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DIÁLOGO ENTRE JOSÉ FAGOTE E PANCHA GUDUM, AMBOS VELHOS

FAGOTE
Bons dias senhora Pancha!
Minha musa encantadora!
Quer bocê casar comigo?
Diga já, já, sem demora!

PANCHA
Cusa? Sium na sium sua terra
Sã assim pidi cazá?
Ung-a ome assim vêlo
Inda num sabe falá.

FAGOTE
Oh2 Minha querida flôr,
Não se zangue por tão pouco!
Dê-me essa mão de esposa,
Quando não eu mouro louco!

PANCHA
Tirá mão daqui galego!
Vai casá cô moça, moça!
Nom basta vêlo franzido
E sem sápeca na borça.

FAGOTE
Eu já sei que não és moça,
És uma velha coruja!
Com os cabelos já brancos,
E com a bôca toda suja!

PANCHA
Sai! Lagarto sem vergonha!
Já depressa vai s´imbora!
Si non quero eu logo
Fazê corê com vaçora!.

FAGOTE
Boça mercê não me insulte!
Tome cuidado comigo!
Nunca vi uma pantera
Com tanta sanha consigo!

PANCHA
Azinha trezé vaçóra!
Dáli, pinchá na rua
Para este porco sem vergonha,
Déçá ele mulá com chúa!

FAGOTE
Oh! Não, não, eu já me vou!
Nada faço com esta gente.
Que um raio abraza esta casa
Junto com esta serpente!.

José Baptista de Miranda e Lima (1)

(1) José Baptista de Miranda e Lima (Macau, na rua hoje chamada Central, 10-11-1782- Macau na mesma casa, 22-01.1848; sepultado no Cemitério de S. Paulo), benemérito da instrução e hábil educador, se não foi o primeiro, tornou-se seguramente o mais importante poeta macaense (compunha em português e em patuá num estilo marcado pela literatura neoclássica). Professor régio desde 1804, até a sua morte da cadeira de Gramática Latina e de Português no Real Colégio de S. José, de Macau. José Baptista de Miranda e Lima era grande adepto de Miguel de Arriaga Brum da Silveira (a quem dedicou em 1810 uma poesia cantando as virtudes deste ao vencer o pirata Cam Pau Sai), e em 1822, dirigiu em nome dos constitucionais de Macau uma representação ao Rei e à Cortes, declarou-se a favor do novo rei D. Miguel, em 1829 e por isso foi suspenso do seu lugar de professor. Foi reintegrado, anos mais tarde.
Filho de José dos Santos Baptista e Lima, (natural de Lila de Alpedriz-Leiria, veio para Macau onde casou em 23 de Janeiro de 1782, grande educador e professor régio das línguas portuguesa e latina em 1775 – primeira cadeira de Instrucção publica criada em Macau depois da reforma de Estudos pelo Ministério Pombalino.
Família de beneméritos da instrução já que a sua irmã Maria Izabel Baptista de Miranda e Lima (1785-????) foi Mestra de Escola Publica de Caridade desta cidade-para os Bairros da Sé e Santo António.(2)
(1) Poéma retirado de REIS, João C. – Trovas Macaenses. Mar-Oceano Editora, Macau, 1992, 485 p.
(2) «MBI» I.6 de 31 de Outubro de 1950.
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-baptista-de-miranda-e-lima/

O cemitério de S. Miguel foi inaugurado no Dia de Finados, a 2 de Novembro de 1854. Anteriormente a esta data, os mortos eram sepultados no cemitério de S. Paulo. Como este estivesse muito arruinado e as paredes ameaçassem desmoronar-se, em 14 de Outubro de 1852, o governador Isidoro Francisco Guimarães por portaria, ordenou um empréstimo sem juros, por subscrição pública (que chegou a 720 patacas oferecidas por nove cidadãos, concorrendo o governo com 230 patacas) para construção dum novo cemitério a ser construído fora da porta da cidade.
O sítio escolhido foi num pequeno outeiro, o actual Cemitério de S. Miguel.
Excerto do relatório do Padre Francisco Anacleto da Silva, administrador do cemitério de S. Miguel, (1) nomeado presidente duma comissão em 1867, pelo governador José Maria da Ponte e Horta, para avaliar o estado do cemitério de S. Miguel e propor os melhoramentos necessários.
“Antigamente se enterrava nas igrejas e os rendimentos ficavam para a fabrica das mesmas, porem por decreto de 21 de setembro de 1835 foi prohibido esses enterramentos, e mandou se estabelecer cemitérios muralhados em todas as povoações e fora dos limites dellas, passando a sua administração ao municipio.
Em Macau, ao que parece, foi em 1836 que se observou esse decreto aproveitando-se para esse fim, as ruínas da igreja de S. Paulo, incendiada em 1835. Este cemitério foi construído pela Santa Casa de Misericordia, e depois reclamado pela autoridade ecclesiastica, indemnizando-a das despezas que nelle fizeram…” (2)
Do mesmo relatório, na conclusão, a Comissão propunha o seguinte:
A capela de maiores dimensões e com melhor ventilação”, proposta pela comissão só foi construída e inaugurada em 5 de Junho de 1875 pelo Governador do Bispado António Luís de Carvalho tendo a planta desse edifício sido desenhada pelo Barão do Cercal. (3)

