Archives for posts with tag: Cemitério dos Parses

Boletim Oficial da Colónia de Macau,, suplemento n.º 32 de 14 de Agosto de 1931, p. 710

No dia 14 de Agostode 1931 realizaram-se os funerais dos seis portugueses vítimas da explosão do Paiol da Flora. (1)

O cortejo fúnebre a caminho do cemitério (saído do Hospital Geral do Governo – denominado em 1937, Hospital Conde de S. Januário), passando pela Estrada dos Parses, à frente do Cemitério dos Parses.

Os serviços públicos fecharam e os espectáculos foram suspensos sendo o dia considerado de luto. A bandeira portuguesa conservou-se a meia haste em todas as fortalezas, estabelecimentos militares e públicos, das 9 e 30 às 13 horas. Os estabelecimentos particulares, o comércio e a indústria conservaram também, a meia haste, a bandeira chinesa.
A Liga Portuguesa de Hong Kong abriu uma subscrição a favor das vítimas da explosão, o mesmo acontecendo em Macau e Xangai. Os escuteiros de Macau promoveram uma récita no Teatro Victoria cuja receita reverteu também para apoio aos sinistrados” (2)
No dia 17 de Agosto, realizou-se a cerimónia fúnebre das 15 vítimas chinesas, saindo do Hospital Kiang Wu e foi acompanhada (transmissão oral) por mais de dez mil pessoas (?)

Boletim Oficial da Colónia de Macau, n.º 33 de 15 de Agosto de 1931

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/08/13noticia-de-13-de-agosto-de-1931-explosao-do-paiol-da-flora-e-o-episodio-do-estampido/
(2) (BELTÃO COELHO, Rogério – O Paiol da Flora Explodiu em Madrugada. MacaU, II série, n.º 28, Agosto 94, pp.63-68.

Souvenir de Macau 1910 CAPAPequeno álbum de fotografias de J. Arnold (dimensões da capa: 18,5 cm x 12,5 cm; 25 folhas), contendo 24 fotografias de Macau (dimensões: 14,5 cm x 9 cm), da década de 10 do século XX, com legendas em português.

Souvenir de Macau 1910 1.ª páginaFoi publicado em 1921 pela gráfica “HOOD & Co. LTD., Engravers and Printers, MIDDLESBROUGH, ENGLAND”

Souvenir de Macau 1910 Panorama de MacauPANORAMA DE MACAU

 Muitas das fotografias deste álbum são já conhecidas pois foram reproduzidas em muitas publicações quer em revistas/jornais quer em livros.
NOTA: John Arnold é autor de A Handbook to Canton, Macao and the West River, revised and re-witten (Hong Kong: Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Co., Ltd, etc, 1910) e de A Day in Macao wiih a Camera, Scenery on the West River com fotos tiradas em Fevereiro de 1910.
Muito possivelmente foram tiradas, como em Hong Kong, com uma camera construída por Messes J. A. Sinclair & Co. Ltd, London.
É autor de dois livros com fotografias de Hong Kong que podem ser vistos em:
“Through Hong Kong with a camera : some photographs of picturesque scenery and other views in Hong Kong”, by J. Arnold. Middlesbrough, England,Hood & Co., 1910.
http://ebooks.lib.hku.hk/archive/files/3c66345ba7948c688d9289f7c42d0b58.pdf
“Picturesque Hong Kong: a handbook for travellers / illustrated with original and copyrighted photographs by J. Arnold.” Hong Kong,  Tillotson & Sons, 1911.
http://ebook.lib.hku.hk/CADAL/B38633735.pdf
No “website” do Arquivo Histórico de Macau, (1), acerca destas fotografias, encontramos oito delas, com esta explicação:
UM DIA EM MACAU COM MÁQUINA FOTOGRÁFICA
Este pequeno livro da biblioteca de Luís Gonzaga Gomes revela-nos, através da lente de um fotógrafo, a Macau de 1910. Imagens de há cem anos que nos fazem recuar a um Macau pacato, de vias quase desérticas e de um céu límpido: a marginal da Praia Grande; o descarregar do peixe nos portos interior e exterior; a Avenida Vasco da Gama ladeada de árvores, e a Estrada da Bela Vista, ambas desertas; as serenas Ruínas de S. Paulo, os tranquilos Templo de A-Ma e Jardim de Camões. Macau, tal como era antes do desenvolvimento e prosperidade que trariam mais tráfico e turistas à cidade.
Das 8 fotos digitalizadas pelo Arquivo Histórico, as seis primeiras (legendadas em inglês) estão presentes neste meu pequeno álbum, embora as legendas dos lugares, em português, não coincidam com as legendas inglesas.

