“11-03-1929 – Nesta data, no Tanque do Mainato, perante uma comissão de pessoas nomeadas pelo Governo, queimaram-se os exemplares apreendidos da 2.ª edição do livro “Historic Macao” de Montalto de Jesus, por ter advogado, no último capítulo, que a colónia de Macau fosse administrada pela Sociedade das Nações” (1)
C. A. Montalto de Jesus (Hong Kong 1863- Hong Kong 1927) publicou o livro «Historic Macao», em Hong Kong no ano de 1902, tornando-se desde logo num livro de leitura obrigatória para quem quisesse estudar e compreender a História de Macau. (1)
A apreensão e destruição do livro, em Macau, em 1926, por decisão judicial foi devido à publicação da 2.ª edição, publicada em Macau (2) em que o autor incluiu três capítulos finais sobre a situação de Macau (muito crítico à governação do Território), (3) advogando uma “autodeterminação de Macau”, sob a tutela da Liga das Nações.
(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia da Macau, volume I, 1997, p. 420
(2) JESUS, C. A. Montalto de – Historic Macau. International Traits in China old and New. Second Edition, revised and enlarged, nineteen illustrations. Macao, Salesian Printing Press and Tipografia Mercantil, 1926.
NOTA: “CARLOS MONTALTO DE JESUS (1863-1927), um grande e injustiçado historiador de Macau, nas palavras do investigador António Aresta, foi o autor de Historic Macau (1902), uma das mais conhecidas obras sobre a História do território. Montalto de Jesus, que viveu em Hong Kong e em Xangai, escreveu, entre outras obras, The Rise of Shangai (1906) e Historic Shangai (1909). Homem culto, tornou-se sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa a 9 de Novembro de 1896 e foi um activo militante do Partido Republicano.
Na introdução à versão portuguesa, com o título de Macau Histórico, o historiador Carlos Estorninho classificou-a como a glória e o martírio de Montalto de Jesus. Glória, porque constituiu a sua consagração como historiador e como macaense, granjeando-lhe o respeito da crítica e das autoridades de Macau, que consideraram o livro como o melhor trabalho de conjunto sobre o estabelecimento português na China Meridional. Em versão inglesa para garantir uma maior divulgação internacional e o conhecimento do seu conteúdo pelas numerosas comunidades portuguesas de Hong Kong, Xangai e de outras cidades portuárias da região, o livro foi um best-seller e a edição esgotou-se em pouco tempo. Martírio, porque a 2.ª edição, publicada em Macau em 1926 e igualmente em inglês, incluía uns capítulos com críticas a um regime colonial míope e alusões à trágica situação em Portugal, defendendo o autor que Macau fosse colocado sob a tutela providencial da Liga das Nações como salvaguarda contra mais ruína, o que provocou o repúdio dos que consideraram esta proposta como uma grave ofensa aos valores pátrios. As autoridades de Macau ordenaram a apreensão e a destruição pelo fogo dos exemplares existentes no território. Outros ventos, que não os da República que ele tanto prezava – apesar da decepção que sentiu quanto ao rumo que este regime tomou em Portugal e na China -, sopravam então em Macau, como consequência do novo quadro político saído da revolução de 28 de Maio de 1926.”