A capela do cemitério de S. Miguel Arcanjo, um dos poucos edifícios de Macau em estilo manuelino, no ano de 1956 (4)

(1) A Administração do Cemitério de S. Miguel Arcanjo até 27 de Novembro de 1868 estava a cargo da Diocese; a partir desta data, a administração e a manutenção do cemitério foi transferida para o Leal Senado.
(2) «Boletim do Governo de Macau e Timor», Vol. XIV, n.º 14 de 6 de Abril de 1868.
(3) Ver anterior postagem em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/05/noticia-de-5-de-junho-de-1875-inaugura-cao-da-capela-do-cemiterio-s-miguel/
(4) «MBI» IV-79, 15NOV1956.

No dia 21 de Março de 1845, faleceu em Macau, antes de ser sagrado, (1) o 12.º Bispo de Diocese, D. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja, que foi sepultado, no cemitério de S. Paulo, sendo os seus ossos transladados, em 1859, para o carneiro da capela do Santíssimo da Sé Catedral, cuja reconstrução é, em grande parte, devida ao Bispo Borja. (1) (2)
O Padre Nicolau Rodrigues Pereira de Borja (1841-1845), sacerdote da Congregação de Missão (lazarista) chegou a Macau em 1802, para Mestre na Sagrada Theologia no Real Colégio de S. José da Cidade de Macau, e desempenhou depois as funções de Reitor do mesmo Colégio. No ano 1834, devido a perseguição tanto em Portugal como em Macau, expulsando todos os religiosos e sequestrando os seus domínios, houve uma vagatura da Diocese por um período de treze anos, depois da morte do Bispo D. Francisco da Luz Chacim. O Padre Nicolau Borja, foi nomeado Bispo de Macau em 25 de Novembro de 1841, confirmado em 19 de Junho de 1843, e tomou posse do Bispado aos 14 de Novembro do mesmo ano.
(1) O Padre Manuel Teixeira – refere que a morte do Bispo Borja ocorreu a 29 de Março de 1945, baseado no ofício do Bispo D. Jerónimo José da Mata, sucessor de D. Nicolau Borja, comunicando a morte do prelado e convidando o Leal Senado para o enterro do Bispo D. Nicolau que se realizaria no dia 1 de Abril. O Bispo Nicolau Borja não chegou a ser sagrado (marcado para 8 de Setembro de 1844) encontrando-se para esse fim já em Macau D. Fr. Tomás Badia mas este falece a 1 de Setembro de 1844 e o Bispo Borja falece a 29 de Março de 1845 com 68 anos de idade. Foi sepultado no interior da Capela do cemitério de S. Paulo. Transladado depois para debaixo do altar principal da Sé Catedral.
TEIXEIRA, Pe. Manuel – Macau e a sua Diocese, II Volume, 1940, p. 393
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954 e PEREIRA; A. Marques –Ephemerides commemorativas da historia de Macau e das relações da China com os povos Christãos (Macau: da Silva, 1868)
Anterior referência a este prelado em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-nicolau-r-pereira-de-borja/

