Tam Pek Lei, proprietário da firma Kong Vo (1) (firma que estava situada na Rua de S. Domingos num dos edifícios de traça ocidental de três pisos à frente da actual Livraria Portuguesa), alugou o cargueiro japonês «Tatsu Maru n.º 2» que partiu da cidade de Kobe em 26 de Janeiro para introduzir clandestinamente na China, aos alegados revolucionários , 2000 espingardas e 40 000 balas de Empresa Tatsuma. Na tarde do dia 5 de Fevereiro o vapor japonês foi abordado por um navio patrulha da marinha de Amoy (Guangdong) ao largo da Ilha de Coloane e a carga ilegal detectada originou um sério incidente diplomático entre a China, o Japão e Portugal.

A população chinesa de Macau e Hong Kong e comunidade chinesa em diversas cidades asiáticas manifestaram publicamente a sua indignação contra as acções subversivas dos japoneses conduzindo a manifestações e ao boicote de produtos japoneses durante sete meses.

O navio foi rebocado para Cantão (Guangzhou) alegando o governo imperial chinês que as águas de Coloane não constituíam parte do território de Macau.

Sequência relacionada com o Incidente “ Tatsu Maru” que durou entre Março e Outubro de 1908

5 de Fevereiro – Aprisionamento do navio “Tatsu Maru” pela armada chinesa.

13 -15 de Março  – Japão impõe cinco exigências à China Imperial incluindo a libertação do navio, pedido de desculpas e uma indeminização.

17 de Março> – Mercadores em Cantão (Guangzhou )começam um boicote aos produtos chineses.

19 de Março  – Protestos da população na província de Cantão (Guangdong). O boicote aos produtos chineses estende-se por toda a China.

 21 a 22 de Março  – Devido à pressão do Japão, o governo imperial chinês ordena o fim do boicote.

5 de Abril  – As mulheres em Cantão (Guangzhou) organizam um marcha memorial de vergonha por este incidente.

(1) No rescaldo deste incidente, o negócio de Kong Vo sofreu imenso e nem o facto de mudar de nome salvou a empresa.

Tam Pek Lei não teve outro remédio senão abandonar Macau e reiniciar a sua vida em Honolulu e outros países do sudeste asiático. As instalações seriam adquiridos por um respeitável comerciante chinês de Macau, Ho Lin Vong e transformadas numa casa de ópio e jogo, sob a designação de Companhia Chap Chi. (As Ruas Antigas de Macau, IACM, 2016, p. 17)

NOTA 1: sobre este incidente, vale a pena ouvir João Guedes in Falar de Memória (127) “O Tatsu Maru e a Questão de Macau” em: http://port.tdm.com.mo/c_radio/play_audio.php?ref=9943

NOTA 2: interessante trabalho académico deste incidente, do ponto de vista japonês https://digitalrepository.trincoll.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1041&context=moore