A lancha-canhoneira «Macau» que foi lançada à água em Kowloon (Hong Kong), (1) no dia 7 de Julho de 1909 após montadas as peças fabricadas em Glasgow (Inglaterra) pela casa Yarrow, foi vendida ao Japão a 12 de Março de 1943, por necessidades económicas (2) que a guerra ditou (3)
(1) Lancha-canhoneira de aço de 135 toneladas métricas, estava montava com duas peças H. (de 57 mm) e três metralhadoras (de 6,5 mm) Os hélices trabalhavam em túnel. Desempenhou várias comissões nos mares da China, (4) até ser tomada pelo Japão em 1945. (segundo ESPARTEIRO, Marques, p. 91 de
http://3decks.pbworks.com/f/Catalogo+dos+navios+brigantinos+(1640-1910)+-+Esparteiro.pdf
Segundo Ricardo Matias, num comentário à minha postagem de 27-09-2016:
“ A canhoneira Macau e duas dragas do porto de Macau, foram entregues às autoridades militares japonesas que ocupavam a China por troca com 10.000 sacos de arroz, foi uma troca desigual e forçada pela ameaça de invasão. O navio passou a chamar-se Maiko e com o final da Guerra caiu em mãos chinesas em Cantão, rebaptisado Wu Feng, passou em 1949 para a China Comunista e perdeu-se o rasto. A troca foi realizada em 15 Agosto 1943, mas o navio continuou na lista da Armada até 1945, uma maneira de mostrar aos americanos que não ajudávamos os japoneses “
Sobre esta lancha, aconselho ainda a leitura de:
http://naviosenavegadores.blogspot.pt/2008/09/marinha-de-guerra-portuguesa-o-nrp.html
(2) Já em 1926, devido à crise financeira, houve cortes significativos nos Serviços de Marinha com consequências na lancha canhoneira «Macau».
“26-01-1926 – Por leitura do Relatório dos Serviços de Marinha, apresentado nesta data, se conhece o estado de dificuldades económicas que Macau passa. Em resultado da crise financeira são abatidos na lotação das canhoneiras «Macau» e «Pátria», os chegadores, impedidos e criados de câmara, cozinheiros e padeiros, todos eles indígenas de Moçambique” (3)
A lancha canhoneira «Macau» esteve em perigo de se afundar no tufão de 17-09-1926.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
(4) Um das intervenções mais significativa da lancha canhoneira «Macau» (5) foi a 14 de Julho de 1910, contra os piratas que numa das suas frequentes acções de pirataria, raptaram uma dúzia de crianças duma escola entre Cantão e Macau e refugiaram-se com elas na ilha de Coloane pedindo às famílias resgates na ordem das 35 mil patacas, o que, naquele tempo, era uma fortuna. A preparação do ataque por parte da canhoneira, foi no dia 14 de Julho, tendo sido bombardeados toda a frente marítima da povoação de Coloane com Hotchiss semi-automáticas.(6)
“Uma curiosidade resultante dos acontecimentos que se deram até esta data: além do pequeno monumento que se vê no jardim da vila, em memória da expulsão dos piratas e libertação da população, os chineses, agradecidos, ofereceram bandeiras comemorativas às diferentes forças que cooperaram na luta. Sabemos por documentos da época que a bandeira de seda vermelha oferecida ao Comandante da lancha- canhoneira «Macau» (o então Primeiro – Tenente Joaquim Mata Oliveira (7) – depois entregue à Sociedade de Geografia de Lisboa – tinha a seguinte bordadura em letras chinesas «Tributo de homenagem aos senhores Comandante, oficiais e praças da lancha-canhoneira «Macau» da grande nação portuguesa. À vossa protecção devemos o sossego que disfrutamos. Pequena homenagem prestada como todo o respeito por Leong-Cheong-Tak e seu filho Pak-Lok , oriundos da povoação da família Leong no distrito de San. Hui da dinastia Tá-Tsing»” (3)
(5) Outras referências à canhoneira «Macau» em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/canhoneira-macau/
(6) Ver anteriores relatos em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/09/historia-de-piratas-i-ilhas-de-piratas/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/21/historia-de-piratas-ii-ilhas-de-piratas/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/07/historia-de-piratas-iii-ilhas-de-piratas/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/12/14/historia-de-piratas-iv-ilhas-de-piratas/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/09/07/leitura-os-piratas-em-coloane-em-1910/
(7) 1.º Tenente Joaquim Anselmo de Mata e Oliveira (1874-1948) veria a ser governador de Macau embora por pouco tempo, Março a Outubro de 1931. Partiu para Lisboa, em serviço, a 15 de Outubro, no cruzador «Adamastor» que sai da Ponte Nova do Porto Exterior. Só em 21 de Junho de 1932, Macau teria novo governador: Tenente Coronel de Artilharia, António José Bernardes de Miranda. (3)
Conferência do Comandante Gabriel Teixeira ( governador de Macau de 5-10-1940 a 23-06-1947) com os representantes da Imprensa em Lisboa, realizada no dia 3 de Setembro de 1946, na antiga sala do Conselho do Império, do Ministério das Colónias. Primeira deslocação do Governador a Lisboa após os anos conturbados da Guerra do Pacífico.