No dia 6 de Setembro de 1840, colocou-se neste lugar (Santa Casa de Misericórdia) por ordem da Mesa na 11.ª sessão, uma redoma com as cinzas de D. Belchior Carneiro, na sala de sessões.No entanto, as cinzas do Bispo Carneiro não foi possível modernamente encontrá-las e consideram-se desviadas para local desconhecido.” (1)
Bispo D. Belchior Carneiro (1576 -1581)Belchior/ Melchior Miguel Nunes Carneiro Leitão, S. J.   (1515 ou 1516 -1583), Bispo titular  de Niceia em 15-12-1560, chegou a Macau em 1568 para exercer o ministério pastoral.  Em 1576, no ano em que foi fundada a Diocese de Macau, foi nomeado Governador do Bispado da China e do Japão (1576-1581). Faleceu em Macau, de asma, em 19 de Agosto 1583.
Terá sido sepultado na igreja que os jesuítas possuíam em Santo António. A Igreja, assim como a Casa de Santo António foi completamente devastada por um violento incêndio em 1595. Todavia após a edificação da Igreja de Madre de Deus (S. Paulo) (1602), os restos mortais de D. Melchior foram sepultados junto do altar-mor, do lado do Evangelho, na capela-mor de S. Paulo numa campa de pedra. Mas um novo incêndio em 26 de Janeiro de 1835 destruiu a grandiosa igreja salvando-se apenas a esplêndida fachada. A Mesa da Santa Casa de Misericórdia (D.Belchior Carneiro foi o fundador, e seu primeiro provedor, da Santa Casa da Misericórdia de Macau, em 1569) requereu a concessão daquele vasto terreno devoluto após o incêndio a fim de lá instalar um cemitério. Em 1836, para execução do plano houve necessidade de revolver as terras  no antigo pavimento da Igreja e entre outras, a sepultura do Bispo D. Belchior, onde foram encontradas as suas cinzas e uma pequena cruz de madeira. As cinzas (2) forram recolhidas em pequena urna e ficou depositada numa das “catacumbas” (3)  até 1840. data da colocação das cinzas de D. Belchior Carneiro, na sala de sessões da Santa Casa de Misericórdia. (4)
(1) SOARES , José Caetano – Macau e a Assistência, 1950.
(2) Na dúvida se foram só as cinzas ou (também) uma cruz que foi achada em 1836 na sepultura, cruz essa que levava nas mãos. A proposta da Mesa nessa 11.ª sessão de 6 de Setembro de 1840 refere que ficou a cruz dentro de uma pequena redoma e colocada na sala das sessões na galeria com retratos dos benfeitores. (4)
(3) Há outras fontes que referem ter sido sepultado na Igreja da Madre de Deus e depois transferido para a Sé Catedral.
(4) TEIXEIRA. P. Manuel – D. Melchior Carneiro,1968.

5 de Agosto de 1835, data do tufão (1) que fez tantos estragos na Sé Catedral que a catedral foi provisoriamente transferida para a Igreja de S. Domingos  em 3 de Agosto de 1836” (2).
A cerimónia de Sagração do novo Bispo,  D. Jerónimo José de Matta em 1846, já se realizou na Igreja de S. Domingos.(2)
A reconstrução da Sé Catedral, dedicada à Natividade de Nossa Senhora, foi iniciada pelo Bispo D. Nicolau Pereira da Borja (3) em 1844. Por sua morte, em 1845, o novo Bispo, D. Jerónimo da Mata (4) tratou de continuar e concluir a construção da catedral cuja consagração foi feita em 19 de Fevereiro de 1850.(5)

Sob o Olhar de Á MÁ - SÉ CATEDRAL Man Fook 1907Vista lateral da Igreja/ Sé Catedral
Atribuída a Man Fook, 1907

(1) “De acordo com os mapas de Piddington o tufão atravessou a ilha de Mindoro na direcção SE-NW e foi sentido pelo navio “Lady Hayes” que estava a Sul de Macau” (NATÁRIO, Agostinho Pereira – Tufões que Assolaram Macau, 1957.
O navio “Lady Hayes” está referenciado como um navio construído na Índia, em 1931, comprado  pela empresa  “Jardine Matheson & Co.” de Hong Kong em 1833 para  o transporte do ópio entre a Índia e a China.
(2) “03-08-1836 – Por a igreja da Sé ter ficado muito danificada com o tufão, a catedral foi provisoriamente transferida para a Igreja de S. Domingos” (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
A autorização do cabido para a transferência provisória da Catedral para a Igreja de S. Domingos foi a 29 de Fevereiro de 1844. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995).

D. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja 1841-1845Bispo Nicolao Rodrigues Pereira de Borja.(5)

(3) D. Nicolao Rodrigues Pereira de Borja (1841-1845), sacerdote da Congregação de Missão, Mestre na Sagrada Theologia no Real Colégio de S. José da Cidade de Macau, foi eleito Bispo em 25 de Novembro de 1841, confirmado aos 19 de Junho de 1843 e tomou posse do Bispado aos 14 de Novembro do mesmo ano. Não chegou a ser sagrado  (marcado para 8 de Setembro de 1844) encontrando-se para esse fim já em Macau D. Fr. Tomás Badia mas este falece a 1 de Setembro de 1844 e o Bispo Borja falece a 29 de Março de 1845 (antes de ser sagrado), com 68 anos de idade. Foi sepultado no interior da Capela do cemitério de S. Paulo. (5) Transladado depois para debaixo do altar principal da Sé Catedral.

D. Jerónimo José da Mata 1804-1865Bispo D. Jerónimo José da Mata (5)
No pergaminho sustentado pelo Prelado lê-se:
Plano da Igreja Cathedral de Macau – J. Thomas d´Aquino – 1845 (6)

(4) D. Jerónimo José da Mata (1804 – 1865)  foi admitido no seminário aos 18 anos de idade e chegou a Macau em 24 de Outubro de 1826, tendo concluído os estudos no Real Colégio de S. José em 1827. Em 1829, recebeu o diaconado e presbiterado em Manila (não havia Bispo em Macau para essa ordenação). Voltou a Macau, continuando os seus estudos em Matemática e  astronomia com a fim de passar para o Tribunal das Matemáticas em Pequim, o que não se concretizou por ordem imperial de não admitir ali mais padres. De 1837 a 1843 esteve no reino  e foi nomeado coadjutor do Bispo de Macau (D. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja, com estado precário de saúde. Voltou a Macau em Maio de 1844,  confirmado pela Santa Sé em 17 de Junho de 1844, com o título de Altobosco. Com o falecimento do bispo Borja, foi sagrado Bispo de Macau, em 21 de Dezembro de 1846, na igreja de S. Domingos. Renunciou o cargo em 25 de Setembro de 1862 Faleceu em Campo Maior (Portugal) em 5 de Março de 1865.(5)
(5) TEIXEIRA, P. Manuel  Macau e Sua Diocese Vol II, 1940
(6) José Tomás de Aquino foi o arquitecto da reconstrução da Sé Catedral (incluída na lista dos monumentos históricos do “Centro Histórico de Macau”, por sua vez incluído na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO). Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-tomas-de-aquino/
Referências anteriores às  Igrejas de S. Domingos e Sé Catedral, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/se-catedral/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/igreja-de-s-domingos/

Após 39 dias de governo da Colónia, faleceu no dia 6 de Julho de 1850, vítima de cólera que se manifestou apenas 8 horas antes, aos 49 anos de idade, o Capitão de Mar e Guerra, Pedro Alexandrino da Cunha, (1) que tomara posse, em 29 de Maio, sendo sepultado na capela do cemitério de S. Paulo. A cidade de Luanda erigiu-lhe uma estátua (2), comemorando os relevantes serviços que ele prestara a Angola, onde exercera o cargo de Governador-geral. (3)
Sucedeu-lhe, Francisco António Gonçalves Cardoso, Conselheiro Capitão de Mar-e-Guerra, nomeado governador de Macau, por decreto de 17 de Outubro de 1850. (4)
(1) Pedro Alexandrino da Cunha nasceu em Outubro de 1801, frequentou a Escola Militar, chegou a Capitão de Mar e Guerra e foi Governador Geral de Angola entre 1845 e 1848 e de Macau (escasso 39 dias). Pertenceu ao Conselho de Sua Magestade e era Comendador das Ordens d’Aviz, e Torre e Espada do Valor, Lealdade, e Mérito.
NOTA: Oração funebre recitada nas exequias do Illm. e Exm. o Sr. Pedro Alexandrino da Cunha por Antonio Augusto Teixeira de Vasconcellos (1816-1878) Imprensa do Governo, Loanda, 1851, 15p. 25 cm, disponível em:
http://purl.pt/967/5/r-2371-3-a_PDF/r-2371-3-a_PDF_24-C-R0075/r-2371-3-a_0000_rosto-15_t24-C-R0075.pdf
Estátua de Pedro Alexandrino da Cunha(2) Estátua de bronze de Pedro Alexandrino da Cunha, que estava no centro do antigo Largo Pedro Alexandrino da Cunha  entre o Edifício dos CTT e o Edifício da Livraria Lello, em Luanda,  e depois da independência de Angola, retirada e transferida para Fortaleza de São Miguel.
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=24783
Foto retirada do “Blogue Pitigrili”
http://angola-luanda-pitigrili.com/who%E2%80%99s-who/p/pedro-alexandrino-da-cunha
(3) GOMES, Luís G – Efemérides da História de Macau, 1954.
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/pedro-alexandrino-da-cunha/

