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“Esta modalidade (futebol em miniatura), já tanto em voga entre nós, conta nesta terra milhares de adeptos. Quase que não há encontro de futebol em miniatura que não atraía ao Campo Desportivo da Praia Grande numerosos espectadores. Esta curiosa inclinação do público local tornou-se bem evidente nos passados dias 19 e 20, quando da visita a Macau do famoso grupo chinês «Sete Tigres», de Hong Kong. Encheu-se completamente o vasto recinto do Campo Desportivo da Praia Grande, onde não se via um único lugar vago. Milhares de pessoas dirigiram-se, pois, àquele Campo porquanto nã só queriam assistir a dois bons desafios do seu desporto favorito como ainda se dispunham a apreciar a classe dos famosos jogadores chineses que haviam participado nos Jogos Asiáticos, em representação da China. As exibições que o público teve, então, ocasião de apreciar foram das mais agradáveis, tanto mais que, além do excelente agrupamento chinês vindo de Hong Kong , entraram também em campo duas fortes equipas locais: no primeiro dia (19 de Junho), o prestigioso Grupo Desportivo «Negro-Rubro», e no segundo dia (20 de Junho) o valoroso Clube «Leng I»

«Negro-Rubro», 3 – «Sete Tigres», 1

A equipa do «Negro-Rubro», numa tarde felicíssima, concorreu para uma exibição em cheio, que muito agradou à enorme assistência. Ambas a equipas iniciaram a partida com uma rapidez estonteante, tornando a luta renhida e equilibrada. A primeira bola da tarde, e a única dos visitantes, foi alcançada aos 7 minutos por intermédio de Yu Cheok Yin. Dez minutos depois, o «Negro-Rubro» marcava o seu 1.º golo, por intermédio de Alfredo Cotrim. Quatro minutos depois, aproveitando um passe oportuno de Cotrim, Augusto Rocha marcou o segundo tento da sua equipa. A luta tornou-se equilibrada com a reacção dos chineses, terminando a 1.ª parte com o marcador em 2-1.

Os jogadores visitantes iniciaram a 2.ª parte com mais energia, vendo-se neles apenas um objectivo: conseguir as redes adversárias. Entretanto, os elementos da defesa da equipa local tinham-se tornado como que uma barreira forte, não permitindo qualquer mudança no marcador. Em quase toda a segunda parte os visitantes dominaram, mas os locais souberam tirar excelente proveito dos seus contra-ataques. Faltava um minuto para terminar o jogo quando Rogério Assis, bem colocado, converteu em tento uma bola passada por Cunha.

As equipas alinharam:

«Negro-Rubro»: Cordeiro; Artur Cotrim; Filomeno Rocha e Francisco Cunha; Augusto Rocha, João Rocha e Alfredo Cotrim (na 2.ª parte, Rogério Assis).

«Sete Tigres»: Yu Yiu Tak; Hau Yung Sang (na 2.ª parte, Chan Fai Hung); Ho Ying Fan e Chau Man Chi; Chi Weng Keong, Yiu Cheok Yin e Hau Chin To (a 2.ª parte, Ho Cheong Iau)” (1)

(1) Extraído dum artigo não assinado, publicado em “Macau Boletim Informativo, Ano I, n.º 22, de 30 de Junho de 1954, p. 15

“Promovidos pela Delegação de Macau da Cruz Vermelha Portuguesa, de colaboração com a Associação de Futebol em Miniatura de Macau, realizaram-se, nos dias 21 e 22 de Agosto, no Campo Desportivo da Praia Grande (depois denominado Campo dos Operários), dois encontros de futebol em miniatura com o fim de angariar fundos para as obras de beneficência da referida Delegação. Deslocou-se a Macau, nessa altura, a equipa do Departamento de Comércio e Indústria de Hong Kong, ou à chinesa «Kong Seng», que aqui defrontou, no primeiro dia, contra o Grupo Desportivo «Negro-Rubro» e, no segundo, contra o «Leng I» Futebol Clube. Frente ao forte agrupamento do «Negro Rubro» a equipa do Departamento de Comércio e Indústria saiu derrotada por 6 a 2, patenteando o grupo local a sua indiscutível superioridade numa exibição que a todos agradou.