OLIVEIRA, Celina Veiga de – Macau e o Povo em Diáspora. Administração n.º 111, vol. XXIX, 2016-1.º, 189-197 pp 194-195
C. A. MONTALTO DE JESUS
FELLOW OF THE GEOGRAPHICAL SOCIETY OF LISBON
MEMBER OF THE CHINA BRANCH OF ROYAL ASIATIC SOCIETY
Pela Portaria Provincial n.º 25 desta data, 6 de Fevereiro de 1879, se determina que o Boletim do Governo de Macau seja publicado em português e chinês, competindo à repartição sínica a tradução de todos os documentos oficiais e revisão das provas. Foi contratada para sua impressão a Tipografia N.T. Fernandes (Boletim n.º 37) (1)
NOTA: “O bilinguismo administrativo recebeu um impulso decisivo mercê da Portaria Nº 25, de 6 de Fevereiro de 1879, assinada pelo Governador Carlos Eugénio Correia da Silva. A razão é simples: “Atendendo a que só a publicação em caracteres sínicos poderá facilitar-lhes a leitura de tais actos, pela ignorância quase completa que tem os chins da língua portuguesa”. Por isso, o Boletim Oficial da Província de Macau e Timor “será publicado em português e chinês, devendo a repartição de sinólogos ser encarregada da tradução de todos os actos oficiais”. Esta Portaria nº 25 foi integralmente traduzida por Pedro Nolasco da Silva, 1º intérprete. “ (António Aresta, http://jtm.com.mo/opiniao/curiosidades-da-historia-de-macau-seculo-xix-2/)
(1) SILVA, Beatriz Basto da Silva – Cronologia da História de Macau, Volume II 2015, pp. 230, 234)
O 2.º número da “ASIANOSTRA revista de cultura portuguesa do oriente”, (1) que se anunciava de publicação semestral, (infelizmente só foi publicada dois números) com a coordenação de António Aresta, António Carmo e Maria da Conceição Rodrigues, foi lançado em Novembro de 1994, com 107 páginas.
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A edição e propriedade era do Instituto Português do Oriente (IPOR), e foi impressa na tipografia Martinho (23 cm x 15,8 cm x 0,5 cm). Revista com etiqueta de compra da Livraria Portuguesa, em Macau.
Por decreto de 5 de Julho de 1865, passaram os procuradores da cidade que desde 1853 eram eleitos pelo povo, a ser de nomeação régia, sob proposta do Governador feita de entre os elegíveis para vereadores (1) (2) (3)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) “5-07-1865 – Decretada a desvinculação total e definitiva da Procuratura em relação ao Senado. Por decreto desta data o Procurador foi desligado do Senado. O Procurador dos Negócios Sínicos de Macau desempenha, em conformidade com o Decreto desta data, as funções de Administrador do Concelho de Macau, acumulando-as ainda com as de membro da Junta da Justiça e Vereador da Câmara Municipal. Procuradores do Senado de Macau : 1865 -1866 – José Bernardo Goularte. SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 174; Volume IV, 2015, p. 62.
(3) Almanach Luso Chinez para o anno de 1866, p. 43
Almanach Luso Chinez para o anno de 1866, p. 43
Aconselho leitura de ARESTA, António – Os estudos sínicos no panorama da história da educação em Portugal. In: Administração: revista de administração pública de Macau. – Volume X, nº 38 (Dezembro 1997), p. 1045-1070. https://www.safp.gov.mo/safppt/magazines/WCM_003513
Publicado em 1 de Maio de 1994, o primeiro número da “ASIANOSTRA revista de cultura portuguesa do oriente”, que se anunciava de publicação semestral, com a coordenação de António Aresta e Maria da Conceição Rodrigues;. A edição e propriedade era do Instituto Português do Oriente (IPOR), e foi impressa na tipografia Mandarim (23 cm x 15,8 cm x 0,5 cm).
Infelizmente somente foram publicados dois números.
Por iniciativa do Padre Francisco Xavier Rôndina, S. J. (1) efectou-se a 3 de Abril de 1864, uma quermesse no teatro D. Pedro V, em benefício dos órfãos do Seminário de S. José. Este mesmo jesuíta que veio para Macau em 1862, para ensinar e dirigir o Seminário de S. José, (2) era um defensor dos direitos humanos, denunciando os problemas sociais dos mais pobres e desfavorecidos, e promovendo os meios para sustentar os asilados nomeadamente os órfãos.