Foi aprovada, por Decreto Régio de 12 de Março de 1847  e publicado no Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor de 10 de Dezembro de 1847,  a criação do Batalhão Provisório de Macau, em 17 de Outubro de 1846, pelo Governador João Maria Ferreira de Amaral,  destinado a auxiliar a Força de 1.ª linha.
Este batalhão foi criado pelo Governador Ferreira de Amaral  (e organizado com os moradores), após a revolta dos faitiões de 8 de Outubro desse ano, (1) para reforçar a força armada da Colónia que então o governador reconheceu ser insuficiente para defender a Colónia de possíveis ataques futuros.(2)(3)
A criação deste Batalhão não foi do agrado do Leal Senado que contrariava a política do Governador Amaral mas este proclamava em 22 de Dezembro de 1847 “ha de conservar-se o Batalhão Provisorio no pé em que está, porque o mui disciplinado batalhão d´Artilharia apenas pode suprir para o serviço ordinario, e só serão punidos os Cidadãos, que ou por mandrice, ou por pouco respeito à lei faltarem às reuniões.” (2)
O seu primeiro Major-comandante foi o macaense Francisco José de Paiva, que comandou o Batalhão até 13 de Dezembro de 1849, data do seu falecimento, aos 48 anos de idade. (4) O Batalhão ficou aquartelado no extinto Convento de S. Domingos.
A Relação dos Oficiais do batalhão que era composta por 4 Companhias, todos elas chefiadas por um Capitão,foi aprovado por Decreto de 13 de Dezembro de 1847.

O Estado Maior era formado por:
Major Comandante: Francisco José da Paiva
Tenente  Ajudante: Pedro Marques
Cirurgião-Mór: Joaquim C. da S. Telles
Alferes Porta bandeira: Luiz João da Silva

O Batalhão Provisório de 2.ª linha foi depois reorganizado em Dezembro de 1857 e passou designar-se Batalhão Nacional. Este Batalhão foi extinto em 1876, tendo os militares passado para o Regimento de Infantaria do Ultramar que se manteve até à sua extinção 1893.(5)
Francisco José da Paiva, nascido a 4 de Janeiro de 1801, na freguesia de S. Lourenço era filho de Francisco José de Paiva (natural de Vila do Mato, freguesia de Milhões, do Bispado de Coimbra) (6) e de Inácia Vicência Marques.
Joaquim José de Paiva, avô de Francisco, também natural de Vila do Mato viera de Portugal para Macau no século XVII tornando-se em breve um dos mais ricos comerciantes desta cidade, vindo a família Paiva a ser uma das mais poderosas de Macau. Estava casado com Maria Nunes também natural da Vila do Mato.
Francisco José da Paiva, foi nomeado Juiz ordinário de Senado em 1831, e Encarregado dos Negócios Sínicos, em 1836.(7)
Francisco José de Paiva andou envolvido nas lutas que se travaram em Macau entre constitucionais e absolutistas. Recebida em Macau a nova da revolução de 24 de Agosto de 1820, que proclamara a Constituição em Lisboa, apressaram-se alguns elementos a jurar aqui a Constituição, o que se realizou em 15 de Fevereiro de 1822.
Em 19 de Agosto de 1822, é eleita pelos constitucionais a nova Câmara, sendo escolhido Francisco José da Paiva para Procurador com 87 votos; esta Câmara cessou em 23 de Setembro de 1823 dia em que tomaram posse do Governo de Macau,  o Bispo Fr. Francisco de N. Sra. da Luz Chacim, o Major João Cabral de Estefique e o vereador do senado Inácio Baptista Cortela.
Francisco José de Paiva  foi nomeado em 1846,  o primeiro Cônsul de Portugal em Hong Kong. Foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo.
Fora das suas actividades como grande Homem Público, Francisco José de Paiva tomou parte importante na fundação da antiga «Casa de Seguros de Macau» de que foi, entre as pessoas particulares, o segundo maior accionista. (8)
Francisco José de Paiva casou com Aurélia Pereira (neta paterna do conselheiro Manuel Pereira) e tiveram 3 filhos: Francisco José de Plácido de Paiva (1836) Carolina Maria de Paiva (1839) e António Aurélio de Paiva (1843).