Os componentes dos grupos «Negro-Rubro» e «Kong Seng» com os seus dirigentes e o presidente da Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa.

Constituída por jovens e franzinos jogadores, a equipa do «Negro Rubro» é ainda assim das melhores que Macau pode apresentar, sendo de salientar o seu grande espírito de luta e a excelente técnica do seu jogo combinado. O grupo visitante, sem dúvida, um dos melhores da vizinha colónia britânica, apesar dos seus esforços, pouco conseguiu frente a um adversário bem mais forte e enérgico. As bolas do grupo local foram marcados por Augusto Rocha (3), Rogério Assis (2),  e João Rocha (1). Chau Kit e Iong Lam forma os marcadores dos goals de Hong Kong.

No dia seguinte, 22 de Agosto, a equipa do Departamento de Comércio  e Indústria empatou com a equipa «Leng I» por 2 a 2, após uma exibição que, apesar de não ter sido melhor nem tão boa como a primeira, não deixou de agradar. Sio Mou Sam e Lok Man Vai marcaram as bolas do grupo local, tendo as de Hong Kong sido obtidas por intermédio de Iong Lam e Lei Kuong Hong. Extraído de «MBI» II-26 de 31 de Agosto de 1954. P. 13

NOTA: No ano de 1954 os Corpos Gerentes da Delegação de Macau da Cruz Vermelha Portuguesa, eram: Presidente: Dr. Alberto Pacheco Jorge; Vice-presidente: Dr Adolfo Adroaldo Jorge; Secretário: Joaquim Morais Alves; Tesoureiro: Francisco Xavier da Cruz Hagatong; Vogais: Dr. Fernando H. L. Maciel, Tenente Manuel Nunes Vieira, Lee Pou Lin, e Hermann Machado Monteiro.I

Do Grupo Desportivo «Negro-Rubro»: Presidente: Carlos Augusto Correia Pais de Assunção; Vice-presidente: Jorge Alberto Alves Estorninho; Secretário: Romeu Xavier; Tesoureiro: Luís Atanázio da Rocha; Vogais: Napoleão da Guia de Assis e Augusto Gonçalves e Director Desportivo: Manuel Dimas Pina.

A data consagrada à memória do grande bombeiro português Guilherme Gomes Fernandes (1) – 20 de Agosto – foi, como nos anos anteriores, aproveitada pelos briosos bombeiros municipais de Macau para assinalar o «Dia do Bombeiro». Constantes dum programa cuidadosamente elaborado, os festejos deste ano tiveram brilhantismo especial, dada a presença honrosa de mais de 30 bombeiros de Hong Kong que se deslocaram a Macau, propositadamente, para assistirem às comemorações. Agrupados em duas deputações, os bombeiros visitantes pertenciam à «Hong Kong Fire Brigade» e ao «Auxiliary Fire Service», os primeiros sob o comando de Lee Pin Cheng e os últimos comandados por Henry Cheng, totalizando as duas deputações 34 homens.

Durante a romagem ao monumento-ossário dos bombeiros

De manhã foi hasteada, no mastro do quartel dos bombeiros municipais, a bandeira da corporação. Pelas 8.30 horas, o Revdo. Cónego Fernando Maciel celebrou, na capela do Cemitério de S. Miguel, uma missa em sufrágio das almas dos bombeiros falecidos, após o qual, houve uma romagem ao monumento-ossário dos bombeiros, onde várias individualidades depuseram coroas de flores naturais e onde foi observado um minuto de silêncio. Pelas 13 horas, no quartel, perante a formatura dos bombeiros, o comandante do Corpo, Sr. Manuel Dimas Pina, leu um trecho sobre a vida e personalidade de Guilherme Gomes Fernandes, cujo valor foi enaltecido com justiça.