Mas só em 1900 por iniciativa do Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva (1842-1912) surgiu o “Asilo dos Órfãos” instalado no Tap Seac, mas que por razões económicas em 1918, foi extinta. (3) (4)
Em 1933, a “Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, que tinha o edifício alugado denominado «Novo Asilo dos Órfãos» na Travessa dos Santos n.º 2, encomendou a construção de um edifício próprio que seria denominado “Asilo dos Orfãos”. (5)
«Boletim Geral das Colónias», XII, n.º 134/135, Agosto/Setembro de 1936, pp.181
Para efectivação desta grande obra de beneficência, para angariação de fundos para a sua concretização, em Macau, Abril de 1936, (6) foi impresso e distribuído um “jornal” de 16 páginas (número único) onde se apresenta:
– Uma mensagem do Governador interino, Dr. João Pereira Barbosa
– Um “ante-projecto, para mostrar o partido tomado e em que ainda não há uma preocupação de detalhe”, elaborado por Keil Amaral, (7) acompanhado de uma “descrição do projectado para construção de um edifício na Rua da Horta da Companhia, (8) a pedido da Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, assinado pelo mesmo arquitecto.
– Um artigo intitulado “Querer É Poder”, história resumida do Asilo dos Órfãos até então, por Luís Nolasco (Macau, 18 de Março de 1936) (9)
Com desenho/projecto na 1.ª página da “Fachada principal do novo edifício do Asilo dos Pobres e Órfãos de Macau”
Planta do 1.º pavimento
Planta do 2.º pavimento
Planta da cave
Mensagem manuscrita do governador interino, Dr. João Pereira Barbosa de 8 de Abril de 1936.
NOTA – Apesar de ter havido lançamento da primeira pedra do edifico, em 23 de Junho de 1936, com projecto do arquitecto Keil do Amaral, na Rua de Horta e Companhia, não consta ter havido concretização desta obra pois não encontro nas minhas pesquisas, até hoje, qualquer informação sobre a inauguração ou trabalhos realizados nessa mesma rua e também porque os «Anuários de Macau» de 1938 (p. 442) e 1940/41 (p. 462) referirem uma nova morada para o Asilo dos Órfãos, na «Vila Flora». Acrescenta-se o facto de, em 13 de Fevereiro de 1924, num terreno denominado Horta da Companhia, doado à Irmandade da Misericórdia de Macau pelo Governo da Província, ter sido construído um edifício destinado para Asilo dos Inválidos, (10)
(1) 08-06-1862 – Chegaram a Macau os Padres jesuítas Xavier Rôndina (1827-1897) e José Joaquim de Fonseca Matos, os primeiros professores do reaberto Seminário. O Padre Francesco Saverio Rondina nasceu em Itália e aos 15 anos de idade ingressa na Companhia de Jesus e faz o seu noviciado em Roma. É enviado para Macau, tendo residido primeiramente, em Portugal entre 1859 e 1862, em Lisboa, no colégio de Campolide onde obteve a autorização régia para ensinar em Portugal, e posteriormente em Macau. Em 1862, passa pela ilha de Sanchoão, onde encontrou aí, a primeira sepultura de S. Francisco Xavier, que restaurou. Padre Rondina, depois de ter dirigido o Colégio de S. José em Macau de 1862 a 1871, devido à ordem que veio de Lisboa (os professores do Seminário teriam de ser obrigatoriamente de nacionalidade portuguesa e a aqueles que não cumpriam este requisito teriam de abandonar o território), abandona Macau com alguns colegas jesuítas e dirige-se para o Rio de Janeiro, onde permanecerá durante algum tempo mas, por motivos de saúde, regressa finalmente a Itália, em 1882. Nesse ano, quando conhece a obra educativa de S. João Bosco, sob a inspiração e nome de S. Francisco de Sales – os Salesianos – propôs a ida destes para Macau. D. João Paulino Azevedo (1902-1918) dá sequência à instalação dos salesianos em Macau, em 1906. (10)
Sobre a biografia e obra do Padre Rondina , aconselho leitura de: ARESTA, António – Cinco Figuras do Diálogo Luso-Chinês em Macau em file:///C:/Users/ASUS/Downloads/06-Cinco%20figuras__Antonio%20Aresta873-894.pdf
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – O Teatro D. Pedro V, 1971, p. 31.