Seminário S. José 1929Igreja do Seminário 1929

Faleceu a 13 de Dezembro de 1849, sendo sepultado no Cemitério de S. Paulo. A lápide sepulcral  de Francisco José de Paiva foi depois transladada para a igreja do Seminário de S. José, onde está na parede debaixo do coro, à esquerda de quem entra do lado do Evangelho.(2)

Seminário S. José -Lápide de Francisco José PaivaTRADUÇÃO
Cristo, alfa e ómega, i. é. princípio e fim

“Aurélia Pereira de Paiva, viúva, com os seus filhos, Francisco José Plácido de Paiva, da Ordem de S. bento, e Carolina Maria de Paiva, pede, aflita, luz e descanso para Francisco José de Paiva, caritativo para com os pobres de Cristo, o qual nasceu em Macau, em 4 de Janeiro de 1801, e aqui faleceu em 13 de Dezembro de 1849, confortado com os sacramentos da Igreja”.

NOTA: Francisco José de Paiva tem o seu nome na toponímia de Macau: Travessa do Paiva (擺華巷), construída pelo Eng. Abreu Nunes em 1896, que começa entre a Rua Central e a Rua de S. Lourenço e termina na Rua da Praia Grande, ao lado do Palácio do Governo.
(1) “08-10-1846 – O Governador João Maria Ferreira do Amaral sufocou, prontamente a revolta dos faitiões (embarcações chinesas de passageiros e carga) que se tinham revoltado por ter sido lançado o imposto de uma pataca sobre essas embarcações, o qual fora proposto ao governo pelo Procurador da Cidade Manuel Pereira. “(GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, 1942.
(3) E não tardou muito que os acontecimentos viessem demonstrar a veracidade desta afirmação, pois que, assassinado o Governador Amaral, em 22 de Agosto de 1849, e vendo-se a cidade ameaçada pela invasão china, o batalhão Provisório concorreu bastante para a memorável vitória de 25 de Agosto, segundo se vê, das seguintes palavras do Capitão Ricardo de Melo Sampaio (Boletim do Governo n.º 80 de 5 de Setembro de 1849) : “As forças do batalhão Provisório que me foram enviadas durante a acção concorreram bastante pela sua actividade e disciplina par que o resultado da luta nos fosse favorável, e sem algum acontecimento funesto a não ser um só ferido, não gravemente.(2)
(4) Boletim do Governo da Província de Macau, Timor e Solor, Ano V, n.º 89, de 10 de Janeiro de 1850:

NECROLOGIA

«Um dos golpes mais severos, que tem soffrido ultimamente esta nossa Cidade, é pela voz geral de todos, a falta do nosso mui digno, e mui chorado concidadão o Ilmo. Sr Francisco Jozé de Paiva, Commendador da Ordem de Christo, nomeado por sua Majestade Fidelíssima, Consul Portuguez em Hong Kong, e Commandante do Batalhão Provisório de Macao. – Elle já não é comnosco! No Cemiterio de Sm. Paulo, onde jaz, está esperando, como os outros que alli moram, o dia final dos seculos …(…)
…Alem d´outras prendas estimaveis, que possuia, fallava a sua lingua materna com pureza, e correcção , assim coomo diversas outras d´Europa, não ignorava o latim, sabia a Historia, e a Geographia, amava e cultivava a Musica e a literatura nacional e estrangeira, de que tinha bom conhecimento. Sua enfermidade foi longa; mas supportada com paciencia…
(5) CAÇÃO, Armando António Azenha – Unidades Militares de Macau, 1999.
(6) Francisco José de Paiva (pai do biografado, com o mesmo nome) nascido em 1758, em Midões,  faleceu em Macau (27-11-1822) sendo sepultado na Igreja do Convento de S. Francisco. Casado com Inácia Vicência Marques (faleceu a 2 -11-1848) que era proprietária do mato/monte do Bom-Jesus onde estava instalado o Carmelo de Bom Jesus. Tiveram  oito filhos.
Uma das filhas Maria Vivência da Paiva (irmã do biografado, Francisco José de Paiva que era o terceiro na linhagem mas varão) nascida em Macau a 22 de Julho de 1802.
casou com Albino Gonçalves de araújo proprietário do navio Conde de Rio Pardo de quem teve um filho, Albino Francisco de Araújo que nasceu em Macau na freguesia de S. Lourenço a 19-05-1824 e se suicidou em paris em 1873 com 51 anos de idade. este episódio relatei em:
“OUTRAS LEITURAS – 365 Dias com histórias da HISTÓRIA DE PORTUGAL (I)”
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/02/outras-leituras-365-dias-com-historias-da-historia-de-portugal-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/albino-f-paiva-araujo/
(7) “07-10-1836 -O Procurador Francisco José da Paiva escreve ao Mandarim da Casa Branca, pedindo para autorizar o restauro da Fortaleza da Barra, destruída com o último tufão e chuvas, alegando ser obra pública de grande necessidade.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995)
(8) “29-11-1817 -Foi instalada a Casa de Seguros de Macau que devido ao seu poderio, era conhecido por Casa Forte. A sua primeira direcção, nomeada a 23 de Dezembro de 1817 ficou  assim constituída: Presidente, o Barão de São José de Porto Alegre; Vogais, Francisco José da Paiva e João de Deus Castro ....” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995)