Extraído de «BGC» XXII –, n.º 254/255, 1946.
Extraído de «BGC XXVI-302-303,1950»
12-07-1910 – O Governador Eduardo Marques ordenou por portaria, a suspensão de garantias constitucionais, em todos os territórios do Concelho de Taipa e Coloane, sendo enviadas, pelas 4.00 horas de madrugada, duas forças uma de 45 praças de infantaria, comandada pelo Tenente Aguiar e outra do destacamento da Taipa e Coloane, sob o comando do tenente Albino Ribas da Silva, para desalojarem os piratas da quadrilha de Leong Tai Tchan e Leong Ngi Uá, que tinham o seu covil, nas furnas da ilha de Coloane. Devido à resistência oferecida pelos piratas foi enviada uma força de artilharia e, pelas 11.30 horas, a lancha canhoneira Macau, chefiada pelo primeiro-tenente Joaquim Anselmo Mata e Oliveira À tarde, seguiu novo reforço de 105 homens do Corpo da Polícia e infantaria, sob o comando do Capitão de infantaria Eduardo Azambuja Martins, indo assumir o comando geral das forças o major Alfredo Artur de Magalhães, comandante da Polícia de Macau O combate iniciou-se no dia seguinte e a rendição dos piratas foi no dia 14 embora as operações “de limpeza” tenham prolongado até 29 do mesmo mês.Desta acção resultou o completo extermínio dos piratas que tinham o seu quartel-general nessa ilha de Coloane, com a libertação de 18 crianças, mulheres e velhos e aprisionados 21 piratas reconhecidos, 39 indivíduos suspeitos, 11 mulheres de piratas num total de 89 pessoas. (1) Morreram 3 portugueses, segundo algumas fontes (2) mas somente é referido nos relatórios oficiosos, a morte do cabo António Maria d´Oliveira Leite, no dia 12 de Julho.
Militares portugueses, durante os combates em Coloane contra os piratas, em 1910
NOVEMBRO de 1910 – Julgamento dos piratas sequestradores de Coloane no Quartel de S. Francisco. Condenados 8 piratas a 28 anos de prisão, com degredo em Moçambique. Sete piratas foram absolvidos por faltas de provas dos crimes imputados.
O Júri do Conselho de Guerra: (1)
Presidente: Major António Joaquim Garcia
Vogais: Capitão Manuel das Neves e Alferes Mendes
Auditor: Camilo de Almeida Pessanha
Promotor: Tenente Rosa
Defensor oficioso: Alferes Rebelo
04-02-1911 – É escolhido o feriado municipal – 13 de Julho – do Concelho das Ilhas, e apresentada a justificação no B. O. n.º 5, desta data. Trata-se de sublinhar na memória de todos, em cada ano, a data do «combate de Coloane», contra os piratas, no ano anterior. (3)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954; TEIXEIRA, Pe. Manuel – Os piratas em Coloane em 1920, 1960
(2) «MBI, III-71, 1956.»
