Extraído de «BPMT», XXIII-1 de 6 de Janeiro de 1877, p. 4
Outra publicação (1) do Vice-Almirante Pedro Fragoso de Matos, (2) com o título de “O Maior Tufão de Macau”, de Novembro de 1985, de 30 páginas.
Acerca do naufrágio da Escuna «Príncipe D. Carlos» e Canhoneira «Camões» em Macau, em 1874, refere o autor (p. 6):
“Naturalmente, que conhecedor do Extremo-Oriente fui, desde logo, levado a considerar que aquele sinistro marítimo deveria ter sido causado pelo perigoso inimigo dos marinheiros e dos pescadores do Mar da China – o temível tufão – que, em determinadas épocas do ano – Junho a Outubro – assola com grande violência os portos de Macau e de Hong Kong. Assim, consultando vários livros e muita documentação manuscrita coeva, existente no Arquivo Geral da Marinha, foi-nos possível verificar que no ano de 1874, o porto de Macau foi assolado por um fortíssimo tufão, o mais devastador de todos os tempos, com extraordinários prejuízos, tanto no mar como em terra, como adiante se constatará. (…) ” (3)
(2) MATOS, Pedro Fragoso de – O Maior Tufão de Macau, composto e impresso nas oficinas da Editorial Minerva, Novembro de 1985, 30 p., 22,5 cm x 15,5 cm x 0,1 cm. Separata dos Anais do Clube Militar Naval n.º 7 a 9 de Julho/Setembro de 1985.
Adquirido na I Feira do Livro de Macau, organizada pelo Instituto Cultural de Macau, em Lisboa no Forum Picoas de 12 a 18 de Dezembro de 1988.
(3) «Na noite de 22 para 23 de Setembro do corrente ano, o maior tufão de que há memória não só em Macau, mas nestas paragens, destruiu a maior parte desta cidade, bem como as povoações das Ilhas da Taipa e de Coloane… (B.O. n.º 41/26-9-1874)
“1874 (22 de Setembro) – Grande ciclone em Macau, causando numerosos prejuízos e desgraças, tanto no mar como em terra, e morrendo centenares de pessoas. No porto da nossa colónia afundaram-se alguns navios e entre eles a escuna de guerra «Príncipe D. Carlos» que se perdeu totalmente, e a Canhoneira «Camões». A escuna «Príncipe D. Carlos» era comandada pelo primeiro-tenente Vicente Silveira Maciel e fora lançada ao mar em1866, a canhoneira «Camões» fora lançada ao mar em 1865 e era comandada pelo segundo-tenente José Maria Teixeira Guimarães“ (Efemérides da Marinha Portuguesa, constantes da «Lista da Armada» de 1900 in p. 9 desta separata)
“(…) Entre os europeus há a lamentar a perda de três praças do Batalhão, mas entre os chinas e, principalmente no mar, há milhares de vítimas. Os edifícios públicos ficaram muito deteriorados e alguns destruídos de todo. A maior parte das casas da Praia Grande foram destruídas ou muito prejudicadas pela violência do choque das vagas. Muita artilharia das fortalezas do litoral foi arrastada para o mar depois de destruídas as muralhas. (…) A Escuna «Príncipe D. Carlos» foi perder-se a 12 milhas de Macau, jazendo desconjuntada nuns campos incultos a grande distância do Mar. A «Camões» foi também encalhar em sítio onde nunca houve navegação. Salvaram-se felizmente as tripulações. A «Tejo» conservou-se admiravelmente nas suas amarrações e não sofreu prejuízos» (B.O. n.º 41/26-09-1874)
Anteriores referências a este tufão em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
O tenente-coronel de Artilharia, José Maria Lobo d´Avila, (1817-1889), nomeado governador de Macau em 07-05-1874, (sucedendo ao Visconde de S. Januário, Januário Correia de Almeida – governador entre 1872-74), tomou posse do cargo a 7 de Dezembro desse ano. Esteve como governador até 13-09-1876, data do decreto de exoneração a seu pedido do Governador.
“O seu governo teve de se ocupar com a recuperação urbana depois do tufão de Setembro anterior, e isso não foi pouco, como se pode ler seguindo os Boletins do Governo da época. Também colaborou com a determinação do Ministro Andrade Corvo (em 1873), publicando-a em Portaria local a 21 de Abril de 1875 – no sentido de acabar com a emigração de cules a partir de Macau. Outro assunto do dia foram as alfândegas chinesas. Ávila fez uma visita oficial a Cantão e teve um diálogo próximo com o Vice Rei Liu Kunyi” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 208)
Artur Eugénio Lobo de Ávila (1856 – 1945), em 1874, acompanhou o seu pai, José Maria Lobo de Ávila, como Governador de Macau como Secretário Particular do Governador e foi também Secretário de Legação na China, no Japão e no Sião. Regressou a Lisboa em 1877.
Ver anteriores referências ao governador e seu filho em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-lobo-davila/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-eugenio-lobo-de-avila/
Por este gesto de coragem, “… lançou-se às águas do rio Cantão numa noite de forte temporal para salvar o segundo-tenente Manuel Luís Mendes Leite” foi agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada.
