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A 27 de Outubro de 1903, em Vladivostok, nasce o pintor russo George Vitalievich Smirnoff que entre 1943 (emigrante, via Harbin, Tsingtao/Qingdao e Hong Kong) se radicou em Macau, (até 1945) onde, por encomenda do governo local, executou uma preciosa série de aguarelas sobre a cidade. Morre em 1947, em Hong Kong. Está sepultado no cemitério de Happy Valley 

1985 – O Museu Luís de Camões que reabriu em 1984 após um período de encerramento comemorou os seus 25 anos, com várias iniciativas. A propósito, a galeria do Leal Senado, local privilegiado de tantas exposições que ilustravam a paisagem cultural de Macau, abriu portas por mais uma, em que foi exibido o espólio do artista George Smirnoff tendo publicado catálogo. (1) As suas aguarelas, muitas feitas de memória, à noite, porque o dia era para lutar pela sobrevivência, são o testemunho da cidade em toda a sua poesia natural e recantos que o urbanismo levou para sempre.

George V. Smirnoff – Landscape by Moonlight, 1944

2003 – A obra de Smirnoff é de novo exposta, desta vez no Museu de Arte de Macau, já RAEM, e a ocasião é o centenário do seu nascimento, a 27 de Outubro, em Vladisvostok (Cfr. CONCEIÇÃO Jr, António – Paz em Tempo de Guerra. In RC Int Ed, 8 RAEM, October 2003, pp 140-153) (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 454)

CAPA DO CATÁLOGO

(1) Catálogo George Vitalievich Smirnoff – MACAU – ANOS 40. Edição do Leal Senado de Macau. Produzido pelo Museu Luís de Camões. Orientação da Exposição – António Conceição Júnior. Organização da Exposição: César Guillen-Nunez. Desenho Gráfico – Henry K. K. Ma. Imprimido em Junho de 1985 na Gráfica de Macau. (28 cm x 28cm x 0,5 cm)

FICHA TÉCNICA

Anteriores referências a este pintor em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/george-smirnoff/

Realizou-se em Macau, no Hospital Conde de S. Januário de 6 a 11 de Setembro de 1981, o “SYMPOSIUM ON TRANSCULTURAL PSYCHIATRY”, uma extensão asiática do “The VIII World Congress of Social Psychiatry”, com o alto patrocínio do Governador de Macau.
A Comissão Organizadora era constituída por médicos de Lisboa (A. G. Ferreira, H. Rodrigues da Silva, J. M. Machado Nunes e J. M. Caldas de Almeida) e uma Comissão Local formada por José da Paz Santos, Deolinda Martins e Jorge Alberto Hagedorn Rangel.
A Sessão de Abertura realizou-se no Domingo, dia 6 de Setembro, no Leal Senado às 18 horas.
As Sessões Plenárias, workshops, comunicações livres e Sessão de Encerramento realizaram-se no Hospital Conde de S. Januário.
As línguas oficiais do Simpósio foram o Português e o Inglês, com tradução simultânea na sala principal.

CAPA (21 cm x 15 cm) + CONTRACAPA

Um dos workshops «O MACAENSE E A SUA IDENTIDADE; A sua cultura subjectiva» realizou-se no Museu Luís de Camões , em três sessões, nos dias 8, 10 e 11., tendo como presidente da mesa Nuno Afonso Ribeiro. Intervieram, Charles R Boxer (GB), Carlos Estorninho (P), J. M. Machado Nunes (P), António Conceição Jr (P) , Maria Cecília Magalhães (P) e Silva Rego (P).
Os participantes e acompanhantes ficaram instalados nos Hotéis Lisboa, Sintra e Metrópole.
O jantar de encerramento foi no dia 11 pelas 20.00 a convite do Governador de Macau.
Foram oferecidas aos Congressistas pelo Secretário-Adjunto do Governo de Macau para o Turismo, Ensino e Cultura uma medalha do simpósio na forma de uma «sapeca», moeda chinesa que durante muito tempo circulou em Macau. O seu valor fiduciário é de 1/10 do avo e tem a particularidade de ter um orifício central de forma quadrada.
Os Correios de Macau emitiram um envelope e 6 selos comemorativos deste simpósio, com os seguintes valores: 15 avos, 40 avos, 50 avos, 60 avos, 1 pataca e 2,20 patacas. A autoria do desenho é de António Conceição Jr.