(3) “1900 – Sendo Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva criou este grande vulto macaense o Asilo dos Órfãos, que ficou a cargo da mesma Santa Casa e instalado em edifício próprio, ao Tap Seac (hoje sede do Instituto Cultural do Governo da RAEM). A instituição foi extinta por medidas económicas em 1918, tendo recolhido e educado ao todo 182 rapazes, alguns dos quais atingiram lugares importantes dentro e fora de Macau. (10)
(4) “Havia antigamente o Asilo dos Órfãos da Santa Casa da Misericordia de Macau, instalado no edifício que a mesma Santa Casa propositadamente mandou construir ao Tap Seac e onde hoje funciona o liceu nacional. Um provedor, porém, em hora infeliz de confissão de incompetência e de comodismo propôs, e conseguiu, a sua extinção. Ficou, então, aberta uma lacuna na obra de assistência pública de Macau.” (Luis Nolasco) (6)
(5) “06-01-1933 – Foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1933, o «Novo Asilo dos Órfãos», sob o patrocínio da «Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos», alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício. Faltava um prédio adequado, porque o 1.º, ao Tap Seac, passou a ser o Liceu Central de Macau. Com a ajuda de muitas almas boas, entre elas o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva (11), impulsionados por Pedro Paulo Ângelo, (12) o Asilo foi instalado na Travessa dos Santos n.º 2 e encontrou quem lhe permitisse continuar (10) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/06/noticia-de-06-de-janeiro-de-1933-novo-asilo-dos-orfaos/
(6) “O Asilo dos Orfãos”, jornal, número único, de Abril de 1936,Macau.
“ABRIL DE 1936 – Publicado um Jornal do Asilo com o título de “O Asilo dos Orfãos”, Número Único, com a história e o projeto de construção do edifício destinado a esta obra de assistência; ainda instalado na Travessa dos Santos, ali se utilizou a política de self-supporting-concern, com oficinas de tipografia e encadernação e professores (e material) concedidos pela Comissão Administrativa de Município, por proposta do Tenente Guedes Pinto. O projecto foi feito gratuitamente pelo arquitecto Keil do Amaral, sendo-lhe destinado um espaço cedido gratuitamente por diligência do Governador Interino, Dr. João Pereira Barbosa.” (10)
(7) Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 — 1975) foi um arquiteto português ligado ao Modernismo, com destaque ao longo dos anos de 1940 e 1950, com responsabilidade projectual de importantes obras públicas, como por exemplo, Aeroporto de Lisboa, Feira das Indústrias de Lisboa, Parque Florestal de Monsanto, Lisboa etc. Completa o curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa e a primeira obra é de 1934 (Instituto Pasteur, Porto). Este projecto para Macau terá sido um dos primeiros trabalhos encomendados (não consta na sua biografia) já que só em 1936, é referenciado o concurso para o Pavilhão de Portugal na Feira Universal de Paris, onde esteve durante 1 ano para acompanhar a construção do pavilhão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Keil_do_Amaral)
(8) A Rua de Horta da Companhia, em 1969, foi redenominada Rua de D. Belchior Carneiro (actual designação) nas comemorações dos 400 anos da chagada a Macau do Bispo D. Melchior.
(9) Dr Luís Gonzaga Nolasco da Silva (1881-1954; filho de Pedro Nolasco da Silva) foi presidente do Asilo dos Órfãos de 1933 (Travessa dos Santos, n.º 2) a 1938/1939 (Vila Flor) (Directório de Macau, 1933, p. 518 e Anuário de Macau, 1938, p. 442) (https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-gonzaga-nolasco-da-silva/)
(10) (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 2015, Volume II, p. 338; Volume III, pp. 161, 230,239, 251, 283)
(12) 14-07-1931- O Sr. Pedro Paulo Ângelo, fazendo parte da Mesa Directora da Sta. Casa, inicia uma subscrição pública para reerguer o Asilo dos Orfãos, instituição onde crescera e sustentada pela Santa Casa da Misericórdia até 1918 quando foi fechado por medidas económicas. Em 13 de Agosto de 1931, os Estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau. Com a subscrição e mais algumas achegas finais, adquiriu-se uma soma de 10 mil patacas.” (10)
“Após prolongado sofrimento que o trazia prostrado no leito há mais dum ano, faleceu, na sua residência n.º 71 da Rua da Praia Grande, vitimado por uma tuberculose pulmonar, no dia 6 do corrente, o Sr. Leôncio Alfredo Ferreira, com 69 anos de idade. O funeral realizou-se no dia seguinte, às 17 e meia horas”.(1)
Nascido em Macau a 15 de Maio de 1849, era filho de D. Maria Gualdina Gonçalves, natural de Macau, e de João Eleutério Ferreira, nascido em Portugal. (2) Fez os seus estudos na «Escola Macaense» e transitou para o Seminário de S. José, onde foi sempre aluno distintíssimo, distinguindo-se em todo o seu curso pela sua aplicação, aproveitamento e comportamento exemplar, ganhando inúmeros prémios e referências elogiosas da imprensa.
