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Continuação da leitura o número especial dedicado ao ultramar português do “Diário Popular” em 1961 (1), (2) nomeadamente nos artigos com referência mais específica a Macau que estão nas páginas 5 a 21 da sessão “Índia, Macau e Timor “ (total 4 páginas).

Páginas 10-11 (IMT): “A assistência pública está a realizar uma obra de largo alcance social e profunda repercussão política dentro do espírito cristão.

Página 12 (IMT): “O Progresso dos C.T.T.  demonstra que a Administração Portuguesa no Extremo-Oriente é inspirada por um superior critério. Um serviço de notável eficiência e uma organização de técnica modelar”.

Página 15 (IMT): “A Polícia de Segurança Pública é uma corporação modelar com alto grau de eficiência técnica.” (continuação do mesmo artigo da página 9)

As dedicadas e importantes funções da Polícia Política

(1) Ver anteriores referências em https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/diario-popular/

(2) http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/RaridadesBibliograficas/DiarioPopularDedicadoaoUltramarPortugues/DiarioPopularDedicadoaoUltramarPortugues_master/DiarioPopular_dedicadoaoUltramar.pdf

A esposa do Sr. Governador cortando a fita

Extraído de BGC XXVI-304, OUTUBRO de 1950.

O Governador José Maria da Ponte e Horta, pela Portaria de 2-02-1867, proibiu a Roda dos expostos da Santa Casa de Misericórdia de Macau, (desde 1726 que a Santa Casa Misericórdia tinha um Recolhimento para orfãs e Viúvas) a partir de 8 do mesmo mês e ano, devendo no entanto a Santa Casa continuar a tratar dos enjeitados que tinha a seu cargo nessa data . No entanto a ordem não foi cumprida pois embora a Roda não existisse, as crianças continuaram a ser abandonadas (e recebidas) à porta da Santa Casa.
A Santa Casa confiou os Expostos (crianças abandonadas aos nascer) às Filhas de Caridade Canossianas estabelecidas em Macau em 1874) (1) que tomaram conta deles, a princípio no próprio edifício dos Expostos e, mais tarde, no Asilo da Santa Infância, em Santo António, fundada em 1885, pelo Bispo D. António Joaquim de Medeiros. (2)

Um grupo de crianças abandonadas e recolhidas no Asilo da Santa Infância em 1934

O novo Edifício da Santa Infância na Rua Francisco Xavier Pereira inaugurado em 1950, foi mandado construir pelas irmãs Canossianas. A Santa Infância em 1950, foi transferida para o rés do chão do novo edifício em Mong Há continuando no antigo edifício as crianças mais pequenas mas em 1959 sessenta crianças foram transferidas para a Casa Canossiana de S. Coração de Maria em Coloane.
Informações recolhidas de TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982
Anteriores referências a este Asilo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/asilo-de-santa-infancia/
(1) Em fins de 1873 e inícios de 1874, chegou a Macau a irmandade canossiana cujo lema era “caridade na humildade e humildade na caridade”, passou a se fazer presente em Macau.
Mas antes já a irmã Madre Teresa Lucian chegara a Macau, tendo fixado residência no bairro chinês próximo à igreja de Santo Antônio e ali foi construindo a sua obra, abrindo uma escola chinesa para crianças pobres, perto da Fortaleza do Monte.
Em 1885 foi construído o Asilo da St.ḁ Infância, para crianças abandonadas, posteriormente demolido para dar lugar à Escola Canossa.
No Asilo da Santa Infância, anexo à igreja de Santo Antônio, as irmãs fizeram um belo trabalho e ganharam a confiança e o respeito dos chineses. Por volta de 1895, uma grande epidemia de peste bubônica atingiu Macau. A irmã Madre Teresa Lucian foi para esse front social em 1898, e ali viu serem abatidos aproximadamente 1200 chineses.
Para se ter uma ideia do volume de trabalho assistencial que faziam as irmãs, somente no período de 1885 a 1951, foram recebidas 65.000 crianças, ou seja, em cada um dos 66 anos de atuação receberam em média 985 crianças por ano. A partir de 1952 até 1972, o número de crianças hospitalizadas é de 16.725, e um número dramático de abandonados é de 1.123 crianças chinesas ou mestiças, em sua maioria meninas.
Anjos de Macau na primeira década do século XX
LIMA-HERNANDES, Maria Célia; SILVA, Roberval Teixeira e – Anjos de Macau na primeira década do século XX in fragmentum, N. 35, parte I. Laboratório Corpus: UFSM, Out./ Dez. 2012 15 p.
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/7860-35024-1-PB.pdf
(2) O Padre António Joaquim Medeiros (1846-1897) veio para Macau em 1872 tendo ocupado os cargos de Reitor do Seminário, Vigário Geral e Visitador das Missões de Timor e em 1884, foi nomeado Bispo de Macau. Faleceu de morte natural durante a visita às Missões de Timor em 1897.