O tema proposto – Simpósio de Psiquiatria Transcultural – foi abordado pelo Artista segundo a perspectiva religiosa, marcante como símbolo de duas culturas. Tendo escolhido um formato vertical, aproveitou a escultura de uma divindade budista em «papier machée», que foi tratada em conotação com o fundo. Assim, à imagem serena do Arhat associa-se a sombra de uma cruz que se projecta sobre a parte central da escultura e que se completa pelo fundo.” (retirado do Programa)
No primeiro dia de emissão, 6 de Setembro, foi também oposto em toda a correspondência um carimbo comemorativo, tenho para isso funcionado um posto de correios no “hall” de entrada do Hospital Conde de S. Januário.
O Programa Social além das visitas aos locais de interesse turístico (incluindo o Museu «Luís de Camões») e às Instituições Assistenciais de Macau, os acompanhantes dos participantes tiveram um almoço “Iam Chá” oferecido pela esposa do Director dos Serviços de Saúde (dia 8), um passeio à região de Zhonshan (oferta do Banco do Oriente) (dia 9) e assistência às corridas de cavalos no Hipódromo da Ilha da Taipa (dia 10).
Durante os dias do simpósio, esteve uma exposição de artesanato de Macau no Hospital Conde de S. Januário, e outra, exposição colectiva de arte gráfica portuguesa contemporânea (organizada pela Galeria 111 de Lisboa), no «Museu Luís de Camões» onde estavam representados Bartolomeu Cid, René Bertholo, Carlos Botelho, Manuel Cargaleiro, Lourdes Castro, Costa Pinheiro, David de Almeida, Eduardo Luís, Victor Fortes, José de Guimarães, Maluda, Jorge Martins, Menez, Nadir Afonso, Eduardo Nery, Nikias, Palolo, Pomar e Vieira da Silva.

“Inauguração em Macau, no dia 18 de Abril de 1971, da «POP», primeira «Discoteca» instalada no Restaurante Esplanada. O novo local de concentração da juventude de Macau foi decorado por António Conceição Jr. macaense recentemente chegado de Portugal, onde cursou Pintura” (1)
Sobre a localização deste Restaurante, será talvez a Esplanada «Waltzing Matilda» na Avenida Infante D. Henrique 20-22 (em frente ao Hotel Lisboa) (está referenciada no Anuário de Macau de 1971 até Anuário de Macau 1973)
Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/restaurante-esplanada-waltzing-matilda/
(1) SILVA, Beatriz Basto da Silva – Cronologia de História de Macau, Vol. 5, 1998

No dia 10 de Abril de 1987, o “Correios e Telecomunicações de Macau” (1) lançou uma emissão extraordinária filatélica sob o tema

PATRIMÓNIO ARTÍSTICO – MUSEU LUÍS DE CAMÕES – CERÂMICA DE SHEK WAN

um  sobrescrito (16 cm x 11,5 cm) e quatro selos com o design da autoria de António da Conceição Jr.
Os selos representam cada um deles:
CHOI SAN – Deus da fortuna
YI – deus do sol
CHUNG KUEI – Caçados de demónios
WÁ Tó – o médico.
Todos os quatro selos com o valor de $ 2.20 patacas cada.

Uma série de 16 selos da Litografia Maia –Porto n.º série 23408

PATRIMÓNIO ARTÍSTICO – MUSEU LUÍS DE CAMÕES – CERÂMICA DE SHEK WAN
A cerâmica de Shek Wan tem uma longa história.
Situada a cerca 20 Km a Sudoeste da cidade de Cantão, Shek Wan é banhada por um afluente do rio das Pérolas.Com o rio pela frente e as montanhas por detrás, a população dedicou-se ao comércio e ao artesanato pela inexistência de terras de cultivo.
A cerâmica de Shek Wan remonta ao Neolítico chinês, e é feita com matéria – prima local misturada com barro de Dong Guan. O barro de Shek Wan é muito rico em óxidos de ferro, prestando-se a cozeduras a baixa temperatura.
A nível de escultura em barro, é de referir que o advogado Manuel da Silva Mendes foi o primeiro europeu a considerar os escultores de Shek Wan como artistas que ultrapassaram o estatuto de populares. Uma das características que Silva Mendes apontou, na sua conferência no Grémio Militar sobre a cerâmica de Shek Wan, era o detalhe delicado do barro em detrimento do vidrado das esculturas em porcelana.
Com efeito, as obras de Shek Wan caracterizam-se precisamente por, pelo menos nas áreas correspondentes à pele das figuras, o barro estar à vista sem qualquer cobertura vidrada. O vestuário, esse caracteriza-se por um vidrado colorido, sendo contudo a coloração pouco exuberante.
É importante referir que o Museu Luís de Camões possui da cerâmica de Shek Wan a melhor colecção do mundo. A tradição e a mitologia desempenham um papel determinante na escultura de Shek Wan.
Estamos confrontados com uma expressão que bebe directamente da longa História Chinesa e que é, no barro, a transcrição de uma estética global.