Um artigo de José de Torres  (1) comentando uma foto de ” Macau- Vista da Praia Grande do Porto Exterior”, publicado no semanário ilustrado ” Archivo Pittoresco” de 1864. (2)
ARCHIVO PITTORESCO VII-44 1864 MACAU Porto Exterior

Macau- Vista da Praia Grande do Porto Exterior

A gravura que precede representa a parte direita da vista da cidade de Macau, tomada do alto da Penha. Alcança pela orla marítima da Praia Grande, ou porto exterior, desde o palacio do governo, que fica fronteiro ao mastro de bandeiras que se vê no primeiro plano, até à ponta em que está o forte de S. Francisco.
Correndo com avista a estampa da esquerda para a direita, distingue-se primeiro de frente um templo com duas torres, que é a parochial de S. Lourenço; por detrás d´elle o seminario diocesano; mais ao longe o elegante frontispício do antigo collegio de S. Paulo, da companhia de Jesus, que hoje serve de portico ao cemiterio publico; logo em seguida a mais importante fortaleza da cidade, chamada do Monte; ao descair d´ella para a praia as duas torres da sé episcopal; na elevação extrema o monte e forte da Guia; na baixa da ponta de S. Francisco o mosteiro de Santa Clara.
Macau é hoje uma das mais importantes possessões portuguezas, pela sua população, industria commercial e navegação. Não obstante o que já se disse d´ella n´este semanário, não nos despedimos de consagrar, em occasião opportuna, mais algumas paginas à singular e authentica historia d´este estabelecimento.
                                                       JOSÉ DE TORRES 
ARCHIVO PITTORESCO VII-44 1864 Artigo MACAU Porto Exterior(1) “José de Torres (1827-1874) escritor e jornalista açoriano que se notabilizou como bibliófilo e investigador da história açoriana. Reuniu uma volumosa colecção de documentos relativos aos Açores, hoje na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada, a que deu o nome de Variedades Açorianas, a qual constitui hoje um acervo precioso para o estudo da história e cultura açorianas. Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e membro de várias sociedades científicas estrangeiras.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Torres
José de Torres, à data do início da publicação, o redactor principal do Archivo Pittoresco, e um dos principais autores que também contribuíram para a divulgação dos estudos históricos já desde os tempos da sua colaboração com [6] O Panorama, faz um elogio glorioso ao nascimento do novo periódico literário, incutindo-lhe uma importância, que sem ser vangloriosa, o remeteria para um lugar de destaque nos periódicos literários portugueses da época.DIAS, Eurico – O Archivo Pittoresco (1857-1868). Subsídios para sua História  http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/RecursosInformativos/ActasdeColoquiosConferencias/textos/ConfArqPit.pdf
(2) Archivo Pittoresco: semanário ilustrado foi um jornal publicado em Lisboa, entre 1857 e 1868, pela Castro Irmão e C.ª Lda, apreciado em Portugal e no Brasil. Famoso pela qualidade da sua ilustração, pretendia fomentar “a nossa gravura em madeira, dar relevo à palavra e abrir campo em que as vistas curiosas espaireçam pelas criações da arte, da natureza ou da fantasia”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquivo_Pitoresco
AFONSO, Graça – O Archivo Pittoresco e a evolução da Gravura de Madeira em Portugal http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/RecursosInformativos/ActasdeColoquiosConferencias/textos/ArchivoPGravura.pdf.