Uma notícia intitulada «UMA RÉCITA DE AMADORES» (acompanhado por duas fotos) na imprensa escrita portuguesa, “Boletim Geral das Colónias” (1) sobre a opereta «Cruel Separação» (argumento e música de Pedro José Lobo; representada por amadores pela primeira vez, no jardim da sua residência «Vila Verde» em 1949) que foi de novo posto em cena, desta vez no Teatro D. Pedro V. nos dias 15 e 17 de Outubro de 1953. Para mais informações ver anterior referência neste blogue (2)

(1) «BGC» XXIX – 341/342 Nov/Dez, 1953.
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/10/15/noticia-de-15-de-outubro-de-1953-opereta-cruel-separacao/

Foi a 13 de Setembro de 1903 que o Padre José António Gomes, então Pároco de Santo António, (1) fundou nesta igreja a benemérita «Obra do Pão dos Pobres», (2) cujo jubileu se celebrou no dia 13 de Setembro de 1953, com toda a solenidade. O 50.º aniversário da fundação do Pão dos Pobres em Macau foi um dia de duplo agradecimento: a Sto. António pelos inumeráveis favores dispensados a todos os benfeitores dos seus pobres; e a todos os benfeitores desta simpática obra de caridade. Socorreu milhares de lares indigentes, continuando no ano de 1953 a minorar a fome a 200 famílias com os dez picos de arroz que lhes distribui mensalmente, além de outras esmolas particulares em dinheiro. (3) Em 1955, a acção benéfica alargava-se para 250 pobres, na sua maioria chineses e concedia esmolas, no valor de $150,00 a pobres a quem o arroz não era distribuído.

O altar do Pão dos Pobres na igreja de Santo António (1953)

Durante os 50 anos (1903 – 1953), o Pão dos Pobres de Santo António distribuiu o elevado número de 17.790 picos de arroz, estendendo também por vezes a sua caridade aos pobres das suas missões da China.
O cofre colocado na Igreja Paroquial representava a maior fonte de receitas da Ora. Tinha um letreiro com uma indicação: “pão dos pobres”. O cofre rendia, em média, mensalmente a quantia de $300,00, pelo que com as ofertas generosas de algumas pessoas, não era preciso recorrer-se a peditórios. Outra fonte da receita provinha da Comissão Central de Assistência Pública que contribuía para esta Obra a soma de $166,66 mensais. Também o soldo de Santo António, (4) como Capitão da Cidade, concedido pelo Leal Senado das Câmara de Macau, na importância de $1.200,00anuais, revertia integralmente a favor desta Obra.
(1) O aparecimento da «Obra do Pão dos Pobres» deveu-se ao Reverendo Dr. António José Gomes, sacerdote ligado às iniciativas no campo do apostolado missionário e caritativo, pois a Santa Infância e as leprosarias muito ficaram a dever a este homem. Em 1953 era pároco o padre José António Monteiro. Após o seu falecimento ficou o Cónego Manuel Pinto Basaloco.
(2) A Obra Pão dos Pobres nasceu e cresceu em Toulon (França), sob os auspícios de Santo António e rapidamente se estabeleceu em um grande número de cidades da França, depois em Itália, Espanha, Portugal e outras nações da Europa. e depois em todos os continentes. Esta obra, em Macau, encontrava-se agregada à Paróquia de Sto. António e a sua administração estava a cargo do respectivo pároco.
(3) Recebeu dos seus generosos amigos e benfeitores, durante o mesmo período, a avultada soma de $ 187.421,43, contribuição sobretudo dos católicos macaenses e chineses.
(4) É muito remota a origem da concessão deste soldo, talvez se remonte às origens desta cidade. É curioso notar que este soldo esteve interrompido durante três anos, pelos meados do último quartel do século XVIII. Por esta altura pesadas tribulações caíram sobre Macau, o que levou o povo a considerar a crise como castigo pelo corte do soldo a Santo António. O que é certo é que o Senado se viu na contingência de lhe mandar «assentar a sua praça com o vencimento de Capitão da Cidade».
Informações e fotos retiradas de «Macau B. I.»,  1953 e 1955.

