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“É inaugurada, como forte sinal de vitalidade, a Exposição Industrial e Feira de Macau, ideia do Governador Rodrigo Rodrigues, só exequível no Governo interino do Almirante Hugo de Lacerda. (1).

ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 MAPAO local da Feira foi o então espaço livre (8 hectares de várzeas), na continuação da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida a caminho de Mong Há, logo depois de cruzar a Avenida Horta e Costa, onde havia uma pequena lagoa (mesmo em frente à entrada do Kum Iam Tong), que emprestou beleza ao recinto, sobretudo com as iluminações nocturnas e com engalanados barcos de onde os estudantes do liceu ofereceram uma serenata.

O importante e concorrido certame acompanha o desenvolvimento industrial da I República (1910-1926) em Portugal. A atestá-lo mencionam-se entre outros ramos, a pesca e a conserva de peixe, tradicional e em lata, os curtumes e o calçado, os fósforos e panchões, papel e tabaco, actividade têxtil (seda, algodão), etc. (2)

ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IO Pavilhão da Casa Portuguesa

Dos 650 inscritos, estiveram presentes 597 expositores (os mais numerosos: carpintaria e marcenaria: 57; sapatarias: 51; ourives: 30; alfaiates: 28; vinhos chineses e estrangeiros: 28; papelarias: 21; trabalhos em bambú: 20), sendo 540 de Macau e os restantes de Hong Kong e de outras procedências. Os produtos expostos atingiram um valor aproximado de $ 1000.000,00 (3)

  ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IIO lago e o moinho holandês (4)

Num dos 60 pavilhões, o pavilhão «Portugal-Oriente», salientam-se produtos vinícolas (vinhos portugueses e conservas com 10 expositores) barracas de tiro ao alvo, roleta com prémios, loto, animatographo (1 expositor  classificado como “filmagem cinematográfica”), etc. A Feira durou mais de um mês (fechou a 12 de Dezembro) e apenas como referência estatística, em 3 dias, só no Parque de Diversões foram registados 15 000 visitantes. Estes, no total, foram 289 537, supondo-se que cerca de 50 000 fossem forasteiros. (2)

 ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IIIOutro aspecto do lago e do moinho holandês

Foi feito um opusculo, em Macau, publicado em português e inglês, da autoria de João Carlos Alves e João Barbosa Pires, pela Tip. Mercantil, em 1927. (3) (5)

 ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IVFerry Wheel (Grande roda)

(1) Sobre este almirante: Hugo Carvalho de Lacerda Castelo Branco, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/27/leitura-a-necessaria-morigera-cao-dos-costumes/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) ALVES, João Carlos; PIRES, João Barbosa – Macau e a sua Primeira Exposição Industrial e Feira. Com uma breve notícia do Porto. Macau, 1927. Tip. Mercantil da N. T. Fernandes e Filhos, 39 pp., 23 cm.
(4) Segundo informações da revista “Ilustração”, donde foram retirados estas fotos, “o rendimento diário do aluguer de sete barcos em serviço neste lago é de cerca 1 200$00.”~
(5) Sobre a Tipografia Mercantil da N. T. Fernandes e Filhos, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/04/anuncios-tipografia-mercantil-de-n-t-fernandes-e-filhos/

Postais da Colecção “MACAU ANTIGO” (1), emitidos pelo Instituto Cultural de Macau na década de 90 (século XX), a preto e branco (fotografias antigas de Macau – finais do século IX e princípios do século XX). (2)
Hoje trago mais dois postais, referentes ao Mercado Vermelho e à Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida.

MACAU ANTIGO -Mercado Vermelho

O Edifício do Mercado Vermelho ou Mercado do Almirante Lacerda, mais conhecido por Mercado Vermelho (紅街市大樓) foi construído em 1936 tendo sido projectado pelo 3.º Conde de Senna Fernandes (3). Fica no cruzamento da Avenida Almirante Lacerda e  Avenida Horta e Costa. Foi traçada em 1930 e tem três pisos. Revestido de tijolos vermelhos daí o seu nome. Faz parte da lista do Património Cultural de Macau, como edifício de interesse arquitectónico (Decreto Lei n.º 83/92/M de 31 de Dezembro) (4)

MACAU ANTIGO -Av Conselheiro FerreiraPavimentação da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida

A Avenida terá sido iniciada cerca de 1895 juntamente com as obras de  saneamento da área de S. Lázaro e a construção das casas da Rua de Volong, afim de conter a epidemia – peste bubónica em Macau, Hong Kong e Cantão iniciada em 10-04-1895 (5) e que durou até 1896 com casos esporádicos em 1897 e 1898. Esta foto no entanto será já do princípio da década de XX .
Recorda-se que foi em 1919 que a Santa Casa da Misericórdia teve autorização para construção de dois prédios na Avenida e de outros dois na Rua de Tap Seac (hoje património classificado),  bem como proceder ás obras do prédio n. 89 no antigo Asilo dos Órfãos (iniciado em 1900), depois transformado em Liceu Central de Macau ( 1924) (hoje Instituto Cultural do Governo da  RAEM) (5)

