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Continuação da leitura de alguns trechos “Cousas da China, Costumes e Crenças”, de Joaquim Heliodoro Calado Crespo, cônsul de Cantão, “homem hábil e culto que deixou algumas obras interessantes sobre a China do seu tempo”. (1) (2)

A PRIMEIRA EXPEDIÇÃO PORTUGUEZA À CHINA (p. 37)

A LÍNGUA CHINEZA (pp. 41 -43)

(1) CRESPO, Joaquim Heliodoro Callado – Cousas da China, Costumes e Crenças. Contribuições da Sociedade de Geographia de Lisboa. Quarto Centenário do Descobrimento da Índia. Acabou de imprimir-se aos 31 dias do mez de Maio do anno M DCCC XCVIII nos prelos da Imprensa Nacional de Lisboa. 1898, 283 p., 25 cm x 17 cm.(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/03/19/leitura-cousas-da-china-costumes-e-crencas-i/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/07/13/leitura-cousas-da-china-costumes-e-crencas-ii/

Partida do Governador José Maria Lobo de Ávila (1) para Cantão, no dia 14 de Outubro de 1876, a bordo da canhoneira “Tejo”, comandada por Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (2) para visita oficial ao vice-rei dessa província.

O «BPMT», de 21 de Outubro de 1876, dia do regresso do Governador, relata essa visita.

Extraído de «BPMT», XXII-43 de 21 de Outubro de 1876, p. 174

(1) José Maria Lobo d´Àvila (1817-1889) foi nomeado a 7 de Maio de 1874 e tomou posse de Governador de Macau a 7 de Dezembro de 1874, sucedendo a Januário Correia de Almeida, Visconde de S. Januário. Mais tarde, nomeado Ministro Plenipotenciário na China, no Sião e no Japão. Terminou a 20 de Setembro de 1876, data da nomeação do novo governador, Capitão-Tenente Carlos Eugénio Corrêa da Silva (mais tarde Visconde Paço d´Arcos, em 23-01-1879), mas manteve-se no cargo até à tomada de posse de governador deste em 31 de Dezembro de 1876.

José Maria Lobo d´Àvila, filho de Joaquim Anastácio Lobo de Ávila (? – 1884), Capitão e Coronel de Infantaria, fez toda a Guerra Peninsular e foi condecorado no campo da Batalha de Albuhera, em 16 de Maio de 1811, em que os Exércitos Aliados (anglo-Luso-Espanholas) derrotaram o Marechal francês, Nicolas Jean-de-Dieu Soult.

https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-lobo-davila/

(2) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (1844 -1923) (reformado com o posto de Almirante), filho do Governador João Maria Ferreira do Amaral, Tinha 5 anos quando o pai foi assassinado. Foi comandante da Estação Naval de Macau de 1876 a 1878. Em 1878 levou a Bangkok na canhoneira «Tejo», o Governador de Macau Carlos Eugénio Correia da Silva, que lá foi em missão diplomática. Esta missão regressou a Macau a 20 de Março de 1878.

Ferreira do Amaral que não se dava bem com o governador Correia da Silva, recusou receber o mandarim da Província de Cantão que vinha a Macau, em Julho de 1878, pois não podia suportar a afronta à memória do pai. Na véspera entregou o Comando da canhoneira ao oficial imediato e foi para o Hong Kong. O governador vingou-se, pedindo a sua exoneração a El Rei, e Ferreira do Amaral foi exonerado do comando com regresso imediato ao reino. (TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, pp 117-118)

Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-joaquim-ferreira-do-amaral/

Livro de Joaquim Heliodoro Callado Crespo, (1) “Cousas da China, Costumes e Crenças” (2), integrado nas comemorações do quarto centenário do descobrimento da Índia, 1898.

Exemplar, na capa e contracapa, com manchas próprias do papel, com pequenos rasgões e perda de papel (mais na parte inferior da contracapa). Lombada com grande defeito. Páginas interiores em bom estado geral de conservação. Na capa, canto superior esquerdo, uma etiqueta (muito provável de uma biblioteca) com a seguinte indicação: “n.º 18 / I / 169”

Na página 3, ao lado do logo do “Quarto Centenário do Descobrimento da Índia”, (3) um carimbo “Quinta do Salgueiral A. G. Guimarães”. (4)

Livro muito curioso, um repositório sobre a sociedade chinesa, de usos e costumes da China do ponto de vista do seu autor (juízo extremamente negativo da China e dos chineses). Fundamentando-se “no estudo que temos feito do que lemos e observado e colhido”, o autor abordou muitas temáticas, como se pode observar pelo índice (pp. 281-283) tão variado:

As últimas páginas do livro, (pp. 261-280) são constituídas por um trabalho alheio, intitulado “O animismo entre os chineses”, da autoria do fundador dos estudos de sânscrito em Portugal, Guilherme de Vasconcelos Abreu (1842 – 1907; orientalista, militar, geógrafo, literato e escritor português). Na parte dedicada à “Linguagem chinesa, caracteres e imprensa” (pp. 40 -48), Callado Crespo refere o sinólogo Pedro Nolasco da Silva:

«A língua escrita, diz um synólogo nosso, o Sr. P. Nolasco da Silva, nas suas lições progressivas para o estudo da língua sínica, é lacónica e diffícil de entender; as letras são perfeitos camaleões que mudam de accepção, conforme são as outras letras com que vem ligadas, o seu valor grammatical é regulado quasi unicamente pela sua posição na oração, às vezes uma oração contém só as ideias principaes, e a imaginação do leitor tem de supprir as idéas acessorias

(1) Joaquim Heliodoro Callado Crespo (1860? 1961? – 1921) Tenente de infantaria, (oficial da marinha, segundo outras fontes), Cônsul Geral de 1ª classe em Cantão, Cavaleiro de S. Thiago, Commendador da Estrella Brilhante de Zanzibar e S. S. G. L. Além do presente livro, tem outro publicado “A China em 1900”, Lisboa: Manuel Gomes ed”  e um artigo “A Questão do Extremo-Oriente – o papel de Portugal no «desconcerto» europeu, publicado no “Ta Ssi Yang Kuo”, Vols I, pp. 587-603 e Vol II, pp. 639-654. .

(2) CRESPO, Joaquim Heliodoro Callado – Cousas da China, Costumes e Crenças.Contribuições da Sociedade de Geographia de Lisboa. Quarto Centenário do Descobrimento da Índia. Acabou de imprimir-se aos 31 dias do mez de Maio do anno M DCCC XCVIII nos prelos da Imprensa Nacional de Lisboa. 1898, 283 p., 25 cm x 17 cm. Disponível para leitura em: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k375439b/f13.image

(3) Em 1898, há 120 anos, neste dia, um grande evento cultural tinha destaque na edição do DN: “a grande corrida de toiros” no Campo Pequeno. “Na corrida de comemoração do IV Centenário do Descobrimento da Índia, no reinado de D. Carlos I e com a presença do monarca e da corte num Campo Pequeno …” https://paixaoporlisboa.blogs.sapo.pt/comemoracao-do-iv-centenario-da-109759 .

Em Macau, foi publicado “JORNAL ÚNICO: Celebração do Quarto Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Macau: N.T. Fernandes e Filhos e Noronha & Ca, 1898.” https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jornal-unico/

(4) A quinta/casa do Salgueiral fica na Rua do Salgueiral, n.º 29, uma das antigas casas senhoriais existentes em Guimarães. Segundo informações, hoje é um lar.

GOMES, José Maria Gomes – Apontamentos para a História do Concelho de Guimarães. Manuscritos do Abade de Tagilde. Notas e Comentários, In “Revista de Guimarães (Publicação da Sociedade Martins Sarmento”, 1983, n.º 93 p. 44. https://www.csarmento.uminho.pt/site/files/original/4155e04aa4d176a37b078df255b8176cab4fbf18.pdf

MORAES, Maria Adelaide Pereira de – Velhas Casas de Guimarães, Volume I. Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família da Univ. Moderna do Porto, 2001

Conferência de Hernâni Anjos, (1) intitulada “Grandeza e Servidões de Macau Moderna”, na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 17 de Março de 1952, cujo texto foi posteriormente publicado na revista «Mosaico» (2)

Esta conferência teve a participação, a convite do autor, do poeta Álvaro Leitão (também regressado de Macau) que aceitou ilustrar o trabalho com a recitação dalguns poemas seus sobre Macau e a leitura doutros poemas sobre o mesmo assunto, mas não da sua autoria. E assim ouvido, pela boca de Álvaro Leitão, (3) a declamação dos seus poemas “Romance de ver chegar” que é afinal o “próprio romance da chegada a Macau de todos os refugiados que já por tradição conhecem o seu ilimitado altruísmo” (pp. 91-92), o soneto “Seio da Paz” (p. 93), e “Romance do contrabandista morto” (p. 103).

