Archives for posts with tag: António Couto Viana

POSTAL – MACAU – Treaty Table (1)
Foto: 譚永強 Tam Weng Keong (2)

À mesa onde, em Julho de 1844, foi assinado o tratado comercial sino-americano (3)

Verso do postal, com legenda (5 línguas)

(1) Coleccão Macau – LH105; 17,5 cm x 12,5 cm. Anteriores referências a esta mesa em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tratado-de-wanghia/

(2) 譚永強   – mandarim pīnyīn: tán yǒng qiáng; cantonense jyutping: taam4 wing5 koeng4

 (3) Macau, suplemento da revista «Via Latina», Maio 1991, p. 60

António Manuel Couto Viana, 17.07.1986 (1)

(1) In «Macau», suplemento da revista «Via Latina», Maio 1991, p. 60

Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/

CAPA

13 de Junho de 1888, data de nascimento do poeta e escritor Fernando Pessoa. Para recordá-lo nada melhor do que a leitura do livro de poesia “MENSAGEM”, traduzido para chinês por Jin Guo Ping, (1) edição do Instituto Cultural de Macau, “Em homenagem do 50º aniversário da morte de Fernando Pessoa e aos meus amigos que ficaram e que choraram quando eu parti.

Introdução “Elóquio” de António Manuel Couto Viana

Um dos mais conhecidos poemas do poeta:

(1) PESSOA, Fernando Pessoa – Mensagem. Tradução de Jin Guo Ping. Instituto Cultural de Macau, 1986, 133 p.

A Jau

Sou a tua presença, aos pés, calada, quieta,
Ò jau, com quem me identifico tanto,
Nesta gruta onde estou e escuto o canto
Das cigarras que é, hoje, a voz do teu poeta.
António sou (tenho o teu nome)
E escravo, também, da poesia.
Para ela é que estendo, em cada dia,
A mão à minha fome.

António Manuel Couto Viana (10.6.86) (1)

Camões e Jau (2)
Theobald Reinhold Freiherr von Oer, c. 1850

NOTA: O escravo indonésio natural da ilha de Java (Jau) a quem foi dado o nome cristão de António ficou conhecido em Portugal como o criado de Camões tendo acompanhado o poeta desde a Índia.
Terá assistido à morte de Camões na Calçada de Santana, juntamente com a mãe do poeta. Desconhece-se o destino do Jau após a morte do poeta. A sua existência é  referenciado por Pedro de Mariz (c 1550 – 1615; bibliotecário, historiado e escritor)

.. viveu em tanta pobreza, que se não tivera um jau,
chamado António, que da Índia trouxe, que de noite pedia
esmola para o ajudar a sustentar, não pudera aturar a vida.
Como se viu, tanto que o jau morreu, não durará ele muitos
meses.
Pedro de Mariz

Lembro aqui a propósito de Jau, outro poeta, Eugénio de Andrade: Lamento de Luís de Camões na morte de António, seu escravo”

Marginal
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
– eu vi terra limpa no teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.

(1) In Macau – p.59 Suplemento da Revista Latina, Maio de 1991.
Anteriores referências deste poeta em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/
(2) Ver outro quadro de Camões com o escravo Jau em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/04/macau-e-a-gruta-de-camoes-xxxi-francisco-augusto-metrass/

Pequeno livro de poesia que o autor, António Manuel Couto Viana dedicou “ À Macau portuguesa, por mim fecundamente amada, na hora trágica do nunca mais” – ORIENTAIS  poemas – (1) contendo 10 poemas.

POSTAL (15cm x 10,5 cm)
Fachada do Templo de A-Ma (2)
A-Ma Temple Façade
媽閣廟正面

Transcrevo o poema (n.º 7) dedicado à “Á-Má”

Levei laranjas a Á-Má.
Queimei-lhe panchões no ar,
Pivetes no altar … Sei lá
O que fiz pra lhe agradar!
 
Cansei de bater cabeça,
Cansei de estar de joelhos,
Colar em quanto apareça
Montões de papéis vermelhos.
 
Nada, nada a persuade
(Ah!, deusa má, deusa crua!)
A livrar-me de saudade
Dessa cidade que é sua.
(18-08-1999)

Notas do próprio autor: 7 – Á-Má é, segundo a lenda, a deusa fundadora de Macau, legando-lhe o nome. Possui um antigo templo junto ao porto interior, onde recebe as oferendas dos crentes.
Panchão é fogo de artifício que sempre comemora qualquer evento feliz chinês.
Pivete é uma substância aromática que se queima em louvor dos santos.
Papéis vermelhos com letras douradas são provas de oração e veneração à divindade.