António Conceição Júnior
Conservador do Museu Luís de Camões (2)

Pajela n.º 26 (tiragem 7.500 ex.) do “Correios e Telecomunicações de Macau” com informações em português, chinês e inglês
Dados Técnicos

(1) Portaria n.º 34/87/M: Emite e põe em circulação selos postais alusivos ao Património Artístico do Museu Luís de Camões – Cerâmica de Shek Wan.
(2) António Conceição Jr foi conservador do Museu de 1978 – 1997.
Anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-conceicao-junior/
NOTA: O Museu Luís de Camões instalado na Casa do Jardim da Gruta de Camões, chamada “ Casa Garden.” (hoje sede da Fundação Oriente) desde 1937, tinha “bronzes, objectos de barro tumulares, barros vidrados de Seák-Ván (Shiwan, em Foshan, algumas peças de celadão, uma ou outra peça em esmalte, uns poucos exemplares de jade, havendo numerosas aguarelas chinesas, mais de uma dezena de retratos de mandarins a óleo, sendo, contudo, raríssimas as peças em porcelana” (segundo refere Luís Gonzaga Gomes), comprados pelo Museu aos herdeiros de Manuel da Silva Mendes
Anteriores referências ao Museu Luís de Camões em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/museu-luis-de-camoes/

No dia 10 de Abril de 1986, o Correio de Macau (CTT – Macau) lançou a emissão do sobrescrito de 1.º dia de circulação com o motivo. “O PASSADO ESTÁ PRESENTE”, do selo com o mesmo motivo de 2.20 patacas e do carimbo com a insígnia do Leal Senado.
O desenho é de António da Conceição.

O sobrescrito de de 1.º dia de circulação: formato -114 cmx 162 mm (C6)

Preço: 1.5 patacas
MACAU – O Passado está presente
Macau, território chinês sob administração portuguesa, está situado no estuário do rio das Pérolas ao Sul da China, e apesar duma área reduzida – cerca de 16 Km2 incluindo as ilhas de Taipa e Coloane –o seu passado data de há 400 anos.
Em 1685 os seus habitantes reuniram-se para tratar do bom governo da povoação, solicitando a sua elevação a cidade, o que veio a acontecer em 10 de Abril de 1586.
Pouco depois D. Duarte de Menezes, Vice-Rei da Índia, aprovou para a nova cidade a denominação de «Do Nome de Deus» outorgando-lhe os mesmos privilégios de Cochim, os mesmos da cidade de Évora, tendo o seu Senado ficado a ser constituído por três vereadores, dois juízes ordinários, e um procurador da cidade que era simultaneamente o representante da Câmara perante as autoridades Chinesas.
Era assim o Governo de Macau na época, aprovado pelo Imperador Van-Li (1573-1620), que concedeu o grau de Mandarim, ao procurador da cidade.
Ao longo dos séculos a «cidade» foi evoluindo tendo acompanhando o progresso e desenvolvimento da área geográfica em que se insere, e servindo de permanente ponte entre culturas diferentes mas complementares, como o são a portuguesa e a chinesa.
Hoje, tal como no passado, a «cidade» mantém-se viva e dinâmica, encarando as oportunidades e caminhando determinada e afincadamente em direcção ao futuro.”
Sector da Filatelia dos CTT de Macau.

Verso da pagela dos Correios e Telecomunicações de Macau (n.º 20)

Luís DeméeFaleceu na semana passada aos 85 anos de idade, Luís Luciano Demée (1929-2014), pintor e professor universitário (Escola Superior de Belas Artes do Porto)  –  “o maior artista plástico de Macau”, “um dos pintores mais importantes da sua geração”, “maior pintor macaense de sempre” .