Álvaro Leitão leu “Visão de Macau, de Sebastião Marques Pinto (p. 97) (3) e “Noite Cadente” de Pimentel Bastos (p. 98) (4)

Um pequeno extracto da conferência: “… É certo que eles (chineses) ainda hoje nos chamam “sai-ièong-quai” (diabos estrangeiros), mas esses pequenos “mimos” não são mais do que inofensivos e ingénuas résteas duma tradição secular, hoje já sem sentido e significado algum. Assim mo garantiu, em termos cuja sinceridade não deixava dúvidas, uma senhora da melhor sociedade chinesa que um dia convidei para dançar. A orquestra tina ensaiado os primeiros acordes do Danúbio Azul. E eu, que muito aprecio a dança e s dançarinas chinesas, que o sabem ser como as melhores, logo convidei a aludida senhora para dançar comigo. Ou por usar a saia da cabaia muito travadinha ou porque não morresse pela valsa, a gentil senhora sorriu, ergueu-se da cadeira onde estava sentada mas, ao encaminhar-se para mim, não pode deixar de virar a cabeça para o lado onde estava uma sua amiga e fazer o seguinte comentário, em chinês é claro, mas sem lhe passar pela cabecinha que eu a estava percebendo: – Estes “sai-ièong-quai” (diabos do ocidente) muito gostam de dançar a valsa! Eu cá não gosto disto!

Eu fiz de conta que não percebera. A senhora tinha-me sido apresentada, momentos antes e, pobre dela, nem sonhara tão pouco como havia sido inconveniente. Começámos então a dançar, mudos, até que ela, cujo forte não era precisamente a valsa me preguntou em inglês: – Então, gosta de viver em Macau? E eu, logo a seguir, mas em chinês: – Muito! Macau é uma terra muito bonita!

Não posso descrever a reacção da senhora, por duas razões: em primeiro lugar porque não estava olhando bem para ela; e em segundo lugar porque, ainda que a estivesse vendo bem de frente, o resultado devia ser o mesmo porque ela, como boa chinesa que era, devia ter ficado fisionomicamente imperturbável. Não responde nada e parecia ter amuado. Mão não. No fundo era uma sentimental, uma criaturinha muito simpática e muito alegre. E no meio de mútua risota e alegria, daí a segundos logo eu declarava que tinha perfeitamente percebido o seu aparte para a sua amiga, com que ela muito riu, mas que só não percebia – acrescentei eu porque é que os chineses ainda nos haviam de chamar “sai-ièong-quai” e “fá-quai” . Foi então que ela me assegurou, o mais seriamente possível, que esse tratamento não passava já modernamente duma simples tradição, um hábito disparatado, sem qualquer significado especial. (…)  (pp. 95-96)

O autor terminou a conferência com a declamação do seu soneto “Gota de Água” que o mesmo escreveu ainda em Macau e com que dela publicamente se despediu aos microfones da Rádio Clube de Macau (p. 107).

NOTA: os autores citados (tenente Hernâni Anjos, alferes Sebastião Marques Pinto, tenente Álvaro Leitão e capitão Manuel Maria Pimentel Bastos)  foram militares oficiais (expedicionários) que estiveram em Macau nos princípios da década de 50 e sócios fundadores da revista «Mosaico» (6),

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hernani-anjos/

(2) «Mosaico», V-27/28, Novembro/Dezembro de 1952, pp.85-107

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-leitao/

(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/sebastiao-marques-pinto/

(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/manuel-m-pimentel-bastos/

(6) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/29/leitura-revista-mosaico-primeiro-numero-em-setembro-de-1950/

Conferência feita em 2 de Junho de 1930 pelo Sr. Comandante Jaime do Inso (1) na Sociedade de Geografia de Lisboa e publicada em separata no Boletim da mesma Sociedade. (2)
“Ao meu presado camarada e amigo, o capitão tenente Artur Vital da Cunha Freitas, (3) com um grande abraço.
Jaime do Inso, Lx. 4.12.931”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(2) INSO, Jaime do – A China. Separata do Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tipografia e Papelaria Carmona, Lisboa, 1931,37 p. , 23 cm x 15,5 cm.
(3) O capitão tenente Artur Vital da Cunha Freitas (1880-1951) foi condecorado com o Grau de Comendador da Ordem Militar de Avis (Decreto de concessão em 11 de Janeiro de 1921)

Continuação da leitura da conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 5 de Junho de 1946, pelo tenente-coronel de engenharia Sanches da Gama e publicada no Boletim Geral das Colónias de 1946. (1) (2)
………………………………………………………………………………..continua
(1) Ver anterior postagem em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/06/05/noticia-de-5-de-junho-de-1946-leitura-macau-e-o-seu-porto-i/
(2)  «BGC» XXII -253, 1946.

