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O lodo amorteceu a pedalada
Da perna treinada
Para mover o mundo
E a prancha flutuando
Andou dois palmos

Um peixe e mais além
Num esforço, outro e outro
Até a cesta revelar o produto
Do salário retirado dos detritos

Era assim a vida sempre
A mesma faina no limitado
Horizonte do delta

No cerco
Renda de bilros lançados
Como estacas a maré
Mais peixe o esperava – seria para depois
Antes, porém, foi pedalando a prancha
No reflexo dos prédios da baía
Desenhando no lodo arabescos
Copo curvas sinuosas
Do seu rosto sombreado
Pelo sol
Junto à rede, atolado
O pequeno barco aguardava
O regresso da maré.

Com a tarde chegou a hora
De recolher o cerco
E a renda foi subindo
Na jangada
Vela não tinha
Só um par de remos
Na amurada

Rota não tinha
Só nos olhos havia

Vida não via
Só a prancha a sustinha

Casa não tinha
Só o barco o sabia

Corpo sim existia.

Alberto Estima de Oliveira

Poesia e foto publicados na revista «Macau» n. 17 de 1989.

Dois poemas com referências a Agosto, de dois poetas que estiveram em Macau.

SEREIA

Emerges das águas em manhã de Agosto,

Com sombras acordadas para o dia.

O horizonte fica no abraço que alumia

A cor de fogo pintada no teu rosto

António Correia (1)

O sol

nasce dos teus olhos

nas manhãs

de Agosto

como as primeiras flores

da primavera

lá colho o mel

que gosto

Alberto Estima de Oliveira (2)

(1) Sobre António Correia ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-correia/

(2) Alberto Estima de Oliveira (1934 – 2008) poeta. De profissão técnico de contas e profissional de seguros, viveu em Macau de 1982 a 2004. Retirado da revista “MACAU”, n.º 16, 1989, pp.32-33.