(3) SILVA , Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
No dia 27 de Setembro de 1926, caiu sobre a cidade um inesperado tufão (1) que causou grandes prejuízos e estragos, devido ao facto de o tufão ter mudado inesperadamente de direcção e a população de Macau ter sido apanhada de surpresa. (2)
Assim registaram-se avarias na iluminação pública, naufrágios principalmente no Porto Exterior. A lancha canhoneira «Macau» (3) esteve em perigo de se afundar. O cruzador «Republica» (4) ficou encalhado no Porto Interior. Afundaram-se cinco batelões da «Netherlands Harbour Works». O rebocador Otto encalhou perto de um muro de retenção da Areia Preta. A draga Nanking garrou (5) e foi encalhar em Macau Siac. Encalhou também um batelão na Lapa, outro junto do muro da rua marginal, e outro no Porto Interior. Afundaram-se várias embarcações com perdas de vidas.(6)
O jornal «Diário de Lisboa» informava no dia 28 de Setembro de 1926 que “”UM TUFÃO ASSOLOU MACAU parecendo que houve mortes”
“MACAU, 27 – Um violento tufão assolou esta cidade. Nem todos os juncos de pesca que estavam ao largo recolheram, receando-se que a maior parte se tenha afundado causando a perda de muitas vidas. Os estragos no litoral são relativamente pouco importantes.”
Nos dois dias seguintes (29 e 30 de Setembro) completava a notícia:
“ No Ministério das Colónias não foi ainda recebido qualquer novo telegrama sobre o tufão de Macau. O cruzador «Republica» garrou, não tendo, porém, sofrido qualquer avaria.”
“Pela vistoria a que se procedeu, verificou-se que o cruzador «República», não sofreu qualquer avaria, em consequência de ter “garrado” em Macau.”
(1) “Formou-se no Pacífico no dia 22 de Setembro de 1926 nas proximidades de Guam; deslocou-se para WNW e depois NW, atravessou Luzon e no Mar da China, recurvou para W passando a poucas milhas a norte das Pratas. passou a cerca de 60 milhas a Sul de Macau e entrando no Continente dissipou-se a N. de Hanoi no dia 28 de Setembro”. (NATÁRIO, Agostinho – Tufões que assolaram Macau.) 1957.
(2) O mesmo acontecendo em Hong Kong conforme relatório anual (1926) de “Hong Kong General Chamber of Commerce”
https://www.chamber.org.hk/FileUpload/201108261214531386/1926AR.pdf
(3) N.R.P «Macau» – lancha-canhoneira (1909-1943)
Sobre esta lancha, aconselho a postagem do site:
http://naviosenavegadores.blogspot.pt/2008/09/marinha-de-guerra-portuguesa-o-nrp.html
Nos comentários a esta postagem, Ricardo Matias dá uma informação sobre o destino desta canhoneira:
“A canhoneira Macau e duas dragas do porto de Macau, foram entregues às autoridades militares japonesas que ocupavam a China por troca com 10.000 sacos de arroz, foi uma troca desigual e forçada pela ameaça de invasão. O navio passou a chamar-se Maiko e com o final da Guerra caiu em mãos chinesas em Cantão, rebaptisado Wu Feng, passou em 1949 para a China Comunista e perdeu-se o rasto. A troca foi realizada em 15 Agosto 1943, mas o navio continuou na lista da Armada até 1945, uma maneira de mostrar aos americanos que não ajudávamos os japoneses.”
(4) Cruzador «República» (ex-HMS Gladiolus) (1920 -1943)
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/03/06/noticia-de-6-de-marco-de-1927-o-cruzador-republica/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/02/leitura-o-cruzador-republica-na-china/
(5) GARRAR – (termo náutico) – quando o navio é levado a vogar à mercê das ondas, por não estar bem segura a amarra. Desprender as amarras.
(6) GOMES, Luís G – Efemérides da História de Macau, 1954.
O Comodoro Guilherme Ivens Ferraz descreve no seu diário de bordo publicado em livro «O cruzador “República” na China» (referenciado em anterior “post”) (1), no dia 8 de Junho ( 1926) sobre os aviadores espanhóis em Macau (referido em anterior “post”) (2)
Macau, 8 de Junho:
… Um acontecimento sensacional se deu em Macau, o qual foi a chegada do aviador espanhol Gallarza (3) no dia 1 de Maio, ficando a cidade em ansiedade por se desconhecer o paradeiro do capitão Loriga (4) e seu mecânico, saídos de Hanoi na mesma ocasião.