Na 5.ª Parte do Boletim Sanitário da Província de Macau, ano de 1922, mês de Janeiro, referente a “RELATÓRIOS E ESTUDOS MÉDICOS”, encontrei este relatório efectuado pelo Dr.  António do Nascimento Leitão (capitão, médico de 1.ª classe), (1) relativo às inspecções sanitárias aos estábulos, vacarias, visitas domiciliárias e via pública.
A) – ESTÁBULOS E VACARIAS
Todos estão obedecendo às instruções que lhes tem sido dadas. Apenas o estábulo da firma Yun-Hop, em Sa-Kong, tem uma parte do reboco da parede caído. Prometeu que em breve dias estaria reparado e de novo caiado a branco
B) – VISITAS DOMICILIÁRIAS
SAN-KUONG (ARMAZÉNS) – AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO – Tem bons urinóis providos de água sob pressão. As retretes é que são do tipo insalubre (celhas de madeira no terraço do telhado). De bom grado poderão ser  substituídas pelas de autoclismo, distribuídas pelos três andares do edifício, para uso não só dos seus 50 empregados, mas também dos seus freguezes. Precisa, porém, de saber para onde tem de dirigir os respectivos tubos  de descarga, se para o colector da Avenida, se para o da rua das trazeiras, ou se para o da Travessa do Paralelo, que lhe fica ao lado.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 67 – CULAO – Muitos sujos os pavimentos do 1.º e 2.º andares. Tem muitos escarradores, mas todos por baixo das mesas. Indiquei os lugares próprios para estes, lavagens frequentes dos soalhos e escadas, e a afixação de desticos proibindo que se escarre no chão.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 64 – CASA DE PENHORES – Tem as retretes de celhas no telhado, a transportar – recomendei o tipo  das de caixa, limpas diariamente.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 74 – CAMBISTA – CASA DE PENHORES. – Casa asseada. as suas retretes e urinóis, de autoclismos, poderão servir de modêlo às outras casas da Avenida.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 76 – CULAO – No rez-do-chão, a cozinha muito negra, e a porta de grade que lhe dá acesso para a Avenida muito suja de fuligem. Nos andares superiores, os pavimentos muito sujos e as paredes muito escarradas; escarradores em abundância, aos grupos mesmo, mas todos por debaixo das mesas. No telhado, retretes (celhas) com as feses a transbordar – Recomendei as retretes de caixa, limpas diariamente; os escarradores mais espalhados e acessíveis; os soalhos lavados frequentemente; as paredes caiadas e com mais frequência a da cosinha, e sempre limpa e pintada a porta desta para a Avenida.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO – Encontrei em sofrível estado de asseio os prémios números 80, 84, 86, 88, 90, 92 e 94.
C) – VIA PÚBLICA
Continuam a ser lançadas a urina e as matérias fecais para os sifões das sargetas de algumas ruas. A Travessa do Abreu, a Rua Nova (Bazarinho), a Calçada da Feitoria, para não citar outras todas as manhãs atestam o que afirmo. Está num estado imundo o pateo do n.º85 (antiga numeração) da Rua das Pontes e dejecta para a via pública um cano com despejos entúpido, que desce do 1.º andar do prédio n.º 24 da Rua da Senhora do Amparo.
Continuam as ruas a ser varridas a sêco, com os graves inconvenientes para a saúde pública.
Pelas 13 1/2 horas dos dias sêcos e ventosos começam as nuvens de poeira a ser levantadas em frente dêste Pôsto Médico, como que a demonstrarem-lhe como é inútil insistir mais sôbre êste ponto de higiene pública.
