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Um poema de António Correia publicado no jornal “Hoje Macau” de 2011 (1)

Porque chove em Ou-Mun 

Instantâneo
Sustenido da brisa na fímbria da chuva
como um rumor de tempo de naufrágios
e a nostalgia vem com uma luva
afagar meu rosto e cobrar os ágios
da ternura

É a hora
em que o passado insiste
em lembrar que passou
a juventude a fé de futuro
e que agora
só validamente existe
a memória da ventura

António Correia
Macau, 8.11.2011

(1) Entrevista de António Correia a Helder Fernando no “Hoje Macau”, de 11 de Novembro de 2011
http://hojemacau.com.mo/?p=23699

ANÚNCIO - BANCO DO ORIENTE IEste anúncio do Banco foi publicado no suplemento dedicado a Macau, do Diário de Notícias, de 1980

O Banco do Oriente iniciou actividades no ano de 1980. O Banco Totta & Açores era o accionista maioritário e detentor da gestão do Banco do Oriente cuja sede era no rés-do-chão do edifício do Hotel Sintra, na Avenida da Amizade Tinha sete dependências (as primeiras foram no Hotel Lisboa e na Ribeira do Patane)
O Banco do Oriente entrou em situação de falência técnica /prejuízos causados por crédito malparado, em final 1984.
Houve corridas aos seus balcões (depois das falências do Banco do Pacífico, do Overseas Trust Bank, do Deak & Company e do Bank of Credit and Commerce International) que foram sustidas com a injecção de fundos disponibilizados pelo BNU em colaboração com o Instituto Emissor e o Governo do território.(1)

ANÚNCIO - BANCO DO ORIENTE IIO pequeno banco estava tecnicamente falido essencialmente por causa da sua intervenção imprudente com financiamentos temerários e consequente controle de gestão de algumas fábricas de vestuário copiando modelos que a banca nacionalizada de algum modo experimentou na metrópole por essa época” (2)

Com Portaria n.º 91/88/M de 23 de Maio (BO n.º 21/1988), termina o Banco Oriente, S.A.R.L., com sede em Macau, cindindo o seu património em duas partes e a fusão de cada uma delas com a sucursal local do Banco Totta & Açores e com o Banco Comercial de Macau.

(1) Informações recolhidas duma entrevista a Abílio do Nascimento Dengucho (director do Banco Nacional Ultramarino – Macau,  de 1977 a 1995) publicado no JTM: http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=331501001
(2) Entrevista de António Correia ao JTM:
http://www.jtm.com.mo/view.asp?dT=338001001

 

Dois poemas com referências a Agosto, de dois poetas que estiveram em Macau.

SEREIA

Emerges das águas em manhã de Agosto,

Com sombras acordadas para o dia.

O horizonte fica no abraço que alumia

A cor de fogo pintada no teu rosto

António Correia (1)

O sol

nasce dos teus olhos

nas manhãs

de Agosto

como as primeiras flores

da primavera

lá colho o mel

que gosto

Alberto Estima de Oliveira (2)

(1) Sobre António Correia ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-correia/

(2) Alberto Estima de Oliveira (1934 – 2008) poeta. De profissão técnico de contas e profissional de seguros, viveu em Macau de 1982 a 2004. Retirado da revista “MACAU”, n.º 16, 1989, pp.32-33.

Homen do lodo II

Pedala c´o joelho sob o lodo
e a tábua lá vai como um navio
Indo a maré, vem logo o desafio
de procurar na lama o peixe todo!

Óssea silhueta, olhar em fogo,
chafurda o mais que pode, até que o rio,
devagarinho, venha e lhe amacie
o corpo já cansado, feito engodo.

Se a colheita é melhor, põe um pivete
a PAK TAI, o deus a quem promete
veneração em troca do pescado

E dia a dia. assim, a vida inteira,
ao vento, à chuva, ao frio, à soalheira,
ignorando a cidade ali ao lado!

António Correia (1) (2)

Homen do lodo I(1)   Sobre António Correia, ver anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-correia/
(2) CORREIA, António – Amagao, meu amor (sonetos). Edições MACAU HOJE, Lda. 1992, 121 p. 21,5 cm x 14,5 cm

Fotos da revista “Nan Van“, n.º 5, 1984.

Farol da Guia 1992

Português lampião no sul da China,
o primeiro entre os mais, Farol da Guia,
guia-nos na procela em cada dia,
co´a luz, que à noite tens diamantina.

Por nós reza e o futuro vaticina,
que já a treva desce, em nostalgia,
sobre nós, marinheiros d´ágonia,
a quem só tua luz bem ilumina.

O passado o presente continua!
Pois que venha o porvir também contigo,
mostrando altiva a face em cada lua.

Brilha e rebrilha ao céu e mar sem fim,
que a luz de Portugal, luzeiro amigo,
dá-se aqui, sem se impôr, a todo o chim.

António Correia (1) (2)

(1) António Correia nasceu na freguesia de Anreade, concelho de Resende em 1948. É licenciado em Direito e diplomado em Secretariado. Radicou-se em Macau em 1980, saiu em 1997. Poeta, contista e romancista com colaboração em jornais, revistas e na rádio em Macau. Foi Advogado, Notário Privado, Gestor de Empresas e Deputado. Foi membro do Conselho Superior da Advocacia, Conselho de Cultura e Conselho Consultivo do Governo de Macau.
Em Macau publicou os seguintes livros: Miscelânea, 1987; Conjugando o Verbo Amar, 1989; Folhas dispersas, 1989; Ngola, 1990; Amagao, meu amor, 1992; Deideia, 1992; Fragmentos, 1994 (1.ª edição), 1996 (2.ª edição) (3); Contos de Ou Mun, 1996
(2) CORREIA, António – Amagao, meu amor (sonetos). Edições MACAU HOJE, Lda. 1992, 121 p. 21,5 cm x 14,5 cm
(3) Sobre esta obra poética, ver análise de Michela Graziani “«Luz e Negrume» para uma reflexão no sentido da vida em António Correia” em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/11310.pdf