Terminado no Seminário de S. José, o seu curso com distinção, dirigiu-se para Goa a fim de estudar Jurisprudência, regressando a Macau depois de formado. Estudioso apaixonado da língua chinesa, conhecedor profundo da mentalidade e psicologia dos chineses, revelou-se não só um valoroso intérprete mas mais especialmente um medianeiro inteligente nas relações destes como nosso governo.
Casou na Sé Catedral de Macau em 27 de Setembro de 1881, com Maria José Pereira (1861-?). Segunda núpcias, em 20 de Dezembro de 1894, com sua tia por afinidade Ana Teresa Vieira Ribeiro (condessa viúva de de Senna Fernandes). Não deixou filhos.
Além de advogado de provisão, professor da Escola Municipal e jornalista, (3) desempenhou os altos cargos públicos, com distinção e aprumo moral que eram o timbre do seu carácter integérrimo, enumerando aqui alguns dos cargos: pela Portaria n.º 82 de 20 de Julho de 1825, foi nomeado Secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 106, de 8 de Novembro de 1875, foi nomeado Delegado interino da Comarca de Macau de que, porem, se escusou, em 5 de Julho de 1876
«BPMT», XXII-28 de 8 de Julho de 1876, p. 114
Comentando este caso alguém escreveu no «Jornal de Macau» n.º 29 de 24 de Novembro de 1875: “O Senhor Leôncio Ferreira que exerceu com zello e intelligencia o lugar de procurador da coroa, d´esta vez entendeu que não devia aceitar semelhante cargo porque não quer aferir pela balança por onde são pezados os membros da exma. Junta, que estão no equilíbrio das ilegalidades, em quanto se não justificarem das acusações que lhe hão feito” (1)
Pela Portaria n.º 97, de 23 de Dezembro de 1876, foi nomeado Administrador interino do Concelho de Macau, cargo que anteriormente já vinha desempenhando; em 23 de Setembro de 1879 foi nomeado pela Portaria n.º 118, administrador efectivo.
«BPMT», XXII-52 de 23 de Dezembro de 1876
Pela Portaria n.º 67 de 27 de Julho de 1877, foi exonerado do cargo de secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa sendo nomeado Pedro Nolasco da Silva para o substituir (Portaria n.º 75 de 3 de Agosto de 1877); pela Portaria n.º 53 de 14 de Agosto de 1878, foi nomeado Procurador interino dos Negócios Sínicos. Exonerado em Setembro de 1879, para tomar posse, em 23 de Setembro, (Portaria n.º 118) do cargo de Administrador efectivo do Concelho de Macau. (até 1881). (4)
No dia 17 de Maio de 1881, António Joaquim Bastos Junior foi demitido do cargo do procurador dos negócios sínicos, para que havia sido interinamente nomeado por portaria n.º 56. Leoncio Alfredo Ferreira foi nomeado para o mesmo cargo. (BGPMT n.º 21 de 21 de Maio de 1881); pela Portaria n.º 81, de 12 de Novembro de 1881, foi nomeado Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 117 de 27 de Outubro de 1883, foi nomeado cônsul de 1.ª classe, em Shanghai (1883-1884).
Pela sua diplomacia, inteligência e valor demonstrados no desempenho desta missão, foi condecorado pelo Governo Central de Lisboa com o Grau de Oficial da Torre e Espada por Diploma de 23 de Janeiro de 1896.