(1) José de Almeida de Ávila (Horta, 29 de Outubro de 1844 — Lisboa, 30 de Outubro de 1902) foi um oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, na qual atingiu o posto de capitão-de-mar-e-guerra, político e administrador colonial. Foi governador civil do Distrito da Horta (1894-1895). Era filho de José de Almeida Ávila e de Sofia de Vasconcelos, neto paterno de Manuel José de Ávila (irmão do duque de Ávila e Bolama). Com o posto de segundo-tenente em 1872 foi colocado no comando naval de Macau. Neste período integrou as guarnições da canhoneira Camões, da escuna D. Carlos, da canhoneira Tejo e da corveta Duque de Bragança. Em 1874 foi transferido para a Estação Naval de Moçambique. Em Dezembro de 1883 foi nomeado para o cargo de imediato da canhoneira Tâmega, então a prestar serviço em Macau.
Permaneceu em Macau alguns anos, tendo casado em 8 de Agosto de 1885 (então capitão tenente da Armada, comandante da canhoneira «Tâmega») com Guilhermina Homem de Carvalho. (2) Este casamento voltou a ser efémero, por a esposa ter falecida de parto em 11 de Junho de 1886. No ano seguinte, pediu transferência para Lisboa, sendo em finais de 1877 colocado como capitão-tenente supranumerário na Direcção do Arsenal da Marinha e nomeado conselheiro da Escola de Alunos Marinheiros de Lisboa. Ver biografia mais pormenorizada em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Almeida_%C3%81vila https://en.wikipedia.org/wiki/Duke_of_%C3%81vila_and_Bolama
(2) Guilhermina Maria Homem de Carvalho (S. Lourenço 28-03-1865 e faleceu de parto a 11-06-1886). Filha de José Francisco Homem de Carvalho (1825-1880), negociante e proprietário. Em 1871, era um dos 40 maiores contribuintes de Macau; fundador da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), fundada em 1871. (FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume II, 1996, pp. 217 e 219)
Partida do Governador José Maria Lobo de Ávila (1) para Cantão, no dia 14 de Outubro de 1876, a bordo da canhoneira “Tejo”, comandada por Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (2) para visita oficial ao vice-rei dessa província.
O «BPMT», de 21 de Outubro de 1876, dia do regresso do Governador, relata essa visita.
(1) José Maria Lobo d´Àvila (1817-1889) foi nomeado a 7 de Maio de 1874 e tomou posse de Governador de Macau a 7 de Dezembro de 1874, sucedendo a Januário Correia de Almeida, Visconde de S. Januário. Mais tarde, nomeado Ministro Plenipotenciário na China, no Sião e no Japão. Terminou a 20 de Setembro de 1876, data da nomeação do novo governador, Capitão-Tenente Carlos Eugénio Corrêa da Silva (mais tarde Visconde Paço d´Arcos, em 23-01-1879), mas manteve-se no cargo até à tomada de posse de governador deste em 31 de Dezembro de 1876.
José Maria Lobo d´Àvila, filho de Joaquim Anastácio Lobo de Ávila (? – 1884), Capitão e Coronel de Infantaria, fez toda a Guerra Peninsular e foi condecorado no campo da Batalha de Albuhera, em 16 de Maio de 1811, em que os Exércitos Aliados (anglo-Luso-Espanholas) derrotaram o Marechal francês, Nicolas Jean-de-Dieu Soult.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-lobo-davila/
(2) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (1844 -1923) (reformado com o posto de Almirante), filho do Governador João Maria Ferreira do Amaral, Tinha 5 anos quando o pai foi assassinado. Foi comandante da Estação Naval de Macau de 1876 a 1878. Em 1878 levou a Bangkok na canhoneira «Tejo», o Governador de Macau Carlos Eugénio Correia da Silva, que lá foi em missão diplomática. Esta missão regressou a Macau a 20 de Março de 1878.
Ferreira do Amaral que não se dava bem com o governador Correia da Silva, recusou receber o mandarim da Província de Cantão que vinha a Macau, em Julho de 1878, pois não podia suportar a afronta à memória do pai. Na véspera entregou o Comando da canhoneira ao oficial imediato e foi para o Hong Kong. O governador vingou-se, pedindo a sua exoneração a El Rei, e Ferreira do Amaral foi exonerado do comando com regresso imediato ao reino. (TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, pp 117-118)
Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-joaquim-ferreira-do-amaral/
Da noite de 22 à madrugada de 23 de Setembro de 1874, um tufão violento atravessou a foz do Rio das Pérolas causando grandíssimas perdas, considerado na história de Macau como a Calamidade do Tufão de 1874.