O Bispo de Macau, benzeno, no Largo do Senado, a nova autobomba

Pelas 17 horas, no Largo do Senado e imediações, juntou-se uma enorme multidão que ali assistiu à bênção duma nova autobomba «Dennis», adquirida pelo Município de Macau para o serviço dos bombeiros. A bênção da nova viatura foi dada pelo Ver. Bispo de Macau, D. Policarpo da Costa Vaz, tendo a Da. Laurinda Marques Esparteiro servido de madrinha que pronunciou na ocasião as seguintes palavras: «Que a Divina Proveniência acompanhe sempre esta autobomba e todos os que a manejarem na sua nobre e humanitária missão». Em seguida, as viaturas do Corpo de Bombeiros Municipais desfilaram ao longo da Avenida Almeida Ribeiro, vindo prestar continência ao Governador e principais autoridades da Província, próximo do edifício do Leal Senado, em cuja varanda se encontravam.

Milhares de pessoas assistiram, no Largo do Senado, à demonstração do potencial de água

No Largo do Senado e circundando o monumento de Mesquita, houve, seguidamente, uma demonstração do potencial de água, com 12 agulhetas habilmente manejadas pelos bombeiros, demonstração que entusiasmou grandemente a enorme assistência.

No campo desportivo da Praia Grande (antigo campo dos operários; hoje ocupado pelo Hotel Grand Lisboa), realizou-se um encontro de bolinha entre o Grupo Desportivo «Negro- Rubro» e a equipa da «Hong Kong Fire Brigade», o qual terminou pela vitória do primeiro, que ganhou por 6-2. À noite, no quartel da corporação, foi servido um jantar a que assistiram os bombeiros de Hong Kong e de Macau, representantes da Imprensa e outros convidados. A festa terminou com uma animado sarau musical, levado a efeito pelo grupo «Negro-Rubro».” (2)

(1) Guilherme Gomes Fernandes (1850- 1902). Fundador, em Portugal, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários (1874-75) e do Corpo de Salvação Pública, foi nomeado Comandante do Corpo de Bombeiros em 1877 e Inspector de Incêndios do Porto em 1885. De seguida, transferiu-se para a Companhia de Incêndios (designada Corpo de Salvação Pública a partir de 1889 e Batalhão de Sapadores Bombeiros de 1946 em diante), assumindo o cargo de comandante. Biografia mais completa em: https://ahbvvc.com/pt/guilherme-gomes-fernandes

(2) Retirado de «MBI», III-50 de 31 de Agosto de 1955, pp. 5-6 https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/09/30/leitura-corpo-de-bombeiros-municipais-de-macau-em-1955/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/18/noticia-de-18-de-agosto-de-1953-dia-do-bombeiro/

No dia 29 de Agosto de 1953 foram inaugurados a nova sede e o campo de jogos da Associação de Futebol  em Miniatura de Macau. A ambas as cerimónias assistiu o Governador de Macau, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, acompanhado do seu oficial às ordens, capitão José Vaz Dias da Silva e numerosas entidades bem como grande número de desportistas e público.
O programa da festa começou com a cerimónia da inauguração da nova sede da Associação, instalada no rés-do-chão da Mansão «Ritz», sita no Largo do Senado.
Proferiu uma alocução o presidente do Conselho Directivo da A. F. M. M., Alberto Dias Ferreira

MBI I-3 15SET1953 A.F.M.M. IA grande parada dos grupos filiados na A. F. M. M.

Seguidamente os dirigentes da Associação e os convidados dirigiram-se aos aterros da Praia Grande, (1) onde assistiram à cerimónia da inauguração do novo campo de jogos.
Da tribuna de honra, o Governador assistiu ao desfile dos grupos filiados na Associação, os quais, em número de 24 foram apresentados à medida que passavam, com os respectivos estandartes, frente à tribuna.
Terminado o desfile o presidente, o presidente do Conselho Directivo da A. F. M. M., Dias Ferreira proferiu um discurso que foi traduzido para chinês pelo sr. Au Hoi. O sr. Chan Seng, vogal do Conselho Directivo da mesma associação proferiu ainda uma alocução em chinês, especialmente dirigida a todos os desportistas ali presentes.

