Archives for posts with tag: Carlos Morais José

Princípio do Ano Novo

As magnólias exalam perfume,                         os narcisos desabrocham,
Chegou o Ano Novo, a Primavera                        volta ao mar e às montanhas
Distribuo laisi aos meus netos,                            alegremente,
A minha esposa ri de um velho                            enlouquecido

Versos de Liang Beiyun  –  梁北云 (1907 – 2001) de 1985
Tradução de Wei Ling / Luís Rebelo in (1)

Verso do Laisi (envelope vermelho)

(1) ABREU, António Graça de; JOSÉ, Carlos Morais (coordenadores) – Quinhentos Poemas Chineses. Nova Veja, 2014, 390 p.
Ver anteriores referências a este poeta em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liang-beiyun-%E6%A2%81%E5%8C%97%E4%BA%91/

Passeio à chuva em Coloane

Passeio longamente na colina verde e nas praias de areia
As cortinas de chuva abrem-se e fecham-se de vez em quando
Para apreciar as nuvens brancas refletidas no espelho da água
Desafio a chuva e o vento a atravessar o rio.

 Versos de Liang Beiyun (1907 – 2001) de 1968
Tradução de Wei Ling / Luís Rebelo in (1)

Praia de Hac Sá – Coloane em finais da década de 80 (século XX)

(1) ABREU, António Graça de; JOSÉ, Carlos Morais (coordenadores) – Quinhentos Poemas Chineses. Nova Veja, 2014, 390 p.
Ver anterior referência a este poeta:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/liang-beiyun-
E6%A2%81%E5%8C%97%E4%BA%91/

Nevoeiro

Faz nevoeiro e chuvisca
Ouvem-se ainda trovões remotos
As árvores lançam novos ramos como          rebentos de bambu
Sem medo do inverno rigoroso nem do           frio da primavera

Versos de Liang Beiyun (1907 – 2001) de 1983
Tradução de Wei Ling / Luís Rebelo in (1)

Rotunda Ferreira do Amaral num dia de nevoeiro
Foto de Lei Iok Tin – 1951

(1) ABREU, António Graça de; JOSÉ, Carlos Morais (coordenadores) – Quinhentos Poemas Chineses. Nova Veja, 2014, 390 p.
Ver anteriores referências a este poeta em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/06/03/versos-sobre-macau-de-liang-beiyun-%E6%A2%81%E5%8C%97%E4%BA%91-i/

Com a minha bengala passeio pela margem da Praia Grande
A rua ziguezagueante estende entre salgueiros verdejantes
Contemplo uma parte do céu através da folhagem do arvoredo
Respiro o ar puro da madrugada na colina da Guia

As gaivotas voam sobre o mar que parece um espelho
Os barcos à vela voltam em ondas calmas
De manhã, compra-se peixe fresco no mercado
Esqueço os perigos da navegação

Aprendo a plantar flores nos vãos da varanda
Orquídeas e crisântemos brotam dia a dia
Aconselho a brisa primaveril que vem à janela:
Não arranques as flores para pintar os arrebóis do crepúsculo.

Versos de Liang Beiyun – 梁北云 (1907 – 2001) de 1968
Tradução de Wei Ling / Luís Rebelo in (1)

Postal (20 cm x 13,3 cm) – Fotografia de Lei Chiu Vang (2)
A Praia Grande, o hotel Lisboa, a estátua Ferreira do Amaral e a Penha
Século XX, anos 80

Liang Beiyun nasceu na província de Fujian. Estudou em Wuhan, Xangai e no Japão. Activista cultural, dedicou grande parte da sua vida à criação de escolas na China e entre as comunidades chinesas do sudeste asiático. Calígrafo, pedagogo, poeta viveu em Macau nos últimos anos da sua vida (1)
梁北云  – mandarim pīnyīn: liáng  běi yún; cantonense jyutping:  loeng4bak1 wan4
(1) ABREU, António Graça de; JOSÉ, Carlos Morais (coordenadores) – Quinhentos Poemas Chineses. Nova Veja, 2014, 390 p.
(2) Postal da Colecção “Memória Colectiva dos Residentes de Macau – Imagens Antigas de Macau, n.º 2”

poesia-porto-de-macau-de-wen-yidou-1925Porto de Macau (1)
Tu sabes, porto de Macau não é o meu verdadeiro nome.
Há quanto tempo saí eu do teu corpo, Mãe?
Se eles me arrancaram de ti,
A minha alma permaneceu sempre contigo.
Mais de trezentos anos de sonhos que não esquecem!
Por favor, chama-me outra vez pelo meu nome de criança,
Eu sou Aomen
Eu quero voltar, Mãe, eu quero voltar!

Wen Yidou (2)
1925
Tradução de António Graça de Abreu (3)

(1) “A canção n.º 32 do Shi Jing, ou Livro das Odes, fala de uma mãe que tinha sete filhos. Abandonadas, as crianças desejavam regressar ao seio materno. Wen Yiduo foi buscar a canção do Shi Jing e, no ano de 1926, escreveu sete poemas diferentes sob o título «A Canção dos Sete Filhos», sendo cada um deles uma parcela de território chinês ocupado por uma potência estrangeira. Este é o poema referente a Macau”.  (Nota do tradutor) (3)
Wen Yiduo nunca esteve em Macau mas o acentuado teor nacionalista do poema era compartilhado por muitos chineses de Macau, nessa altura. Segundo Zhidong Hao (4) o poema terá sido escrito em 1925.
wen-yidou-poeta-1899-19462) Wen Yiduo / 聞一多( 1899-1946)
Nome de nascimento Wén Jiāhuá / 聞家驊 – Nasceu em Xishui, província de Hubei. Formado pela Universidade de Tsinghua, foi em 1922, para os Estados Unidos da América onde estudou artes e literatura no “Art Institute of Chigago” e onde publicou a sua primeira colecção de poesia: Hongzhu (紅燭).
Em 1925 voltou à China, ensinando na Universidade e publicando a sua segunda (e última) colecção em 1928: Sishui (死水). Com a Segunda Guerra Sino-Japonesa, ele e muitos outros intelectuais migraram para Kunming onde ensinou na Universidade.
Poeta militante e político desde 1944 da Liga Democrática da China, morreu assassinado em Kunming, no dia 15 de Julho de 1946, pelos agentes secretos do Kuomintang. Era um esteta e a sua forma de versejar influenciou directa ou indirectamente uma geração de jovens poetas, nomeadamente em Macau. É um dos renovadores da literatura moderna chinesa (3)(5)
Pode visualizar um documentário em inglês da sua vida em:
https://www.youtube.com/watch?v=0VuhIuJVcP0
(3) Quinhentos Poemas Chineses. Coordenação de António Graça de Abreu e Carlos Morais José. Nova Veja, 2014, 390 p., ISBN: 978-989-750-018-3.
(4) Zhidong Hao (professor de sociologia na Universidade de Macau) – Macau History and Society.  Hong Kong University Press, 2011, 294 p.
(5) https://en.wikipedia.org/wiki/Wen_Yiduo