Anteriores referências a este tufão em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-ii-incendio-no-bairro-de-santo-antonio
Nesse mesmo dia 18 de Dezembro de 1873, o Governador, Visconde de S. Januário, oficiou ao Vice Rei dos dois Kuangs, protestando contra a proibição da vinda do arroz da China para Macau e nesse mês deu-se por concluída a obra da construção do Hospital Militar de S. Januário.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 207
Relato sumário das acções realizadas pela Canhoneira “Tejo” desde a saída de Macau no dia 21 de Maio até voltar a 27 de Maio de 1876, período em que esteve, no dia 24 de Maio, em Hong Kong, nos festejos do aniversário natalício da Majestade Britânica (1)



O primeiro tenente Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (2) foi nomeado comandante da Canhoneira “Tejo” (3) em despacho de El-Rei de 4 de Março de 1876, em substituição do primeiro tenente da armada Fernando Augusto da Costa Cabral (4)

(1) Rainha Vitória (24 de Maio de 1819 – 22 de Janeiro de 1901) do Reino Unido de 1837 até à sua morte
(2) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (1844 -1923) (reformado com o posto de Almirante), filho do Governador João Maria Ferreira do Amaral, Tinha 5 anos quando o pai foi assassinado, assentou praça na marinha aos 12 anos de idade; em 1855 era aspirante; e em 1861 completou o curso sendo promovido a guarda marinha em Agosto de 1866 e a primeiro-tenente em 1874. Nesse meio tempo, comandou os seguintes navios: «Penha Firme», o couraçado «Vasco da Gama, em que foi à inauguração do canal de Kiel na Alemanha; imediato da corveta «Mindelo», da fragata «D. Fernando» e comandante da corveta «Duque da Palmela». Como comandante do vapor «Tete» participou na expedição à África Oriental, tomando parte em três combates. Governou S. Tomé e Moçâmedes em 1878 e 1879. Em 1882 nomeado governador de Angola e em 1886 governador da Índia. Ministro da Marinha em 1892 e ministro interino dos Negócios estrangeiros em 1898.
Foi comandante da Estação Naval de Macau de 1876 a 1878. Em 1878 levou a Bangkok na canhoneira «Tejo», o Governador de Macau Carlos Eugénio Correia da Silva, que lá foi em missão diplomática. Esta missão regressou a Macau a 20 de Março de 1878. Ferreira do Amaral que não se dava bem com o governador Correia da Silva, (episódio que relatarei em próxima postagem) recusou receber o mandarim da Província de Cantão que vinha a Macau, em Julho de 1878, pois não podia suportar a afronta à memória do pai. Na véspera entregou o Comando da canhoneira ao oficial imediato e foi para o Hong Kong. O governador vingou-se, pedindo a sua exoneração a El Rei, e Ferreira do Amaral foi exonerado do comando com regresso imediato ao reino. (TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, pp. 117-118.)
(3) Ver anteriores referências à Canhoneira «Tejo» em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/canhoneira-tejo/

Na Revista “O Occidente”, XIII- n.º 418 de 1 de Agosto de 1890, na página 171 aparece um apontamento quanto à duração da estadia em Macau da canhoneira, na nota de rodapé do artigo “Apontamentos sobre a Marinha de Guerra dos Diversos Países – Marinha de Guerra Portuguesa”::

(4) Fernando Augusto de Costa Cabral (1839-1901), filho de António Bernardo da Costa Cabral, 1.º conde de Tomar e 1.º marquês de Tomar, instaurou o “Cabralismo” em Portugal) ) irmão de António Bernardo da Costa Cabral, 2.º conde de Tomar, foi oficial na marinha, contra-almirante, condecorado com a medalha da Crimeia e cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, e foi ajudante de campo do rei D. Carlos. O pai adoeceu gravemente em Nápoles, , em princípios de Setembro de 1885, sendo trzido para Portugal a bordo da corveta Estefânia, então sob o comando do seu filho Fernando Augusto da Costa Cabral. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Bernardo_da_Costa_Cabrall
O governador de Macau, Januário Correia de Almeida, Visconde de S. Januário (1) partiu no dia 1 de Fevereiro de 1874 para Cantão (Guangzhou), a bordo da canhoneira Tejo, para tratar com o vice-rei dos dois Quangs, de negócios de alto interesse para o território.
Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», II-20 de 3 de Fevereiro de 1874, p.2
Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», II-21 de 10 de Fevereiro de 1874, p.2
O governador rgressou a Macau no dia 8 de Fevereiro a bordo da mesma canhoneira.
Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», II-21 de 10 de Fevereiro de 1874, p.2
NOTA: No dia 20 de Março de 1874, terminou a publicação do semanário «Gazeta de Macau e Timor» (20-09-1872 a 20-03-1874; responsável: Francisco de Sousa Placé) cujo principal colaborador foi o escritor Pedro Gastão Mesnier (1846-1886), secretário particular do Governador Visconde S. Januário.
Sobre este escritor, aconselho a leitura do artigo de António Aresta no «Jornal Tribuna de Macau» em:
https://jtm.com.mo/opiniao/pedro-gastao-mesnier/
e
artigo do «Diário Illustrado», n.º 4:685 de 12 de Maio de 1886
http://purl.pt/14328
(1) Anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/januario-correa-de-almeida-visconde-conde-de-s-januario/page/1/
Extraído de «O Independente», XI-1, de 17 de Janeiro de 1889.
Anteriores referências à canhoneira Tejo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/canhoneira-tejo/