Livro publicado recentemente (Novembro de 2016) em que os autores (Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus) (1) descrevem e analisam sob o ponto de vista muito pessoal, oito episódios que aconteceram nas antigas colónias portuguesas (um por cada antiga colónia portuguesa) onde (segundo os autores) “retratam a violência e a brutalidade de uma dominação colonial insensível aos problemas das populações…”
CAPA
De Macau, focam e descrevem os acontecimentos de 1966 conhecido como 1-2-3 (“Macau: O Motim 1-2-3” – pp. 159-181), baseando em documentos oficiais do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (“Incidentes em Macau, 1966-1967”) e Arquivos da Pide (“Macau-Motim 1-2-3, Serviços de Escuta”).
Cito a parte final da conclusão tirada pelos autores destes acontecimentos (pp. 179-180).
“… As responsabilidades por este incidente são, pois evidentes.
Autoridades coloniais e forças repressivas atuaram em Macau como o faziam em Angola, na Guiné ou em Moçambique, isto é, com extrema brutalidade e em absoluto desprezo pelas populações. E na ausência do governador, o encarregado de governo terá, então, sido o primeiro responsável, ao mostrar-se intransigente e ao manifestar uma completa falta de tato e sensibilidade para com as especificidades socioculturais do território. Este encarregado de governo era o coronel Carlos Mota Cerveira, «militarão, centralizador, sem sensibilidade política». O próprio ministro do Ultramar, Silva Cunha, terá reconhecido que «não esteve à altura das circunstâncias, dando prova de falta de tato e de não possuir senso político. … »
CONTRACAPA
Citam ainda os autores: “O governador José Nobre de Carvalho, culpou o Governo de Salazar por muitos dos factos registados.
«Há grandes erros nos últimos anos, que agora se estão a pagar com juros.» E se o encarregado de governo foi um «especial responsável» não há que esquecer que «há grande responsabilidade por quem o nomeou” (CASTANHEIRA, José Pedro – Revolução Cultural em Macau, Expresso Revista, n.º 1257, 30.11.1969)
Nos ANEXOS, os autores juntaram as “Cláusulas do acordo secreto celebrado com as autoridades chinesas” (pp. 220-222), assinadas pelo governador de Macau, em 29 de Janeiro de 1967, José Nobre de Carvalho (Fonte: Arquivos da Pide pastas “Macau: Motim 1-2-3) e “Resposta do Governo de Macau ao protesto que lhe foi apresentado pelos representantes dos habitantes chineses de Macau “, (pp. 223-225), assinada pelo mesmo governador na mesma data.
(1) Livro póstumo concluído em 2012 por Dalila Cabrita que faleceu em 2014 e Álvaro Mateus falecido em 2013.
MATEUS, Dalila Cabrita; MATEUS, Álvaro – Histórias Coloniais. A Esfera dos Livros, 1.ª edição: novembro de 2016, 270 p. ISBN 978-989-626-792-6; 23,5 cm x 16 cm.