Archives for posts with tag: Aurora Portuguesa

“Naquele maravilhoso Outono de 1931, nada parecia abalar a confiança no futuro de Macau. A vida era baratíssima. Por exemplo, a firma Beatriz Berta de Sousa, sita na Rua Horta da Companhia, n.º 10, (1) vendia um litro de azeite de oliveira a $1.30, e a “Macao Store“, loja fornecedora de géneros alimentícios, na Avenida Almeida Ribeiro, anunciava em “A Voz de Macau” que “o preço do gelo para este ano é de 1 avo por libra“.

A livraria “Oriente Comercial Limitada” dava a conhecer aos seus fregueses as novidades literárias: “Lourdes”, de Brito Camacho, “Hollywood, capital de imagens“, de António Ferro, e “O Homem que matou o Diabo“, de Aquilino. O Porto Exterior ainda não era completa desilusão. Navios nacionais, o “Chinde” e o “Gil Eanes“, fundeavam, trazendo tropa e deportados políticos. Na ponte-cais de madeira, onde se acha o Clube Náutico, acostava o “Sagres” da Macau-Timor Line e da Macau-Mozambique Line. Os funcionários, que vinham da metrópole ou partiam, finda a comissão ou de licença graciosa, viajavam no “Porthos” da Messageries Maritimes e no “Derfflinger” da Mala Alemã Loyd, desembarcando ou embarcando em Hong Kong.

Quem quisesse um suculento e retinto prato português ia à “Aurora Portuguesa” (2) ou ao “Fat Siu Lau“. (3) Para um bom copo de leite e variados refrescos, havia a “Leitaria Macaense” (4) junto ao “Capitol”. Para um saboroso “kai si fán” (arroz de galinha) estava o restaurante “United States”, no rés-do-chão do Hotel Central, (5) em frente ao “Vitória”. E se se queria dançar, subia-se ao 6.º andar do mesmo hotel, onde estava o clube Hou Heng.” (*)

(1) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/10/23/anuncios-de-casas-comerciais-do-ano-de-1941/ (2) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/aurora-portuguesa/ (3) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/restaurante-fat-siu-lau/ (4) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leitaria-vacaria-macaense/ (5) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-centralpresident-hotelgrand-central-hotel/

(*) FERNANDES, Henrique de Senna – Cinema em Macau II, 1930-31  in Revista da Cultura, n.º 18 (II Série) Janeiro-Março de 1994, pp.183-216. Edição do Instituto Cultural de Macau.

“O ano de 1933 vive sob os efeitos da depressão económica derivada da guerra sino-nipónica de 1931-32. O sentimento nacional chinês está profundamente atingido; no entanto, recrudescem as lutas intestinas entre os warlords. Os japoneses, por outro lado, não desistem dos seus intentos de expansão, perante a inércia da Inglaterra, França e Estados Unidos. Os periódicos de Macau fazem-se eco da carestia de vida e queixam-se do aumento geral dos preços em tudo. Contudo, essa carestia de vida era perfeitamente suportável e para nós, hoje, totalmente ridícula. Se não, vejamos:

Uma viagem a Hong-Kong, no “Sui Tai” ou no “Sun An”, custava, em 1a classe (cabine), $2,00 por pessoa. E a Cantão, no “Seng Cheong”, também em 1a classe (cabine), $2,50. Não era necessário passaporte ou salvo-conduto, nem se conhecia esta terrível instituição conhecida por Serviços de Imigração.

O preço corrente dum fato de verão – calça e casaco – andava à roda de $7,00 (nota). Na “Loja Luso-Japonesa” de J. Manuel da Rocha, à Rua do Campo, vendia-se vinho da Bairrada, tinto, a $4,50 e, branco, a $5,50, por uma dúzia de garrafas. No “Oriente Comercial, Lda.”, à avenida Almeida Ribeiro, uma caixa de 24 meias-garrafas de espumante adamado custava $36,00. Um cate de batatas para a tropa era adquirido a 4 avos e, se fosse ao quilo, eram 5 avos. Nas mercearias, uma lata de chouriço Isidoro custava $1,11.