Souvenir de Macau 1910 Praya Grande “Praya Grande”

 “A view of Macao from the sea is exquisitely fine. The semicircular appearance of the shore, which is unencumbered and unbroken by wharfs or piers [there are one or two small landing places projecting] and upon which the surge in continually breaking and receding in waves of foam, whereon the sun glitters in thousands of sparling beams, presents a scene of incomparable beauty. The Parade [Praia Grande] which is faced with an embankment of stone, fronts the sea and is about half a mile in length. A row of houses of a large description extends along its length, Home are coloured pink, some pale yellow and others whit.e The houses, with their large windows extending to the ground with curtains,  convey an idea to the visitor that he has entered a European rather than an Asiatic seaport. ” (Macao: the Holy City,  the Gem of the Orient Earth, by J. Dyer Ball, 1905).

Souvenir de Macau 1910 Entrance to the Barra Temple“Entrance to the Barra Temple”

“The temple near the inner harbour is remarkable for its situation. A mass of gigantic boulders are heaped together by Nature in chaotic confusion and at their feet are the main buildings of the temple while stone steps lead up amongst the masses of the rock, amidst which here and there, are perched different buildings and shrines. Inscriptions are cut in the rocks, and stone seats are placed on the little terraces, which occupy every coin of advantage, grudgingly granted by the great granite boulders.” (Macao: the Holy City,  the Gem of the Orient Earth, by J. Dyer Ball, 1905.)

Souvenir de Macau 1910 Inner Harbour“Fishing Fleet Inner Harbour”

“Unfortunately the outer Harbour on which the Praya Grande faces is shallow and any large vessels which may call at Macao have to lie some miles from the shore in the offing. The Inner Harbour lying between the Peninsula and the Island of Lappa affords a secure harbour, but, unfortunately it has been silting up with mud for many years past. Of late years, however, a dredger has improved matters. The Praya on the Inner Harbour presents a great contrast to the other Praya for whereas quiet reigns on the seaward one, the inland one is all bustle; rows of Chinese vessels are anchored off the shore and boats and sampans line the banks on which coolies are busy loading or unloading cargo to carry into the stores, shops, and wholesale Chinese merchants’ places of business on this Menduia Praya or into the back streets.” (Macao: the Holy City,  the Gem of the Orient Earth, by J. Dyer Ball, 1905)

Souvenir de Macau 1910 Ruin S. Paulo Cathedral “Ruin of San Paulo Cathedral”

 Descrição do frontispício da antiga catedral de S. Paulo por J.. Dyer Ball, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/03/27/pintura-de-macau-de-1831-1832-vi-ruinas-de-s-paulo/

Souvenir de Macau 1910 Villa Leitão View from Road Below the Guia Lighthouse

 Esta foto é conhecida por apresentar a Villa ou Chácara Leitao (2) que ficava à beira mar no Porto Exterior, na encosta onde hoje está o Cemitério dos Parses e o começo da antiga Estrada de Solidão (desde 1869, Estrada de Cacilhas), que torneia a fortaleza da Guia pelo lado do mar. Termina na antiga praia de Cacilhas.
Curiosamente a legenda em português, está “Estrada da Bella Vista” (levando por isso certos autores a atribuírem esta foto, à actual Avenida da República na zona do Hotel Bela/Boa Vista) mas a Estrada com esse nome existe, não no sítio da foto mas na estrada que circunda a Montanha Russa junto à Estrada de D. Maria II portanto perto da antiga praia de Cacilhas (hoje reservatório) e da Colina D. Maria II:
“Tem este nome Macau Seac (Má-Káu-Seak 馬交石)(3),a via pública designada actualmente por Avenida do Almirante Magalhães Correia, via esta que começa na Estrada da Areia Preta  e termina na Rua dos Pescadores. Teve também a mesma designação, em época anterior, uma via pública que começava na Estrada da Bela Vista e terminava na Estrada de D. Maria II”. (4)
Em 1858, Osmund Cleverly comprou uma propriedade chamada «Jardim do Carneiro» e também «Bela Vista», fora das muralhas da cidade para o novo Cemitério Protestante, que fica na Estrada de Ferreira do Amaral” (4)