Pela Portaria n.º 22, de 1 de abril de 1885, foi nomeado vogal do Conselho Inspector de Instrução Pública.; pela Portaria n.º 144, de 20 de Dezembro de 1898, foi louvado pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, pela maneira como se houve durante a epidemia de petes bubónica que assolou Macau, de Fevereiro a Julho desse ano, no desempenho dos serviços de higiene e desinfecção; pela Portaria n.º 145, de 5 de Dezembro de 1902, foi nomeado Vogal do Conselho de Governo da Província.
Dados biográficos extraídos de : «Macau Boletim Informativo», II-27 de 15 de Setembro de 1954, pp. 11-12; FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses Volume I, pp. 1077-1078; e o livro referenciado em (1)
(1) TEIXEIRA, P. Manuel- Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, p. 449-497.
(2) João Eleutério Ferreira (c.1785 – 1872) nasceu em Coimbra, Portugal, vindo para Macau casou, nesta cidade, pela 1.ª vez em 1830 e pela 4.ª vez com Maria Galdina Fernandes, filha de Vicente José Fernandes e de Ricarda Constantina Fernandes e irmã de Bernardino de Sena Fernandes (1.º Barão, 1.º Visconde e 1.º Conde de Sena Fernandes), de quem teve apenas um filho, Leôncio Alfredo Ferreira.
(3) Em favor dos Jesuítas, expulsos de Macau publicou um opúsculo, intitulado: “Um brado pela verdade ou a questão dos Professores Jesuítas em Macao e a Instrução dos Macaenses, Macau, Tipographia Mercantil, 1872.
(4) Na sua qualidade de Administrador do Concelho fez o relatório sobre a morte trágica co coronel Mesquita. (1)
NOTA 1: A Câmara de Macau decidiu honrar a sua memória atribuindo o seu nome à «Rua Leôncio Ferreira» – começa na Avenida de Sidónio Pais, a entrada da Rua de Silva Mendes, e termina na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, entre os prédios n.ºs 58-H e 60.
Extraído de «Revista de Artilharia«, n.º 55 ANO V, 1909 , p.623
No dia 3 de Janeiro de 1909, Manuel da Silva Mendes deu uma conferência no Grémio Militar de Macau subordinada ao título “LAO-TZE e a sua doutrina segundo o TAO-TE-KING”. (1)
“O texto da conferência foi publicada, em 1908, pela Imprensa Nacional de Macau, portanto, antes da sua leitura. O assunto do tauismo prendeu muito a sua atenção. Silva Mendes não conheceu, porém a obra de Láucio, senão através de traduções, visto que não sabia chinês escrito e o seu conhecimento do chinês falado era muito restrito e superficial, motivo poe que não é crível que tivesse sido capaz de conservar e discutir, em língua nativa, com os homens de letras chineses, sobre assunto tão transcendente. Assim, no ano que precedeu ao seu falecimento, publicou os “Excerptos de Filosofia Taoista”, obra em verso da qual foram impressos apenas 200 exemplares, na Tipografia do Orfanato da Imaculada Conçeição e que deveria ser seguida dum segundo volume, que ainda não se encontra publicado” (2)
(1)Texto da conferência publicado na “Nova Colectânea de Artigos de Manuel da Silva Mendes,Volume I (Arte). Folhetins do «Notícias de Macau» (publicados nos n.os 4672 a 4751 de 12-06-1963 a 18-09-1963), 1963, pp.211-253. e também numa trilogia, publicada em 2017, edição de ”Livros do Oriente “ intitulado “Manuel da Silva Mendes: memória e pensamento” organizado com estudos de António Aresta, Amadeu Gonçalves e Tiago Quadros, no volume I (Arte, Filosofia e Religião. Cultura e tradições), pp.311-338
CAPA
CONTRA-CAPA
(2) GOMES, Luís G. – JUSTIFICAÇÃO, p.V do livro “Nova Colectânea de Artigos de Manuel da Silva Mendes”, (1)