Contracapa

Aquela morte naquele dia
(…)
Cinco séculos quase a existir Portugal,
Macau, em sangue e lágrimas, desfalece e comove,
Mão assassina assina, na pedra sepulcral,
Um nome ateu, traidor, sobre a data final:
Aos vinte de Dezembro, Ano 99!

António Manuel Couto Viana
Não há Outro mais Leal” (1991) 

(1) VIANA, António Manuel Couto – Orientais poemas. Universitária Editora, 1999, 25 p. ISBN: 972-700-227-7; 21 cm x 15 cm.
(2) Colecção de 7 postais dedicados ao “Templo de Á-Má”, edição da Direcção dos Serviços de Turismo de Macau (Lito: Imprensa Nacional de Macau). Sem indicação de autor e data.
媽閣廟正面 – mandarim pīnyīn:  mā gé miào zhēng miàn; cantonense jyutping: maa1 gok3 miu6 zeng3 min6
Ver anteriores referências a este poeta em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/

Mergulho-me na vida, na voz deste bazar,
Com lojas, tendas, vendedores de rua:
É um rio de rumor e cor, tentacular,
Que flui, reflui e, de repente, estua.
 
Afoga-me o fascínio da faiança, do jade,
Dos electrônicos subtis, sofisticados,
Dos adivinhos da felicidade
Com óculos severos de letrados.
 
Aqui, na margem de um afluente,
Junto de velhos móveis, de ferragens, de moedas,
De um deus irado, de outro sorridente,
Ambos sujos de pó, nuns farrapos de sedas.
 
De um disco fatigado de rock, da legenda
Que eu não decifro, com provérbios chins,
Senta-se atento à mão que, ávida, se estenda,
homem dos tintins.
 
(Viu ele um português, pertinaz e sem pressa,
De olhar estranho, magro, a longa barba preta,
Descobrir, entre o inútil, o valor de uma peça,
Com ciência de sábio e arte de poeta?)
 
Além, fumega e aromatiza o gosto
A tenda dos petiscos. Tentação!
Como tudo apetece, quando exposto!
Mas, comê-lo… Não sei se sim se não.

Mais além, Hong-Kong, no templo do Bazar,
Um bom mercado ao mercador promete
Se ele, submisso, lhe vem pôr no altar
A tangerina, a flor, e lhe acende um pivete.
 
Entro no Loc-Koc, “casa de tomar chá”.
No alvor das madrugadas,
É uma gaiola imensa, durante o iam-chá
Sorvido entre gorgeios e asas excitadas.
 
Lá fora, o riquexó, hoje triciclo, rasa
A multidão: persegue uma nesga de espaço,
Levando a rapariga a caminho de casa,
Com os sacos das compras no regaço.

E, ao ritmo da rua e da emoção,
Os meus olhos descobrem, deslumbrados,
Navegando ao pulsar do coração,
Um navio vermelho de caracteres doirados!
                       António Manuel Couto Viana (1) 

Retirado de: http://www.jornaldepoesia.jor.br/couto03.html
(1) Sobre este poeta, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/

POSTAL MACAU LH120 -Vista nocturna LEAL SENADOPOSTAL MACAU 澳門 – LH 120 市政廳夜色 Leal Senado by night
Uma vista nocturna de Leal Senado
Leal Senado vu de nuit
 

                        NO LEAL SENADO    

Foi construído para a eternidade:
A clareza da face, a rigidez da forma.
Segurança da norma
Da cidade.
 
Gravou-lhe El-Rei de Portugal
A mais alta legenda
(Nunca a dê, nunca a perca, nunca a venda!):
Outro não houve mais leal.

                                                           Insígnia na Revista Casa & Jardim LEAL SENADO

 Dois anjos de joelhos (devida condição!),
Sustentam-lhe o escudo e a coroa.
Na escadaria, a Virgem abre o manto, abençoa:
Misericordioso abrigo e salvação.
 
A energia do não e o rigor do sim
Sejam a voz de quem lá mora,
Num reflectir atento, ponderado,
Ante a exigência do mandarim,
A anteceder de sempre e não de outrora
nome de Leal Senado.

António Manuel Couto Viana (1)

(1) Anteriores referências a este autor em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/

Poesia de Bocage dedicada D. Maria de Guadalupe Topede Ulhoa Garfim,(1) que viveu em Macau em fins do século XVIII. Era de tão rara beleza e de tão ilustre linhagem que Bocage que chegou a Macau em 1789, lhe dedicou uma longa poesia de que reproduzimos os seguintes versos (2)

«Aqui meus hinos a verdade entoa,
Aqui sobre mil flores
Aos atractivos da preclara Ulhoa
Forjo eternos louvores
………………………………………………………………..
Óptimo fruto de alterosa planta,
Vénus só na beleza,
Semi-deusa gentil, que enches de tanta
Vanglória a Natureza,

Menos brilhantes do que as graças tuas
Dançam entre os Amores
Lá nos cíprios jardins as graças nuas,
Calcando as tenras flores.