Souvenir de Macau 1910 Avenida Vasco da GamaEntrance to the Avenida Vasco da Gama.

 Creio que o a legenda correcta é “Rua do Campo” pois esta estava ladeada de árvores e casas já no ano de 1910.
Recorda-se que na entrada da Avenida «Vasco da Gama», em 1911 (31 de Janeiro) foi inaugurado o busto de Vasco da Gama e ainda nesse ano de 1911 existia um Coreto. A abertura de novas ruas através da propriedade denominada «San Fá Un», Jardim de Vasco da Gama foi só em 1928. (5)
As duas últimas fotos do Arquivo, legendadas como “ Scenes on the quays, inner harbour”, não constam deste meu álbum.Souvenir de Macau 1910 Scenes of Inner Harbour(1)  http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=15
(2) Ver em https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/chacara-leitao/
(3)  https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rua-de-ma-kau-seak/
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau Volume I
(5) “31-03-1928 – Expropriação de vários prédios e faixas de terreno para alargamento das ruas Central e Entena, e para a abertura de novas ruas através da propriedade denominada «San Fá Un» (Jardim de Vasco da Gama)”
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4.

ACTUALIZAÇÃO EM 15-03-2016: o nome do autor estava errado, por isso corrijo-o hoje. J. Arnold é John Arnold. Peço desculpas a todos pelo erro. Ao João Botas, muito obrigado por me ter alertado para esse facto.

Portugal no Extremo Oriente VIIContinuação de (1)

O EUROPEU E O CHINEZ  ῼ UMA VELHA AMBIÇÃO  ῼ  AS NHONHOS

“Pois  essa cidade assim entrevista n´uma impressão só digna d´artistas – restos d´um mundo que antes morra do que venha a adaptar-se – foi um logar de mercancias portuguezas, em que um ou outro heroismo faz perdoar a ambição.

Portugal no Extremo Oriente VIIIFortaleza do Monte

D´um lado existe o europeu com o seu uniforme branco, vagueando nas ruas, fazendo picnics nas onze mezas (2), visitando os padres na Ilha Verde, bailando com as nhonhós (3), de pernas lindas, dominado e estragando o ar com as chaminés das fabricas que ergue; do outro vive o chinez, sob os seus enormes parasoes com dragões e aves phantasticas, mandarins ou coolies (4), jogando ou trabalhando,fumando ou queimando panchões (5); vive a prostituta desolada e a trabalhadora tanqareira (6),  a mulher que vae remando nas barcas, muda e a envelhecer, comida pela lucta e pelos soes, sem outro abrigo que o seu bote, sem outro prazer que a belleza do céu d´onde espera a felicidade.

Portugal no Extremo Oriente VFarol da Guia, a Casa de Silva Mendes no início da Estrada de Cacilhas e à esquerda da foto, a entrada do Cemitério dos Parses

O europeu despresa o chines; este ri do europeu mesmo ao saudal-o porque na sua raça e nos seus costumes tem a força que o subjuga swe acaso elle, n´uma curiosidade d´arte, sonha em prescrutar-lhes a alma vivendo no seu meio. O chinez tem o fantan e tem o opio,as duas  cousas vingadoras, os dois supplicios feitos de goso, bem proprios de divindades terríveis como são os ídolos dos seus pagodes.
E enquanto socialmente, rindo, mascando betel (7), andando na sombra dos seus palanquins, geram o mal, politicamente, esquecendo os nossos feitos, sonham em guardar apenas para si essa Monaco do Orente onde descançam os piratas e folgam os mandarins”

