No dia 5 de Maio de 1865, um grande incêndio na povoação da Horta da Mitra, em que 200 barracas de chineses foram devoradas pelas chamas. Provavelmente acidente provocado por panchões do Ano Novo Chinês (1) (2)
O bairro da Horta da Mitra ou do Bispo estava mais ou menos limitado pela Rua do Noronha e por parte das Ruas de Henrique Macedo, de Tomás da Rosa, de Horta e Costa, da Colina e Nova à Guia.
Ficavam situadas dentro deste bairro as Ruas da Cal, da Mitra, (3) da Surpresa, de Dezoito de Dezembro, parte das Ruas de Tomás da Rosa e de Henrique Macedo, as Travessas do Mercado Municipal e de S. João, bem como o largo do Mercado Municipal e o Mercado da Horta da Mitra. (2)
O bairro de Horta da Mitra (4) contígua ao bairro de Volong eram os locais mais salubres do território e devido aos problemas de higiene pública sofreram posteriormente alterações com o saneamento. No Bairro de Volong onde teve início o foco de infecção nas epidemias da peste e da cólera, foi expropriada por utilidade pública em 1894 e saneada. Tinha uma área de 200 hectares, limitado ao norte pela Estrada do Cemitério, ao sul pela Ferreira do Amaral, a leste pela Estrada da Flora e a oeste pela Rua de S. Lázaro. Em 1897 a área foi entregue ao Leal Senado e depois à Repartição de Obras Públicas para se proceder a obras de abertura das ruas, construção de canalização de esgoto e alicerces das casas particulares. O bairro de S. Lázaro também contíguo e um dos focos da epidemia da peste de 1896, seria saneado em 1900 (2)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, p. 468.
(3) Rua da Mitra: começa na R. da Colina, em frente da R. da Vitória e termina na R. do Noronha , entre a Travessa do Mercado Municipal e a Rua da Cal (2)
(4) Sobre Horta da Mitra, ver anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/11/postal-de-1940-mercado-municipal-da-horta-da-mitra/+
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/horta-da-mitra/n
Este mercado foi inaugurado em 1940 aquando das comemorações do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal.
Na entrada oposta a esta porta (foto acima) está a inscrição do MERCADO DE HORTA E MITRA, mas deveria ser, MERCADO DA HORTA DA MITRA ou DO BISPO pois o sítio onde está o mercado, por volta de 1871, ainda era assim denominado (horta da Mitra ou do Bispo). Nas redondezas havia outras hortas, campos ou povoações: Horta da Companhia (da Companhia Holandesa das Índias Orientais), Horta de Volong, Campo ou Povoação de S. Lázaro etc. A zona, em cantonense, é conhecida como “Tchèok-Tchâi-Un – 雀子園” que significa Jardim dos Passarinhos. (1)
“No Arquivo da Administração Civil achámos um documento referente ao ano de 1871, pelo qual vemos que “Francisco de Paula Noronha se dizia proprietário da Horta da Mitra ou do Bispo, pedindo ao governo uma indemnização pela expropriação dessa propriedade numa extensão de 1163 metros. Este documento diz que uma provisão do senado, datada de 1778, fazia à Mitra mercê dum terreno baldio; um alvará de 1810, dizia que a Mitra vendera esse terreno a Francisco António Pereira Tovar por 4 000 patacas…(…)
Em 1871, aparece como proprietário da Horta da Mitra ou do Bispo, Francisco de Paula Noronha mas não se vê bem como o terreno foi parar às suas mãos.“ (2)
“Ora a história refere a um alvará de 1810, que dizia ter a Mitra vendido esse terreno a Francisco António Pereira Tovar por 4000 patacas. Mas, em 17 de Janeiro de 1840, o delegado do Procurador Régio oficiou ao Senado: “A remessa dos inclusos papéis e requerimentos de D. Ignácia de Payva para saber as demarcações levou o delegado João Baptista Gomes a não descobrir o título de posse da Propriedade denominada a Horta da Mitra”. (2)
“A horta da Mitra, um bairro imundo situado no coração da cidade, ao lado do hospital civil e sotoposto ao hospital militar, vizinho de habitações d´europeus sob os alicerces do novo bairro Tomaz Rosa, onde as ruas são alinhadas e empedradas, onde as casas são bem arejadas, e bem expostas, onde há um mercado municipal em que se respeitam as prescrições sanitárias, onde finalmente os habitantes, pela maior parte chineses, se veem forçados a transigir com a higiene europeia, que não é bem a higiene do Celeste Império” (3)
NOTA 1 – Sobre o Bairro da Horta da Mitra, aconselho a leitura do artigo de José Simões Morais para a Revista Macau de 15/02/2014 n.º 36
http://www.revistamacau.com/2014/02/15/o-bairro-da-horta-da-mitra/
e sobre o mercado, do blogue «Orient´Adicta»: “Às compras no Mercado Municipal Horta e Mitra” in
http://oriente-adicta.blogspot.pt/2010/06/as-compras-no-mercado-municipal-horta-e.html
NOTA 2 – “05-02-1865 – Grande incêndio na povoação da Horta da Mitra, em que 200 barracas de chineses foram devoradas pelas chamas Provavelmente acidente provocado por panchões do Ano Novo Chinês” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 3.º Volume)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/03/lugares-tcheok-tchai-un-%E9%9B%80%E5%AD%90%E5%9C%92-jardim-de-passari-nhos/
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I.
(3) COSTA, Peregrino da – Medicina Portuguesa no Extremo Oriente, pp. 213-14.