Um livro – impressões de viagem – de José Gonçalves de Abreu, (1) que convidado pela “Union of Japonese Scientists and Engineers”, representou Portugal na «Conferência Internacional de Controle de Qualidade/ International Conference on Quality Controle», realizada em Tóquio, com início em 21 de Outubro de 1969, no “areópago da indústria mundial Keidaren-Kaikan”. O autor apresentou na conferência, o trabalho “A Influência do controle de qualidade nas relações entre os povos e na cultura do mundo”. O livro foi prefaciado por Fernando de Castro Pires de Lima (2)
Exemplar com uma dedicatória autógrafa do autor em 10.1.71 ao “Reverendo Padre Pinto Nunes, Homem de Letras, conferencista e Teólogo de raro merecimento …”
Fez a rota aérea polar nomeadamente Lisboa-Copenhague-Ancorage-Tóquio (“ 13 mil quilómetros de distância separam ao longo do Ártico e do Pacífico numa longa caminhada através do gelo”)
Findo a conferência e terminada a visita a Japão, voltou através de um voo para Hong Kong, onde esteve três dias, tenho efectuado uma visita de um dia a Macau. Deixou suas impressões de Macau nas pp. 29-3, com 6 fotografias a negro
“A cidade de Macau é uma preciosidade na margem do Rio das Pérolas, que atesta a presença de Portugal naquelas paragens de sonho que trouxe, há cerca de quinhentos anos, ao convívio do Ocidente. As suas ruas e avenidas tipicamente à moda portuguesa, banhadas por um sol quente e acolhedor, a que um mundo de transeuntes em mangas de camisa ou em lindos conjuntos, de largas calças e túnica preta, contrastavam com os trajes garridos dos turistas americanos, davam àquela paisagem a beleza das mais lindas capitais daquele lendário continente.
Passámos lá o dia até às cinco horas da tarde, durante esse tempo, corremos auela parcela do solo pátrio em todas as direcções, visitámos os pontos turísticos, os pagodes e os templos Budistas, o comércio, próspero e bem sortido, o seu casino, a gruta onde Camões escreveu a sua obra-prima – «Os Lusíadas» … (…)
A cidade faz lembrar um presépio na sua configuração e de todos os lados de onde se veja, é uma preciosidade”. “Ali, como em qualquer outra parte do nosso Ultramar pode ver-se a nossa forma de vida, plurirracial, em convívio fraterno com todas as raças e todas as cores de pele. Nos restaurantes, nos cafés, a passear pelas ruas, nas escolas, enfim por toda a parte, os portugueses não escolhem os seus pares ou os seus amigos, juntam-se na mais harmoniosa convivência, com todos os habitantes da cidade, quer sejam chineses, mestiços ou provenientes de qualquer outra parte do mundo. Somos assim e não temos que fazer qualquer esforço para sermos tal qual somos.
Durante a nossa permanência em Macau, procuramos ver tudo que a magnífica cidade possui de mais belo e representativo da vida cultural e recreativa portuguesa, dado que, estando tão longe da mãe Pátria, com uma população de mais de 290 mil chineses e somente 10 mil portugueses seria lógico aceitar que pouco ou nada ali haveria a marcara nossa permanência em tão pequena minoria. Pois ficamos deslumbrados com a satisfação com que o macaísta declina a sua identidade. Sou português, filho de pai português e de mãe chinesa; aqui nasci, sou português e prezo-me muito disso, não conheço ainda a Metrópole, mas tenho uma certa esperança de lá ir qualquer ocasião. Estudo a língua Pátria, frequento a escola portuguesa, falo chinês mas, cada dia, onde posso fazê-lo, isto é, logo que tenha quem fale a língua de Camões, é essa a língua que gosto de falar.
A presença de Portugal está patente em todos os cantos da cidade. Escolas, repartições públicas, indicações de trânsito, enfim, tudo revela que ali é terra de Portugal, e quando entramos num estabelecimento chinês – praticamente todos são chineses – somos recebidos com visível agrado e dispensam-nos as maiores atenções.