(1) Nesse ano, o Dr. António do Nascimento LeitãoHomem de cem ofícios» como lhe chamou o Padre Teixeira ), capitão médico colocado no Quadro Sanitário de Macau (desde 1920; seria nomeado major médico em Abril de 1923) era director do Laboratório de Radiologia (nomeado em Janeiro de 1922), director do Laboratório Bacteriológico (funções que desempenhava gratuitamente desde 1922 e era director desde 1912, com interrupções devidas a comissão em Timor). Como responsável do Posto Médico: dava consultas diárias, vacinações, socorros urgentes de dia e noite no Porto ou a domicílio; verificava óbitos na cidade e subúrbios, no mar, no Asilo de Santa Infância e no Hospital chinês; fazia inspecções sanitárias, serviços de estatística e administração, desinfecções e elaboração de relatórios; efectuava serviço clínico do Asilo de Sta Infância, Casa de Beneficência e cadeia civil; exercia sanidade marítima (inspecções de doentes a bordo, verificação de óbitos ocorridos em viagens, pratica as medidas a tomar  no caso de doença infeciosa, etc). Era professor da Escola de enfermagem.
António do Nascimento Leitão, nascido a 27-04-1879 (Aveiro – Portugal) tirou o curso na Escola Médico-Cirúrgica do Porto com 18 valores. Incorporado em 1899, promovido a facultativo de 3.ª classe (alferes) em 1907 ficando alferes graduado do Depósito de Praças do Ultramar nesse ano. Chega a Macau em 8 de Julho de 1907, como facultativo de 3.ª classe do Quadro de Saúde de Macau e Timor. Fez parte das operações militares do ano de 1910 contra os piratas na Ilha de Coloane (serviu de hospital de sangue a lancha-canhoneira Macau, dirigido  pelo Dr. César Augusto de Andrade, coadjuvado pelo Dr. Nascimento Leitão) Prestou serviço em Timor em 1911 e  1923.
Exerceu as funções de subdirector dos Serviços de Saúde em 1924 e 1926.Tenente coronel Médico em 1926.
Foi professor do Liceu de Macau das disciplinas doa  7.º grupo em 1908 – 1913 e das disciplinas do 6.º grupo de 1917 a 1920.
Além das suas múltiplas actividades exercia também  “Clínica médica e cirúrgica”  privada como comprova este anúncio de 1922.
ANÚNCIO de 1922 - CONSULTÓRIO DE ANTÕNIO N. LEITÃOAnúncio do consultório do  Dr. António Nascimento Leitão, em 1922, na Rua do Padre António 10 – Telefone n.º 6.
Intitulava-se “Com prática nas clínicas e laboratórios da Faculdade de Medicina de Paris (seguiu durante o 2.º semestre do ano escolar 1913-1914, um curso prático de medicina operatória sobre o tubo digestivo e seus anexos no Hospital «Saint Antoine », em Paris), médico radiologista ( seguiu assiduamente as conferências de radiologia, assistiu regularmente aos exames radiográficos e tomou parte activa nos exercícios práticos da radiografia no Hospital «Saint Antoine», assim como radioterapia), e subdelegado de saúde e guarda mor  de saúde (substituto de Lisboa em 1916 até regressar a Macau em 6 de Junho de 1917), etc.
As “especialidades” cirúrgicas e radiológicas foram “tiradas” nos quatro meses de licença que lhe foi autorizado em Janeiro de 1914 para ser gozadas em Paris e depois prolongada na situação de licença ilimitada até 31-12-1916.
O horário das consultas: da 1 (13H00) às 2 (14H00) e das 4 (16H00) às 5.30 (17H30).
O Padre Manuel Teixeira (em 1976) elogia este médico ” Foi o Dr. Leitão, neste 400 anos, o único que teve gesto tão simpático“, por ter enviado ao Governador Comandante Albano Rodrigues de Oliveira que foi seu aluno em Macau, a quantia de vinte mil patacas, para ser distribuída pela Casa de Beneficência (Asilo da Santa Infância e Asilo de S. Francisco Xavier), Hospital «Kiang Wu», Leprosaria Ká-Hó, Coloane (para beneficiação das instalações) Liceu Nacional de Macau (prémio para o melhor aluno anualmente), Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (prémio para o melhor aluno anualmente), Seminário S. José (melhor aluno anualmente), Hospital Central Conde De S. Januário (melhor aluno de enfermagem anualmente)
Anteriores referências ao Dr. António de Nascimento Leitão.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-de-nascimento-leitao/
TEIXEIRA, P. Manuel – A Medicina em Macau. Vol IV: Os Médicos em Macau no Séc.XX, 1976.

