No dia 25 de Fevereiro de 1945, efectuou-se o segundo bombardeamento aéreo americano a Macau. Pela 11h05, um quadrimotor americano bombardeia a área perto do hipódromo, onde um avião japonês tinha feito uma aterragem de urgência e sido detido, uns dias antes.
Embora o bombardeamento não atinja os alvos, abre fogo sobre o navio mercante a vapor «SS Masbate» (1) registado com a bandeira panamiana (país neutral) e um navio desmantelado «Tung wei» que servia de alojamento para refugiados. Atingiram ainda outras embarcações atracadas no Porto Interior, o Bairro Tamagnini Barbosa/Toi SanBairro Nossa, a casa dos pobres de Nossa Senhora de Fátima, o estádio e a esquadra da PSP, situados nas imediações da Porta do Cerco, e o Bairro 28 de Maio/Fai Chi Kei, resultando na destruição dos pavimentos das ruas e na rede de distribuição de electricidade. Quatro pessoas morreram e várias ficaram feridas, entre as quais um súbdito norueguês, Tygve Jorgensen, comandante do «SS Masbate». (2)
Recorda-se que o primeiro bombardeamento aéreo de Macau por esquadrilhas da Força Aérea dos EUA foi a 16 de Janeiro de 1945. (3)
(1) Devido á falta de alimentos em Macau durante a guerra, o navio «Masbate» de742 ton de bandeira panamiana, propriedade dum chinês que estava ancorado no Porto Interior, foi utilizado por ordem de Salazar após auscultar a diplomacia nipónica, para efectuar uma viagem à Indochina. Em 23 de Dezembro de 1943, por pressão dos japoneses, o navio «Masbate» foi rebaptizado «SS Portugal» e assim, em 1944 (Março-Abril), o «SS Portugal/Masbate» efectuou a viagem e regressou da Indochina com carvão e alimentos (favas/feijões). Segundo a “Cronologia” publicado no livro ”Wartime Macau”, o segundo bombardeamento danificou uma escola católica e atingiu o «Masbate». O «Masbate» foi novamente atingido pelas bombas americanas em 11 de Junho de 1945 e ainda, em 5 de Julho de 1945, novo «raid» aéreo à ilha de Coloane embora sem estragos. A 6 de Agosto, deste ano, foi a destruição de Hiroshima pela bomba atómica.
GUNN, Geoffrey C. – Wartime Macau in the Wider Diplomatic Sphere, in Wartime Macau, under the Japanese Shadow”,HKU Press 2016, pp. 36 e 166-67
(2) FERNANDES, Moisés Silva – Sinopse de Macau nas Relações Luso-Chinesas 1945-1995 Cronologia e Documentos, 2000, p. 28/29.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/01/18/noticias-de-16-e-20-janeiro-de-1945-bombardeamento-aereo-de-macau/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/02/26/noticias-na-imprensa-em-portugal-dos-dias-26-de-fevereiro-e-6-de-marco-de-1945-novo-bombardeamento-aereo-de-macau/
A Igreja de Nossa Senhora de Fátima no bairro Tamagnini Barbosa (Rua de Lei Pou Ch’ôn, n.º 23) foi construída em 1929. Depois de se criada a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em 1965, a Igreja foi reconstruída em 1967, aumentando a capacidade para 800 fiéis.
Por detrás dos portões de ferro forjado, num arco tipo pórtico, está uma escadaria larga que conduz à igreja espaçosa e de estilo moderno. Possui uma grande torre quadrada de 2 sinos. As paredes laterais são decorados por painéis de vitral. No altar-mor, de cor vermelha, encontra-se uma grande cruz de madeira.
É a igreja matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, uma das 6 paróquias da Diocese de Macau e serve a comunidade católica do Bairro Tamagnini Barbosa e todo o Norte da Cidade, a zona mais populosa de Macau, caracterizada também pela sua multiculturalidade, com incidência para os chineses, vietnamitas e falantes de língua inglesa. O pároco actual é José Ángel Hernández. (Informações colhida do jornal “O Clarim” de 23 de Junho de 2017)
(1) «BGU» XLIV 521/522, Nov/Dez, 1968.
花地瑪聖母堂 – mandarim pīnyīn: huā dì mǎ shèng mǔ táng; cantonense jyutping: faa1 dei6 maa5 sing3 mou5 tong4
Retirado do B. G. C., 1932.
O Governador da Província, José Nobre de Carvalho, acompanhado do seu ajudante-de-campo tenente Mendes Liz, deslocou-se, em visita, no dia 29 de Junho de 1972, pelas 10 horas, ao Hospital Conde de S. Januário onde tinha sido instalado equipamento para apetrechamento de diversos serviços do referido estabelecimento hospitalar de um valor global e cerca de 820 000 patacas.