Não vou aqui repetir a biografia e o percurso artístico de Luís Demée, tão divulgado nesta semana, em  jornais e meios informáticos/blogosfera, de Macau e Portugal.
Mais do que elogios, é necessário divulgar e ver com os olhos as suas obras, a maioria em espaços museológicos de Portugal e Macau, algumas em colecções particulares.
Disfrute visualizando algumas obras em:
http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1006618
http://www.arscives.com/demee/journey.asp
http://cam.gulbenkian.pt/index.php?article=60298&visual=2&langId=1
http://www.mam.gov.mo/photolist.asp?prg_id=2006112501&lc=2

Um quadro de que gosto, entre muitos, este pela temática constante da sua visão de Macau

Rio das Pérolas - Luís Demée“Rio das Pérolas”, de 1974

 A obra Rio das Pérolas foi concebida pelo artista com vista à sua reprodução serigráfica a convite de António Conceição Júnior. Na exposição patente no MAM, apresenta-se a pintura que deu origem a um conjunto de serigrafias, o original e o múltiplo-original.”  (http://www.macauart.net/News/ContentP.asp?region=L&id=163823)

Espelho do Mar P.e Videira Pires I

Livro do Padre Benjamim Videira Pires, “ESPELHO DO MAR” (publicado em 1986) (1),  terceiro livro de poesia do autor, que o dedica a todos os amigos de Macau. Contém 26 poesias, sendo as três últimas composições (“Pecado Original“, “Tríptico” e Acto de Esperança” reedições, “levemente actualizadas”.

Da Nota Prévia escrita pelo autor, retiro:
O primeiro (livro), JARDINS SUSPENSOS, mereceu as honras de uma tradução japonesa, feita pelo licenciado da Universidade «Sofia» de Tóquio, sr. Shigeru Otake.
            O tempo de vinte e oito anos, decorrido sobre a publicação da segunda obra poética, DESCOBRIMENTO, purificou os elementos «circunstâncias» e «artifício», que insensivelmente se infiltram, em qualquer «criação» do homem. Estes poemas ganharam, assim, mais simplicidade e verdade. Porque a espontaneidade e a candura da infância têm de ficar, até ao fim, na nossa alma.”

ACTO DE ESPERANÇA

 – Senhora de T´oi Sán e da fronteira,
sentinela isolada de Além-Mar,
envolve-nos a noite traiçoeira,
comes trelas vermelhas a rondar…

Dominas, Mãe de Deus, a terra inteira,
dum trono atapetado de luar;
Que futuro, Divina mensageira,
descobre para nós o teu olhar?

Nesta hora,  a Cidade iluminada
é uma flor de nenúfar delicada,
pairando sobre medos e cansaços…

Senhora, não reveles o destino;
Macau prefere a sorte de um menino
que dorme, confiado, nos teus braços! –

Macau, Ilha Verde, 12 de Maio de 1953

Espelho do Mar P.e Videira Pires IIBenjamin Videira Pires (Torre de D. Chama, Mirandela, 1916 – 1999), missionário da  Companhia de Jesus desde 1932, ordenado sacerdote no Porto, em 1945, vem para Macau em 1948. Historiador, Pedagogo (deu aulas no Liceu Nacional Infante D. Henrique), Ensaísta e Poeta, com vários livros publicados em cada especialidade. Na poesia, publicou 3 livros: “Jardins Suspensos“, publicado em 1955, “Descobrimentos: Poesias“, em 1958 e “Espelho do Mar“, em 1986.

Referenciado na obra “Trovas Macaenses“, (2) o autor, João C. Reis diz dele, o seguinte:
Possuidor de vasta cultura, a sua escrita é ponderada, profunda e comunicativa. Desenvolveu, no jornal “Confluência” de 1974/1975, uma poesia intervencionista, sem adornos que ficará a perder em relação à outra apenas na limitação natural dos temas
NOTAS:
1 – Sobre o Padre Videira Pires, aconselho leitura do trabalho de António Aresta na Revista “Administração“, de 1999, e que pode lê-lo em:
http://www.safp.gov.mo/safppt/download/WCM_004211
2 – A capa do livro é da autoria de A. Conceição Júnior.
3 – Anterior poesia do Padre  Videira Pires, “Crepúsculo” no “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/01/22/poesia-crepusculo/
(1) PIRES, Benjamim Videira – Espelho do Mar. Instituto Cultural de Macau, 1986, 57 p. + |1|, 25,5 cm x 16 cm.
(2) REIS,  João C. – Trovas Macaenses. Mar-Oceano-Editora, Macau, 1992, 485 p. + |10|

Nesta data, foram abertas ao público as instalações do Museu Luís de Camões, no Palacete de Santa Sancha” (1).
Opinião do Padre M. Teixeira ” Tudo isto, improvisações de momento, sem um plano de conjunto, ao sabor do capricho governamental” (2).