A fim de realizarem um Espectáculo de Variedades no Teatro Cheng Peng, (1) estiveram em Macau, no dia 29 de Novembro de 1953, o conhecido cantor, director de orquestra, compositor Xavier  Cugat (2) e os seus famosos artistas.
Não se limitaram à realização do espectáculo, acompanhados dos organizadores do Espectáculo de Variedades e dum grupo de funcionários da Secção de Propaganda e Turismo, Xavier Cugat e esposa Abbe Lane (3) e os seus artistas passaram a manhã inteira a visitar a cidade. Percorreram-na, visitando os monumentos e lugares históricos, entraram no Asilo da Santa Infância, e apresentaram cumprimentos ao Governador.

MBI I-9 15DEZ53 Xavier Cugat em MacauO Governador, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, esposa, Xavier Cugat ( com o seu Chiwawa – imagem de marca) e a esposa (cantora) Abbe Lane

Por fim Xavier Cugat declarou: «E eu, que temia aqui vir encontrar gangsters de revolver em punho, covis de piratas e promiscuidade, afinal fiquei sabendo que Macau é das cidades mais lindas, atraentes e hospitaleiras de quantas tenho visitado. O passei irrepreensível das ruas, o sossego que aqui se verifica e a beleza inconfundível dos seu lugares pitoresco só nos levam a não perdoarmos a nós mesmos se não tivéssemos querido vir até Macau»
Abbe Lane remataria «Eis o lugar onde, com o maior prazer, eu passaria uma semana inteira»
O espectáculo foi presenciado por cerca de duas mil pessoas (incluindo o Governador, esposa e as duas filhas) que encheram o Teatro «Cheng Peng». (4)

