Continuação da leitura do Relatório do “ESTUDO DA ACTUALIZAÇÃO E AMPLIAÇÃO DO HOSPITAL CENTRAL CONDE DE SÃO JANUÁRIO DE MACAU”, de 1951. (1) (2)

… I Parte – ESTADO ACTUAL:
LOCALIZAÇÂO: O recinto do Hospital Central Conde de São Januário, ocupa parte da Colina de S. Januário e a sua vertente S.W., medindo aproximadamente 15.000 m2, e é limitado a S.E. pela Estrada de S. Francisco, a N.E. pela estrada de acesso ao Observatório Metereológico, e a N.W. pela Calçada do Visconde de S. Januário e S. E. pela Rua Nova.
A Colina de S. Januário continua a Colina da Guia que corre paralela ao mar, na direcção N.E. – S. W.
A entrada principal do Hospital faz-se pela Estrada Visconde de S. Januário (Vide plantas) (2)
DESCRIÇÃO: Os vários serviços do Hospital, ampliações ao traçado original que foram feitas à medida que as necessidades iam aparecendo, estão instalados em pavilhões dispersos pela área do recinto hospitalar em três planos situados e cotas diferentes.

1 – CASA MORTUÁRIA

Relatório Hospital S. Januário Casa Mortuária I

Este edifício com um piso, em mau estado de conservação, construído em 1918, consta de 4 compartimentos, um destinado a autópsias, dois a câmaras ardentes e um a guarda de uma carrete funerária.

Relatório Hospital S. Januário Casa Mortuária II

Impróprio para o fim a que se destina por falta de condições higiénicas sa sala de autópsias, e de um mínimo de decoro das câmaras ardentes.

Relatório Hospital S. Januário Casa Mortuária III

Acresce ainda a sua infeliz localização pois é o primeiro espectáculo que o Hospital oferece aos doentes e às visitas…(…).

Relatório Hospital S. Januário Casa Mortuária IV

NOTA 1 – As mesas de autópsias, de mármore, foram transferidas para a sala de autópsias da nova Casa Mortuária do Hospital Central Conde de S. Januário que ficava na Estrada Visconde de S. Januário.
Aquando da destruição desta casa mortuária para construir o Centro Hospitalar Conde S. Januário (1988), destruíram as mesas, em nome do “progresso”, pois o novo Serviço de Medicina Legal foi totalmente equipado com material mais actualizado e práctico.

NOTA 2 – Confirmo a descrição da Casa Mortuária feita neste Relatório  já que em criança tinha muito medo de passar por este edifício, à direita de quem subia pela Calçada do Visconde de S. Januário para chegar ao Hospital.  Além de decrépito, a casa mortuária estava associada a histórias de fantasmas (tão populares nos contos, lendas  e filmes chineses).

Mas o episódio verídico que vou contar, relatado pelo meu pai, passou-se nessa casa mortuária:
Faleceu um soldado, militar português. Confirmado o óbito pelo médico de serviço hospitalar, iniciaram-se os preparativos para o enterro a realizar no dia seguinte. O corpo já vestido com a farda, foi colocado na casa mortuária numa “cama” de uma das cãmaras ardentes, aguardando  a chegada do caixão (no dia seguinte) e para vigília da noite foram nomeados quatro soldados africanos (landins).
A meio da noite, o “morto” acordou e levantou-se, pondo em pânico os quatros soldados africanos que fugiram para o quartel. Constou-se que um dos landins fugiu descalço, deixando as botas para trás e que o “morto” foi a pé para o quartel. Estava vivo, aparentemente de boa saúde e radicou-se em Macau como polícia, mas não se livrou nunca mais do nome porque era conhecido: o “Morto-Vivo”.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/02/19/hospital-central-conde-s-januario-i/
(2) Conforme planta do edifício, apresentado neste “post”, a entrada principal seria Calçada do Visconde S. Januário já que (embora não tenha a certeza) a Estrada do Visconde S. Januário é a estrada atrás do edifício e aquela que vem da Calçada do Gaio.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/09/leitura-hospital-central-conde-de-sao-januario-ii/