E tinha razão o Padre Teixeira pois devido à falta de espaço no Leal Senado onde se encontrava a secção histórica do Museu, tornou-se necessário arranjar rapidamente outras instalações e como o Palacete de Santa Sancha tinha sido considerado impróprio e supérfluo para residência de verão da primeira autoridade da província, pelo Governador António José Bernardes Miranda (3) e  estava vaga, foi para aí que se transferiu o Museu.
Mas por pouco tempo pois o Governador seguinte, Tamagnini Barbosa, na 2.ª vez que governou Macau (1926-1930), escolheu Santa Sancha para sua residência permanente (4) e desde aí passou a ser residência dos Governadores.

Santa SanchaPostal (princípio da década de 60) (Foto de Chi-Woon Kong)

Pela Portaria n.º 221, datada de 5 de Novembro de 1926, era criado, pelo Governador interino e Director das Obras dos Portos, Almirante Hugo de Lacerda, um mostruário de produtos nacionais de Portugal Continental e Ultramarino, especialmente de Macau e Timor, com carácter comercial, abrangendo uma secção de museu da Colónia e a colecção de exemplares de Comissão de Pescarias, sob o nome de Museu Comercial e Etnográfico «Luís de Camões». Para este Museu vieram também os artigos da Exposição Industrial e Feira de Macau realizado nesse mesmo ano (7 a 12 de Novembro de 1926). O museu ao longo dos anos, esteve em vários locais: Palacete da Flora (secção comercial e etnológica até 1931),  Leal Senado (secção histórica até 1936), rés do chão da Santa Casa da Misericórdia (secção comercial e sacra), Inspecção dos Serviços Económicos (em 1933). Finalmente, em 1940,  o Museu passaria para a chamada Casa Garden, junto ao jardim de Camões (por sua vez vendida em 1989 à Fundação Oriente para sua sede), mas só reaberto ao público em 1960, com a denominação « Museu Luís de Camões»,  sendo seu conservador Luís Gonzaga Gomes (nomeado a 8 de Dezembro de 1938) (5). Foi depois renovado em 1980 (curador: António Conceição Júnior de 1978 a 1997)

Museu Luis de CamõesPostal (1960) (Foto de C.M, Kong) (6)

O Palacete de Santa Sancha foi edificado pelo arquitecto macaense José Tomás de Aquino no bairro de Santa Sancha (7), antigamente conhecida pelo Tanque do Mainato, no ano de 1846. O mesmo arquitecto abriu a estrada desde as portas de Santa Sancha até à praia. Foi arrendado em 1884, às Missões Estrangeiras de Paris, (MEP). Os Padres das M.E. de Paris tiveram em Macau a sua primeira casa de repouso que depois passou para Hong Kong , tomando no nome da «Casa de Nazaré».
No Boletim das Missões Estrangeiras, n.º de Novembro de 1924: “pensou-se em Macau, onde se achava, para alugar, uma propriedade ou vila portuguesa, chamada Santa Sancha. Situada à beira-mar, na extremidade oriental da Praia Grande e perto da Igreja de S. Lourenço, comportava o local necessário para uma instalação, ao menos provisório: capela, refeitório, quartos para padres, sala para a imprensa, então bem modesta quanto ao pessoal e quanto ao material. Os trabalhos da organização terminaram no mercado do mês de Dezembro (1884) e no dia 17, às 4h p. m. a recitação em comum do Ofício Divino, começava pelas primeiras Vésperas…(…). O trabalho da impressão começou logo, e o primeiro opúsculo saído dos prelos foi, segundo o desejo do superior, uma obra eminentemente sacerdotal: Mensis Eucaristicus do P. Lercari, S. J.” (2).

Palacete Santa SanchaPalacete de Santa Sancha em 1985 (Nam Van n.º 19, 1985)