Retirado do «Mundo Gráfico»de 1948

(1) Segundo testemunho de Rigoberto Rosário Jr (publicado na «Revista Macau» Junho 1998), o espectáculo em Macau deveu-se ao empresário macaense, Alberto Dias Ferreira (por alcunha “Ministro”), que viria mais tarde a fundar um grande grupo empresarial “Aldifera Grupo Empresarial“, com ligações aos meios, comercial (” Agência Comercial Aldifera“), industrial (“Aldifera Têxteis, Limitada“, uma unidade inovadora, na altura, pela tecnologia moderna aplicada) e financeiro (“Aldifera, Casa de Câmbios, Limtada”). Membro de muitas associações de carácter cívico e desportivo (creio que está ligado ao início -1953 – e depois foi seu presidente, da Associação de Futebol em Miniatura de Macau, vulgo bolinha). Foi deputado à Assembleia Legislativa, curador da Fundação Macau e  nomeado Comendador.
Xavier Cugat(2) Francesc d’Asís Xavier Cugat Mingall de Bru i Deulofe (1900 — 1990), natural da Catalunha (aos 3 anos a sua família mudou-se para Havana – Cuba), cantor, compositor, actor, director de orquestra, argumentista, foi um dos pioneiros na popularização da música latina nos Estados Unidos (rumbas, mambos, tangos, congas, cha-cha-chas, boleros, sambas). Nos anos 30 e 40, ele foi apelidado de O Rei da Rumba devido à popularização dessa dança.
Violinista da Orquestra do Teatro Nacional de Havana, em 1915, emigrou com a sua família para Los Angeles – E. U.A. Aí trabalhou como cartoonista  no jornal Los Angeles Times durante o dia e como maestro de noite. Formou a sua própria orquestra em 1928 e começou a sua popularidade tanto tocando em hóteis e espectáculos como de na venda dos discos (5) e aparição em filmes.
Foi casado/divorciado 5 vezes sendo a penúltima mulher Abbi Lane (1952 a 1963) a mais afamada . A última foi a cantora espanhola Charo (1966 a 1978).
Após sofrer um derrame em 1971, Xavier aposentou-se e morreu Barcelona em 1990.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Xavier_Cugat
Abbe Lane(3) Abbe Lane (1932-) cantora e actriz americana. Começou a cantar na rádio e  nos clubes nocturnos mas só começou a ter êxito quando casou com Xavier Cugat em 1952 (divórcio em 1964). Em 1963 foi considerada “the swingingest sexpot in show business.”. Após o divórcio apostou numa carreria em musicais da Broadway.
https://en.wikipedia.org/wiki/Abbe_Lane
http://www.imdb.com/name/nm0485219/
(4) Informações recolhidas de “Macau B. I., 1953″.
(5) Dos discos gravados para as várias editoras que passou desde 1940 até à década de 60, a canção “Perfídia” foi a que teve maior êxito embora outras também tiveram entre elas: “El Cumbanchero“, “Jungle Drums“, “Brazil”, “Miami Beach Rhumba”.
Na net circula alguns desses êxitos bem como dos filmes em que participou. como por exemplo:
“Xavier Cugat Siboney” – https://www.youtube.com/watch?v=1zraRqOr1Do
“Xavier Cugat Maria Elena” –  https://www.youtube.com/watch?v=C2XZVLP_K3g
“Xavier Cugat – Cherry Pink & Apple Blossom White” –
https://www.youtube.com/watch?v=EhuNqGhQBGM
Xavier Cugat e a sua orquestra interpretando “bim bam bum” do compositor porto riquenho Noro Morales e cantada por Lina Romay –
https://www.youtube.com/watch?v=gT04xzKCDus
Xavier Cugat e a sua orquestra interpretando “Tea for two Cha Cha Cha”, em 1961 –
https://www.youtube.com/watch?v=jbo_0R8mpbU
“Xavier Cugat Special – Latin-flavoured Cocktails and Light Swing” –
https://www.youtube.com/watch?v=EQ_wDvQX5JA
“Abbe Lane – Me lo dijo Adela – Susana y yo” – (1957) –
https://www.youtube.com/watch?v=5JdZW_LpUEY
“Xavier Cugat , El Negro Zumbon” com Abbe Lane –
https://www.youtube.com/watch?v=-kr5WYEnU9E
“La malagueña / Orq. Xavier Cugat”. Canta Abbe Lane –
https://www.youtube.com/watch?v=5JdZW_LpUEY&list=RD5JdZW_LpUEY#t=1
Xavier Cugat e Abbe Lane no filme “Donatella” (1956) –
https://www.youtube.com/watch?v=X8gYH3b9Cpk
“Abbe Lane & Orq Xavier Cugat – Eso es el amor” –
https://www.youtube.com/watch?v=Lfff9T3vFUU
NOTA: Xavier Cugat tem um disco gravado, instrumental, de “April in Portugal” (original: “Coimbra”) de 1957.

Poema de Maria Anna Acciaioli Tamagnini, feito a favor do Asilo de Santa Infância em 1 de Abril de 1929.

Quebra o silêncio da noite
A sineta do convento
Dlão … Dlão…
Como é triste o seu lamento!
Ouvem-se tímidos passos
E o ranger soturno e lento

De um portão
…………………………………………….
Com um filhinho nos braços
Implora a voz da desgraça …
Responde-lhe uma opção:
«Ave Maria cheia de Graça».

Em míseros farrapos embrulhada
A criança, a arder em febre, debilmente,
Põe-se a chorar …
Pálida e calma, a dor já costumada,
A irmã porteira embala-a, docemente,
Para a calar.