No “Fat Siu Lau”, um bife com ovo estrelado e batatas fritas pagava-se por 25 avos (prata), e um prato substancial de arroz chau-chau por 10 avos. Os comensais da Pensão e Botequim “Aurora Portuguesa” pagavam pelos pequeno-almoços, almoço e jantar, $22,00 (nota), por mês. A “Casa do Povo”, um dos melhores restaurantes de comida portuguesa que existiram em Macau, orçava pela mesma barateza. Eis a ementa de 16 de Abril, Sábado:

Almoço especial (das 12 às 15 horas) Sopa: Canja de galinha 1. Feijoada 2. Lombo recheado 3. Presunto e ovos 4. Pastelinhos de carne 5. Arroz de camarão 6. Pudim 7. Fruta 8. Chá ou café $1,00 (nota)

Jantar especial Sopa à Juliana 1. Peixe com molho de tomate 2. Coelho guisado com batatas 3. Galinha assada com ervilhas 4. Croquetes com azeitonas 5. Arroz à Jardineira 6. Pudim 7. Fruta 8. Chá ou café $1,00 (nota)

Extraído de FERNANDES, Henrique de Senna – Cinema em Macau III (1932-36) in Revista da Cultura, n.º 23 (II Série) Abril/Junho de 1995, pp.151-152. Edição do Instituto Cultural de Macau

«AURORA PORTUGUEZA», restaurante, botequim, pensão e mercearia, na Rua do Campo n.º 47. Publicidade inserida no jornal «A Voz de Macau», de 1942.
Preparavam-se neste estabelecimento chouriços à moda portuguesa: chouriços caril, farinheiras com sauce, chouriços de carne e chouriços de sangue.
Ver anterior anúncio da mesma loja “Aurora Portuguesa” do ano de 1922 que pertencia à «Rocha, Fernandes & Ca» e cujo gerente era A. M. Fernandes. Nesse ano era já Restaurante, Botequim e Mercearia.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/01/anuncio-de-1922-loja-aurora-portuguesa/

A loja “AURORA PORTUGUESA“, propriedade de “Rocha, Fernandes & Ca.”, cujo gerente era, no ano de 1922 (ano deste anúncio), A. M. Fernandes,  (1)  anuncia “ o fornecimento de comida mensalmente, avulsa, e almoços ou jantares diários ” e
ANÚNCIO - LOJA AURORA PORTUGUESA 1922previne também o público de que acaba de receber de Portugal os artigos abaixo mencionados, que vende por preços convidativos…” como vinhos, azeitonas do Douro, colorau dôce e picante, marmeladas , sardinhas, chouriços, paios, etc.
Mais previne o público e em especial os apreciadores dos bons licores portugueses que acaba de receber os licores da conhecida fábrica «Ancora» (2) , aguardente de ginja e ervadoce.
(1) A “Aurora Portuguesa”, em 1927, estava licenciada como “mercearia” na Rua do Campo n.º 45 (nesse ano de 1927, o gerente era Manuel C. Carlouto).
ANÚNCIO - Fábrica ÂNCORA(2) “A fábrica “Âncora” foi fundada na década de 40 do século 19 e manteve-se em produção até à década de 80 do século 20. Durante os cerca de 140 anos em que existiu, produziu alguns produtos que eram incontestavelmente líderes nas suas categorias, nomeadamente o absinto, cujo rótulo ainda hoje é copiado pela concorrência. De resto, fabricava o vasto leque das destilarias de licores: ponche, rum, genebra (o gin cá da terra nas célebres garrafas de louça que eram recicladas em botijas de água quente), licor de pêssego, triplice (triple sec), curaçao de hollanda, anis, licor de ouro (eau-de-vie de dantzig), etc.”
http://purl.pt/19053
http://diasquevoam.blogspot.pt/2006/10/fbrica-de-licores-ncora-um-dia-destes.html