1.º Tenente José Cabral. (1)
Estava equipada com três aviões Fairey, n.º s 17, 19 e 20. O Fairey 17, o «Santa Cruz» era um dos três aviões que pilotados por Sacadura Cabral e tendo com Gago Coutinho por navegador, tinham tomado parte na travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro, em 1922.

                         Ilustração 1928 Aviação Naval I

AVIAÇÃO COLONIAL PORTUGUESA – O «Fairey» III D (Motor Rolls Royce Eagle) na Estação aérea de Macau (ilha da Taipa, defronte de Hong Kong, China do Sul). Êste aparelho é aquele em que o falecido capitão de mar e guerra Sacadura Cabral e o contra-almirante Gago Coutinho cruzaram o sul do Atlântico em 1922. A estação aérea de Macau é comandada pelo 1.º tenente aviador José Cabral que se vê no meio do grupo. Foto publicitada no «Aeroplane» a revista inglesa de aeronáutica, a melhor do mundo”.

Ilustração 1928 Aviação Naval II

VISITA DA AVIAÇÃO INGLESA – Visita da aviação inglesa à base aeronáutica portuguesa de Macau. Grupo de oficiais ingleses de Kai Tak, (Hong Kong) com os seus camaradas portugueses, junto dum dos aviões da base da Ilha da Taipa, obtido no curto intervalo das muitas e brilhantes festas ali realizadas (Foto gentilmente oferecida pelo comandante José Cabral)”

(1) O Centro de Aviação Naval (ou Marítima) de Macau  foi extinta a 11 de Abril de 1933. Foi depois reactivada em 1937 (segundo Beatriz Basto da Silva, na sua Cronologia) ou 1938 (segundo Manuel Vilarinho, entrevista à revista «Macau») como Centro de Aviação Naval da Colónia de Macau. Desta vez com aviões OSPREY, primeiro os n.os 71 e 72, aviões que tinham embarcado nos navios «Afonso de Albuquerque» e «Bartolomeu Dias», a que se juntam mais tarde quatro aviões também OSPREY. Em 1942, em plena II Guerra Mundial, o Centro de Aviação Naval, é definitivamente extinta.