(1) Adquiridos na Plaza Cultural Macau Lda. (Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, n.º 32 G). A colecção tem 20 postais.
(2) Muitas destas fotografias encontram-se publicadas em muitas publicações (livros, revistas, jornais, etc) e na web.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9). Há outras fontes que indicam o arquitecto macaense Júlio Alberto Basto
(4) Uma descrição do Mercado poderá ler-se  em “Às compras no Mercado Vermelho” em:
http://oriente-adicta.blogspot.pt/2010/07/as-compras-no-mercado-vermelho.html
e uma descrição mais pormenorizada do edifício, no “site” “H.P.I.P. – Património de Influência Portuguesa – Equipamentos e Infraestruturas
http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=923
(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

“A via pública, que principia no sítio onde se cruzam as Ruas da Praia Grande, Santa Clara e Formosa, e termina entre a Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida e Rua Ferreira do Amaral, ao fundo da Calçada do Poço, é vulgarmente designada como o nome de Rua do Campo, por ter sido este o caminho que ia dar ao terreno aberto que ficava outrora fora das muralhas da cidade.
Os chineses chamam a essa rua Sôi-Hâng-Mêi (Extremo do Regato), nome que evoca, porventura, o facto de ter havido noutros tempos, algum fio de água que vertia pela encosta do Monte abaixo.

                          FOTO DE MAN FOOK – RUA DO CAMPO 1907

Ora contam que nessa rua existia um enorme casarão com um grande jardim, sendo seu dono um abastado chinês, mas depois da época de kuâi-tchân-ôk (os demónios abalam as casas), isto é, em que Macau foi visitada por uma assustadora série de abalos sísmicos, porém sem graves consequências , nunca mais ninguém ousou lá habitar, vindo o jardim desta vasta propriedade a ser aproveitado para se fazer o jardim de S. Francisco, que ficou separado do edifício por uma rua lateral.

                         HOSPITAL S. RAFAEL NA DÉCADA DE 60

A entrada principal do enorme casarão (1) ficava em frente do Hospital São Rafael (2) e o seu proprietário, que enriquecera com o negócio do sal, quando o mandou construir, julgou poder manter unida a sua família através de seis gerações. Infelizmente, à quarta geração, os seus descendentes foram obrigados a dispersar-se e a abandonar aquele casarão sem poderem satisfazer os desejos do seu ilustre ascendente.
O casarão possuía ao todo cinco entradas e trinta e um quartos e ninguém ousava habitá-lo por ser verificado que nele viviam vinte e oito almas penadas.
Como com o tempo, fosse aumentando o número dos espíritos da sombra, as pessoas incumbidas de tomar conta daquele inútil casarão, espalharam por todas as salas mil e um feitiços e pregaram e penduraram por todas as paredes inúmeros amuletos, a fim de ver se conseguiam, desta forma, evitar que o malfadado prédio continuasse a ser visitado por tão terríveis entes.
Efectivamente, durante algum tempo, os espíritos deixaram de aparecer mas, assim que descobriram a forma de anular os efeitos dos feitiços e amuletos, passaram outra vez a residir no casarão, tornando-o inabitável para os mortais.
Os herdeiros daquele casarão, que nada rendia, não olharam então a dinheiro e convidaram os mais afamados exorcistas e bonzos de todos as seitas, para celebrarem complicados esconjuros e encantações e entoarem demorados ensalmos, mas tudo foi baldado. Os bonzos acabaram por recomendar aos descorçoados proprietários para atravessarem a viga mestra do corpo principal do edifício com um espigão de ferro de oito braças de comprimento das quais seis deveriam ficar a descoberto no interior do edifício.
Este recurso também não deu resultado, pois, mal se escondia o sol, lá se ouvia por todos os cantos e recantos o perturbante mussitar dos fantasmas que decerto andavam segredando malévolos planos ou concertando misteriosas diabruras, e, na calda da noite, surgiam por entre a escuridade dos sobrados, estranhos vapores que se iam adensando, palatinamente, formando grossos novelos de impenetrável fumo que impediam a entrada de qualquer ousado visitante…” (3)
…………………………………………………………………..continua
(1) O casarão foi demolido.
(2) Hoje Consulado-Geral de Portugal.
(3) GOMES, Luís Gonzaga – Lendas Chinesas de Macau. Notícias de Macau, 1951, 340 p. ; 19 cm.
Este conto está também inserido no livro,  (CÉSAR, Amândio – Literatura Ultramarina, Os Prosadores. Sociedade de Geografia de Lisboa, Semana do Ultramar, 1972, 197 p., 20,5 cm x 15 cm.), já referenciado em post anterior:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/03/02/leitura-literatura-ultramari-na-dentro-do-barco-da-velha/