“Também encontramos alguns militares que gostosamente ali prestam serviço. É uma alegria que se dá àqueles rapazes, alguns naturais da metrópole, que ali estão cumprindo serviço e que dão à cidade um ar de urbanismo e importância que nos enche de orgulho e satisfação”.
De Hong Kong seguiu para Bangkok onde esteve três dias.
(1) ABREU, José Gonçalves de – Do Ocidente da Europa aos Confins da Ásia (impressões de uma viagem). Amarante, 1970, 44p. (22,3 cm x 16.9 cm x 0,5 cm)
José Gonçalves de Abreu (1914-2002, nascido em Amarante) foi membro da Delegação Portuguesa em diversas reuniões internacionais,, fundador do complexo industrial “TABOPAN”, em Amarante – pioneiro do fabrico de aglomerados de madeira na Península Ibérica. Foi comendador e esteve quatro anos na presidência da câmara da Amarante. Em 1973, o comendador José de Abreu foi deputado eleito para a Assembleia Nacional, na XI legislatura, cujo termo foi a Revolução de 25 de Abril de 1974.
NOTA: Sobre esta personalidade, e o presente livro, aconselho a leitura de “José de Abreu” do docente e investigador, António Aresta publicado no “Jornal Tribuna de Macau”, em 12 de Maio de 2015. https://jtm.com.mo/opiniao/jose-de-abreu/
Edição Fac-similada da “Amplificação do Santo Decreto” (1) do Imperador Yongzheng, (2) versão portuguesa e compilação de Pedro Nolasco da Silva ( Chefe da Repartição Técnica do Expediente Sínico de 1885 a 1892) inserido no 2.º volume do seu livro (edição de Autor, 1903, Tipografia Mercantil, Macau) “Manual da Língua Sinica Escripta e Fallada. Primeira Parte – Língua Sínica Escripta” Do “PREFÁCIO” assinado por António Aresta, transcrevo:
“Sob a capa de um manual escolar de língua sínica escrita, anódino e igual a tantos outros, podem encontrar-se inesperadas surpresas. É o que sucede com a “Amplificação do Santo Decreto”, onde a para de um didactismo exemplar se empreende a pedagogia de uma ideologia, a pedagogia do neo-confucionismo, cujo remoçado fascínio permanece até à actualidade. A “Amplificação do Santo Decreto” é um verdadeiro manual de instrução cívica, ética e política, obedecendo aos parâmetros da mais pura ortodoxia confuciana, destinado ao povo chinês (…) O “ Santo Decreto”, santo com o significado de sábio, foi originalmente redigido prelo imperador Shunzhi, (3) o fundador da dinastia Qing, tendo sido sucessivamente amplificado ou desenvolvido por seu filho Kangxi (4) e por seu neto Yongzheng . Assim, o mesmo corpo doutrinal, o “Santo Decreto”, manteve-se em vigor durante dois séculos. (…)”
Da “INTRODUCÇÃO” de Pedro Nolasco da Silva, retiro o seguinte:
“Em 1671, KANG-HSI, segundo imperador da actual dynastia tartara-manchú, publicou um decreto contendo 16 máximas, sendo cada uma escripta com 7 carateres chinezes; e em 1724, YUNG-CHÂNG, filho e sucessor de KANG-HSI, publicou um comentario d´essas 16 máximas, sob o título de Amplificação do Santo Decreto (Xâng-Iu Kuang-hsun). É este o livro que escolhemos para exercício de traducção, não só porque está escripto em estylo moderno, elegante e claro, mas também porque n´elle se contém um esboço interessante e instructivo dos princípios da moral chineza. (…) “ (1) Amplificação do Santo Decreto do Imperador Yongzh:eng, edição fac-similada da versão portuguesa e organização de Pedro Nolasco da Silva. Prefácio de António Aresta, Fundação Macau, 1995, 145 p., 26,5 cm x 18,5 cm x 1 cm, ISBN: 972-8147-47-3 (2) Imperador Yongzheng (1678-1735) Imperador de 1723 a 1735 – 雍正帝 – mandarim pinyin: yōngzhèngdì; cantonense jyutping: jung1 zeng3 dai3.