Portugal no Extremo Oriente VI “Club China” (?)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2)  “onze mezas” – lugar na Ilha da Lapa onde se faziam picnics.
(3) “nhonhós – deve ser “nhônha” (termo na Língu maquista) – rapariga, mulher nova, casada ou solteira
(4) “coolies” –  “Cule” – trabalhador braçal ou carregador
(5) “panchões” – panchão foguete chinês, pequeno pacotinho de pólvora que rebenta sem subir no ar. ( -mandarim pinyin: bao zhàng; cantonense jyutping: paau3 zoeng3)
(6) “tanqareira – mulher que tripula e habita o tancar (pequeno barco chinês, movido a um ou dois remos,  que serve para transporte de pequenas distâncias e por vezes de habitação.
Ver anterior post: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/30/macau-maritimo-i/
(7)”betel” ou “bétele”  – planta asarmentosa e aromática/mistura de substâncias, que se mastiga por hábito em algumas regiões tropicais, e em que entram folhas de bétele. (Dicionário de Cãndido de Figueiredo)
(8) artigo e fotos retirados da “Ilustração Portugueza“, 1908.

MACAU e o seu porto - Praia GrandePraia Grande

MACAU e o seu porto - Templo BarraPagode  Ma-chu-min na Barra

(Templo de A-Má /Ma Kok Miu/Templo da Barra)

MACAU e o seu porto - Jardim S. FranciscoJardim de S. Francisco

MACAU e o seu porto - Farol da GuiaFarol da Guia

(Em primeiro plano o Cemitério dos Parses e a seguir a Casa de Silva Mendes e o início da Estrada de Cacilhas. Notar que ainda não havia a Rampa do Padre Vasconcelos.

NOTA: postais fotográficos de LACERDA, Hugo (coord) – Macau e o seu futuro porto. Macau: Tip. Mercantil – N. T. Fernandes e Filhos, 1922, 84 p.:il; 25 cm + |2| mapas desdobr.

Mais postais fotográficos inseridos no livro publicado em 1922 (1) com o título de “MACAU ARTÍSTICO”.

Macau e o seu porto - Jardim Lou Lin Iok

Jardim chinês – O Palácio do Govêrno

O jardim chinês é o de Lou Lim Ieoc, 盧廉若公園, na Estrada Adolfo Loureiro,construída pelo mercador Lou Kau e adquirido pelo Governo de Macau em 1974.

Macau e o seu porto - Panorama lado sul Panorama do lado Sul

Não tenho a certeza mas parece-me a praia de Cacilhas, em primeiro plano; a subida de S. Francisco e a pequena colina onde estava o Hospital Militar de Sam Januário, no segundo plano

MACAU e o seu porto - Chácara LeitãoPorto Interior e Chácara Leitão

A Chácara Leitão (esta foto de muita má qualidade) era propriedade de Francisco Filipe Leitão e ficava na Estrada de Cacilhas

 Foto com melhor impressão e muito semelhante a esta,  foi publicada na revista Ilustração Portuguesa (14 de Dezembro de 1908), intitulada “A Vila Leitão

 Chácara LeitãoFoi nesta chácara (no ano de 1921) que se tirou a célebre foto de Camilo Pessanha, mal vestido (camiseta branca abotoada, uma calça preta e sandálias rústicas), acompanhado de seus cães.

Em finais de 70, ainda se via a entrada (na Estrada de Cacilhas após a curva da maternidade e antes de chegar ao Miradouro de Nossa Senhora do Mar, existia  à direita um muro com uma entrada – portão de ferro enferrujado)  e o resto do chão em pedra da chácara que “aproveitaram” para aí “levantar” umas “barracas” para habitação.
No lado esquerdo da foto, observa-se a entrada do Cemitério dos Parses.

Cemitério ParsesEntrada do Cemitério (Parsee Cemetery – 1829) – hoje desnivelada face á rua com o alcatroamento do circuito da Guia

 (1) LACERDA, Hugo (coord) – Macau e o seu futuro porto. Macau: Tip. Mercantil – N. T. Fernandes e Filhos, 1922, 84 p.:il; 25 cm + |2| mapas desdobr.