MBI I-3 15SET1953 A.F.M.M. IICada um dos capitães dos grupos filiados recebeu, das mãos do Governador, um galhardete comemorativo.

O programa da festa concluiu com a realização dum encontro de futebol em miniatura entre as selecções portuguesa e chinesa encontro que foi ganho pelos portugueses por 4 a 1.(2)
(1) Depois denominado Campo Desportivo dos Operários, local hoje ocupado pelo Hotel Grand Lisboa.
(2) Retirado de «MACAU, B. I. 1953»

Continuação de (1)

“À tardinha, e até pela noite fora, os cozinheiros vendedores de sopa de fitas (Van-tan-min) (2) são os mais frequentes e agregam o maior  número de clientes, incluindo macaenses e metropolitanos. É, certamente , o manjar chinês de maior consumo e o preferido pelos portugueses. Na realidade, o delicioso Van-tan-min tem a propriedade de conquistar à primeira prova o metropolitano recém-chegado, forçando-o a ser um consumidor incondicional. A tijelinha com caldo de camarão, coberta de massa em fitas e camarão enrolado   em massa e gema de ovo, com alguns temperos, tem o condão especial de deleitar todos os paladares. Durante os meses cálidos – e eles constituem a maioria do ano – juntam-se ao entardecer, conservando-se pela noite fora, em redor do campo da Bolinha, à Praia Grande, (3) algumas dezenas de cozinheiros ambulantes com os mais variados petiscos.

MBI I-7 15NOV1953 COZINHEIROS DE MACAU (IV)O vendedor da saborosa e apreciada sopa de fitas (Van-tan-min)

Aí se vêem também, com a sua bancada própria, os bruxos ou adivinhos que à guisa de ciganos, lêem o futuro na palma da mão.
É sem dúvida, neste local que se faz a maior concentração de cozinheiros ambulantes. Alguns mais completos possuem um carro, género bancada, com quatro rodas de ferro, e estabelecem ali o seu paradeiro durante os meses calmos. De inverno estacionam em locais onde se realizem espectáculos desportivos.
Os vendedores de chás medicinais  prontos a beber, para tratamento de qualquer órgão: estômago, fígado, rins, etc., encontram-se sempre no referido local e normalmente têm regular clientela. Os vendedores e propagandistas chamam a atenção do público fazendo tilintar campainhas ao mesmo tempo que reclamam, gritando, a eficácia do uso dos seus produtos.

MBI I-7 15NOV1953 COZINHEIROS DE MACAU (V)Homens e mulheres, adultos e crianças, todos recorrem aos cozinheiros ambulantes

Os cozinheiros ambulantes encontram-se enfileirados e, como a permanência é longa, quase todos põem pequenas mesas com bancos baixos em redor da improvisada cozinha. Como a população chinesa janta, por norma, entre as 17 h. e 18 h., é vulgar depois das 20 horas encontrar-se em volta dos cozinheiros , numerosa clientela saboreando os petiscos predilectos. Ali se vêem os cozinheiros de Van-tan-min, de caril, de cabeça de porco e miudezas cozidas, de frituras de choco e batata doce, de camarão, pimentos, etc. …(…)

MBI I-7 15NOV1953 COZINHEIROS DE MACAU (VI)É bem rudimentar, por vezes, o «trem de culinária» dos cozinheiros ambulantes 

Na Praia Grande, junto ao Campo da Bolinha, o tilintar das campainhas, os pregões estridentes, a vozearia confusa continuam, continuam sempre, até desfalecerem a pouco e pouco pelo adiantado da noite e só ao perceber no recinto um ou outro noctívago consumado que apenas se retira quando os últimos cozinheiros recolhem a casa.”
Artigo não assinado de «MACAU B. I., 1953».
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/10/os-antigos-cozinheiros-ambulantes-de-macau-1953-i/
(2) Sopa de fitas : Van- tan-min (wantan min) – 雲吞麺  (mandarim pinyin: yúntūn miàn; cantonense jyutping: wan4 tan1 min6.
(3) O campo da bolinha era o antigo Campo Desportivo dos Operários, hoje onde está o Hotel Grand  Lisboa.