NOTA: esta mesma ilustração foi inserida posteriormente no livro de Rocha Martins ” História das Colónias Portuguesas” (no meu “post” de 28-04-2015 ) (3) com a legenda “MACAU – PÔRTO DE MACAU”.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/28/leitura-historia-das-colonias-portugue-sas-de-rocha-martins/

No dia 2 de Novembro de 1854, foi inaugurado o Cemitério de S. Miguel Arcanjo. Antes da construção deste cemitério, os mortos católicos eram enterrados, nas paredes arruinadas da Igreja de S. Paulo. (1) (2)
Em 14 de Outubro de 1852, por o cemitério de S. Paulo se encontrar muito arruinado, ameaçando desmoronamento das paredes que ainda se encontravam de pé, e onde se enterravam os mortos, ordenou o Governador Isidoro Francisco Guimarães um empréstimo, por subscrição pública, para a construção dum novo cemitério a ser construído fora da porta da cidade (1) (3)
No entanto, há informação que no lugar onde está o cemitério (“que ficava para os lados do Bairro de S. Lázaro”), em 1849, já se enterrava católicos chineses. E a partir de 1852 uma postura do Leal Senado veio fundir com o de S. Miguel (3)
A Benção do Campo Santo de S. Miguel Arcanjo foi feita pelo Bispo D. Jerónimo da Mata,(4) sendo dois dias depois sepultado o primeiro cadáver (Zenóbia Maria Luísa de Freitas).

Cemitério de S. MiguelA capela foi construída somente em 1875.

Em 8 de Fevereiro de 1877, o Cemitério de S. Paulo foi considerado propriedade do Estado (estava na posse da Câmara Municipal desde 24 de Agosto de 1874) e classificada como nacional. Os jazigos e restos mortais que ainda aí se encontravam foram removidos para o cemitério de S. Miguel. (5)

O Regulamento do Cemitério «São Miguel Arcanjo» foi publicado em 29-06-1925.

Do livro de Amadeu Gomes de Araújo (6) retiro:
“…inaugurado, em plena época do liberalismo, o novo cemitério acabou por crescerá sombra do romantismo, tornando-se uma réplica do Cemitério dos Prazeres em Lisboa, com pequenas nuances orientais …(…). Sendo o romantismo a componente cultural do liberalismo, os arranjos, a decoração e a estatutária que lentamente foram invadindo aquele campo santo, acabaram por reflectir uma postura romântica perante a morte. O mármore é um elemento fundamental. Os vivos rejeitam a morte, e, porque desejam anular os efeitos putrefactivos da terra, transformaram os cemitérios em enormes aglomerados de mármore.
Embora a maior parte das estátuas e outros símbolos tenham sido produzidos numa fábrica de mármores de Hong Kong, a simbólica do cemitério é ocidental e cristã, ocupando o crucifixo um lugar de relevo.”
(1)   GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.
(2)   SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)
(3)   A Portaria Provincial N.º 95, de 14-10-1952, manda abrir subscrição para um empréstimo destinado a construir um cemitério e regula a forma de o realizar.(2)
(4)   D. Jerónimo José da Mata (1804 – 1865) foi bispo de Diocese de Macau de 28-03.1845 a 25-09-1862. Após concluir os estudos teológicos, em Macau, foi ordenado presbítero em 19.12.1829.Foi professor no Seminário de S. José. Em 17-06-1844 foi nomeado bispo-coadjutor de Macau. D. Jerónimo da Mata desempenhou um papel fundamental na reconstrução da Sé de Macau que ele próprio consagrou em 14 de Fevereiro de 1850 e na ampliação do Recolhimento de Santa Rosa de Lima Reorganizou também o Seminário de S. José.
http://www.gcatholic.org/dioceses/diocese/maca1.htm”>http://www.gcatholic.org/dioceses/diocese/maca1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B3nimo_Jos%C3%A9_da_Mata
(5)   A Portaria Provincial n.º 13, de 08-02- 1877, manda considerar propriedade do Estado, classificada como nacional, o Cemitério de S. Paulo, indevidamente entregue à Câmara Municipal; e dão-se instruções para a remoção dos jazigos e restos mortais ali existentes para o Cemitério de S. Miguel (2)
(6)   ARAÚJO, Amadeu Gomes de – Diálogos em Bronze, Memórias de Macau. Livros do Oriente, 2001, 168 p. + |4|, ISBN 972-9418-88-8

NOTA: A foto foi retirada de http://www.iacm.gov.mo/p/facility/introduction/grave

Pode-se ver fotos do Cemitério de S. Miguel Arcanjo e da Capela de S. Miguel no blogue “Orient´Adicta”:
http://oriente-adicta.blogspot.pt/2013/05/o-cemiterio-de-s-miguel-arcanjo-e.html