Capitão Eduardo Gonzalez Gallarza Iragorri (1898-1986)
http://www.valvanera.com/rigallarza.htm
O aparelho de Gallarza, ao aterrar foi de encontro a umas árvores de Mong-Ha, deformando as azas inferiores e partindo o montante esquerdo de duro-alumínio. Esta última avaria era de tal gravidade que o próprio aviador perdeu por completo o ânimo, considerando-se impossibilitado de concluir o vôo Madrid-Manila. (5)
Tal não sucedeu porém, tendo as avarias sido reparadas com a maior perfeição, apenas com os recursos da terra e muita boa vontade.
Apesar de todos os esforços feitos para obter notícias do paradeiro do aparelho do capitão Loriga, não se conseguiu ao menos a resposta aos instantes telegramas mandados às autoridades francesas da Indo-China.
No dia 3, Sua Ex.ª o Governador da Província ordenou-me que empregasse todos os esforços, para descoberta do paradeiro dos aviadores espanhóis extraviados. Para esse fim mandei aprontar com urgência a canhoneira, a lancha-canhoneira Macau e a lancha Demétrio Cinatti, dando-lhes instruções… (…).
Capitão Joaquin Loriga Taboada (1895-1927)
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/l/loriga.htm
… (…) Por uma feliz coincidência, logo na manhã seguinte a Pátria aproximando-se do vapor chinês Tejo o qual, nas alturas de Kokok seguia para o Norte em direcção a Cantão, verificou que a bordo dêsse vapor seguiam fazendo sinais, o capitão Loriga e o seu mecânico, sargento Perez.
Transmitida em rádio esta notícia, foi grande e alvoroçado o regozijo de todos, que motivos tinham para julgarem perdidos os heroicos aviadores.Ao princípio da tarde entrou a Pátria no pôrto, trazendo os dois citados aviadores, que foram recebidos co o maior regozijo, seguindo-se festas deslumbrantes durante dias consecutivos.” (1)
Os aviadores espanhóis partiram de Macau, no dia 11 de Maio de 1926, tendo o avião levantado voo às 7.30 horas da manhã, no prosseguimento da viagem para Manila. A esquadrilha que saiu de Madrid era composta por três aviões “Breguet 19” e somente um chegou a Manila, percorrendo em 39 dias os 17.500 Km entre Madrid e Manila.
O Comodoro Guilherme Ivens Ferraz no mesmo diário:
“No dia 9, saiu o República não só com o fim de marcar um ponto da derrota do avião, como para o socorrer, caso fosse necessário.
No dia 11 passou o avião sobre o República a uma altura sw cêrca 1:800 metros, verificando-se que seguia exactamentew na direcção que condizia a Aparri.” (1)
(1) LEITURA – O CRUZADOR “REPUBLICA” NA CHINA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/02/leitura-o-cruzador-republica-na-china/
(2) (3) (4) Anterior referência a essa aventura bem como biografia dos dois aviadores em: MAIS NOTÍCIAS DE 11 DE MAIO – RAID MADRID – MANILA
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/11/mais-noticias-de-11-de-maio-raid-madrid-manila/
(5) “Gallarza no tuvo más remedio que intentar el aterrizaje en Macao, en una explanada de 400 metros de longitud por 100 de anchura rodeada de árboles y líneas de alta tensión por los cuatro costados. El campo estaba señalizado con una gran T en el centro y una cruz blanca a 50 metros de ella; el piloto creyó que esta cruz sería una indicación de terreno blando, que debería evitarse, lo que redujo aún más el escaso espacio útil y propició el fatal desenlace. Aunque el choque se produjo a escassa velocidad el borde de ataque del plano inferior quedó destrozado y se dobló el montante soporte de las alas izquierdas, así como una pieza en el fuselaje. La reparación del borde de ataque no presentaba dificultades importantes, pero el montante era de dura luminio y no se veía forma de poderlo enderezar sin romperlo o degradar su resistencia.”
http://www.ejercitodelaire.mde.es/stweb/ea/ficheros/pdf/1BD09937E85D784CC12575450033F65F.pdf
Hoje celebra-se o CHENG MENG – FESTIVIDADE DA PURA CLARIDADE, o dia em que os chineses exprimem a sua piedade filial com aqueles que já partiram deste mundo, o respeito e obediência aos seus antepassados – culto dos antepassados. (1)
Relembro um escrito de Wenceslau de Moraes (2) , nos primeiros meses da sua estadia em Macau, sobre este dia.