“Recebido pelo Chefe de Serviços, Dr. Diogo Hora da Silva Ferreira, pelo médico de serviço e outros membros do corpo clínico, pela Madre S. João de Deus, supervisora das Irmãs Hospitaleiras e enfermeiros-chefes, foi iniciada a visita pela central telefónica do Hospital onde se encontra instalado o novo sistema P. A. B. X. «Siemens» assim como um relógio eléctrico da mesma marca que comanda o funcionamento de todos os relógios instalados, nos diversos serviços do Hospital.
O Governador apreciando o novo equipamento de Raios X, ouvindo as explicações do capitão-médico cirurgião, Dr. Galo Pereira
No departamento de Cardiologia (serviço especializado recentemente acrescentado) a cargo do médico cardiologista Dr. António Raimundo Conceição, foram apresentados por este especialista, os electrocardiógrafos e demais instrumentos e aparelhos que equipam o serviço.
Nas instalações onde funcionam provisoriamente a Escola Técnica dos Serviços de Saúde e Assistência encontrava-se exposto diverso material didáctico recentemente adquirido.
Apreciando parte do material didáctico adquirido para a Escola Técnica dos Serviços de Saúde e Assistência, o Governador, Dr. Diogo Hora da Silva Ferreira e Madre superiora, S. João de Deus
No departamento de Radiologia e Agentes Físicos a cargo do capitão-médico cirurgião Dr. João Bernardino Galo Pereira, (1) o Sr. Governador apreciou a nova aparelhagem de Rx e as beneficiações gerais nestas instalações.
É de destacar que, quer o material do Rx quer o da Escola Técnica, foi adquirido através de um avultado subsídio da Fundação Gulbekian para o efeito
No dispensário Anti-tuberculose chefiado pelo médico-pneumotisiologista, Dr. Nogueira, apreciou as beneficiações introduzidas recentemente no edifício onde se encontra instalado este serviço, que dispõe de mais dependências. Gulbenkian para o efeito.
Por fim, a comitiva deslocou-se aos Serviços Administrativos da P. S. P. onde se encontrava em funcionamento uma unidade móvel para Rádio-Rastreio, da marca «Philips» dotada duma câmara «Odelca», e accionada por uma geradora privativa, destinando-se a actuar na luta contra a tuberculose.
Foi recebido pelo Comandante da P.S.P. Major Bélico Velasco e Capitão Santos Maia, adjunto da mesma corporação.
A Unidade móvel de Rádio-Rastreio em funcionamento.
Todo o conjunto da unidade em causa está montado num «jeep», sendo a geradora transportada a reboque, nas deslocações. A importância despendida com esta aquisição elevou-se a $ 181 000,00.” (2)
NOTA: No mesmo dia, foi inaugurado o novo Posto Médico do Bairro Tamagnini Barbosa, integrado no Bloco B, do Instituto de Assistência Social.
(1) Dr. João Bernardino Galo Pereira, capitão-médico foi autorizado em Janeiro de 1972, a prestar serviço como cirurgião no Hospital . Em Junho desse mesmo ano, foi nomeado director do bloco operatório e responsável pelo Departamento de Radiologia e Agentes Físicos ( por impedimento do Dr. Ataíde Lobo). Terminou a sua comissão de serviço em Macau, em Outubro de 1974.
(2) Reportagem de «Macau. B. I. T.» , 1972.
Na sequência do post ontem colocado, sobre a inauguração do Asilo de Mendicidade Maria Ana Accioili Tamagnini Barbosa, (1) foi nesse dia, em Dezembro de 1940, também inaugurado um busto do Governador Tamaginni Barbosa (2), (marido da Maria Ana), que falecera nesse mesmo ano, em Julho. O busto ficou colocado à frente da entrada do Asilo.
Inauguração do busto do Governador Tamagnini Barbosa.
O busto foi moldado pelo escultor Osseo Acconci, fundido em bronze, com pedestal de mármore, e pelo preço total de MOP 2.750,00, subscritas pelo público. (3)
Quando a asilo foi encerrado, o busto foi armazenado da Câmara até ser “resgatado” pelo responsável dos jardins da cidade, Alfredo Augusto de Almeida, (4) que o colocou no Jardim da Flora onde esteve muitos anos.
“Por solicitação do filho, Mariano Tamagnini Barbosa, o busto foi transferido da Flora para o átrio da «Secção Pré-primária da Escola Primária Luso-chinesa de Tamagnini Barbosa (5), (extinta em 2011), na Rua Marginal do Canal das Hortas em Setembro de 1997” (3)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/12/18/lugares-de-outrora-asilo-da-mendicidade-d-maria-ana-acciaioli-tamagnini-barbosa/
(2) O Governador Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (1881-1940) veio para Macau no transporte África, ainda bebé (1882), tinha quatro meses, trazido pelo pai, conselheiro Artur Tamagnini Barbosa. Fez os estudos em Macau no seminário e no liceu até aos 19 anos de idade regressando a Portugal com o pai. Em Coimbra licenciou-se em Administração colonial. Viúvo aos 35 anos de idade, casou em segundas núpcias com uma sua aluna, Maria Anna Acciaioli, com 16 anos. Maria Anna acompanhou o marido para Macau nas duas primeiras vezes (faleceu em Lisboa, em 1933). Chefe de Repartição do Ministério das Colónias quando foi nomeado pela primeira vez para o cargo de Governador de Macau (12-X-1918 a 17-VII-1919). Governou Macau por três vezes. Faleceu em Macau, durante o seu terceiro mandato, a 19 de Julho de 1940, no Palacete de Santa Sancha (adquirido pelo Governo de Tamagnini Barbosa em 1937. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II)
Mais referências a este Governador em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/
(3) Araújo, Amadeu Gomes de – Diálogos em Bronze, memórias de Macau. Livros do Oriente, 2001, 168 p.