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – Residência dos Governadores de Macau. Direcção dos Serviços de Turismo e Comunicação Social, S/ data, 53 p.
(3) O Governador António José Bernardes Miranda (1932-1935) destinou o Palacete a um hospício pediátrico, denominado Hospital Infantil de Santa Sancha que foi inaugurado a 13 de junho de 1934 mas foi encerrado a 15 de Março de 1936, por ordem do Governo Central, sendo os doentes removidos para a Enfermaria da «Vila Branca» (2)
(4) Artur Tamaginini de Sousa Barbosa faleceria neste mesmo Palacete no dia 19 de Julho de 1940, durante o seu terceiro mandato como Governador (1937-1940). Também faleceu neste Palacete a 4 de Junho de 1930, António Patrício, ministro de Portugal na China. Estava de passagem por Macau a caminho para Beijing, afim de assumir o seu cargo na Legação Portuguesa.
(5) GOMES, Luís G. – Museu Luís de Camões. Imprensa Nacional, 1973, 57 p.
(6) Embora no postal conste o nome de C. M. Kong, creio tratar-se de um lapso pois a foto é do fotógrafo Chi Woon Kong.
(7) O Bairro de Santa Sancha, outrora, do Tanque do Mainato abrangia a área situada a leste pela Colina da Penha, ou seja, a actual Rua do Comendador Kou Ho Neng, as Calçadas da Praia e das Chácaras (ambas, hoje já não são calçadas) e parte da Estrada de Santa Sancha. O chineses designaram essa área pelo nome de Chôk Chai Sat (Chácara dos Bambus Pequenos) porque nessa área das chácaras havia alguma com bambus pequenos. (2)

A propósito do post anterior sobre esta personagem, Wong Fei Hung (1), lembrei-me dum excelente álbum de banda desenhada do António Conceção Júnior.
Wong Fei Hong I

Wong Fei Hong IIA primeira edição é de 1977 (Lisboa), editada pela Edibanda com o título “VONG FEI HONG – VENTO DE SANTUNG” e assinada como “C. JUNIOR” (2)

A 2.ª edição é de 2010 (Macau), editado pela ARS Cives e tem o título “WONG FEI HONG – VENTO DE SANTUNG” e está assinada como António Conceição Júnior.(3)

Wong Fei Hong III

Wong Fei Hong IVO próprio António Conceição Jr explica a feitura dos desenhos, exemplificando com algumas pranchas no site (4)
“In my story I depicted a village villain who had connections with the boxers. The drawings were done in 1976 in Portugal with little help other than memory and some postcards. Each page was A1 size and was painstakingly drawn by hand. Here are some scanned drawings Wong is in a tea-house when a young stranger with a northern accent asks loudly where is the house of Sek Kin Seng, a man who has raped his mother when he was a child. I preferred to focus on the people than to blend them with disturbing background, as the book was black & white and I used plenty of hand drawn textures for shadows and composition elements. It just happened that one of   Sek’s men heard the young man ask, hits him and is then stopped by Wong. You   will pay, says the man brandishing his fist towards Wong. I always tried to   establish a relationship of dialogue and tension between the people involved.   To the right, the look on Wong’s face makes the fist almost vanish in   iconographic importance. Later Sek himself appears in Wong’s place with his   henchmen and threatens the wounded young man. I personally like the right   drawing where Sek says to Wong: may this teach you not to mess in my affairs.  The young man is taken away from Wong’s   clinic. He is a patriot who is trying to fight the invading powers. Like all   boxers as well as Empress Dowager Ci Xi, the boxers opposed the Western ways.   Yet in 1910 Dr. Sun Yat Seng would finally proclaim the Chinese Republic.

Wong Fei Hong VThe climax is a final fight between Sek Kin Seng and Wong Fei Hong who was also performing the lion dance as the head cloth shows. I created a sequence of Sek getting up after being hit, and preparing to attach on the first row. His charge is on the second row. The third row shows Wong blocking with his right hand that will move to the right and the traditional eye balls attack with the left hand. I still kept background to a minimum making an appeal to the reader’s imagination. Looking back after 27 years, I suddenly realize that Jet Li was not around, Once Upon a Time in China was still to be made and the boxers theme were to be treated almost two decades later. I feel gratified that the story I did has still the same condiments of the Kung Fu movies of today.”

NOTA: sobre António Conceição Júnior, um talento multifacetado, não caberia aqui em algumas linhas. Por isso, remeto para: http://www.arscives.com/25anos/
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/29/wong-fei-hung
(2) CJUNIOR, António – Vong Fei Hong – Vento de Santung. Edibanda, Lisboa, 1977
(3) CONCEIÇÃO JÚNIOR, António – Wong Fei Hong – Vento de Santung. ARS Cives, Macau, 2010, 48 p. ISBN 978-99937-799-1-9.
(4) Cejunior, António & Edibanda in http://www.arscives.com/artfolder/wongbook.default.htm.
e
http://www.arscives.com/25anos/banda.desenhada.htm
P/S Um abraço ao Toninho.