Range de novo a porta do convento
E a mãe, surge, a tremer, na noite escura,
Hirta de espanto …
Tem medo de si mesma, o sofrimento
Embrureceu-lhe o olhar; a desventura
Secou-lhe o pranto.

Corpo sem alma! Mulher inconsciente!
Que razão poderosa te levou
A abandonar
O filho pequenino, o inocente
Que em teu seio dorido se gerou
Para te amar? …

E o meu olhar fitou na noite escura
Uns olhos quietos, vgos, sem expressão,
Olhar de alguém.
Que deixou de sentir, porque a amargura
Lhe esmagara no peito o coração!
Ó pobre Mãe,

Não olhes para mim tão desvairada!
Eu adivinho a dor que te consome
E a razão forte …
Eu vejo-a, na tua face macerada:
Abandonaste-o para evitar-lhe a fome,
Talvez, a morte

Um suspiro de mágoa ouve-se ainda.
E ela lá vai gemendo o seu tormento,
Triste destino!
……………………………………………………..
Nos céus surgiu a lua branca e linda
A iluminar a rua; e no convento
O pequenino,

Deitado num bercito de madeira,
A custo abre os olhitos, magoados,
Fitando a luz.
Sorri-lhe ternamente a enfermeira
E enchendo-o de carinhos e cuidados
Reza a Jesus.

E quase todas as noites
Se ouve a sineta tocar,
Dlão… Dlão …
E há corações a velar
No velho e pobre convento,
Que abnegação!

São as mães do sentimento,
Que, pelo divino amor,
Dão fé a quem a não tem
E aconchego aos pobrezinhos,
Aos pequeninos sem mãe!

1 de Abril de 1929
Maria Anna Acciaioli Tamagnini (1)

NOTA: Além do Hospital dos Pobres e dos Lázaros, a Santa Casa tinha, quase desde os seus primórdios, a Casa dos Expostos, ou a Roda, vulgarmente se lhe chamava, a fim de recolher os enjeitados, geralmente filhos de chinesas e escravas. A Santa Casa cuidava deles através de uma regente e de amas, para cuja escolha existiam exigências rigorosas. A taxa de mortalidade entre estas crianças abandonadas era muito elevada e, mais do que salvar-lhes a vida, a Misericórdia procurava salvar-lhes a alma através do baptismo. José Caetano Soares, Macau e a Assistência: Panorama médico-social, p. 342.

O Governador José Maria da Ponte e Horta, pela Portaria de 1867, proibiu a Roda, em Macau, mas sem resultados práticos. E só em 1867 foi abolida quando a Santa Casa confiou os Expostos às Filhas de Caridade Canossianas, que tomaram conta deles, a princípio no próprio edifício dos Expostos e, mais tarde, no Asilo da Santa Infância, em Santo António.Pe. Manuel Teixeira, Bispos, Missionários, Igrejas e Escolas: no IV Centenário da Diocese de Macau, (Macau e a sua Diocese, Vol. 12), p. 2

O asilo da Santa Casa da Misericórdia apenas recebe e sustenta 30 a 40 órfãos e somente lhes ministra instrução primária e instrução comercial, mandando-os à escola pública e onde aquelas disciplinas se ensinam. Mas isto não basta, porque o número dos órfãos em Macau vai muitíssimo além daquele, e nem todos se dedicam ao comércio. Se para o sexo feminino se têm adoptado acertadíssimas providências pela creação e manutenção do Asilo de Santa Infância, e da Casa de Beneficência e do Colégio de Perseverança; para os órfãos do sexo masculino, tudo o que se tem até hoje feito se reduz ao Asilo da Santa Infância que os não pode agasalhar além dos 8 ou 10 anos e ao Asilo da Santa Casa da Misericórdia cuja acção benéfica não sae dos acanhados limites que deixo indicados e cuja organização deixa a desejar.
Carta de João Paulino de Azevedo e Castro de Singapura 29 de Julho de 1904
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP126/PP126132.HTM

(1) TAMAGNINI, Maria Anna Acciaioli – LIN TCHI FÁ – Flor de Lótus. Editorial Tágide, Lta. 2006, 99 pp. + |Glossário|, 21 cm x 15 cm. ISBN 989-95179-0-9.