(4) Alfredo Augusto de Almeida (1898-1071), embora descendente da mais ilustre aristocracia macaense do século XIX, foi um funcionário público municipal, um estudioso da botânica e arqueologia (fundou o primeiro museu arqueológico da Fortaleza do Monte) dedicando a sua vida aos jardins a cidade especialmente o da Flora onde classificou cientificamente as plantas e os animais então existentes. Tem um busto, moldado em gesso por Osseo Acconci, no Jardim da Flora. (3)
(5) Sobre o Bairro Tamagnini Barbosa ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bairro-de-tamagnini-barbosatoi-san/
Bairro 28 de Maio / Bairro Fai Chi Kei
O bairro «28 de Maio», concluído em 1936, era constituído por 14 blocos, numa área de 20.394 metros quadrados. Em 1940, já era residência de cerca 3000 pessoas. (1) Estava situado no Patane, a oeste da Avenida do General Castelo Branco, entre a Bacia Norte e a Bacia Sul do Patane. Era atravessado, no sentido leste-oeste, pelas Ruas do General Ivens Ferraz, ao sul do Marechal Gomes da Costa, no centro, e do Comandante João Belo, ao norte.Ao fundo deste bairro ficava situado o depósito de material e oficinas da Repartição das Obras Públicas, Portos e Transportes e uma doca seca.
A Câmara de Macau após o 25 de Abril de 1974, trocou o nome de Bairro de 28 de Maio por Bairro Fai Chi Kei. (筷子基) (2)
Entrada do Bairro Tamagnini Barbosa / Bairro Tói Sán
O bairro «Tamagnini Barbosa» (construído nos terrenos onde anteriormente estava o bairro chinês do grande incêndio em 1928) (3) era constituído por 21 blocos, distribuídos numa área de cerca 92 000 metros quadrados (ao longo da década de 30 e 40 do século XX à custa de aterros de alguns pântanos existentes nas suas proximidades) e albergava cerca de 5.500 pessoas. (1)
Este bairro compreendia a área conquistada ao mar, ao norte da cidade, perto da ilha verde. Além do aglomerado populacional, achavam-se ali hortas e arruamentos.
Confinava ao norte com o Canal dos Patos e o território chinês, ao sul com a Avenida do Conselheiro Borja e a Estrada do Arco, a leste com o Istmo Ferreira do Amaral e a oeste com a Rua do Dr. Ricardo de Sousa e parte do Bairro da ilha Verde.
Em chinês, o Bairro chama-se Tói Sán (台山) e esta designação é anterior ao bairro; o nome T´oi-Sán deriva duma grande fábrica de panchões ali situada, cujos donos eram naturais do distrito chinês de T´oi-Sán. As 100 casas que constituíram o novo bairro foram concluídas em 1931 (2)
NOTA: 筷子基 Fai Chi Kei porque os edifícios eram de dois andares e estavam alinhadas em duas filas, como a forma dos pauzinhos chineses (筷子), daí o nome em cantonense. O bairro foi depois demolido e no mesmo lugar, construído o Bairro Social do Fai Chi Kei (concluído em 1981), com 0 projecto de habitação social do arquitecto Manuel Vicente. (4) Por sua vez, foi demolido em 2010, para se construir um complexo residencial.
(1) UN de Macau, 1940.
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/11/27/leitura-o-bairro-chines-ao-norte-da-ilha-verde-em-1929/
(4) O projecto, premiado em 1995, está disponível em:
http://simpleyarchitecture.blogspot.ca/2013/02/manuel-vicente-fai-chi-kei.html.
Mapa turístico da cidade de Macau, de 1975, em inglês, com indicação dos pontos turísticos de maior interesse.
De sinalizar um “firecracker factory” no Bairro de Tamagnini Barbosa. Muito possivelmente, será erro de localização no mapa, pois a única fábrica de fogos de artifícios dessa zona, nessa época, era a HAP LEI, que ficava situada na Estrada da Areia Preta n.º 21 (tel: 5263).
No Anuário de Macau – Ano de 1977, além desta fábrica somente figuravam na cidade de Macau duas outras, a NAM HEONG, na Rua Canal das Hortas n.º 6 e a TONG CHEONG, na Avenida Coronel Mesquita. Existiam ainda outras seis fábricas de panchões, todas elas localizadas na Ilha da Taipa.