Geographica: Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.º 1, 1965 (1)

(1) Publicado na p. 154 de Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa , Série 133 – N.º 1-12 Janeiro-Dezembro – 2015.
http://www.socgeografialisboa.pt/wp/wp-content/uploads/2017/11/SGL-Boletim-133-Ano-2015.pdf

Conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 5 de Junho de 1946, pelo tenente-coronel de engenharia Sanches da Gama (1) e publicada no Boletim Geral das Colónias de 1946.(2)

           ……………………………………………………………continua

(1) General de Engenharia Gonçalo Nuno de Albuquerque Sanches da Gama (1927-2009)
Foi comandante da Academia Militar de 1981 a 1984.
https://academiamilitar.pt/galeria-de-fotografias.html
(2) «BGC» XXII -253, 1946.

Continuação dos extractos da monografia do capitão-tenente Jaime do Inso, preparada para a Exposição Portuguesa em Sevilha sobre o Comércio e Indústrias de Macau. (1) (2)
Outra industria digna de menção, é a do descasque do arroz, para o que há uma importante fábrica mecanica, além de outras que empregam ainda o processo vulgar dos pilões movidos com os pés.
O descasque anda intimamente ligado ao comercio do arroz, havendo umas 18 casas de descasque e venda por grosso e 8 só para esta venda.
Além destas industrias, muitas outras de menôr importancia há ainda em Macau  que, pelo seu numero, representam  actividades da colónia, susceptíveis de grande desenvolvimento e valorisação.
Assim, contam-se: 10 pequenas fábricas de vidros, 1 de cortumes, 1 de tijolo, 8 de velas de cebo, 2 de sabão, 1 de papel ordinario para panchões, 1 de fundição de metais, 4 de cal, 12 fabricas de objectos de cobre, 7 fabricantes de artigos de chumbo, e varias ourivesarias, litografias, marcenarias, galvanoplastias e sapatarias, tendo estas ultimamente tomado grande incremento.
A principal firma que trabalha e m cobre, Choi-Heng , obteve um diploma de honra na Exposição de Paris e medalhas de ouro na Exposição Industrial e Feira de Macau de 1926.
Uma outra industria muito espalhada e de todas a mais pobre, é a dos tamancos de madeira da China e de Borneo, no q   ue se ocupam cerca de 30 casas, que fabricam artigos muitos variados.
As Oficinas Navais, unico estabelecimento metalurgico importante que há na colónia, tomaram ultimamente um notavel desenvolvimento, estando aptas a satisfazer todas as necessidades do meio, como certas reparações de navios, de automoveis, etc, necessitando, entre outras cousas, para alargar convenientemente os seus meios de trabalho, uma doca sêca, que será construída logo que seja possivel.
A industria e o comercio do chá e das sêdas, hoje em decadencia, constituiram um valioso elemento de riqueza de Macau nos fins do século XIX quando o porto frequentado por navios de todas as nacionalidades.(a)
Mais tarde, com o assoreamento do porto, a concorrencia de Hong Kong e outros factores, Macau perdeu a navegação , de longo curso, e o seu movimento foi reduzido ao que hoje é.
Em alguns bairros de Macau ainda hoje se veem bôas e grandes casas de solida construção, lembrando as antigas casas portuguesas, que foram dos nossos ultimos armadores que desta colónia enviaram os seus navios às costas da China, Singapura, América Central, Java e Timor.
Não é sem uma evocação dos tempos idos que se olha para aqueles edifícios do nosso outrora rico comercio tornados hoje armazens, fábricas, ou vulgares habitações da população chinesa.”
(a) Em 1869 frequentaram o porto de Macau 53 navios de guerra e 185 mercantes, representando uma tonelagem de 87.545 T. e pertencendo a 18 nacionalidades diferentes e dos quais 11 eram portugueses.
(1) INSO, Jaime do – Macau, extrato de uma monografia. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.º 7-8, Julho -Agosto, Série 48.ª, 1930, pp. 157- 717.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/11/leitura-macau-extrato-de-uma-monografia-do-capitao-tenente-jaime-do-inso-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/18/leitura-macau-extrato-de-uma-monografia-do-capitao-tenente-jaime-do-inso-ii/

Bol. Soc. Geografia n.º 7-8-1930 -MACAU Jaime do Inso (I)

Continuação do artigo de Jaime do Inso publicado no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa  (1)