“O dia 5 de Abril amanhecera excepcionalmente belo em Macau. Uma alegria, este renascimento da luz, a alvorada cor-de-rosa, as montanhas doiradas pelo sol, a brisa tépida varrendo o espesso çlençol de neblina; alegria que só compreendem os que já por longo tempo habitaram as costas da China, e que por experiência conhecem a tristeza dos fastisiosos meses de Fevereiro e Março, invarialvelmente turvos, frigidos, desoladores. Com um poucochinho de boa vontade, quem não acreditaria numa influência complacente das grandes divindades budísticas, que, em amigável pacto, houvessem assi deliberado proteger o pacífico povo das vizinhanças de Macau, na realidade da festa religiosa mais grata talvez a todos os filhos do império?
As recortadas colinas, que rematam o panorama do porto interior, semeadas de velhos túmulos, ordinariamente desertos, encheram-se de peregrinos logo ao romper da madrugada. Curiosa romaria; um desprevenido julgaria surpreender misteriosas emboscadas, processos estratégicos de invasão, naquele desfilar indeciso de cobaias serpeando cautelosamente pelas trilhas das serras, aqui ocultando-se nas moitas, além ascendendo aos outeiros, dividindo-se em grupos, estudando o solo, perscrutando atentos. Mas peregrinação bem de paz era aquela, a comemoração do Tsing-Ming (3) ou festa dos mortos, geral em toda a China.
No entanto atravessava eu a cidade, passava para além do nosso domínio, e achava-me no chamado Terreno neutro, vasto campo arenoso, onde os chinas de Macau e dos lugares vizinhos enterram habitualmente os seus mortos; terreno de mortos se lhe poderia mesmo chamar, sem ofensa aos nossos brios de dominação, atentas a imparcialidade política, a absoluta neutralidade, que professam a imparcialidade de todos os países… A mesma peregrinação: no dorso suavemente curvo da encosta, eriçada de pedras funerárias, formigava uma multidão enorme de povo; famílias inteiras, os avós trémulos de velhice, os pais vigorosos, os rapazes, as criancinhas agarradas às mãos das mães, onda humana alastrando-se por mais de dois quilómetros de extensão, salpicada de tons vivos pelas cores variegadas dos vestidos (4)
(1) Sobre esta festividade ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/04/04/cheng-meng-festividade-da-pura-claridade-em-macau/
(2) Escrito por Wenceslau de Moraes em Junho de 1890. A 1.ª data referida a Wenceslau de Moraes nos documentos de Macau, como oficial imediato da Canhoneira Tejo, fundeada em Macau, é de 14 de Fevereiro de 1890.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)
(3) 清明節 – mandarim pinyin: qing ming jié; cantonense jyutping: ceng1 ming4 zit3)
(4) MORAES, Wenceslau de – Traços do Extremo Oriente Siam – China – Japão. Livraria Barateira, Lisboa, 2.ª edição, 1946, 265 p.
NOTA 1: em Macau, uma edição mais recente deste livro, foi publicada por Carlos Morais José, edição COD, Junho de 2004, em parceria com a Comissão das Comemorações dos 150 anos de Wenceslau de Moraes, com o título: “ Obras Completas de Wenceslau de Moraes, Vol I; Traços do Extremo Oriente”, 197 p. (ISBN 99937-786-1-3)
NOTA 2: aconselho a leitura da tese de mestrado de Maria Margarida da Silva Faria Capitão, de Março de 2012, com o título: “Entre duas civilizações. O universo de leituras em Wenceslau de Moraes” que poderão encontrar em:
http://run.unl.pt/bitstream/10362/7827/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20M%20Margarida%20Capit%C3%A3o%20EPLSE%20mar%C3%A7o%202012.pdf.