Não era, ó Ninfa, como tu formosa
A bela desgraçada
Que o lácteo seio penetrou saudosa
Com a troiana espada.

Se de Frígia te visse o pastor loiro,
Que às divinas porfias
Pôs termo, ou teu seria o pomo de oiro,
Ou seu prémio serias.

De teus esclarecidos ascendentes
A veneranda história
Impressa vive, em Lâminas pendentes
Das aras memória.

O fresco Tejo, o fresco Mançanares
Lá noutra idade os viram
Obrar altas proezas singulares,
E por eles suspiram.

Que direi da tua alma! Inda é mais bela
Que teu belo semblante;
Angélicas virtudes formam dela
O retrato brilhante.

Mas teus celestes dons serão manchados
Com meu tosco elogio;
Com versos, que talvez sejam lançados
No sonolento rio!
……………………………………………………………….
Novo Atlante, o sidério firmamento
Quero manter nos ombros,
Se da tua alma debuxar intento
As graças e os assombros!.

(1) D. Maria de Guadalupe Topete de Ulhoa Garfim, provavelmente de ascendência castelhana, quer pelos apelidos, quer pelas referências ao pequeno rio Mançanares, que banha Madrid, unido ao “aprazível Tejo”, em cuja “ruiva margem” o poeta tem o seu “tugúrio pobre”.
VIANA, António M. Couto – Bocage no Extremo Oriente in RC – Revista de Cultura, n.º  37,  1998
(2) Retirado de TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau, D.S.E.C., 1982.

Bolo Bate Pau Wing WahHoje inicia o Festival da Lua (中秋節) (1) – a festa do Bolo Lunar Bate-Pau – 15.º dia do 8.º mês lunar do calendário chinês que coincide com o equinócio de Outono do calendário solar. A lua está cheia, mais redonda e mais brilhante/luminosa, em seu maior esplendor, para comemorar a colheita do verão. A harmonia dos elementos do yang e yin deste dia começa a alterar-se para o predomínio do yin. (2)

Na Lua do “Bate-Pau”
Quanta Lua tem Macau!

Palpita, volita, presa
Em cada lanterna acesa

Que a ponta de um pau balança
Na inquieta mão da criança

E na praia de Hac-Sá
Olha as Luas que ali há!

Mãos-cheias de Lua-cheia
Giram e jogam na areia

Toda a face iluminada
Faz-se Lua enluarada!

E o céu do Meio-Outono
Envolve num véu de sono

A sua Lua, por ver
Luas mais lindas a arder

António Manuel Couto Viana (3)
Até ao Longínquo China Navegou, 1991

NOTA: a foto é de um bolo “ bate-pau”, comprado no “Hong Kong Wing Wah Cake Shop Limited” (“founded in 1950, the Hong Kong Yuen Long Wing Wah Mooncake is marked leader in Hong Kong, overseas and Mainland market”)

(1) 中秋節; mandarim pinyin: zhòng qiu jiè; cantonense jyutping: zung1 cau1 zit3.
(2) Aproveitar para reler a crónica de Leonel Barros, publicado no Jornal Tribuna de Macau de 13 de Setembro de 2008.
http://arquivo.jtm.com.mo/view.asp?dT=292402001
(3) Sobre este poeta, ver referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/ .

António Patrício, escritor e diplomata, faleceu em Macau, a 4 de Junho de 1930.(1)

Não teve tempo de escrever a poesia
Que poderia começar: Em Macau, um Estio…
Estava aqui havia um dia.
Era-lhe tudo, ainda, uma mancha, um vazio.

Talvez quisesse ver, sentir, mais do que a mancha
(Em seda baça, ténues tons esquivos),
Porém, o coração, em Santa Sancha,
Fechou-lhe, pra Macau, os olhos sensitivos.

Cantor do mar e da morte
Que os seus versos souberam envolver, respirar,
Teve a suprema sorte
De achar a morte frente ao mar.

António Manuel Couto Viana (2)

(1) Sobre António Patrício, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/06/04/noticia-de-4-de-junho-de-1930-falecimento-de-antonio-patricio/
(2) Retirado do blogue:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/couto08.html
Referências anteriores do poeta António M. Couto Viana em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/