INDÚSTRIAS
“ARTEFACTOS DE MALHA  – Há 5 fábricas destes artigos dos quais a mais importante pertence ao capitalista Iong Moc Tong que, com uma tenacidade notável e por si próprio, conseguiu montar, em 1899, uma fábrica de meias; depois de longos anos de persistente trabalho, aperfeiçoou-a, estando provida hoje dos mais modernos maquinismos, tendo 100 teares accionados por motores eléctricos e empregando cerca de 300 operários, principalmente mulheres.
A produção mensal, que anda actualmente por 10 a 12 mil dúzias de pares, num valor de cerca de 4 150.000 por ano já atingiu $ 300.000. Os seus produtos são muito perfeitos e são exportados não só para a China como para muitos países distantes da Europa e America, colónias portuguesas, Persia, Índia e Índias Neerlandesas. Os rótulos indicam que o fabrico é em Macau.
CONSERVASExistem em Macau 8 fábricas de conservas de peixe, marisco, frutas e patos. Uma das mais importantes é da firma Kueng Mi Chan que emprega uma média de 150 operários de ambos os sexos en produz anualmente mais de 10.000 caixas de 48 latas cada uma, o que representa um valor de cerca de $ 10.000. Para o peixe, emprega-se o azeite de amendoim e para a fruta, uma calda de assucar mascavado. As fabricas de conserva trabalham alternadamente com peixe ou fruta conforme as épocas e os productos de que dispões.
É uma importante industria local que representa $ 789.198,94 no quadro das exportações, que se fazem quasi na totalidade para Singapura e California.
VINHOS CHINESES O vinho chinês não é mais do que o producto da distinção do arroz levado a diferentes graus e a que se juntam certas substancias de infusão para lhes dar paladares e até efeitos medicinais.
Aquelas substancias podem ser vegetais, como frutos e flôres, ou animais, como cobras, lagartos, lebres, etc.
Esta industria é tão importante que sustenta em Macau 54 fábricas, sendo o valor da produção só das cinco principais cerca de 4 1.000,000 por ano.
A fábrica principal, Sang -Hong, produz para cima de 10.000 boiões de 28 cates (um cate tem 604,55 gr.) por ano.
Os resíduos da destilação são empregados na alimentação do gado suino.
Acaba de fundar-se em Macau uma fábrica chinesa, Harrison Company , de bebidas espirituosas , tipo conhaques, whisky e outras, por meio de processos especiais, empregando uvas sêcas importadas da America e varias essenciais, tendo já lançado no mercado alguns dos seus productos, que são muito bem apresentados.
AZEITE DE AMENDOIM Há 6 fabricas deste azeite, sendo a principal a da firma Tong-Saa que tem uma produção de perto de 300 toneladas anuais, que exporta para Hong Kong , China, Singapura, e América, sendo de perto de $ 400.000 o seu movimento anual. Esta fábrica, emprega mais de 40 operários, é a unica que possue um motor para moagem do amendoim. Nas restantes o amendoim  é esmagado por meio de pesados pilões de maneira manobrados com os pés.A extração do oleo faz-se por meio de prensas especiais, muito primitivas, constituídas por grandes troncos escavados onde se introduz a massa do amendoim, depois de aquecida, em forma de delgadas rodelas, que é comprimida por meio de cunhas batidas a maço. Por este processo, consegue-se extrair de 300 cates de amendoim, 120 de oleo e 140 de resíduos. O oleo vende-se a 30 ou 40 avos o cate e os resíduos, que se empregam como adubo, a $7.20 o pico.
Esta industria é importante porque o consumo do azeite de amendoim é muito grande visto ser o empregado vulgarmente, tanto nas conservas como na cosinha chinesa. Tem tambem  bastante aplicação o azeite de ostras e o de côco. Há duas casas que fabricam azeite de côco, que é principalmente usado na comida pelos mouros e africanos.
UN de Macau no ano XIV da Revolução -Fábrica de Algodão

Interior de um fábrica de tecidos de algodão (1940)

TECIDO DE ALGODÃONesta industria trabalham duas fábricas, sendo a mais importante a da firma Tong-Ha, na Rua da Tercena, que tem 100 teares e 300 operarios de ambos os sexos. O fabrico é manual e produz exclusivamente fazendas baratas que chegam a vender-se a 20 avos a jarda. A exportação , que excede $ 100.000 anuais, faz-se principalmente para as regiões visinhas de Macau.
Como industria, está muito espalhado o fabrico de toalhas em teares de mão.”                                                                                                                                                                continua………
(1) INSO, Jaime do – Macau, extrato de uma monografia. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n.º 7-8, Julho -Agosto, Série 48.ª, 1930, pp. 157- 717.
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